O mote do espetáculo de encerramento do ano letivo na escola de ensino artístico do Fundão era uma viagem a Londres.
Em palco estavam 350 jovens músicos e bailarinos das classes de teatro musical, orquestras, combo, coros.
Gente com uma energia incomensurável.
À hora marcada a juventude apanha o avião para uma viagem de sonho cuja banda sonora é uma combinação perfeita entre sons, dança, sentidos e emotividade.
Fly to London que esteve duas noites em cartaz no Fundão e com lotação esgotadíssima foi observado por 1400 pessoas que não poderiam ficar indiferentes ao talento e performance do coletivo magistralmente orientado pelo maestro Bruno Martins.
Durante mais de uma hora de espetáculo o espetador, sempre embalado pelos êxitos da música londrina e universal deixou-se guiar pelas bailarinas e viajantes que nos transportaram para locais emblemáticos londrinos. Um passeio no Wide Park famoso pelos seus jardins, observar o render da guarda no Palácio de Buckingham, assistir à rodagem de 007, visitar o Royal Ballet estiveram no périplo de um musical que ainda levou o espetador ao Fantasma da Ópera.
Um trabalho muito profissional apresentado pela Academia de Música e Dança do Fundão que é uma das referências culturais da capital da Cova da Beira e da região.
Se duvidas houvesse quanto ao valor seguro do investimento no ensino artístico da música e da dança, as mesmas seriam dissipadas por todos quantos puderam assistir ao espetáculo de encerramento do ano letivo da escola de ensino artístico do Fundão.
O diretor do estabelecimento de ensino que costuma emocionar-se com o talento e êxito dos alunos da Academia estava orgulhoso da sua escola, professores e alunos e explicou que o segredo de um percurso com vinte anos a somar êxitos se deve ao ambiente familiar que marca dos dias da Academia e ao trabalho que diariamente, às vezes fora de horas, se realiza nas salas de aula do estabelecimento de ensino.
E quando esse esforço e empenho continuados se traduzem num musical de qualidade superior só podemos aplaudir de pé e dar visibilidade pública ao trabalho da Academia Armando Paulouro.
A Academia de Música e Dança do Fundão é, de facto, um agente ativo na promoção da cultura nesta região de Portugal.
E não são apenas os magníficos concertos que atestam esse patamar de qualidade. O ano letivo que agora termina encerra na Academia de Música e Dança do Fundão um tempo letivo novamente marcado pela conquista de prémios, medalhas e outros reconhecimentos nas classes de piano e guitarra cujo dezenas de alunos foram este ano escolar premiados em concursos realizados no país e no estrangeiro.
Quando a nossa comunidade tem entre as suas instituições uma escola com a visibilidade e reconhecimento da Academia só podemos sentirmo-nos orgulhosos.
Parabéns a todos!
Fracções de memórias passadas. Tempos idos e diluídos na espuma dos dias. A actualidade desta Beira que é a nossa!
segunda-feira, junho 27, 2016
quarta-feira, junho 01, 2016
O canto da poesia num concerto de encher a alma
Às vezes tenho pena de não dispor de tempo nem disposição para escrever. Também tenho saudades de preencher os dias com a responsabilidade de dar notícias. As boas. Mesmo quando são más!
No outro dia estive na plateia para observar e ouvir um espetáculo de música portuguesa em que o mote foi revisitar a poesia portuguesa e as letras de amor de Camões ou Cecília Meireles.
Inserido na programação do Festival Literário da Gardunha, ao qual também não consegui ir, o concerto em que o piano de Mário Laginha tão bem combinou com a voz de Camané foi um belíssimo momento de introspeção.
"Cansaço" um poema de Luís Macedo num tema que ficou famoso na interpretação de Amália Rodrigues e que também foi interpretado no espetáculo Fado Revisitado foi dos momentos que mais me encheu a alma.
E diz o poema
Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.
Da poesia de David Mourão Ferreira que é dos poetas que Camané mais gosta de cantar fez se ouvir "Espelho Quebrado" que também é interpretado por Carminho e que diz
Com o seu chicote o vento / Quebra o espelho do lago
Em mim foi mais violento o estrago
Porque o vento ao passar / Murmurava o teu nome
Depois de o murmurar, deixou-me
Em mim foi mais violento o estrago
Porque o vento ao passar / Murmurava o teu nome
Depois de o murmurar, deixou-me
Tão rápido passou / Nem soube destruír-me
As mágoas em que sou tão firme
Mas a sua passagem / Em vidro recortava
No lago a minha imagem de escrava
As mágoas em que sou tão firme
Mas a sua passagem / Em vidro recortava
No lago a minha imagem de escrava
Ó líquido cristal / Dos meus olhos sem ti
Em vão o vendaval pedi
Para que se quebrasse / O espelho que me enluta
E me ficasse a face enxuta
Em vão o vendaval pedi
Para que se quebrasse / O espelho que me enluta
E me ficasse a face enxuta
Ai meus olhos sem ti sem ti
Em mim foi mais violento, o vento
Em mim foi mais violento, o vento
Um dos mais conhecidos temas interpretados por Camané , chama-se "sei de um Rio". No concerto realizado no Fundão a interpretação deixou a plateia cheia de vontade de voltar ao registo do isqueiro ou da vela em punho e de braço no ar.
Nunca me tinha dado conta da beleza do poema de Pedro Homem de Melo
Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando
E antes das despedidas, Mário Laginha e Camané recorreram à riqueza da "Inútil Paisagem" de Vinicius de Morais.
Mas pra quê?
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar? Pra quê?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde? De que serve a tarde?
Inútil Paisagem
Pode ser que não venhas mais;
Que não venhas nunca mais...
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?
Se meu caminho sozinho é nada...
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar? Pra quê?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde? De que serve a tarde?
Inútil Paisagem
Pode ser que não venhas mais;
Que não venhas nunca mais...
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?
Se meu caminho sozinho é nada...
terça-feira, maio 10, 2016
Quando os livros quebram o silêncio
Hoje escrevo sobre a biblioteca itinerante de Proença-a-Nova . Um projeto cultural que desde há dez anos é dinamizado por Nuno Marçal. Falar do bibliotecário que viaja pelas aldeias mais recônditas do Pinhal Interior sem dar boa nota da componente humana do cidadão é muito pouco.
É que Nuno Marçal não se faz acompanhar apenas de livros. Às pessoas leva mais que livros. Na mala de viagem também vão revistas, bons conselhos e uma mão cheia de afetos.
Sorrisos feito palavras que abraçam e acrescentam alegria às pessoas que resistem à desertificação.
Nuno Marçal é um colecionador de imagens da vida no campo. Momentos de uma ruralidade em que a rotina só é quebrada pela chegada da bibliomóvel.
Quer seja através da Mala das Letras, quer através dos improvisados clubes de leitura que se criam nos lugares e nas aldeias onde às vezes sobressai o som de um acordeão ou a concertina de alguém que se junta ao coro das palavras soltas e consegue criar animação de rua.
Nesse instante o adro da igreja ou o espaço mais amplo do casario transforma-se num palco de cantigas ao desafio.
Quem diz cantigas, diz estórias. Memórias de outros tempos e lugares que a alma implora que se recordem.
Partilha-se, então, esse património imaterial de uma geografia em que os livros quebram o silêncio.
Além dos livros e do gesto, a bibliomóvel de Proença-a-Nova promove ainda os diálogos entre pessoas cujas famílias estão muitas vezes distantes. Mas também ajuda a solucionar questões de natureza burocrática que tantas vezes representam um problema de maior dimensão para quem está isolado.
Por todas estas razões e outras que não caberiam nesta meia dúzia de linhas, vale a pena continuar a investir na rede de bibliotecas itinerantes. Em Portugal serão cerca de 60. Na Cova da Beira, houve o caso da biblioteca itinerante dinamizada pelo município do Fundão. Oxalá a dinâmica da bibliotecária Dina Matos faça da Eugénio de Andrade uma biblioteca que rasga fronteiras e combate a solidão que marca os dias das nossas aldeias.
E agora apetece citar Jorge Luís Borges e um magnífico poema sobre os livros.
E diz assim:
Os Meus Livros
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"
Aos leitores deixo ainda o link de uma belíssima conversa com Nuno Marçal. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-1-maio-2016-rcb-nuno-mar%C3%A7al/
quarta-feira, maio 04, 2016
Debater o Interior
O Jornal do Fundão retoma dentro de alguns dias uma das matrizes que tão bem o caracterizaram no tempo de António Paulouro.
Discutir o Interior não é coisa pouca e se o debate abranger uma maior geografia territorial, tanto melhor!
Bem sei que os sucessivos debates, iniciativas e grupos de trabalho em defesa do Interior têm alterado muito pouco o nosso fado. Mas se à mesma mesa se reunirem outras vozes de um eixo territorial mais basto que a Beira Interior pode ser que a expressão mediática que o fórum possa vir a ter seja mais um grito de alerta da geografia onde se colhem poucos votos.
Desconheço se é apenas o facto de não sermos muitos que justifica o constante desinvestimento no Interior. Também não sei se essa é a única razão que, no caso concreto da Beira Interior, nos trouxe as portagens mais caras do país. Porém, vejo que o discurso em defesa do Interior continua a estar na agenda. Reconquista holofotes. Está na génese da criação de mais um Grupo de Missão para o Desenvolvimento do Interior.
Chegará?
As Primeiras Jornadas do Interior que o Jornal do Fundão realiza no Fundão no dia 13 de maio recordam-me outras jornadas. As da Beira Interior que nos anos 80 do século XX António Paulouro promoveu.
De então para cá a Beira Interior mudou muito. Felizmente para todos os que aqui resistem e continuam a acreditar no futuro deste cantinho entre serras.
Ainda assim, importa fazer mais. Legislar no sentido de repovoar os territórios de baixa densidade. Nós por cá, vamos tendo tudo.
Mas faltam pessoas.
Venha o debate!
Discutir o Interior não é coisa pouca e se o debate abranger uma maior geografia territorial, tanto melhor!
Bem sei que os sucessivos debates, iniciativas e grupos de trabalho em defesa do Interior têm alterado muito pouco o nosso fado. Mas se à mesma mesa se reunirem outras vozes de um eixo territorial mais basto que a Beira Interior pode ser que a expressão mediática que o fórum possa vir a ter seja mais um grito de alerta da geografia onde se colhem poucos votos.
Desconheço se é apenas o facto de não sermos muitos que justifica o constante desinvestimento no Interior. Também não sei se essa é a única razão que, no caso concreto da Beira Interior, nos trouxe as portagens mais caras do país. Porém, vejo que o discurso em defesa do Interior continua a estar na agenda. Reconquista holofotes. Está na génese da criação de mais um Grupo de Missão para o Desenvolvimento do Interior.
Chegará?
As Primeiras Jornadas do Interior que o Jornal do Fundão realiza no Fundão no dia 13 de maio recordam-me outras jornadas. As da Beira Interior que nos anos 80 do século XX António Paulouro promoveu.
De então para cá a Beira Interior mudou muito. Felizmente para todos os que aqui resistem e continuam a acreditar no futuro deste cantinho entre serras.
Ainda assim, importa fazer mais. Legislar no sentido de repovoar os territórios de baixa densidade. Nós por cá, vamos tendo tudo.
Mas faltam pessoas.
Venha o debate!
terça-feira, maio 03, 2016
Festival Literário da Gardunha
Mais de 25 escritores de diferentes gerações e países, vão marcar presença na terceira edição do Festival Literário da Gardunha (FLG) que se realiza no concelho do Fundão de 16 a 22 de maio.
A programação do FLG prevê a realização de várias dinâmicas com escritores estando prevista a realização de outras atividades culturais. É o caso do lançamento do livro "O Caroço" de Albano Martins. Ou a inauguração de uma exposição fotográfica de Diamantino Gonçalves. Ponto alto da programação será o espetáculo "Fado Revisitado" com Camané e Mário Laginha agendado para dia 21 no Octógono.
Do programa constam não só as conversas e mesas redondas com os escritores convidados, como duas residências literárias, dois encontros com alunos, uma feira do livro, uma projeção cinematográfica, e ainda “workshops”.
O festival organizado pela Câmara Municipal do Fundão e A23 Edições tem a serra da Gardunha como fonte de inspiração para a temática do evento. "Escrever a Paisagem".
A promoção das relações ibéricas e internacionais, o encontro entre escritores consagrados e mais jovens e ainda a integração de escritores oriundos da região são outras das marcas que caracterizam o FLG.
Este ano, os encontros literários com a Gardunha permitirão ainda uma abordagem aos países lusófonos de Angola e Moçambique. Está garantida a representação de escritores angolanos e de um escritor moçambicano.
A relação com a comunidade local é outra das particularidades do FLG estando garantida a participação dos escritores Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso na realização das residências literárias e a deslocação a escolas do concelho do Fundão.
Entre os que já confirmam presença estão César Antonio Molina (escritor ensaísta e antigo ministro da Cultura em Espanha, a quem caberá a sessão de abertura), Adriana Veríssimo Serrão, Clara Ferreira Alves, Cristina Carvalho, Eduardo Pitta, Fernando Dacosta, Fernando Echevarría, Fernando Guimarães, Pedro Mexia, Mário Zambujal ou Marcello Duarte Mathias e Mbate Pedro.
Práticas Agrícolas Sustentáveis em debate
A freguesia de
Castelo Novo (Fundão) acolheu no dia 23 de abril a primeira edição dos
"Encontros de Primavera", organizados pela Associação Sociocultural
daquela Aldeia Histórica. Um dia de debates para aflorar as práticas agrícolas
de antigamente e deixar ideias para o desenvolvimento agrícola sustentável do
território.
O Encontro
reuniu especialistas em produção agrícola e preservação da biodiversidade e na
plateia estiveram dezenas de jovens empreendedores. Alguns dos quais deixaram o
conforto dos empregos na área metropolitana de Lisboa e estão a radicar-se no
interior profundo.
Tiago Lucena
é um desses jovens empreendedores que tem passado os últimos anos a
estabelecer pontes e a dinamizar projetos de produção agrícola inovadores e amigos
do planeta. O apicultor que está a mudar residência para Castelo Novo,
entusiasmou a assistência com uma intervenção contra a "lógica
economicista do imediato". Uma intervenção repleta de soluções inovadoras
que poderão inverter o estado de uma sociedade que "já conseguiu acabar
com 50% do planeta". Um planeta que "é finito" e que tem na
"permacultura e na biodiversidade o caminho da sustentabilidade”.
Lembrando que
há um conjunto de estrangeiros experientes em boas práticas de desenvolvimento
da agricultura que "estão a ser marginalizados", Tiago Lucena
recordou como muitos estão a implementar boas práticas seculares e deixou
exemplos de como a policultura ou o aproveitamento de resíduos para matéria
orgânica são boas experiências de agricultura biológica.
Jorge Ferreira
é engenheiro agrónomo e consultor em agricultura biológica. Em Castelo Novo
explicou como o monopólio das empresas de sementes está a comprometer as
variedades tradicionais. "Só as variedades de culturas permanentes, como as
castas de vinha, as de oliveira, a pera rocha, ou maçã bravo-de-esmolfe",
não estão comprometidas.
Os
"Encontros de Primavera" constituíram uma lufada de ar fresco na
abordagem ao cultivo das terras e a organização promete realizar outras
iniciativas ainda este ano.
sexta-feira, abril 29, 2016
25 anos a Alicatar - o livro de Veiga Freire
A Recriação em azulejo alicatado dos
Painéis de São Vicente de Fora exposta na biblioteca municipal do Fundão marcou o lançamento do livro "25 anos a Alicatar Azulejo
com outra arte", do fundanense José Veiga Freire. A obra assinala as bodas de prata na
carreira do artista.
Os painéis de São Vicente de Fora,
pintura de referência do século XV, que se encontram no Museu Nacional de Arte
Antiga, constituem dos mais demorados e minuciosos desafios de José Veiga
Freire.
Recriar o painel que “retrata 58
personagens e que é uma obra-prima” da pintura portuguesa não terá sido tarefa
fácil mas Veiga Freire nunca se furtou a desafios maiores.
Antonieta Garcia, professora e investigadora, sublinhou "o prazer de terminar algo que, quanto mais difícil é, mais desafiante se
torna". "O mistério da criação" como "feitiço" na descoberta da obra
de José Freire foi outra das ideias deixadas, na apresentação da obra.
E "como o saber fazer a arte que surpreende" marca o percurso do
criador Veiga Freire, Antonieta Garcia folheou o livro e deixou-se encantar com
os azulejos inspirados nas colchas de Castelo Branco "que tanto cativam os estrangeiros", no impressionismo das
telas de Van-Gogh ou nos nomes sonantes da literatura. Fernando Pessoa, por exemplo, inspirou 18 telas do artista e denotam "vários traços identitários de ser português". Nas referências à Beira Baixa e ao
Fundão sobressai a figura de António Paulouro,acrescentou.
"A forma de produzir arte do dia-a-dia aproximando-o dos seus conterrâneos" foi, aliás, sublinhada pelo amigo e advogado Leal Salvado que assinou o prefácio do livro.
No conjunto a obra de Veiga Freire é constituída por cerca
de 500 peças. Muitas delas estiveram expostas em 2014 na Moagem- cidade do engenho e das artes no Fundão.
Cada obra de arte transporta o visitante, agora é leitor da obra de Veiga Freire, para a geografia dos afetos.
A grandeza geográfica dos afetos de Veiga Freire esteve à vista na cerimónia de
lançamento do livro. Rodeado de dezenas de amigos e familiares, Veiga Freire
estava emotivamente satisfeito, pois contava reunir à sua volta tantas pessoas
que lhe são próximas. O acontecimento cultural, diga-se, foi bastante concorrido.
E quando a surpresa acontece que mais quererá o
ex-bancário que completa em 2016 70 anos de vida e tem uma mão cheia de
projetos e ideias para concretizar?!
terça-feira, abril 26, 2016
Contadores de Estórias na Biblioteca
No outro dia fui ouvir os Contadores de
Estórias. Numa noite primaveril de abril António
Fontinha, Ana Sofia Paiva e José Craveiro estiveram no Fundão para contar estórias de antigamente.
Relatos sobre pessoas, lugares, tradições e piadas para uma plateia constituída por crianças e muitos adultos que riram muito com "um conto" ao qual se acrescentou "um ponto". Quer isto dizer que a oralidade recolhida na geografia territorial do país é muitas vezes recontada e dinamizada à maneira de cada contador de estórias.
Outras vezes a memória coletiva de uma estória é adaptada à atualidade. Não raras vezes a intervenção soa a sátira.
No fundo, cada um dos atores imprime formulas diversificadas de interagir com o público.
Outras vezes a memória coletiva de uma estória é adaptada à atualidade. Não raras vezes a intervenção soa a sátira.
No fundo, cada um dos atores imprime formulas diversificadas de interagir com o público.
Muitas vezes é o público que
sugere a personagem ou a conclusão de uma linha condutora da Estória.
Naquele sábado à noite, António Fontinha recorreu à imaginação do espectador para questionar o que é um travesseiro.
Naquele sábado à noite, António Fontinha recorreu à imaginação do espectador para questionar o que é um travesseiro.
Houve quem recordasse o travesseiro como nome de um bolo. Uma criança sugeriu que
travesseiro possa ser alguém que atravessa a passadeira.
A segunda opção mereceu a concordância
de António Fontinha e a gargalhada do contador de estórias contagiou uma plateia
inteira.
O segredo do êxito dos contadores de histórias tem muito a ver com o modo de interação entre quem conta e que ouve. Nesse particular António Fontinha e Ana Sofia Paiva são exímios.
O segredo do êxito dos contadores de histórias tem muito a ver com o modo de interação entre quem conta e que ouve. Nesse particular António Fontinha e Ana Sofia Paiva são exímios.
A capacidade de brincar com as
personagens, conferindo-lhe significados diferentes também cativa o público.
José Craveiro, a dada altura, fez um trocadilho com "o diabo das
histórias" ou "as histórias do diabo" e logo a gargalha coletiva
tomou conta da sala.
Também há poesia e canções. Naquela noite recriou-se o "canto" do rouxinol que "é mais rico que o do cuco" avisou quem no palco encantou a plateia.
E as rimas encaixavam na perfeição. "Bendito e louvado que está tudo
contado".
E assim terminou a segunda edição de
"Contadores de Estórias".
Para o ano, em abril, haverá mais uma
sessão, prometeu a bibliotecária Dina Matos. O evento foi promovido pela Câmara
Municipal do Fundão.
segunda-feira, abril 18, 2016
Senta-te aí!
O título tem tanto
de sugestivo como de inusitado. Talvez o segundo adjetivo tenha mais a ver com
o motivo da exposição que até dia 29 de maio está aberta ao público na Moagem-
Cidade do Engenho e das Artes no Fundão.
A exposição "Senta-te Aí" promovida
pelo jovem arquitecto fundanense Pedro Novo é uma viagem ao património
particular de cadeiras que o também curador da mostra foi reunindo em casa. Dos
anos 20 do século XX até 2014, cadeiras várias de sugestivo e anónimo designe.
Algumas
estiveram em lugares como o Café Aliança, o cine-Gardunha ou a Piscina Municipal
do Fundão. Também há cadeiras assinadas pelo próprio Pedro Novo. Uma delas foi
desenhada para uma intervenção minimalista em Lisboa.
Mas o património das
cadeiras mostra-nos outras criações. Por exemplo uma dessas peças de mobiliário
foi desenhada em 1978 por Gastão Machado.
Outra, talvez das mais antigas, foi desenhada por Daciano da Costa, que a definiu como apresentando “um
designe comprometido que se destinava a equipar espaços de trabalho”.
Depois há também uma
cadeira de Eduardo Anahory que foi desenhada em 1959 para casa de lazer pois é
constituída por madeira e lona.
José Espinho é porventura o nome do desenhador mais vezes repetido na mostra.
E por fim, destaco uma
cadeira (a da imagem) do arquitecto Raul Chorão Ramalho datada de 1955.
As cadeiras de aço da década de 40 do século XX e
o banco rotativo hospitalar ou a cadeira de projectista do cine Gardunha em
madeira e aço da década de 50 do século passado.
Uma cadeira
parideira, outra cadeira mas de baloiço e algumas cadeiras portuguesas da
segunda metade do século XIX compõem a mostra.
O arquitecto Pedro
Novo que há mais de um ano cuidou e assinou a riquíssima exposição sobre
edifícios emblemáticos do século XX no Fundão está de volta com esta mostra.
Pelo caminho deixou a marca da Pedro Novo – arquitectos nos conteúdos da Casa do
Barro no Telhado (Fundão).
Em breve, espero,
haveremos de contactar, com outros trabalhos seus. O centro interpretativo do
centeio parece que precisa de uma volta! Força Pedro.
terça-feira, abril 12, 2016
Voltar ao "berço"
Regressei ao "berço".
"Plantei" flores de saudade e revivi memórias dos antepassados. Um tempo ausente, mas muito presente.
Revisitar lugares que são nossos por natureza ou apenas por afeto e emotividade pode revelar-se uma "carga de trabalhos".
Quer isto dizer que a saudade me tomou os passos e o olhar deixou dores no pescoço. Às vezes olhamos para trás e a menina do olho prende-se no infindável mundo das recordações.
Primeiro as emocionais. Depois as paisagens. A seguir os gestos. Também as palavras ditas. As mesmas que neste domingo de abril me revisitaram. Algumas guardo-as em mim. Outras vou partilhá-las aqui.
Saberá o leitor como é revisitar "o berço" e darmos-nos conta de que já lá não mora quase ninguém?
Muitas vezes nem as boas memórias e o ecoar das brincadeiras de outrora apagam esta sensação fúnebre de que poderemos ser dos últimos a regressar ao "berço".
Naquele dia não era a única viajante. Nem só meus passos percorreram as estreitas ruas ladeadas do casario fechado.
Felizmente, vão aparecendo outros viajantes. Poucos!
Muito menos que o número de residentes que este postal dos anos 20 nos mostra.
Ai como custa regressar ao "berço" e dar-me conta de como o silêncio reinante é premonitório do fim das nossas aldeias!
"Plantei" flores de saudade e revivi memórias dos antepassados. Um tempo ausente, mas muito presente.
Revisitar lugares que são nossos por natureza ou apenas por afeto e emotividade pode revelar-se uma "carga de trabalhos".
Quer isto dizer que a saudade me tomou os passos e o olhar deixou dores no pescoço. Às vezes olhamos para trás e a menina do olho prende-se no infindável mundo das recordações.
Primeiro as emocionais. Depois as paisagens. A seguir os gestos. Também as palavras ditas. As mesmas que neste domingo de abril me revisitaram. Algumas guardo-as em mim. Outras vou partilhá-las aqui.
Saberá o leitor como é revisitar "o berço" e darmos-nos conta de que já lá não mora quase ninguém?
Muitas vezes nem as boas memórias e o ecoar das brincadeiras de outrora apagam esta sensação fúnebre de que poderemos ser dos últimos a regressar ao "berço".
Naquele dia não era a única viajante. Nem só meus passos percorreram as estreitas ruas ladeadas do casario fechado.
Felizmente, vão aparecendo outros viajantes. Poucos!
Muito menos que o número de residentes que este postal dos anos 20 nos mostra.
Ai como custa regressar ao "berço" e dar-me conta de como o silêncio reinante é premonitório do fim das nossas aldeias!
“O Deputado da Nação” apresentado no Fundão
“Uma
implacável sátira à classe política” e à volta de todos quantos sobrepõem o
interesse pessoal ao interesse coletivo.
Eis, em resumo, o novo livro de Manuel da Silva Ramos.
Escrito em parceria com outro escritor, Miguel Real, o livro narra a história de Umbelino Damião.
Eis, em resumo, o novo livro de Manuel da Silva Ramos.
Escrito em parceria com outro escritor, Miguel Real, o livro narra a história de Umbelino Damião.
Editado pela Parsifal o livro convoca o leitor para a “liberdade de expressão e o tom jocoso” de Manuel da Silva Ramos a que se junta “o tom histórico e linguagem abstrata” de Miguel Real. Para Miguel Real “O Deputado da Nação” é uma narrativa muito atual. “É uma caricatura dos deputados que uma vez no parlamento conseguem promover os negócios e contribuem para o descrédito da política”.
Já Manuel da Silva Ramos destaca como “O Deputado da Nação” encerra a trilogia iniciada com o livro de Miguel Real “A Morte de Portugal” e o trabalho assinado pelo escritor covilhanense “A Impunidade das Trevas e os Perfumes Eróticos” que retrataram os efeitos da austeridade em Portugal.
E
Silva Ramos deixa o sonho: “Que Portugal passe a ter uma Assembleia da República
virgem, sem gente corrupta”.
O
livro foi apresentado pelo jornalista Fernando Paulouro, para quem o livro é
"uma sátira implacável à sociedade atual". Fernando Paulouro encontra
em “O Deputado da Nação” traços da literatura de Camilo e de Eça, embora à
época não houvesse "mecanismos tão peritos" de negociata e de
promiscuidade político-económica.
Sublinhando o fato de o livro permitir viajar entre Lisboa e a Gardunha ou a Covilhã pois foi escrito a quatro mãos, Paulouro descreve o livro como sendo “muito bem-disposto” mas sem esquecer os “problemas graves da sociedade portuguesa”. “Da emigração à caricatura de políticos muito conhecidos da atualidade”. “Um livro capaz de nos mostrar como os deputados observam no exercício da política uma possibilidade de enriquecimento”, explicou Fernando Paulouro, acrescentando que o livro apresenta ainda "uma divertida caricatura da justiça".http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/media/201604111636-o_deputado_final_.mp3
Sublinhando o fato de o livro permitir viajar entre Lisboa e a Gardunha ou a Covilhã pois foi escrito a quatro mãos, Paulouro descreve o livro como sendo “muito bem-disposto” mas sem esquecer os “problemas graves da sociedade portuguesa”. “Da emigração à caricatura de políticos muito conhecidos da atualidade”. “Um livro capaz de nos mostrar como os deputados observam no exercício da política uma possibilidade de enriquecimento”, explicou Fernando Paulouro, acrescentando que o livro apresenta ainda "uma divertida caricatura da justiça".http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/media/201604111636-o_deputado_final_.mp3
domingo, agosto 10, 2014
Galeria de Arte imortaliza pintura de Manuela Justino
Um conjunto de obras de
pintura e tapeçaria da malograda Manuela Justino integram a Galaria de Arte
Manuela Justino que foi recentemente inaugurada na Aldeia Histórica de Castelo
Novo.
O espaço resulta do aproveitamento de uma antiga cavalariça e fica no número 13 da rua professor Gonçalves Coucho, perto da Associação Sociocultural de Castelo Novo. Um investimento de 100 mil euros, 60% dos quais financiados pelo PRODER.
O espaço resulta do aproveitamento de uma antiga cavalariça e fica no número 13 da rua professor Gonçalves Coucho, perto da Associação Sociocultural de Castelo Novo. Um investimento de 100 mil euros, 60% dos quais financiados pelo PRODER.
Um protocolo entre a
família da pintora falecida há meio ano e o município do Fundão permitiu a
cedência, por um período de trinta anos, de uma parte da obra da pintora e
tapeceira que adoptou Castelo Novo como sua terra de berço. O amor à Beira
Baixa e em particular a Castelo Novo e Alpedrinha foi sublinhado pela filha,
Sofia Durão, à margem da cerimónia de inauguração da Galeria de Arte. Um
momento de saudade e elogio público à obra da pintora cuja última exposição
realizada em vida aconteceu no Palácio do Picadeiro em Alpedrinha. “Sopro de
Água” foi o título da última mostra de arte na Beira Baixa. “A homenagem às
fontes, chafarizes e correntes de água” também acontece na mostra permanente da
Galeria agora inaugurada.
A relação de Manuela Justino com a água e outras fontes da natureza foi sublinhada por Celeste Capelo, presidente da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. “Presto homenagem à autarquia do Fundão por se lembrar dos seus filhos, perpetuando-os através destas iniciativas”, declarou a também amiga de Manuela Justino. Também Aida Rechena, diretora do Museu de Castelo Branco sublinhou as qualidades artísticas e pessoais da pintora prematuramente falecida. Tinha 56 anos! E verbalizou a “forte” relação de proximidade da artista com “a paisagem e o impressionismo abstracto” da obra assim descrita pela própria Manuela Justino.
Uma mulher “generosa, sensível para as questões feministas como se vê na tapeçaria e nos seus quadros” que também estão expostos no Museu Tavares Proença Júnior. O valor artístico de Manuela Justino levará a Câmara Municipal do Fundão (CMF) a atribuir-lhe, a título póstumo, a medalha de ouro da cidade do Fundão. Paulo Fernandes que é presidente da autarquia anunciou-o no dia em que também o município do Fundão prestou tributo à autora “de uma obra extraordinária que nos foi legada pela família de um nome maior nas artes plásticas”, referiu sobre Manuela Justino. A Galeria de Arte estará aberta nos mesmos dias e horários do posto de turismo.
A relação de Manuela Justino com a água e outras fontes da natureza foi sublinhada por Celeste Capelo, presidente da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. “Presto homenagem à autarquia do Fundão por se lembrar dos seus filhos, perpetuando-os através destas iniciativas”, declarou a também amiga de Manuela Justino. Também Aida Rechena, diretora do Museu de Castelo Branco sublinhou as qualidades artísticas e pessoais da pintora prematuramente falecida. Tinha 56 anos! E verbalizou a “forte” relação de proximidade da artista com “a paisagem e o impressionismo abstracto” da obra assim descrita pela própria Manuela Justino.
Uma mulher “generosa, sensível para as questões feministas como se vê na tapeçaria e nos seus quadros” que também estão expostos no Museu Tavares Proença Júnior. O valor artístico de Manuela Justino levará a Câmara Municipal do Fundão (CMF) a atribuir-lhe, a título póstumo, a medalha de ouro da cidade do Fundão. Paulo Fernandes que é presidente da autarquia anunciou-o no dia em que também o município do Fundão prestou tributo à autora “de uma obra extraordinária que nos foi legada pela família de um nome maior nas artes plásticas”, referiu sobre Manuela Justino. A Galeria de Arte estará aberta nos mesmos dias e horários do posto de turismo.
Além da inauguração da
Galeria Manuela Justino, o dia 26 de julho ficou marcado em Castelo Novo pela
inauguração da renovada área de lazer da freguesia. Um investimento de “quinze
mil euros”, integralmente suportados pela junta de freguesia local e que se
traduzem na abertura de uma piscina natural na ribeira de Alpreade.
Paralelamente foram inaugurados cerca de três quilómetros de percurso pedestre à volta da Aldeia Histórica que permitirão ao visitante inteirar-se da riqueza “do caminho da fonte da cale, enquanto sítio emblemático, a Casa da Comenda e o Parque do Alardo, entre outros”. Trata-se de um percurso que ajuda a compreender a malha urbana da localidade. Em termos turísticos, Castelo Novo aguarda a preservação da antiga fábrica dos cobertores pois a CMF “está a concluir as negociações para a aquisição” do imóvel localizado perto da ribeira de Alpreade.
De acordo com Paulo Fernandes, o espaço funcionará como centro de apoio à zona ribeirinha e um complemento à divulgação museológica do património de Castelo Novo. “Vamos procurar parceiros privados para desenvolver a componente de turismo na natureza junto à zona ribeirinha”, acrescentou Paulo Fernandes.
Paralelamente foram inaugurados cerca de três quilómetros de percurso pedestre à volta da Aldeia Histórica que permitirão ao visitante inteirar-se da riqueza “do caminho da fonte da cale, enquanto sítio emblemático, a Casa da Comenda e o Parque do Alardo, entre outros”. Trata-se de um percurso que ajuda a compreender a malha urbana da localidade. Em termos turísticos, Castelo Novo aguarda a preservação da antiga fábrica dos cobertores pois a CMF “está a concluir as negociações para a aquisição” do imóvel localizado perto da ribeira de Alpreade.
De acordo com Paulo Fernandes, o espaço funcionará como centro de apoio à zona ribeirinha e um complemento à divulgação museológica do património de Castelo Novo. “Vamos procurar parceiros privados para desenvolver a componente de turismo na natureza junto à zona ribeirinha”, acrescentou Paulo Fernandes.
Publicado no Jornal do Fundão, edição de 7 de agosto 1014
A Notícia também aqui http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/pag/23152
A Notícia também aqui http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/pag/23152
terça-feira, julho 22, 2014
Artesanato e gastronomia no “Xistrilhos” 2014
Dizem que é o centro do
universo, também lhe chamam o coração do xisto. Sobral de São Miguel no
concelho da Covilhã organizou e recebeu o “Xistrilhos”. A iniciativa deu
seguimento ao “Xisto e Lendas” e o êxito está garantido. No próximo ano, o
segundo fim-de-semana de julho voltará a ser ponto de encontro com o
artesanato, gastronomia e muita animação.
“Trilhando Sensações” foi
o slogan da iniciativa que entre
sexta-feira e domingo foi visitada por centenas de pessoas de toda a região. O
“Xistrilhos” foi organizado por um grupo de pessoas do Sobral que estão
determinadas em dar vida à aldeia do xisto. Suzette Ferreira integrou a organização
e partilhou connosco a satisfação pelo “êxito de um conceito de festa” que este
ano teve alguma inovação. Além das habituais tasquinhas, desta vez a animação
passou pelas várias artérias da iniciativa e o passeio pedestre também passou
por outros trilhos. “Vestígios arqueológicos, gravuras e as marcas dos rodados
da rota do sal” destaca a responsável. Inovadores foram também “o workshop e oficina de trabalhos manuais
sobre como trabalhar a ardósia e o xisto”. A nível gastronómico, “novos
sobralenses aderiram às tasquinhas e apresentaram novos pratos”. Do javali com
legumes, à pica de bacalhau, sem esquecer o feijão com couve à moda das primas
Sarilhas, houve de tudo um pouco. “Foi de comer e gritar por mais” disseram
alguns dos visitantes que no domingo à tarde se deslocaram a Sobral de São
Miguel para uma visita ao certame. Embora São Pedro tenha surpreendido os
convivas com chuva (no dia de sábado) a verdade é que a iniciativa “foi um
êxito” a repetir. E enquanto não chega a próxima edição Adília Pinto e Teresa
Paiva continuarão a dar ao dedo. Uma ocupar-se-á do tear de onde saem bonitos
naperons e painéis de linho bordados a preceito. A outra artesã dedicar-se-á
aos chapéus de renda e algodão. As meias brancas rendadas e os antigos
cobertores que passarão a tapetes multiusos compõem a oferta de quem faz da delicadeza
das mãos ganha-pão para a família. O Xistrilhos regressa dentro de um ano mas
até lá Sobral de são Miguel vai “inaugurar o caminho do xisto”, anunciou a
presidente da junta de freguesia Sandra Ferreira. “Será muito em breve”,
acrescentou. Depois disso, Sobral haverá de ser palco para a realização de “um
evento dedicado ao cogumelo, outro sobre geocaching
e uma feira do queijo corno”.
terça-feira, fevereiro 18, 2014
"Saudade" a rua que é uma família
Na cidade
com uma população flutuante de aproximadamente dez mil pessoas, há lugares que
ganham vida com a chegada dos estudantes. Gente que se governa no decurso do
ano académico e que já não sabe estar sem a movida dos universitários. A
Saudade é um desses lugares de vida e memórias.
O que seria
a Covilhã sem os estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI)? A pergunta
em jeito de resposta marca as conversas entre a repórter e os transeuntes de
uma das ruas mais universitárias da Covilhã. Mas a realidade é comum a outras
artérias de uma cidade onde “existem negócios que sobrevivem à custa dos
estudantes”. É o caso da zona da Anil, bastante procurada pela população
flutuante da Faculdade de Medicina! Além do alojamento e alimentação, a noite e
a dinâmica de vida da gente jovem permitem que a economia local movimente
milhares de euros. Mas centremo-nos na Saudade. Ali é fácil darmo-nos conta da
presença e partida dos estudantes. Quem regressa às origens nunca mais esquece
o bairro. Quem permanece na Covilhã volta à Saudade sempre que a folia aperta.
Mas também há quem não volte e leve na bagagem a saudade os dias, num bairro em
que as, outrora, casas de habitação são hoje segundas casas. E quem passou a
morar em zonas mais chiques da Covilhã, aluga os antigos apartamentos os
estudantes. Até ao número 100 da Rua da Saudade amontoam-se os carros de matrículas
oriundas de outras terras. Há mais movimento nas ruas do que o habitual.
Pessoas que envergam traje académico e com pronúncia do norte. E embora aquela
artéria da zona antiga da Covilhã já não tenha a mesma dinâmica que antecedeu o
nascimento de outros bairros, na zona de expansão da cidade, a verdade é que a
calmaria desaparece mal chegam os estudantes universitários. Além do bulício
crescente, entre a rua e os becos de acesso à Faculdade de Arquitectura ou ao
pólo principal da UBI, das janelas das casas sai o som das canções do mundo.
Música em altos berros, jovens nas varandas e janelas num movimento que ganha
maior expressão nos cafés do bairro. O Café da Saudade é um desses pontos de
confluência de jovens de todo o lado. Não só os residentes no Bairro da Saudade
mas os estudantes que residem em zonas mais caras da Covilhã ou nas residências
académicas. Não há ubiano que desconheça a Saudade. Ponto de referência para
jantaradas de grupo e outras partilhas. Geografia de afectos, gerador de
relações humanas, lugar onde chegam a estabelecer-se relações de quase família.
A imagem da repórter é corroborada por Ester Ferrinho. “Há estudantes que
conheço há mais de dezassete anos. Concluíram o curso, constituíram família e
mantém-se por cá”. A proprietária do Café da Saudade conhece tão bem alguns dos
estudantes da UBI como a própria filha. Os seus gostos e defeitos, basta vê-los
entrar e consegue perceber se já dormiram ou se a noite foi ao relento. “Na
recepção ao caloiro e na semana académico é frequente vê-los a dormir à porta
dos prédios, nas escadas ou nos elevadores. Uma vez num café aqui do bairro,
estavam a regressar e alguns adormeceram debaixo da mesa de snooker”.
Revelações de Ester Ferrinho que reforça o sorriso cúmplice quando recorda os
dias em que lhe cantaram uma serenata. “Umas duas ou três vezes, a última foi a
semana passada e eu gosto. Sinto que também me estimam”. Ester e o marido Júlio
são uma entre muitas famílias covilhanenses que estreitam laços com os jovens
oriundos de vários sítios de Portugal. Gente que muitas vezes é uma espécie de
família de acolhimento com quem os estudantes podem contar. “Às vezes pedem-me
uma aspirina ou uma forma de atenuar a gripe. Também temos quem peça
complacência pela dificuldade e em vez de pagar a conta no dia fá-lo ao fim do
mês. Quando conhecemos bem, gostamos de ajudar e as famílias não esquecem”. A
escolha da Covilhã para estudar não está associada apenas a nota mínima de
entrada nos cursos. Muitas famílias recorrem à cidade neve por saberem tratar-se
de uma terra de dimensão média “em que toda a gente se conhece e onde o custo
de vida é mais económico”. Foi o que aconteceu com o estudante de medicina
Pedro Oliveira. Oriundo de Santa Maria da Feira, o jovem preferiu a Faculdade
de Medicina da Covilhã em vez da Lisboa porque a cidade é mais acolhedora e as
rendas (na Anil que é das zonas mais caras da Covilhã) custam menos duzentos
euros que em Lisboa ou no Porto. Convidado a estabelecer um paralelismo entre a
vida académica numa cidade do interior ou numa capital, Pedro admite que a
dinâmica de festas e iniciativas académicas está concentrada em dois momentos
(recepção e semana académica) mas que poderia “ser mais profícua se diluída ao
longo do período académico. Por outro lado haveria uma maior probabilidade de
estimular a economia”, diz.
Nuno é
covilhanense e reside num dos bairros mais frequentados pela juventude da UBI.
Não tem dúvidas em afirmar que o crescimento exponencial da população académica
“é uma mais-valia” para a Covilhã e contesta a ideia de que entre os
universitários haja gente perdida e com pouco juízo - como dizem alguns habitantes
mais idosos. “São óptimas pessoas, a doideira passa-lhes a fim do primeiro
ano”, esclarece. Alberto de Matos tem 85 anos e reside na
Saudade há mais de vinte. Já morou em outros bairros da cidade, igualmente
povoados de estudantes mas é da Saudade que guarda as maiores recordações da vida
movimentada dos universitários. As festas fora de horas e para as quais nunca
foram convidados mas que entram pela casa adentro de cada um dos moradores
daquela artéria da zona antiga da Covilhã. Memória tem muitas, umas mais
engraçadas que outras. Também tem muito presente o reboliço associado à chegada
de novos “novos magotes de malta” e das tiranias que fazem uns aos outros. Numa
alusão às praxes, Alberto recorda os exageros associados ao consumo de álcool e
partilha connosco episódios como aquele em que uma rapariga queria ficar sem
roupa ao pé do contentor. Gente cheia de vida que ora perturba o sossego dos
outros ora é boa companhia para os dias mais cinzentos. Sobre os comportamentos
acrescenta que os angolanos são mais calmos que os outros. Rafael Ferreira tem 22 anos é natural do Entroncamento e matriculou-se na
Universidade da Beira Interior (UBI) há três anos, por opção. Ainda não
concluiu o curso de Engenharia Civil e já está a desenvolver um projecto
económico que dá trabalho a estudantes mas também os encaminha para as melhores
casas ou na busca de bons resultados lectivos. No último Verão constituiu a ImoStudy, Imobiliária e Centro de
Explicações. Um negócio que vai da ajuda ao arrendamento para estudantes até às
explicações. Rafael quando chegou à Covilhã desconhecia a realidade do
território e muito menos onde se dirigir para obter serviços básicos. Nesse
caso constituiu-se como mediador imobiliário “não burocrático”. Em cada
estudante um amigo é o lema da empresa que já celebrou alguns contractos com
mais de uma vintena de pessoas que através da ImoStudy passam a conhecer a Covilhã fora das portas da UBI.
Estimular a integração da população flutuante numa cidade do interior é o
objectivo da empresa que consegue preços mais competitivos. é o objectivo da
empresa que consegue preços mais competitivos. Ao JF, Rafael adianta que a
estratégia de negócio passa por tirar partido do período de matrículas em que
cerca de dois mil estudantes chegam à Covilhã à procura de um abrigo. “Colocar
uma placa a informar que se aluga quarto ou que se arrenda casa, não chega. As
famílias querem saber mais sobre a cidade universitária e os locais que os
filhos poderão frequentar. Nós encaminhamos essas pessoas”, esclarece o
estudante empreendedor.
Dados dos
serviços sociais da UBI indicam que no ano lectivo de 2012/13 estiveram
ocupadas 742 das 815 camas em residência académica. A maior percentagem de
população em residência diz respeito a estudantes oriundos dos distritos de
Castelo Branco (10,38%), Porto (9,97%) e Aveiro (9,43%), seguido dos estudantes
estrangeiros que chegam á Covilhã por via do programa Erasmus e que totalizam
cerca de (23,58%) dos residentes em instalações da universidade. Recorrer a uma
residência académica não é para todos os estudantes, depende dos rendimentos da
família e normalmente a dormida em residência é encara como um suplemento à
bolsa. De acordo com o Artigo 19º do
Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior,
os estudantes bolseiros deslocados do ensino superior público que não tenham
tido colocação em residência dos serviços de acção social, “beneficiam, no
período lectivo em causa, de um complemento mensal igual ao valor do encargo
efectivamente pago pelo alojamento e comprovado por recibo, até ao limite de 30
% do indexante dos apoios sociais”. Relativamente ao apoio financeiro para o
estudante morar na Covilhã, não existe nenhum caso, visto que todos os
candidatos a alojamento foram colocados em residência académica. Os dados satisfazem a organização que defende os interesses dos estudantes.
“A UBI tem das melhores percentagens de cobertura de residências para
estudantes”, referiu Pedro Bernardo presidente da AAUBI. Os preços variam
consoante a modernidade e conservação dos imóveis. No caso da UBI, a Casa Pedro
Álvares Cabral (ao Sineiro) é a menos em conta. “O valor médio a pagar é de 110
euros, no entanto há residências a 80 euros”. Alugar quarto ou casa na Covilhã
significa igualmente diversidade nos preços e comodidade. A localização é um
factor muito importante tanto para quem procura como para quem investiu no
negócio. Morar ao pé da Faculdade de Medicina ou junto ao pólo principal pode
custar mais caro que escolher um quarto ou uma casa na zona da Saudade. “O
preço é variável, se um quarto pode custar à volta de 100 euros, a renda de um
T0 pode chegar aos 400 a 500 euros. Mas em média os preços por quarto andam na
casa dos 150 a 160 euros mais despesas de luz, água e condomínio e sem contrato
de arrendamento”. Pedro Bernardo esclarece que por exemplo na zona da Saudade
“os arrendatários têm a preocupação de uniformizar o preço”. Questionado sobre
a ausência de contractos de arrendamento o presidente da AAUBI lembra como a
“necessidade aguça o engenho”, pois os estudantes querem pagar o menos possível
e os senhorios evitam os impostos. Mas o dirigente estudantil também deixa um
alerta:”É importante que se estabeleça algum compromisso”. E a título de
exemplo conta ao JF a história de um ubiano que recentemente se atrasou uma
semana a pagar a conta e foi convidado a abandonar o quarto onde permanecia há
muito tempo. “Com um contrato estão sempre salvaguardados os deveres e direitos
de inquilino e proprietário”, alerta! Sobre a frequência de centenas de
estudantes na cidade que também depende da economia universitária, Pedro
Bernardo, salienta que a Covilhã ainda não aprendeu a conviver com as mudanças
de comportamentos dos residentes. Aludindo ao período em que centenas de novos
estudantes se instalam na cidade e às festas académicas, Pedro Bernardo
desvaloriza supostos exageros, barulhos e mudança de comportamentos e sublinha
“os proveitos económicos” que a população académica deixa na Covilhã.
Quadros relativos à população estudante da UBI nas residências, bem como o distrito de proveniência:
Distrito
|
Nº Alunos 1º,
2º e 3º Ciclos e MI
|
%
|
Nº Aluno
alojados na residência*
|
%
|
Castelo Branco
|
1734
|
27,31%
|
77
|
10,38%
|
Guarda
|
703
|
11,07%
|
54
|
7,28%
|
Aveiro
|
531
|
8,36%
|
70
|
9,43%
|
Viseu
|
514
|
8,09%
|
46
|
6,20%
|
Porto
|
468
|
7,37%
|
74
|
9,97%
|
Braga
|
394
|
6,20%
|
55
|
7,41%
|
Santarém
|
311
|
4,90%
|
27
|
3,64%
|
Leiria
|
278
|
4,38%
|
26
|
3,50%
|
Coimbra
|
196
|
3,09%
|
16
|
2,16%
|
Lisboa
|
185
|
2,91%
|
26
|
3,50%
|
Vila Real
|
160
|
2,52%
|
10
|
1,35%
|
Bragança
|
136
|
2,14%
|
8
|
1,08%
|
Viana do
Castelo
|
121
|
1,91%
|
19
|
2,56%
|
Setúbal
|
99
|
1,56%
|
14
|
1,89%
|
R. A. Madeira
|
93
|
1,46%
|
21
|
2,83%
|
Faro
|
86
|
1,35%
|
14
|
1,89%
|
Portalegre
|
72
|
1,13%
|
3
|
0,40%
|
R. A. Açores
|
62
|
0,98%
|
4
|
0,54%
|
Évora
|
28
|
0,44%
|
2
|
0,27%
|
Beja
|
23
|
0,36%
|
1
|
0,13%
|
Outras
localidades/ países/ Erasmus
|
156
|
2,46%
|
175
|
23,58%
|
Total Geral
|
6350
|
742
|
Publicado no Jornal do Fundão em Novembro de 2013
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Eugénio de Andrade o poeta maior
Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...
-
Volto hoje ao verbo para partilhar com os leitores a boa notícia do reconhecimento da artista plástica Fátima Nina. Natural e residente ...
-
Uma promessa para prevenir uma praga ligada ao olival é o mote para uma tradição centenária que “não deve ser massificada” mas que traduz ...
-
Apaixonou designers e criativos. É muito mais que um agasalho. Habitualmente utilizado na decoração de interiores e mobiliário, o produt...