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segunda-feira, agosto 05, 2019

Memória do “exílio” na Barroca Grande

Maria Ascensão Albuquerque Amaral de Figueiredo Simões. Nasceu, em Nelas, há 90 anos. Consideram-na uma mulher à frente do seu tempo e o Município da Covilhã homenageou-a pelo seu percurso dedicado à educação e intervenção cívica. Uma trajetória de mais 40 anos dedicados ao ensino que a levou a dar aulas em cidades como Caldas da Rainha, Torres Vedras e Covilhã. Na Cidade Neve esteve 33 anos na Escola Industrial Campos Melo, integrou a comissão de gestão e foi presidente do Conselho Diretivo. Uma vez aposentada fundou a Academia Sénior da Covilhã onde desempenhou funções de reitora. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia-geral da APAE Campos Melo. Deixou-se seduzir pelo exercício da política quando realizou entre 2005 e 2009 o mandato de eleita na Assembleia Municipal da Covilhã. É viúva de Duarte de Almeida Cordeiro Simões cofundador e diretor do Instituto Politécnico da Covilhã.



Fomos ao encontro da mulher de olhar penetrante e de brilho azul que nos falou do “exilio forçado” de cinco anos nas Minas da Panasqueira, onde fixou residência temporária quando Duarte Simões desempenhou funções de gestão na Beraltin And Wolfram. O tempo em que esteve acantonada, num lugar onde não chegavam os jornais, não deixa saudades à visionária, para quem a afirmação da mulher continua a ser uma necessidade. Recordando as “tentativas subtis enraizadas na sociedade que desencorajam a mulher a ser combativa e líder”, Ascensão Simões lamenta que, presentemente, as empresas, de “forma sub-reptícia”, continuem a confiar cargos de liderança aos homens “privando as mulheres da maternidade ou afastando-as do exercício de cargos mas relevantes”.



Ascensão Simões licenciou-se quando ainda era preciso apresentar uma tese. Naqueles anos debruçou-se sobre o Portugal Restaurado do Conde da Ericeira. “Um trabalho histórico e filosófico sobre a introdução de novas tecnologias e a restauração da independência”. A professora aposentada considera-se uma boa educadora e a conversa encaminha-se para a aprendizagem que “deve ser constante” pois “um professor demora muito tempo a fazer-se”. “O trabalho burocrático e a preocupação com papéis roubam-lhe energias”. Diz a nonagenária preocupada com “o ritmo frenético da vida moderna, permanentemente dependente do computador e do trabalho fora de horas, sem tempo para os filhos”.

Tempos de exigências bem diferentes da realidade vivida pela professora que iniciou a sua atividade com horário completo. No tempo da revolução os colegas escolheram-na para liderar os destinos da Escola Campos Melo pois era um “período bastante agitado”. “Muitas vezes saí de lá à meia-noite por coisas tão simples como ceder papel para a propaganda eleitoral dos estudantes. A vida era muito conturbada e exigia-se muito diálogo. Era um tempo em que os professores chagavam sem habilitação mas a explosão escolar a isso obrigava”.

Condicionalismos superados com diplomacia e muito diálogo. “Era preciso mostrar que as competências das mulheres não ficavam atrás das do sexo oposto”, vinca a primeira diretora de uma escola na Covilhã. “Tenho a certeza que a seguir à doutora Judite Chitas, no ciclo preparatório, fui a mulher mais antiga a dirigir uma escola com 105 professores e 1600 alunos”, disse. Recuando no tempo, e à condição de encarregada de educação, franje o sobrolho e num tom reprobatório lembra como foi possível, na escola, alguém questionar da razão de ser encarregada de educação das filhas. “Até para isso  pensavam no homem”!



Detentora de um percurso recheado de inovação e desafios em prol do bem comum, Ascensão Simões recupera a memória do centenário da Escola Campos Melo e o ano de 1984 quando a sua condição de mulher inconformada a impeliu a aceitar o desafio de criar a APAE – associação de pais e antigos alunos da escola Campos Melo. “Fiz um plano para as comemorações, distribui trabalho. A escola não tinha associação de pais e isso era imperioso até para os antigos alunos. A associação de pais estava meio adormecida, fui ajudando no que pude”. Já quanto à constituição da associação de antigos alunos, o processo foi mais rápido, uma vez que muitas pessoas bem colocadas, como arquitetos e engenheiros, passaram pela Campos Melo, uma escola de referência na Covilhã. A dedicação e arrojo que lhe marcaram a trajetória na Campos Melo também caracterizaram os anos dedicados à Academia Sénior da Covilhã, fundada em 2000, na qual chegou ser reitora. Criou-a para “manter-me ocupada e aprender informática”. Recordando o início do projeto na Escola Quinta das Palmeiras e posteriormente em casa de uma particular, Ascensão Simões não esquece o contributo do Município da Covilhã, na pessoa do então presidente Carlos Pinto, na solução para a sede da Academia, nem a Universidade da Beira Interior cujos professores passaram a dar aulas na Academia Sénior da Covilhã atualmente frequentada por 70 pessoas, com mais incidência nos 60 a 70 anos.




BIOGRAFIA

Maria Ascensão Simões nasceu, em Nelas, a 20 de junho de 1929. Frequentou o ensino primário no Colégio da Nossa Senhora da Conceição (Viseu), o ensino secundário no Liceu Infanta D. Maria (Coimbra) e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas. Dedicada ao ensino desde 1954 até a sua aposentação em 1996, lecionou em diversas cidades do país. Professora durante 33 anos na Escola Industrial Campos Melo, integrou a comissão de gestão em 1974/1975 vindo a ser presidente do conselho diretivo desde 1981 até 1988. Foi sócia fundadora da Academia Sénior da Covilhã e reitora de 2003 a 2018. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia geral da APAE Campos Melo e deputada na assembleia municipal da Covilhã entre 2005 e 2009.
ORIGINALMENTE publicado na edição de 11 de julho 2019 do caderno JF Comunidade do Jornal do Fundão.




sexta-feira, maio 24, 2019

Lembranças vossas


Ana Almeida, Rodolfo Pinto Silva, Liliana Machadinho, Sérgio Figueiredo, Carla Loureiro e Marisa Miranda. Que têm em comum estes nomes? O jornal Notícias da Covilhã. Foi no mais antigo semanário do distrito de Castelo Branco que esta semana recordei algumas passagens do meu percurso de atividade no jornalismo, lado a lado com estas pessoas.

Que é feito destes profissionais que outrora escreveram sobre lugares e projetos deste território que também é a minha geografia de causas e de afetos?

Pelo que observo o jornalismo perdeu uma parte destas pessoas. Chegaram à região por via da Universidade da Beira Interior. Cursaram ciências da comunicação, realizaram estágio e exerceram a profissão de jornalistas mas quase lhes perdi o rasto. Os órgãos de comunicação social não conseguiram mantê-los.

Ontem como hoje os recursos financeiros escasseiam, as redações estão à míngua de profissionais credenciados. Por maior que seja o gosto pela profissão, tantas vezes mal paga e desvalorizada, a gente faz-se à vida em outros projetos, muitas vezes longe da região onde nos apaixonamos pelo exercício do jornalismo livre.

Felizmente há as redes sociais que tanto diabolizamos mas que também têm virtudes. Aproximam-nos. Promovem reencontros virtuais com as nossas pessoas. Com gente boa e talentosa com a qual tivemos o privilégio de nos cruzar.

E que fizémos para as manter por cá?

Reflexões que marcaram a conversa mantida esta semana com o senhor Aurélio Carrega, uma espécie de guardador da memória do semanário de inspiração cristã que por estes dias assinala cem anos de existência.

É verdade, fui às instalações do Notícias da Covilhã na zona antiga da cidade universitária e na rota da arte urbana. Estive no Notícias no dia em que o jornal, fundado em 1913 com o nome “ A Democracia” e rebatizado em 1919, regressa á casa mãe. Na rua de Santa Maria à qual em 1999 o município da Covilhã atribuiu o nome de rua Jornal Notícias da Covilhã.

Ouvi o testemunho cronológico da história do Notícias e bebi do entusiasmo, agora mais distanciado por via da sua condição de reformado, do homem que durante 57 anos cuidou das contas do jornal, lidando com adversidades, críticas e emergências.

Os vários processos de modernização tecnológica, o fim do processo tipográfico, o sonho das novas instalações no Parque Industrial da Covilhã, o encerramento da gráfica do Notícias.

Memórias com gente dentro na narrativa verbalizada pelo senhor Aurélio Carrega que é o meu convidado no programa “Porque Hoje é Domingo” de dia 26 de maio de 2019 na Rádio Cova da Beira.

Aurélio Carrega e Luís Pardal Freire nas renovadas instalações do Notícias da Covilhã


A conversa previamente gravada levará os ouvintes à lembrança e percurso do Notícias da Covilhã. O jornal que nos 75 anos foi condecorado pela Presidência do Conselho de Ministros e pela Câmara da Covilhã, entidade que em 2012 entregou ao então diretor, o arcipreste Fernando Brito dos Santos, a Medalha de ouro de Mérito Municipal.

Marcos históricos no percurso da publicação que teve como diretores, José Andrade, António Mendes Fernandes, José Geraldes, Fernando Brito e Luís Pardal freire.

O atual diretor também participa nas conversas e garante que o Notícias da Covilhã continuará a fazer “jornalismo de proximidade e de causas mas nunca de subserviência”.

Por aqui, continuaremos a olhar para o Notícias da Covilhã, um dos 33 jornais com mais de 100 anos, como uma referência no panorama da imprensa regional.

Uma voz na diáspora.

Uma publicação em que não raras vezes sabe bem viajar pela narrativa factual ou pela reportagem enriquecedora da Ana Ribeiro Rodrigues. Uma beirã da terra da cereja pela qual mantenho respeito e admiração profissional.

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Do Agasalho à Tecnologia


Apaixonou designers e criativos. É muito mais que um agasalho. Habitualmente utilizado na decoração de interiores e mobiliário, o produto serrano é também matéria-prima para sapatos e ferramentas tecnológicas. A Microsoft, esse gigante da informática, rendeu-se às características do tecido tradicional que agora “agasalha” os tablets. 



À descoberta do burel. Poderia ser este o título do texto no qual nos propomos partilhar com os leitores o percurso de inovação que caracteriza o tecido artesanal português totalmente feito de lã. “Depois de carmeada e cardada, a lã transforma-se em mecha. A mecha é torcida na fiação e transforma-se em fio. O mesmo se passa pela urdideira originando a teia. O tear transforma a teia em xerga. A xerga passa pelo batano e por outros tratos e transforma-se finalmente em burel”. Explicações plasmadas numa folha de sala dedicada a trabalhos em burel.

Já as características técnicas e diferenciadoras do tecido “resistente e versátil” conferem ao burel mais que a garantia de aconchego. As experiências à volta da sua textura, padrões e cores transformam-no numa panóplia de oportunidades e peças diferenciadoras que enriquecem o portefólio criativo de quem desejava afirmar-se na decoração de interiores e na valorização de algo que para muitos não passava de um tecido grosseiro e rústico apenas utilizado pelos pastores.

Cabeceiras de cama, painéis de parede, quadros, corredores de mesa, capas de almofadas e uma multiplicidade de peças utilitárias são hoje uma realidade na utilização do burel. E até já há sapatos e ténis em burel! No ano passado uns ténis feitos com burel e produzidos pela Burel Factory, uma empresa de Manteigas, receberam um prémio de inovação, numa das maiores feiras mundiais de desporto, em Munique, na Alemanha.

Também em Manteigas, a Burel Factory, começou em 2013 a “vestir” o tablet PC da Microsoft. Nessa altura o Jornal de Negócios escrevia que o burel renasceu em Manteigas, para "aquecer" o mundo.

Ainda em Manteigas nasceu em 2017 a marca de sapatos REALIS. Cada par transporta em si a lã “cem por cento de ovelha” e a garantia de “resistência à humidade e repelência à água”. Bruno Silva e Marlene Gabriel são os empreendedores. Procuraram investir na criação de um produto que tivesse a sua génese no território em que habitam, que ainda tivesse pouca expressão no mercado e utilizasse matérias-primas locais, neste caso o burel originário da região. “Podemos dizer que o burel se comporta de alguma forma como uma membrana sintética de gore-tex, mas de uma forma natural”, explicaram ao JF. 



Prevê-se que a marca desenvolva novos projetos em 2019, nomeadamente na captação de novos mercados na Europa e em termos de criação “iremos lançar novos modelos de senhora e lançar a coleção de homem”. Para já os sapatos Realis são usados “por alguém famoso mas não devemos revelar o nome”.

Mas nem só a norte se reinventa o burel. O criador de moda Miguel Gigante, foi pioneiro nessa arte. A partir do “Atelier do Burel” instalado na antiga fábrica António Estrela na Covilhã e hoje transformada no laboratório criativo “New and Lab”, Gigante transforma o burel em casacos, coberturas de mobiliário, candeeiros, malas, almofadas, alfinetes de lapela e chapéus.

“Iniciei o projeto em Setembro de 2008, mostrei pela primeira vez as primeiras peças no Chocalhos - Festival Caminhos da Transumância em Alpedrinha. Tinha tudo a ver, celebrar a transumância”, descreve o artista capaz de transportar para as suas peças a “essência e alma femininas”, dizem os apreciadores de moda que se habituaram a ver Miguel Gigante como um visionário na arte de dar nova vida à lã das ovelhas. O artista começou por fazer painéis, candeeiros, almofadas alguns acessórios e um casaco.



“Cansado da confeção e de trabalhar a moda” Miguel Gigante deixou-se envolver na descoberta e conceção de obras  para casa. “Ironicamente a peça que teve um sucesso considerável foi o casaco ainda hoje é uma peça desejada pelo mercado”, confessa-nos.

“Sempre gostei mais de criar peças de Outono-Inverno. Inicialmente, fazia experiências, protótipos sem qualquer tipo de pressão”, conta-nos. Para Miguel Gigante o que distingue o burel de outros tecidos é a própria “construção técnica e os princípios que sendo a antítese da indústria atual são a garantia de padrões de qualidade cada vez mais raros”. “A resistência e impermeabilidade são os mais conhecidos, o isolamento de som e temperatura também são fatores de valor”.

Numa avaliação à relação qualidade preço na escolha de uma peça em burel em  detrimento de outros tecidos, Gigante lembra o “composto só de lã bordaleira” enquanto garantia de “proteção do frio e o conforto” de um tecido 100% natural. Características “cada vez menos comuns na confeção tradicional três vezes mais cara e com menos durabilidade”, adverte.

A partir da Covilhã, Miguel Gigante pretende continuar a afirmar um produto que identifica um território e que em 2013 lhe valeu a assinatura de peças no âmbito do projeto Aldeias Históricas de Portugal. “Uma coleção de roupa inspirada na arquitetura, lendas e tradições dos tempos medievais e composta por casacos, saia, camisolas e acessórios diversos”. Detentor de uma carteira de clientes espalhados pela Europa, Miguel Gigante apresenta regularmente as suas peças em eventos ou em lojas que vivem do mercado turístico.

Ana Gonçalo é designer têxtil há vinte anos mas só há quatro anos, a partir do CINCO atelier, iniciou a experiência no burel. “A minha primeira peça foi uma clutch. Foi o modelo que mais me motivou. Como nunca tinha trabalhado com esse tecido, foi um desafio enorme”, partilhou com o JF a designer que há uns anos esteve em foco por ter concebido a nova linguagem e imagem de marca da Covilhã. “A Tecer o Futuro”, Ana Gonçalo coloca em cada peça que faz um pouco de si. Motiva-se sobremaneira de cada vez que dá corpo a uma nova “carteira de ombro que, além do trabalho de modelação e costura, tem bordados em fio de lã e crochet no mesmo fio”. “Eu gosto de misturar técnicas, tornando a peça mais rica e apelativa. 

O burel é um tecido que tem bastante corpo, tornando o processo de modelação das peças bastante motivante. Como é um material denso que foi "batanado", conferindo propriedades de feltro, ele não desfia nas extremidades, quando cortado”. E isso permite-lhe "pensar" nas peças com maior ambição. Mas desengane-se quem pensa que construir uma peça de burel é fácil! 

“É um tecido muito espesso, difícil de costurar peças complexas...antes de pensar na peça que quero realizar tenho de pensar muito bem e testar algumas costuras e moldes”, revela-nos. Considerando que a lã de ovelha é incomparavelmente mais valiosa que um qualquer outra matéria-prima sintética, Ana Gonçalo congratula-se por observar como o burel, de tão valorizado e cheio de possibilidades, devolveu emprego a muitas pessoas que assistiram à crise dos lanifícios.

Da Covilhã para o Fundão encontramos o “Adelma Atelier”. Desenvolvido por Lina Ferreira, o projeto de aproveitamento e transformação do burel teve início há quatro anos e as primeiras criações foram das a conhecer ao público na 5ª edição do "Pechakucha", exatamente no Fundão.


Ao JF a criativa fala do empenho e dedicação que coloca em cada peça que produz. Apreciadora de tudo o que seja português, genuíno e icónico,  Lina Ferreira diz que “não poderia deixar de usar o burel” nas suas coleções. Apesar do ainda curto percurso, Lina Ferreira orgulha-se do prémio “melhor peça de artesanato”, conquistado na edição de 2014 do Festival chocalhos. “Um prémio e reconhecimento do júri que avalio um casaco comprido confecionado em burel, lã bordaleira e tecido de cortiça”.  



Além do vestuário, o burel está presente nos acessórios de moda e algumas peças decorativas como mantas, tapetes e almofadas, assinados por Lina Ferreira. No entanto e na área da decoração o burel permite desenvolver “ambientes rústicos e acolhedores”, considerou.
O “Adelma Atelier” no Centro Comercial Cidade Nova, no Fundão, dispõe de algumas peças no Hotel H2O em Unhais da Serra.

Texto originalmente publicado na edição de 6 de dezembro de 2018 do Jornal do Fundão.

terça-feira, novembro 06, 2018

"Em momentos de adversidades somos uns heróis"


O Enfermeiro do Ano 2018 participou como especialista em reabilitação em “seis campeonatos da europa e três mundiais” e por essa razão considera-se um embaixador da região. “Nesses destinos há embaixadores de Portugal e ficam a saber que há um covilhanense na comitiva”. “Honrado” pelo reconhecimento da Ordem dos Enfermeiros, António Fonseca acredita que o troféu motivará “uma classe que deve ser valorizada”, sobretudo num momento de “enormes dificuldades instaladas”.



Descreve-se como “humilde e determinado”. Os seus pares valorizam-lhe a “liderança” e “dedicação”. “Vive a enfermagem com paixão”. O gosto pela enfermagem descobriu-o ainda nos bancos da escola e teve o primeiro impacto no final da década de setenta do século XX quando decidiu estudar enfermagem na Escola Superior de Saúde Lopes Dias em Castelo Branco. Iniciou a carreira, em outubro de 1980, no antigo Hospital da Covilhã como enfermeiro no serviço de urgência. Seguiram-se cinco anos de atividade no bloco operatório e uma especialização de três anos, em enfermagem de reabilitação, que lhe valeu subir na carreira e abraçar a ortopedia.

António Manuel Santos Fonseca, o Enfermeiro do Ano 2018, foi distinguido pela Ordem Regional dos Enfermeiros do Centro no dia 20 de outubro. Nasceu no berço de uma família humilde - o pai era tecelão e a mãe metedeira de fios –, no bairro dos Pinhos Mansos, no Tortosendo. Aos 58 anos e na “antecâmara da reforma” António, que tem dois filhos também eles a trabalhar na área da saúde, não esconde que a esposa (Vera Fonseca) é o seu “maior suporte”. Agradece-lhe a “cumplicidade e entrega” mas também dedica o prémio a “toda a minha equipa” do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB).

O reconhecimento pelo empenho do enfermeiro-chefe no Serviço de Ortopedia do CHCB, hospital onde exerce há 38 anos, também valoriza o percurso iniciado há 15 anos na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) enquanto enfermeiro especialista em reabilitação e ao serviço da Seleção de Portugal de Futsal. Fonseca integra a equipa médica, constituída por um médico, um enfermeiro e um fisioterapeuta, que em fevereiro último celebraram o título de Campeão Europeu de Futsal.

Com 38 anos de enfermagem e 34 de desportista, António lembra o começo do percurso desportivo no Sporting da Covilhã bem como a atividade desenvolvida no Teixosense, na Associação Desportiva da Estação e na Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB). A prática de enfermagem nos clubes da região e o trabalho de formação realizado na AFCB “foram determinantes” na ida para a FPF onde chegou em 2003.



Em declarações ao Jornal do Fundão António Fonseca vinca que os enfermeiros são uma “peça fundamental” na valorização da pessoa, recordando o tempo em que realizou apoio domiciliário junto de doentes em ortopedia. “A enfermagem e reabilitação” são importantíssimas na “recuperação integral da pessoa”. Sobre o atual momento da enfermagem António Fonseca é perentório. “Há um desgaste dos profissionais de enfermagem inerente às dificuldades que são do domínio público”. 
E como é trabalhar sob pressão, salvar vidas humanas ou preparar atletas para desafios de futsal? “Na ortopedia e ortotraumatologia há doentes penosos para a missão de cuidar dos enfermeiros. São situações que deixam marcas”. Por outro lado, “não podemos falhar”. Na preparação logística António tem “a responsabilidade de elaborar as listagens dos recursos materiais necessários para os grandes desafios”, conta-nos.

Sublinhando a componente humana do cuidador, António admite que quando se reformar escreverá um livro sobre aprendizagem e experiências. “Na minha vida tenho muito boa comunicação com quem me cruzo, desde profissionais e famílias. São histórias que poderão ser uma referência para quem pretenda enveredar por esta área”. Além da formação de base, António Fonseca considera “importante a permanente atualização de conhecimento” em matérias que, acredita, despertarão interesse nas novas gerações de profissionais de saúde.

Na abordagem jornalística para darmos a conhecer o percurso do Enfermeiro do Ano, importa escrever que António Fonseca não esquece as origens. Aliás, as suas palavras denotam orgulho na Cova da Beira e na Covilhã que “no estrangeiro associam à serra da Estrela”. Fala da Universidade da Beira Interior como “relevante na abertura de horizontes” destacando o departamento de desporto na pessoa de Bruno Travassos. “Depois há o José Luís Mendes com uma trajetória muito bem estruturada. O mesmo acontece com o Joel Rocha um outro grande amigo que foi meu jogador na ADE. Gente de muita qualidade e potencial para vingar em outras latitudes”. 

E quanto ao futuro e aos sonhos que ainda não concretizou? – “Noutro contexto eu gostaria de ter integrado o departamento médico na UEFA ou na FIFA”. Um sonho que será sempre “para uma pessoa mais nova”, afirma o nosso interlocutor.


#Texto integralmente publicado na edição de 01 de novembro de 2018

terça-feira, outubro 16, 2018

“O porquinho mealheiro é o pior exemplo de poupança”


Há quem o apelide de senhor poupança pois o programa “Contas-poupança” na televisão reforçou-lhe o mediatismo. Semanalmente no ar há 8 anos, “Contas-poupança” deu origem a dois livros sobre economia pessoal e familiar. O segundo está nas bancas há pouco tempo e serviu de mote a um conjunto de questões ao jornalista covilhanense Pedro Andersson.


Perfil

Jornalista há mais de 20 anos, Pedro Andersson iniciou o contacto com os media era ainda adolescente. Começou na Rádio Clube da Covilhã, foi jornalista na rádio TSF entre 1997 e 2001, altura em que foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, na SIC é jornalista-coordenador e autor da rubrica sobre finanças pessoais "Contas-poupança", emitido todas as semanas há mais de 8 anos.
É autor de 2 livros sobre finanças pessoais: "Contas-poupança - Viva melhor com o mesmo dinheiro" (2016)  e "Contas-poupança - Poupe ainda mais, Invista melhor" (2018).





1- Está nas livrarias um novo "Contas-poupança". Significa que os seguidores do programa da SIC estão mesmo a seguir os conselhos deste SOS poupança escrito por Pedro Andersson?

Pelos vistos, sim. Isso deixa-me muito feliz. No princípio até achava que algumas dicas eram demasiado simples e que as pessoas iam criticar-me porque estava a dizer coisas óbvias. Mas não. Há uma imensidão de pessoas que de facto precisam dos conselhos SOS de finanças pessoais, poupança e investimento. Eu chamo a esses conselhos "terapia de choque financeira". Há dezenas de milhares de pessoas que precisam mesmo de ajuda para porem as suas contas em ordem. Encaro isto como uma espécie de missão mais do que jornalística, de cidadania. Infelizmente, em Portugal quase ninguém tem formação financeira básica para fazer contas, comparar, negociar e lidar com as empresas, instituições e com o Estado de igual para igual. Parecemos sempre muito pequeninos e impotentes. Aceitamos o que nos dizem sem questionar. Isso tem de acabar.


2-Dois livros. O que separa o primeiro do segundo? O que os distingue?

Duas coisas separam o primeiro do segundo.  São dois anos de dicas rigorosamente novas que surgiram depois de ter escrito o primeiro livro. Ou seja, estão sempre a surgir novas oportunidades de pouparmos. As dicas de poupança surgem debaixo das pedras, como costumo dizer. Estou a fazer uma reportagem e é o entrevistado que diz: "Olhe, e já reparou que também pode poupar nisto e naquilo?". Isto quer dizer que o trabalho do "Contas-poupança" é interminável. Há sempre maneiras novas de termos o mesmo (ou de preferência melhor) com o mesmo dinheiro ou menos. Esse é o meu desafio em todas as reportagens. Não é poupar vivendo pior. O que é desafiante é conseguirmos viver melhor com menos dinheiro. E a existência do "Contas-poupança" prova que isso é possível. No segundo livro, há também uma vertente completamente nova: a do investimento. Percebi que não vale a pena poupar se não soubermos para que queremos o dinheiro. Temos de o fazer crescer senão ele vai definhando. A ideia do porquinho mealheiro é o pior exemplo de poupança. É o contrassenso absoluto.  Ao prendermos o dinheiro numa coisa parada estamos a deixar o dinheiro desvalorizar. Eu posso ter 10 mil euros e daqui a 10 anos esse dinheiro só vai valer 5 ou 6 mil, embora lá tenha os tais 10 mil. A inflação come o nosso dinheiro, mas como não o vemos desaparecer fazemos de conta que a inflação não existe. Qualquer produto de poupança que renda menos de 1,6% está a "matar" o nosso dinheiro. No livro dou variadíssimas alternativas de investimento - com risco e sem risco - para poder escolher de acordo com o seu perfil. Para mim, que nunca investi em produtos com risco, foi uma surpresa absoluta o que ganhei nos meses mais recentes com pequenos valores que investi para testar as reportagens. 

3-Em que medida é que os alertas do programa e do livro têm contribuído para formar o consumidor? 

Os consumidores portugueses estão cada vez melhor informados e formados. Já sabem ao que vão e fazem cada vez mais perguntas. E reclamam por escrito, coisas que raramente faziam no passado. E já vão ter com as empresas e instituições com os olhos mais abertos. Já sabem o que querem e, melhor do que isso, o que não querem. A palavra não está a entrar na linguagem do consumidor e isso é uma vitória enorme. Ir a um banco, receber uma simulação e dizer não ao funcionário do banco deve ser um choque para alguns desses funcionários. No passado, o que o gestor de conta dizia era lei para nós. Agora já percebemos que os gestores de conta estão a trabalhar para atingir os objetivos do banco e não para defender os nossos interesses.

4- Parece-lhe que os conselhos dados têm sido acatados pelas grandes marcas e prestadores de serviços vários?

Não muito. Noto algumas diferenças, mas só porque são obrigados pelas autoridades de supervisão e pelos reguladores. A pressão da comunicação social (nomeadamente do "Contas-poupança") tem a sua influência mas apenas isso. Já houve empresas que melhoraram o apoio ao cliente ou clarificaram algumas regras por causa do programa, mas ainda é uma coisa insípida. O verdadeiro trabalho está nas mãos de cada consumidor. Tem de ser uma "batalha" corpo a corpo, consumidor a consumidor, porque cada caso é um caso. O consumidor só deve desistir de uma reclamação quando estiver satisfeito com a resposta. É essa a mensagem que quero passar. Nem que demore 10 anos.

5-Quais são as áreas em que nós, os consumidores, somos mais negligenciados?

Somos muito negligenciados pelas grandes empresas e pelo Estado. Quando fazemos um pedido de esclarecimento ou fazemos um pedido ou uma reclamação, mandam uma resposta chapa 5 do tipo "Gostamos muito de si, é muito importante para nós e vamos analisar..." e passam semanas e não acontece nada. Isso é trágico e tem de mudar. Por vezes a única solução é avançar para o Provedor de Justiça e os Centros de Arbitragem.

6-Como observa o poder de compra dos portugueses?

Nesta fase está a melhorar. A crise foi muito grave e deixou mossa. Mas estou a ver demasiadas pessoas a esquecerem rapidamente o que podiam ter aprendido com a crise. Eu aprendi, e muito. Devíamos nesta altura de vacas menos magras estar a preparar a nossa defesa para quando a próxima crise chegar. Porque vai chegar. E não é preciso ser rico para poupar. O segredo é tão simples quanto isto: Nunca gastar mais do que se ganha. Só isso. E se conseguir pôr de lado 10% do que ganha todos os meses assim que recebe o ordenado isso é o ideal. Quem fizer isto estará preparado para tudo o que possa vir a acontecer. Mas não é fácil. O português não sabe poupar e não sabe investir. A verdade é que também nunca ninguém nos ensinou, nem as famílias nem a escola. E  cometemos erros de gestão financeira pessoal desde que nascemos até morrermos. Está na altura de fazer qualquer coisa para mudar esta atitude perante o dinheiro. Temos de perder o medo de falar de dinheiro. Ele não morde. Tanto pode ser nosso amigo como inimigo. Depende de nós.



7-Iniciou o seu percurso de jornalista na imprensa regional como observa o estado do jornalismo?

Sim, comecei na Rádio Clube da Covilhã. O jornalismo está neste momento numa encruzilhada, sobretudo por causa das redes sociais e do digital. Qualquer pessoa pode produzir informação e chegar num segundo a dezenas de milhares de pessoas. E não precisa ser jornalista. O grande desafio do jornalismo hoje é credibilizar-se a ponto das pessoas estarem dispostas a pagar (por assinatura ou assistindo a publicidade) para terem a certeza de que a informação que estão a receber é absolutamente verdadeira e que lhes traz valor acrescentado. Há tanto ruído hoje que o jornalismo tem a tentação de seguir a onda da rapidez da informação sem o rigor necessário e, se o fizer, vai perder a guerra. 


8-Como vai a liberdade de expressão em Portugal?

Muito bem. Creio que não há um problema de liberdade de expressão em Portugal. Felizmente vivemos num país onde essa questão neste momento não se coloca, na minha opinião. Pelo menos no meu caso nunca, em nenhuma circunstância, vi a minha liberdade de expressão enquanto jornalista ou cidadão ameaçada ou atacada. E nos casos em que isso acontece, os tribunais têm funcionado.


9-Natural da Covilhã, como observa a cidade e a região da Beira Interior a partir de Lisboa?

Venho ver a minha mãe regularmente. Ela ainda vive no concelho da Covilhã. Tenho visto a cidade a desenvolver-se e isso deixa-me muito satisfeito. Fico com uma imagem positiva do desenvolvimento da região e do distrito de Castelo Branco, mas só tenho uma visão de passagem. Não posso dizer que acompanhe o dia-a-dia da região. Mantenho o meu contacto com amigos e colegas, mas mais a nível pessoal do que como alguém com ligações à Beira Interior. Mas fico feliz por ver o fosso entre o litoral e o interior a esbater-se em algumas coisas. Infelizmente, há também algumas que permanecem quase iguais como a falta de investimento em infraestruturas.

10-O despovoamento que marca esta região preocupa-o? Como lhe parece que poderemos inverter a tendência de baixa natalidade e abandono do meio rural?

Acho que é um problema de todo o interior de Portugal. Eu próprio, depois de ter terminado o Curso de Comunicação Social na UBI tive de procurar saídas profissionais em Lisboa. Não encontrei outra forma de crescer profissionalmente e tenho uma enorme admiração pelos meus colegas jornalistas que ainda se mantêm na imprensa regional apesar de todos os desafios. Não conheço as outras profissões em pormenor, mas creio que todas têm problemas semelhantes. As pessoas quanto não encontram alternativas no meio onde nasceram e cresceram têm de procurar outras soluções. É assim há décadas. Sinceramente não sei como inverter essa tendência. Deixo isso para quem tem poder de decisão. Suponho que criar estímulos para trazer e manter as pessoas no interior exija investimentos altíssimos que não sei se os recursos do país permitem.


11-Que referências tem desta região?

Prefiro falar de memórias: O cheiro da terra das courelas dos meus avós no "Chão Grande", a ribeira do Paúl (onde pesquei muitas trutas na minha infância e aprendi a nadar), o autocarro da Auto Transportes do Fundão que me levava e trazia do Paúl para a Covilhã com os vidros sempre embaciados por causa da chuva e do frio, tentar andar em cima do gelo frágil da levada junto à escola preparatória do Paúl, a geada branca como a neve nas manhãs frias de inverno, os jogos de futebol até às 11 da noite no meio da rua só interrompidos de vez em quando por um carro que passava, o apanhar flores de tília para vender saquinhos de chá aos vizinhos por uns tostões que já não me lembro, olhar para a Serra da Estrela e vê-la coberta de neve até meio e desejar estar lá em cima a fazer bonecos de neve, o cheiro a lenha queimada na chapa da minha avó onde grelhávamos míscaros com umas pitadas de sal apanhados no pinhal ali perto. São algumas coisas que quem nasceu e cresceu na cidade não conhece nem dá valor. Tenho saudades.

12- Gostaria de voltar à Covilhã ?


Vou voltando. Para viver definitivamente, creio não ter reunidas as condições neste momento face ao percurso profissional que estou a seguir e o facto de já ter dois filhos que nasceram em Lisboa e que têm aqui todos os seus amigos torna as coisas mais difíceis de gerir. Mas o futuro tem sempre muitas surpresas e desafios, não é? Um dia gostava de ensinar jornalismo. Quem sabe se a UBI poderia ser uma opção. Já tenho algumas coisas para ensinar. Mas para já ainda sinto que tenho muito para fazer na área do jornalismo financeiro e da cidadania.



# Trabalho integralmente publicado na edição de 11 de outubro de 2018 do Jornal do Fundão

sexta-feira, setembro 28, 2018

“Não me vou reformar da minha intervenção cívica”


É Provedor do Estudante desde 2014 e deverá ser substituído na próxima reunião do Conselho Geral da UBI. Durante os quatro anos de mandato passaram-lhe pelos olhos 1.531 solicitações de estudantes. Casos que procurou resolver por forma a fazer cumprirem os direitos dos alunos da universidade. 
Quem o conhece vinca a sua afabilidade, discrição e espírito de missão. O professor doutor Luís António Nunes Lourenço entrou na Universidade da Beira Interior como aluno de gestão em 1978 e sairá como professor associado e Provedor do Estudante. 

Em 40 anos de universidade, além do percurso de aprendizagem, foi professor, diretor de curso, coordenador de departamento e presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Trabalhou com todos os reitores. De Passos Morgado a António Fidalgo sem esquecer João Queirós de quem foi adversário numa lista para o Conselho Geral da UBI. 
Substituiu no cargo de Provedor Pedro Pombo e na conversa com o Jornal do Fundão garante que não abandonará “abruptamente o cargo”. Natural da Sertã e a residir no concelho do Fundão desde 2000, Luís Lourenço foi seminarista na Diocese de Castelo Branco e Portalegre. 
Ao longo do percurso de estudante foi colega do recentemente nomeado presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o juiz conselheiro António Joaquim Piçarra. 
Agora que está à beira da reforma garante que não abandonará a atividade cívica. Luís Lourenço continuará na RIQUA – Rede de Investigadores da Qualidade. É vice-presidente da assembleia intermunicipal da CIM das Beiras e Serra da Estrela e eleito da CDU na Assembleia Municipal do Fundão.


1- Na missão de cuidar dos direitos dos estudantes da UBI, qual é o balanço que faz do desempenho das funções de Provedor do Estudante?
Foram mais de quatro anos de um desafio permanente. Não foi e nunca será uma tarefa fácil, pois lidamos com problemas cuja solução, por vezes, não é imediata. Embora sejamos sempre maus juízes em causa própria, posso dizer que saio com a tranquilidade de a ter desempenhado de forma positiva.

2- O seu mandato terminou em fevereiro último e ainda não foi substituído. Até quando está disponível para assegurar o cargo cuja nomeação é da responsabilidade do conselho Geral da UBI?
Está prevista a escolha de um novo Provedor do Estudante na reunião do Conselho Geral agendada para 10 de outubro. Assumi, no Conselho Geral, o compromisso de acompanhar ativamente a transição, caso o meu sucessor (ou sucessora) o entenda necessário. Cumprirei com esse compromisso. Não seria bom para a instituição (para a UBI) que, de forma regular, se não encontrasse uma solução nessa reunião. Mas, garanto que não abandonarei abruptamente o cargo.

3- No universo dos episódios e solicitações recebidas na Provedoria há situações recorrentes e muitas delas relacionadas com a componente administrativa e burocrática, como se explica que tais situações se repitam?
Apesar de haver situações recorrentes elas têm sempre especificidades próprias. Aliás é quase impossível tipificar a maioria das situações que motivaram o contacto com o Provedor. Essas recorrências tiveram muito mais que ver com as especificidades de cada situação do que com aspetos gerais.

4- Que foi feito por forma a minorar essas "dificuldades" e "queixas" dos estudantes?
Sempre que foi possível tipificar situações o Provedor elaborou pareceres/recomendações no sentido de as corrigir. Na generalidade dos casos essas recomendações tiveram um acolhimento positivo por parte dos responsáveis.

5- Num momento em que se fala de especulação imobiliária em outras cidades universitárias, como observa o panorama da oferta de alojamento em residências académicas na UBI? A questão da habitação não figura no mapa das queixas dos estudantes que são reportadas ao Provedor?
Devo confessar que essa questão (problemas decorrentes da especulação imobiliária) nunca foi colocada ao Provedor. Devo também dizer que é uma área em que, dada a complexidade do tema em si, bem como da quantidade e variedade dos intervenientes, não seria fácil intervir. Quanto à situação específica da UBI e da Covilhã convém referir dois aspetos. Por um lado, a UBI é a universidade portuguesa que tem, se não a maior, uma das maiores taxas de cobertura em termos de residências académicas. Por outro lado, creio que a especulação imobiliária, e as suas consequências negativas, ainda não atingiram na Covilhã os níveis de outras grandes cidades. Dito isto não significa que devamos ficar descansados. Por um lado, é necessário que a resposta da UBI seja melhorada. Por outro lado, é necessário encontrar formas de a UBI, em colaboração com a autarquia, contrariar as consequências negativas dessa especulação.

6- Que marca deixa na Provedoria do Estudante?
Essa é uma pergunta que me é difícil responder sem correr o risco de parecer presunçoso. Ainda assim poderei afirmar que depois dos primeiros passos, sempre mais difíceis e incertos, que foram dados pelo meu antecessor, a atividade que desenvolvi contribuiu para que o cargo do Provedor do Estudante da UBI fosse definitivamente conhecido e reconhecido.

7- É um profundo conhecedor da UBI pois desempenhou diversas funções. Como observa a UBI e que futuro vê na Universidade enquanto entidade e parceira no desenvolvimento do território da Beira Interior?
De facto, ocupei vários cargos e funções. Diria que quase todos os que poderia ocupar por eleição dos pares. A experiência e conhecimento aí adquiridos foram fundamentais para o desempenho da Função de Provedor. Quanto à sua questão especificamente a resposta é muito simples e rápida. A UBI é um parceiro fundamental e imprescindível.

8- Como olha para o futuro da região marcada pelo despovoamento e onde existem uma universidade e dois institutos politécnicos? Que futuro antevê para os estabelecimentos de ensino superior na região?
O desenvolvimento do país para ser sustentável tem necessariamente que ser harmonioso. A litoralização e a concentração nos grandes centros são prejudiciais para o interior mas também o é para esses grandes centros. É necessário que, na definição das políticas públicas, se tenha isso em atenção. A UBI e os Institutos Politécnicos da região são parceiros fundamentais na implementação de qualquer política de desenvolvimento regional, mas por si sós pouco podem fazer. Por isso, o seu futuro está obviamente ligado às opções que, a este nível forem feitas.

9- Tenho conhecimento que solicitou a sua aposentação, o que vai fazer depois de iniciar o período de reforma?
Esse é um assunto do foro pessoal que pouco interessará aos leitores do Jornal do Fundão. A única coisa que posso dizer é que me não vou reformar da intervenção cívica.

*Artigo integralmente publicado na edição de 27 de setembro de 2018 do Jornal do Fundão no espaço "Um Café Com"



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