terça-feira, outubro 03, 2017

Uma Doçura de Teimosia

Qualquer dia faz dezasseis anos. Está uma mulher!
Há maneira que os anos avançam o perfil de menina torna-se mais refinado e damos-nos conta do quão parecidas somos.

Lá em casa as semelhanças dão um jeitão à classe masculina do clã. Vezes sem conta ouve-se uma voz mais poderosa e rabujenta que nos lembra a autenticidade dos nossos traços e modos de agir. 
- És mesmo como a tua mãe! 
A tirada do mais adulto homem da casa quase sempre tem resposta. E a mesma traduz-se numa estridente e cumplice gargalhada.

Mas como em tudo na vida, a rotina nem sempre veste azul ou transborda as cores do arco-íris. 
A Nina, como lhe chamo desde bebé, é uma doçura de teimosia. O modo de ser e as reações intempestivas que herdou da progenitora, quase sempre seladas com um ruidoso bater de porta, desaparecem instantes depois.
Na terminologia moderna chamar-lhe-ia bipolar. Mas eu, que sou tão igual a ela, perfiro caracterizá-la como mau feitio.

E o que é ter mau feitio, ser intempestiva ou bipolar?
Não quereremos dizer que somos determinadas? Exigentes...

A menina quase mulher é, efectivamente, uma rapariga determinada. Na escola, no desporto e nas relações interpessoais.

Os últimos tempos não têm sido fáceis pois o clã passou de cinco para quatro elementos. 
A "Judite Sousa" lá de casa está menos perto de nós. Menos presente. Ainda que seja um afastamento físico nenhum de nós esconde que temos saudades dos monólogos da "Judite Sousa" e da forma organizada e metódica que desde sempre caracterizam o seu percurso.

É diante esta realidade que o par de intempestivas reganha uma cumplicidade adormecida. 

A distância forçada de um deixou mais espaço e tempo para a mau feitio mor  renovar os laços umbilicais com a nadadora e pianista que sonha ter muitos filhos e casar com um homem rico.

Sim, o leitor percebeu bem! A Nina quer ser uma mãe de mão cheia. Contudo, não será a fada do lar.

Nós, pessoas determinadas e audazes, temos um enorme apego à família e alimentamos o cordão umbilical mas também queremos voar!

Voemos! Sejamos sempre uma doçura de teimosia. Nem que seja para que o Tiquita tenha a certeza que também o amamos muito. Tiquita será sempre o benjamim da família. E os traços de doçura teimosa já começam a dar sinais.

E agora que a prosa intimista chega aos fim, apetece-me dizer-vos: A Nina, que é sangue do meu sangue e papel químico dos Gabriel, tem sido o nosso amparo.

Ela é forte e determinada. Confia no amor incondicional e sabe promovê-lo.

Que a harmonia e musicalidade continuem a ser a banda sonora de nossas vidas.


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