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sexta-feira, setembro 07, 2018

Reencontro com a Esperança no Território

Quando o leitor se prender nestas linhas já Castelo Novo, Aldeia Histórica de Portugal, terá mergulhado na calmaria do costume. Uma realidade apenas quebrada pelo fluxo turístico que dizem ser suficiente para acreditar nas potencialidades da freguesia do concelho do Fundão.

Ao turismo juntou-se na última quinzena a população flutuante do Verão. O fluxo de residentes temporários regista forte impacto nas duas semanas que se caracterizam pela preparação,  realização e conclusão das festa do Senhor de Misericórdia.
Um acontecimento civil e religioso que é a maior reunião anual de residentes, naturais e amigos de Castelo Novo. Este ano não foi excepção.

Além da Banda da Liga de Amigos de Castelo Novo, enquanto elemento agregador de um povo, a festa do primeiro fim-de-semana de setembro  em Castelo Novo é uma espécie de comprovativo de resiliência ou de sobrevivência ao despovoamento daquelas paragens.
À volta da devoção ao Senhor de Misericórdia e do amor às origens pessoas de todas as idades regressam àquela geografia de afectos e demonstram, através da garra e dedicação com que a cada ano se dedicam à festa, que mesmo sendo poucos ninguém os derrubará nem impedirá de, a cada ano, carregarem andores e semearem a esperança naquele chão encravado na Gardunha.


Estas palavras são, pois, uma ode aos homens e mulheres residentes, naturais e amigos de Castelo Novo que não deixam morrer a tradição e transportam para a aldeia essa vontade inabalável de fazer acontecer. Fazem-no no merecido período de férias, longe das cidades que há muitos anos os acolheram e onde conseguiram trabalho e pão.
Sem nunca esquecer o berço e tendo na Banda da Liga de Amigos o ponto forte de união, os naturais da Aldeia História constituíram família, fizeram amigos e o grupo de indefectíveis de Castelo Novo ganhou músculo. E aí estão cheios de uma alegria contagiante, uma garra pela manutenção das tradições de Castelo Novo que deveria inspirar-nos!

A dedicação dos naturais de Castelo Novo à história e vivências do território não é caso único. Felizmente para os que continuamos a acreditar nas potencialidades destas terras. No fim-de-semana em que chegam ao fim muitas das festas religiosas da temporada, merece igualmente ênfase a dedicação e empenho de cinco mulheres de Alcongosta, outra freguesia do concelho do Fundão, que estes dias deram o corpo ao manifesto para a realização da festa de Nossa Senhora da Anunciação.
Ana Rodrigues, Muriel Bernardo, Sandra Rolão, Marta Isabel Mendes e Sandra Batista completam 40 anos  e manda a tradição que não reneguem as origens e se façam mordomas.


A preparação dos festejos agendados para este sábado, domingo e segunda feira começou há um ano atrás. Depois de um contacto presencial prévio e da  troca de endereços eletrónicos, estas mulheres naturais do berço da cereja, mas residentes onde conseguiram trabalho, foram reunindo virtualmente e organizam uma romaria que é, também ali e em qualquer aldeia, o ponto de encontro de sucessivas gerações de pessoas a quem a reunião de naturais sabe a bálsamo e energia positiva para mais um ano de trabalho.

Afoitas, as festeiras que não deixam transparecer o cansaço físico, orgulham-se de não terem falhado nada do previsto e da destreza com que calcorrearam  a freguesia quando foi dia de pedir a esmola e ouviram comentários ainda muito frequentes na sociedade conservadora pouco interessada em valorizar o papel da mulher nas mais diversas áreas.


O amor à terra é, pois, um exemplo que deverá inspirar-nos sempre que arregaçarmos as mangas na procura das melhores soluções para as nossos desafios novos. O espírito de entrega e a partilha de saberes que são a alma da preservação do nosso património imaterial deveria inspirar-nos para tudo o que aqui fazemos pois o reencontro com o território é a esperança no amanhã melhor.

*Artigo adaptado e originalmente publicado na edição de 6 de setembro de 2018 do Jornal do Fundão





sexta-feira, dezembro 29, 2017

Dos anos que não deixam saudades

Dizer que 2017 é um ano que não vai deixar-me saudades é quase um lugar-comum. Efetivamente os últimos doze meses, mas também os últimos anos, não me deixam saudades.

Ou seja por a morte levar muitos amigos, conhecidos e até familiares. Ou por ter cada vez maior consciência de que o mundo não é perfeito e que o país das maravilhas é apenas um sonho de Alice. Mas também por sentir que a amizade e a reciprocidade são cada vez mais substantivos femininos que não vão além do léxico.

Este é também um tempo em que a partilha e a promoção do convívio e harmonia entre pares permanecem arredados da sociedade cada vez mais tecnológica e digital e pouco dada à companhia e vivências entre pares.

Lamentos à parte, o ano que agora termina deve servir para retirarmos lições de futuro e reganharmos a força e motricidade suficientes para darmos a volta ao texto e começar de novo.

Iniciar um novo ano não significa apenas encerrar um capítulo. Significa ser capaz de aprender com os erros ou ações menos apropriadas.
Significa observar o passado, guardar as memórias boas e apagar todos os retratos e imagens que nos entristecem e deixam mais céticos.

E num ano vincadamente marcado pelo inferno dos incêndios florestais e pela insensibilidade de quem gere o território, importa sermos capazes de enterrar a fragilidade tornando-nos mais fortes e capazes reinventar modos de vida.

Reinventar também é reclamar do atores políticos ações e boas práticas que vão além da palmadinha solidária aos que no último Verão perderam familiares e amigos, observaram a fúria do fogo e viram as suas vidas reduzidas a cinzas.

Que o novo ano faça de todos nós pessoas audazes e resilientes. Que nunca nos doa a voz para dizermos que os problemas de quem perdeu vidas, trabalho e viu comprometida a economia de subsistência precisam de muito mais do que uma Unidade de Missão e Valorização do Interior.

Criar organismos, transportá-los para onde a dor é agora mais aguda, desenvolver linhas programáticas de ação é fácil. Basta dar uso ao verbo.

Mas o verbo não chega. É preciso ação.

Agir. Mudar as políticas. Criar condições para desenvolver comunidades. Promover ações que se traduzam em mecanismos reais e práticos com vista à criação de emprego, à fixação de pessoas, ao desenvolvimento harmonioso dos territórios.

Se assim for, certamente que daqui a um ano não estarei, não estaremos a despedir-nos do ano velho com um sentimento de dor e impotência face à realidade que caracterizou 2017.

O mais negro dos anos levou-nos pessoas, floresta, produção agrícola e empresas. 2017 desnudou um Estado incapaz de evitar a morte de mais de uma centena de pessoas.


É, pois, um ano que não deixa saudades.


quarta-feira, maio 04, 2016

Debater o Interior

O Jornal do Fundão retoma dentro de alguns dias uma das matrizes que tão bem o caracterizaram no tempo de António Paulouro. 

Discutir o Interior não é coisa pouca e se o debate abranger uma maior geografia territorial, tanto melhor! 

Bem sei que os sucessivos debates, iniciativas e grupos de trabalho em defesa do Interior têm alterado muito pouco o nosso fado. Mas se à mesma mesa se reunirem outras vozes de um eixo territorial mais basto que a Beira Interior pode ser que a expressão mediática que o fórum possa vir a ter seja mais um grito de alerta da geografia onde se colhem poucos votos. 

Desconheço se é apenas o facto de não sermos muitos que justifica o constante desinvestimento no Interior. Também não sei se essa é a única razão que, no caso concreto da Beira Interior,  nos trouxe as portagens mais caras do país. Porém, vejo que o discurso em defesa do Interior continua a estar na agenda. Reconquista holofotes. Está na génese da criação de mais um Grupo de Missão para o Desenvolvimento do Interior. 

Chegará? 

As Primeiras Jornadas do Interior que o Jornal do Fundão realiza no Fundão no dia 13 de maio recordam-me outras jornadas. As da Beira Interior que nos anos 80 do século XX António Paulouro promoveu. 

De então para cá a Beira Interior mudou muito. Felizmente para todos os que aqui resistem e continuam a acreditar no futuro deste cantinho entre serras. 

Ainda assim, importa fazer mais. Legislar no sentido de repovoar os territórios de baixa densidade. Nós por cá, vamos tendo tudo. 
Mas faltam pessoas. 

Venha o debate!

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...