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terça-feira, março 31, 2020

Instantes do meu Confinamento 3

O último dia de março acordou branco. A paisagem ganhou candura. Quase nos esquecemos da inominável ameaça à humanidade.



Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.



Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.

Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.



Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.

Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.




quarta-feira, agosto 09, 2017

Subir à Estrela num dia de Verão

O calor de uma quinta-feira de agosto convoca quem está de férias a refrescar-se nas paradisíacas praias fluviais da Beira Interior, a ficar na piscina lá do burgo ou na do hotel mais próximo. Naquele 3 de agosto o desafio imposto pela curiosidade passou por subir ao alto da Torre em plena serra da Estrela.
Às nove da matina em ponto a “tropa” saiu de casa entrou no carro da condutora insegura mas audaz e fez-se ao caminho. 
Ainda na cidade do Fundão deu-se conta da forte presença de emigrantes que por estas semanas acrescentam movimento e valor à cidade e economia local.
Embora muitos comerciantes digam que os emigrantes que passam o ano na Europa já não vêm tão abonados como antigamente e também já não deixem na banca portuguesa as divisas de outrora, a verdade é que numa cidade de pequena dimensão como o Fundão a presença dos emigrantes faz toda a diferença.
Não sabemos se vêm os tais cerca de 25 mil de que falava há uns dias o autarca local, quando aludia à forte componente de emigração que caracteriza o concelho do Fundão, mas sabemos que o pico do Verão coincide com mais gente, por exemplo, no mercado da segunda-feira.
E este é, pois, um tempo em que as nossas aldeias e vilas reganham vida e até atingem um certo patamar cosmopolita. É também essa realidade que o viajante encontra quando, como comecei por contar, se propõe subir à Estrela num dia de Verão.
Se nas Penhas da Saúde o café, momento de caminhada e reencontro com a memória foi quase solitário, dada a ausência de pessoas nas imediações do hotel "Serra da Estrela" ou do Clube Nacional de Montanhismo, mais acima começamos a cruzar-nos com carros de matrícula estrangeira.
Primeiro os espanhóis. Sim, o país vizinho continua a gostar do nosso sol e mar mas também se interessa pela montanha. Foi isso que constamos no belíssimo e requintado “Soadro do Zêzere” em Valhelhas onde almoçamos principescamente e por um preço razoável.
Mas a Estrela também é ponto de encontro de emigrantes. Sobretudo os franceses e suíços. Lá os encontramos no alto da serra da serra da Estrela! 
Ora para a foto de família e recordações de outras visitas ora para o reencontro com os produtos tracionais da região.
Alias quem entra no Centro Comercial da Torre é rapidamente convocado a provar a deliciosa regueifa, o tradicional queijo da serra ou os paios, presuntos e lombos embalados em vácuo.
Nesta altura do ano o movimento de turistas na Estrela cai para menos de metade. Ainda não existem programas nem atrativos para a serra fora do tempo da neve e talvez isso explique o decréscimo de turistas no cartaz chapéu do turismo na região.

Nada que desanime quem tem no Centro Comercial da Torre a rotina de uma vida inteira. Mas nem só de produtos típicos se faz a oferta comercial. Hoje em dia é bastante comum encontrar utilidades como atoalhados e panos com dizeres alusivos a serra. Foram esses recuerdos que muitos espanhóis terão levado para pais de origem. Souvenirs que muito ajudam a manter o mercado da saudade. Mas também há os "borregos" que no Inverno aquecem os pés, os casacos ou samarras e ainda os gorros que podem ter dizeres alusivos à serra ou ao clube de futebol de maior expressão dentro e fora de Portugal. É no mercado da saudade que muitas vezes se cruzam portugueses oriundos de várias paragens e que no Verão regressam sempre às origens. 
Observam então a geografia de berço, renovam abraços e estimulam os afetos "adormecidos" no Verão transacto. É também nesta altura do ano que muitos dos nossos regressam aos locais paradisíacos dos territórios para retemperar energias e embebedar-se na beleza das paisagens verdejantes e na frescura das águas límpidas do rio ou da ribeira mais próxima.
Naquela manhã de agosto o viajante fez-se ao Covão d`Ametade e foi com um sentimento de indignação que se deu conta do abandono a que está votado um lugar que tantas vezes escolheu para convívios e lazer pois sempre o encontrou limpo e verdejante. 

E permanece verde. Mas não está limpo e os equipamentos votados ao abandono estão destruídos, danificados, sujos. Irreconhecíveis! Será este um retrato apenas do vandalismo ou as mazelas resultam da falta de vigilância e do desapego dos senhores do Parque Natural da Serra da Estrela? Pensar que o Covão d`Ametade foi classificado como Local de Interesse Geológico! Mas alguém se interessa?

Fica o recado para quem o quiser interiorizar. E o mesmo é válido para os gestores do Centro Interpretativo da Serra da Estrela localizado no alto da Torre e permanentemente fechado.
Aberto estava, em Valhelas, o restaurante "Soadro do Zêzere" onde o proprietário nos recebeu com uma educação e elegância pouco regulares na receptividade a quem visita o coração da Estrela.



Valeu a pena "cair da cama" e fazer de um dia de Verão um passeio pelos trilhos da serra onde desta vez não houve disposição e força anímica para subir ao Cântaro Magro ou fazer escalada na Parede dos Fantasmas.
Também não me cruzei com o pastor que há cerca de vinte anos me contou todos os segredos associados ao pastoreio de cabras e ovelhas. 
Talvez o tivesse encontrado se o tivesse procurado nas imediações da casa da ASE- Amigos da Serra da Estrela onde outrora descobri sons e "tarântulas" e me aqueci à lareira da casa abrigo.  

Talvez....
Talvez a proteção e vigilância da floresta tivessem ajudado a prevenir os incêndios que há alguns anos devastaram o Vale Glaciar do Zêzere. 
Será o leitor capaz de imaginar a melancolia que nos invade a alma quando num regresso a Manteigas nos apercebemos da erosão dos solos e da destruição da riqueza da serra? 
Fica a pergunta. 

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Reencontro com Idanha

Naquele domingo de dezembro o sol envergonhado convocava-me para um passeio longe das rotinas e do quotidiano dos dias. Enquanto o grupo acompanhava a partida de futebol que opunha o Fundão ao Idanhense fiz-me ao caminho e andei a pé até ao centro de Idanha-a-Nova. A primeira paragem foi no Centro Cultural Raiano mas antes descobri como a geografia urbana da sede de concelho tinha crescido e sido acompanhada pela construção de novas infraestruturas de apoio à prática desportiva e de lazer.

A primeira surpresa ocorreu quando o jardim com equipamentos para a manutenção do corpo e da mente, instalado perto do novo hotel Estrela de Idanha, me pareceu pouco ou nada frequentado. Um excelente espaço de lazer que tantas pessoas gostariam de ter no seu bairro e na aldeia mas que em Idanha-a-Nova parece ter pouca procura.
Talvez o frio de dezembro não seja convidativo. Talvez as pessoas vão ao ginásio amiúde. Talvez não haja pessoas que gostem da prática de exercício físico.
Mas há pessoas? Se a área urbana cresceu é porque o número de famílias também aumentou.
Mas e então onde estão as pessoas?

Na tarde em que as avenidas de Idanha se apresentavam desertas e em que os bairros se caracterizavam pela calmaria de uma tarde sem movida até me foi difícil encontrar um espaço de cafetaria aberto. Mais depressa tropecei numa loja made in China. Pudera, estão em todo o lado e nas cidades mais populosas até vão aparecendo os China Shopping!

O périplo continuou e lá atrás soube bem observar que o Baroa, referência local gastronómica, continua de portas abertas e por certo a fazer as delícias de quem gosta de uma boa mesa.

Mas voltemos ao Centro Cultural Raiano, espaço de cultura inaugurado por Jorge Sampaio na década de 90 do século XX. Ponto de encontro com a cultura transfronteiriça. Porta de entrada para a experimentação e visitação de culturas oriundas dos dois lados da fronteira.
A sala que marcou um território e uma geração de políticos e fazedores de coisas foi financiada pelo Interreg II e só por isso já era o garante de que o espaço haveria de continuar a seu o laboratório e ideário de agentes e pessoas de Portugal e de Espanha.

Foi a pensar nessa memória e na história do quotidiano de outrora que entrei no Centro Cultural Raiano para observar exposições e dinâmicas à volta do território.
A escassez de pessoas que caracterizava a vila na tarde de domingo era também uma realidade num espaço cultural onde “há dias em que o número de visitantes é de um ou às vezes nem vem ninguém”, descreve a rececionista e guia da sala onde permanece uma exposição sobre agricultura.

Na sala de visitas da Raia não havia apenas a demonstração das artes e ofícios à volta da Campina mas também uma exposição fotográfica sobre o Património de Proença-a-Velha. É então que a profissional de serviço no Centro Cultural se lamenta quanto à falta de adesão dos locais às mostras que presentemente ali acontecem. “Talvez por já conhecerem as nossas tradições vêm pouco e não ligam, já estão habituadas”, diz.

Solícita e empenhada, a mesma profissional entra na conversa da visitante e admite que a frequência de público é hoje em dia “menos regular e numerosa”. “Tem dias!”, diz-nos quem nos relata a enchente do dia anterior pois “houve aqui um encontro de tunas” ou recorda o tempo em que o Inatel enviava frequentemente turistas para a capital da raia em Portugal.

No mesmo instante oferece-me um exemplar da ADUFE – Magazine Cultural editada pelo Município de Idanha. Uma publicação excelente e diferenciadora de tudo o que existe em matéria de agendas culturais municipais. 

A ADUFE transporta o leitor muito para além da oferta cultural. A publicação dirigida pela Divisão de Cultura do Município de Idanha-a-Nova é um roteiro sobre figuras marcantes da região (desta vez o destaque vai para Ribeiro Sanches ou para uma entrevista ao Ministro da Cultura Luís Filipe de Castro Mendes que é natural de Idanha), lugares e gente profundamente conhecedora da nossa geografia usos e costumes. Neste particular merece ênfase o relevo dado a Toulões ou à narrativa que destaca a verdadeira guardiã da história de Penha Garcia. 

A beleza das paisagens contrasta com o ceticismo dos dias em que nos damos conta de como a falta de gente pode “matar” uma terra, um destino, uma região. A desertificação é, aliás, uma realidade que marca os discursos de quem já na década de 90 – Joaquim Morão, autarca com obra feita e reconhecimento aqui e além-fronteiras é uma dessas vozes que nunca se cansa de colocar o dedo na ferida e ao mesmo tempo contagiar tantos e mais uns com esse apelo maior para que ninguém esqueça o Interior - defendia a necessidade de atrair investimentos à campina.

Mas os anos passaram, foram concretizadas obras, o ensino superior manteve-se, o município apostou no turismo e em projetos para a fixação de pessoas e aproveitamento dos campos mas nem assim se estanca a desertificação humana. Diante esta realidade cruel haverá Missão de Valorização do Interior que nos valha?


Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...