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sexta-feira, agosto 28, 2020

Já Tínhamos Saudades

No Verão do novo normal fomos ao encontro de emigrantes que arriscaram vir a casa num tempo de redobrada exigência sanitária. Embora a região assista a um decréscimo de presenças, o território não ficou indiferente ao calendário e até as tradições religiosas se adaptaram à pandemia.

Souvenirs e lembranças adequadas à geografia do território ou às crenças e figuras icónicas das nossas terras, objetos alusivos à saudade de quem visita o país da língua de Camões estão à vista de quem entra nos quiosques, praças e mercados ou lojas de produtos locais que por estas semanas são ponto de paragem obrigatória por parte dos inúmeros emigrantes que nos visitam.

Não tantos quanto o desejável e muito menos do que em anos normais, dizem comerciantes, transeuntes e hoteleiros que embora não tenham preparado iniciativas específicas para receber os emigrantes habituaram-se a esperar por agosto para equilibrar a faturação do ano inteiro.

Na Praça Municipal, no mercado, nas esplanadas e restaurantes das cidades, vilas e aldeias percebe-se que há mais movimento, mas “estamos aquém” de outros tempos vincam autarcas e dirigentes de organizações de comerciantes e restauração.

No ano em que as generalidades das novas gerações de emigrantes não puderam vir a Portugal para se protegerem da pandemia covid 19, encontramos algumas famílias mais jovens que desta vez vêm para estar com os pais e avós, mas não irão sair da região para, por exemplo, mergulharem na águas salgadas do mar.

É nesse contexto que os hotéis da região trabalham para “atenuar prejuízos maiores”. “Os emigrantes costumam procurar-nos, habitualmente registamos percentagens consideráveis de dormidas, 90 por cento das mesmas correspondem a portugueses com raízes na região. Vêm para ficar uma a duas noites, saem para visitar a aldeia ou concretizarem estadias fora da região e quando pensam no regresso ao estrangeiro ficam mais uma noite”.

O relato feito ao JF num dos mais antigos hotéis da cidade do Fundão não é muito diferente da realidade no único hotel de cinco estrelas da região. Com programas específicos para clientes estrangeiros e uma procura na casa dos 40 por cento, apenas 15 por cento tem estado a efetuar reservas, adiantou a relações públicas da unidade hoteleira.

A oferta turística “diferenciadora” no concelho do Fundão levou inclusivamente o município local desenvolver uma campanha intitulada “Já Tínhamos Saudades” que visa afirma o território como um “destino turístico alternativo e seguro em tempos de pandemia”, valorizando os programas e rotas enquanto elementos impactantes para a economia regional no acolhimento de turistas.

Leonardo Durão Romão de sete anos poderá ser a segunda geração da família Romão em França. Nunca ouviu falar de Aldeias Históricas nem de Aldeias do Xisto, mas sabe e diz-nos que gosta muito de vir a Portugal.



Foi exatamente no café que dá nome ao país dos pais Elisabete e Hugo que o petiz exprimiu alegria e boa disposição quanto às férias que o trazem para junto dos avós e do irmão mais velho, a viagem antecede o regresso presencial à escola francesa e significa “um tempo de enorme liberdade e celebração” sublinha Elisabete Durão, 40 anos e a residir em França desde 2008.

A mãe de família que em Portugal se dedicava à fotografia é agora proprietária de salão de estética e cabelos em Villabê a 30 quilómetros de Paris.

Também o beirão e marido, Hugo Romão se estabeleceu por conta própria em França. O casal que não tem tradição de emigração na família deixou a Beira Baixa rumo ao desconhecido, mas â parte da dificuldade em aprender a língua francesa e das saudades da família não sentiram quaisquer outros entraves na aventura de “começar do zero”. “O meu marido foi o primeiro a orientar trabalho, mês e meio depois de chegarmos também eu me ocupava como operadora de caixa num supermercado”, revela a fundanense radicada numa região onde existe uma expressiva comunidade de portugueses.

“Com dois filhos a ideia é ficarmos o mais tempo possível, mas o regresso a Portugal é algo que permanece inscrito no diário de quem se socorre dos amigos franceses para garantir a melhor retaguarda para as crianças.

Todos os anos vêm a Portugal no período do Verão e sempre que podem dão um pulinho à praia. Porto Covo poderá ser o destino de 2020, um ano atípico e sem romarias ou festivais que esta família alternava com as reuniões familiares.

A ausência de festas religiosas é bastante notada pelos compatriotas que nesta altura do ano se encontram no Interior de Portugal. Por causa da pandemia e das imposições de segurança sanitária, a componente espiritual do regresso a Portugal ficou comprometida.

No segundo e terceiro fim de semana de agosto em várias aldeias da região as numerosas procissões deram lugar a simbólicos cortejos religiosos e a missas campais com o distanciamento social necessário.

“Não é a mesma coisa, mas as devoções mantêm-se!”, asseveram os fiéis de Santo António, Anjo da Guarda ou Nossa senhora da Assunção.

José Fernando Ferreira da Silva Torres de 54 anos também de férias na região. Natural da Maia mudou-se para o Luxemburgo em 2016 e não está nada arrependido.

Começou a experiência seguindo o exemplo da primeira e segunda geração de familiares diretos que há muitos anos deixaram Portugal em busca de uma vida melhor em Angola e na França.

Bem-sucedido, José Torres conseguiu convencer a esposa e a filha mais nova a seguirem-lhe o rasto.

Chegados lá não sentiram grandes dificuldades em adaptar-se. Primeiro José que logo iniciou o percurso na área das estruturas de alumínios e vidro, setor que dominava uma vez que em Portugal também se dedicou ao ofício.

Para José um cidadão português no Luxemburgo significa juntar-se a uma comunidade respeitadora “dos direitos e apoios sociais à família, excecionalmente superiores aos obtidos em Portugal”.

“Na saúde pagamos a consulta médica, mas posteriormente a caixa nacional de saúde reembolsa-nos com 80 por cento custo”. Particularidades que fazem toda a diferença num país em que a mão de obra portuguesa é considerada “valiosa pois adapta-se com facilidade a qualquer trabalho”.



José não equaciona voltar para Portugal até porque a esposa, educadora de infância numa organização publica, também está bem e a restante família também deverá definir o futuro num país onde existem comunidades portuguesa, italiana e Cabo Verdiana e onde “não sinto que haja racismo e xenofobia”.

Para a família Torres a pandemia trouxe-lhes as regras imposições associadas à covid 19, estão ambientados quanto a uma realidade que “continua a ser negligenciada por cidadãos de todos o mundo”, embora em países como o Luxemburgo existam “fortes penalizações pecuniárias” para incumpridores de regras básicas e que dessa forma passarão a corrigir-se. “O reforço da vigilância policial foi uma das medidas para evitar uma segunda vaga de coronavírus”, acrescenta o cidadão português que no regresso ao Luxemburgo irá receber um voucher pago pelo governo local para fazer teste gratuito, tal qual aconteceu antes de virem para o Fundão.

Dulce Gabriel

Texto originalmente publicado no suplemento JF COMUNIDADE do Jornal do Fundão em agosto 2020 e que pode ler integralmente aqui https://dl-web.meocloud.pt/dlweb/Kze0BqhuQUKzCf9R1l3yqw/download/JF%20Comunidade%20no%20Jornal%20do%20Fund%C3%A3o%20agosto%202020.pdf

segunda-feira, novembro 04, 2013

Uma banda que atravessa gerações

A Filarmónica União de Santa Cruz assinalou 211 anos de existência. Além de realizar a festa da Santa Cecília- Padroeira dos músicos - promoveu um master classe que reuniu uma dezena de participantes. Orientada pelo professor, da Academia de Música e Dança do Fundão, David Machado a formação terminou com um concerto bastante aplaudido.



A história desta instituição bicentenária confunde-se com a história de muitas pessoas daquela localidade. Várias famílias têm na Banda de Santa Cruz um percurso de vida dedicado à música e aos instrumentos. Luís Santos é mestre da Banda União de Santa Cruz desde 1978. Mas o seu bisavô também por lá passou. Actualmente a formação composta por duas dúzias de músicos reúne vários descendentes da família Santos. O Rui e o Tiago são filhos do regente mas a família Santos também tem na banda dos netos Diana, Luís e o Gonçalo. Todos tocam instrumentos de sopro e o mais novo também se dedica à precursão. Para eles a música, seja ela qual for, é uma terapia e um modo universal de comunicação. Diana é a mais velha, toca saxofone, está no oitavo grau de canto. Vai seguir música mas o avô gostaria que Diana Santos chama-se a si a liderança da instituição. E Diana não diz que não! “Sinto alguma responsabilidade e no futuro alguém deve preservar este património, dependendo do rumo que a minha vida der verei”, afirma. Mas o avô Luís tem outras ambições: Instalar a colectividade na antiga escola básica de Aldeia Nova do Cabo. “Permitiria criar uma sala de ensaios com acústica e um espaço de aprendizagem para as novas gerações de músicos”. A par da mudança de instalações, a Banda União de Santa Cruz reclama um espaço mais seguro para o espólio da instituição. O designado Museu da Banda mora no edifício da junta de freguesia mas como às vezes chove lá, a humidade é um perigo para as partituras e instrumentos. Além da família Santos, também os Cunhas, que já estiveram na banda com o avô e o pai tem na formação um neto, e os Tavares têm um percurso de vida associado à Filarmónica. Os laços de família estimulam a dinâmica entre a população da Aldeia e a música. Uma dinâmica que marcou o master classe realizado no fim-de-semana de aniversário e que reuniu uma dezena de participantes dos 11 aos 28 anos. Da história da Filarmónica fazem parte inúmeros concertos na região e em Lisboa (a convite da associação de amigos e naturais de Aldeia Nova do Cabo) bem como a presença em cerimónias presididas pelo Presidente da República ou por vários governantes. Uma das últimas actuações aconteceu na Twintex, empresa de prestígio da região, que ofereceu o novo fardamento da formação que agora volta a vestir de azul. Com uma saúde financeira estável a Banda de Santa Cruz espera continuar a realizar muitos concertos por forma investir em novos instrumentos. Depois do saxofone alto estreado nos 211 anos, faltam bombardinos, clarinetes e outros que se juntam à tuba que a junta de Aldeia Nova do Cabo lhes ofereceu.

Publicado no Jornal do Fundão em Outubro de 2013

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