sexta-feira, dezembro 29, 2017

Dos anos que não deixam saudades

Dizer que 2017 é um ano que não vai deixar-me saudades é quase um lugar-comum. Efetivamente os últimos doze meses, mas também os últimos anos, não me deixam saudades.

Ou seja por a morte levar muitos amigos, conhecidos e até familiares. Ou por ter cada vez maior consciência de que o mundo não é perfeito e que o país das maravilhas é apenas um sonho de Alice. Mas também por sentir que a amizade e a reciprocidade são cada vez mais substantivos femininos que não vão além do léxico.

Este é também um tempo em que a partilha e a promoção do convívio e harmonia entre pares permanecem arredados da sociedade cada vez mais tecnológica e digital e pouco dada à companhia e vivências entre pares.

Lamentos à parte, o ano que agora termina deve servir para retirarmos lições de futuro e reganharmos a força e motricidade suficientes para darmos a volta ao texto e começar de novo.

Iniciar um novo ano não significa apenas encerrar um capítulo. Significa ser capaz de aprender com os erros ou ações menos apropriadas.
Significa observar o passado, guardar as memórias boas e apagar todos os retratos e imagens que nos entristecem e deixam mais céticos.

E num ano vincadamente marcado pelo inferno dos incêndios florestais e pela insensibilidade de quem gere o território, importa sermos capazes de enterrar a fragilidade tornando-nos mais fortes e capazes reinventar modos de vida.

Reinventar também é reclamar do atores políticos ações e boas práticas que vão além da palmadinha solidária aos que no último Verão perderam familiares e amigos, observaram a fúria do fogo e viram as suas vidas reduzidas a cinzas.

Que o novo ano faça de todos nós pessoas audazes e resilientes. Que nunca nos doa a voz para dizermos que os problemas de quem perdeu vidas, trabalho e viu comprometida a economia de subsistência precisam de muito mais do que uma Unidade de Missão e Valorização do Interior.

Criar organismos, transportá-los para onde a dor é agora mais aguda, desenvolver linhas programáticas de ação é fácil. Basta dar uso ao verbo.

Mas o verbo não chega. É preciso ação.

Agir. Mudar as políticas. Criar condições para desenvolver comunidades. Promover ações que se traduzam em mecanismos reais e práticos com vista à criação de emprego, à fixação de pessoas, ao desenvolvimento harmonioso dos territórios.

Se assim for, certamente que daqui a um ano não estarei, não estaremos a despedir-nos do ano velho com um sentimento de dor e impotência face à realidade que caracterizou 2017.

O mais negro dos anos levou-nos pessoas, floresta, produção agrícola e empresas. 2017 desnudou um Estado incapaz de evitar a morte de mais de uma centena de pessoas.


É, pois, um ano que não deixa saudades.


quarta-feira, dezembro 13, 2017

A Cantata de Natal da Academia de Música do Fundão

Chegou a época natalícia e com ela os habituais concertos de Natal promovidos pela escola de ensino artístico da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. 

Este dia as obrigações profissionais levaram-me a um desses momentos ricos de criação e execução musicais. Fi-lo com o sentido prazeroso do costume e o momento fez-me sentir mais leve e cheia de vontade de, este ano, celebrar o Natal.

A razão vai muito além do concerto. Mas não posso deixar de explicar ao leitor o quão aquelas palavras do narrador cativaram o ser fazendo-me sentir num verdadeiro ambiente de Natal.

Um sentimento, estou certa, comum às muitas pessoas que naquela noite de invernia, caracterizada por ventos ciclónicos e chuva abundante, sairam do conforto do lar e terão aquecido os corações num exemplar momento cultural e de intensa introspeção. 

No palco improvisado da igreja matriz do Fundão estavam várias dezenas de crianças de muitas idades que cantavam de forma harmoniosa e transmitiam um sentimento de invulgar amor ao Natal.

A explicação poderá estar no conteúdo da peça que aqui partilho e que muito nos fala das tradições do Natal na região da Beira Baixa. 

A Cantata de Natal da autoria de José Manuel Nunes é uma viagem imensa às tradições em louvor do Menino Jesus, da Missa do Galo e da romaria de gente à volta do Madeiro.

Realidades tão bem documentadas na Etnografia da Beira de Jaime Lopes Dias e que, em certa medida, estão na Cantata que aqui partilho.

E embora as condições técnicas do vídeo não sejam as melhores - pois não se ouvem bem as vozes do narrador, do anjo e dos Reis Magos - vale a pena escutar esta gravação. A obra em apreço engrandece o percurso da Academia de Música e Dança do Fundão onde, felizmente, a cidade do Fundão tem um dos seus melhores ativos culturais.

Fiquem com o vídeo e embrenhem-se no espírito natalício.






Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...