quarta-feira, junho 01, 2016

O canto da poesia num concerto de encher a alma

Às vezes tenho pena de não dispor de tempo nem disposição para escrever. Também tenho saudades de preencher os dias com a responsabilidade de dar notícias. As boas. Mesmo quando são más!

No outro dia estive na plateia para observar e ouvir um espetáculo de música portuguesa em que o mote foi revisitar a poesia portuguesa e as letras de amor de Camões ou Cecília Meireles.

Inserido na programação do Festival Literário da Gardunha, ao qual também não consegui ir, o concerto em que o piano de Mário Laginha tão bem combinou com a voz de Camané foi um belíssimo momento de introspeção.

"Cansaço" um poema de Luís Macedo num tema que ficou famoso na interpretação de Amália Rodrigues e que também foi interpretado no espetáculo Fado Revisitado foi dos momentos que mais me encheu a alma.

E diz o poema

Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.

Da poesia de David Mourão Ferreira que é dos poetas que Camané mais gosta de cantar fez se ouvir "Espelho Quebrado" que também é interpretado por Carminho e que diz


Com o seu chicote o vento / Quebra o espelho do lago
Em mim foi mais violento o estrago
Porque o vento ao passar / Murmurava o teu nome
Depois de o murmurar, deixou-me
Tão rápido passou / Nem soube destruír-me
As mágoas em que sou tão firme
Mas a sua passagem / Em vidro recortava
No lago a minha imagem de escrava
Ó líquido cristal / Dos meus olhos sem ti
Em vão o vendaval pedi
Para que se quebrasse / O espelho que me enluta
E me ficasse a face enxuta
Ai meus olhos sem ti sem ti
Em mim foi mais violento, o vento


Um dos mais conhecidos temas interpretados por Camané , chama-se "sei de um Rio". No concerto realizado no Fundão a interpretação deixou a plateia cheia de vontade de voltar ao registo do isqueiro ou da vela em punho e de braço no ar. 
Nunca me tinha dado conta da beleza do poema de Pedro Homem de Melo

Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando



E antes das despedidas, Mário Laginha e Camané recorreram à riqueza da "Inútil Paisagem" de Vinicius de Morais.

Mas pra quê? 
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar? Pra quê?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde? De que serve a tarde? 
Inútil Paisagem
Pode ser que não venhas mais;
Que não venhas nunca mais...
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?
Se meu caminho sozinho é nada...













terça-feira, maio 10, 2016

Quando os livros quebram o silêncio

Hoje escrevo sobre a biblioteca itinerante de Proença-a-Nova . Um projeto cultural que desde há dez anos é dinamizado por Nuno Marçal. Falar do bibliotecário que  viaja pelas aldeias mais recônditas do Pinhal Interior sem dar boa nota da componente humana do cidadão é muito pouco.
 

É que Nuno Marçal não se faz acompanhar apenas de livros. Às pessoas leva mais que livros. Na mala de viagem também vão revistas, bons conselhos e uma mão cheia de afetos.
Sorrisos feito palavras que abraçam e acrescentam alegria às pessoas que resistem à desertificação.

Nuno Marçal é um colecionador de imagens da vida no campo. Momentos de uma ruralidade em que a rotina só é quebrada pela chegada da bibliomóvel.

Quer seja através da Mala das Letras, quer através dos improvisados clubes de leitura que se criam nos lugares e nas aldeias onde às vezes sobressai o som de um acordeão ou a concertina de alguém que se junta ao coro das palavras soltas e consegue criar animação de rua.

Nesse instante o adro da igreja ou o espaço mais amplo do casario transforma-se num palco de cantigas ao desafio.

Quem diz cantigas, diz estórias. Memórias de outros tempos e lugares que a alma implora que se recordem. 
Partilha-se, então, esse património imaterial de uma geografia em que os livros quebram o silêncio.

Além dos livros e do gesto, a bibliomóvel de Proença-a-Nova promove ainda os diálogos entre pessoas cujas famílias estão muitas vezes distantes. Mas também ajuda a solucionar questões de natureza burocrática que tantas vezes representam um problema de maior dimensão para quem está isolado.

Por todas estas razões e outras que não caberiam nesta meia dúzia de linhas, vale a pena continuar a investir na rede de bibliotecas itinerantes. Em Portugal serão cerca de 60. Na Cova da Beira, houve o caso da biblioteca itinerante dinamizada pelo município do Fundão. Oxalá a dinâmica da bibliotecária Dina Matos faça da Eugénio de Andrade uma biblioteca que rasga fronteiras e combate a solidão que marca os dias das  nossas aldeias.

E agora apetece citar Jorge Luís Borges e um magnífico poema sobre os livros.

E diz assim:

Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo) 
São uma parte de mim, como este rosto 
De têmporas e olhos já cinzentos 
Que em vão vou procurando nos espelhos 
E que percorro com a minha mão côncava. 
Não sem alguma lógica amargura 
Entendo que as palavras essenciais, 
As que me exprimem, estarão nessas folhas 
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. 
Mais vale assim. As vozes desses mortos 
Dir-me-ão para sempre. 

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda" 

Aos leitores deixo ainda o link de uma belíssima conversa com Nuno Marçal. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-1-maio-2016-rcb-nuno-mar%C3%A7al/

quarta-feira, maio 04, 2016

Debater o Interior

O Jornal do Fundão retoma dentro de alguns dias uma das matrizes que tão bem o caracterizaram no tempo de António Paulouro. 

Discutir o Interior não é coisa pouca e se o debate abranger uma maior geografia territorial, tanto melhor! 

Bem sei que os sucessivos debates, iniciativas e grupos de trabalho em defesa do Interior têm alterado muito pouco o nosso fado. Mas se à mesma mesa se reunirem outras vozes de um eixo territorial mais basto que a Beira Interior pode ser que a expressão mediática que o fórum possa vir a ter seja mais um grito de alerta da geografia onde se colhem poucos votos. 

Desconheço se é apenas o facto de não sermos muitos que justifica o constante desinvestimento no Interior. Também não sei se essa é a única razão que, no caso concreto da Beira Interior,  nos trouxe as portagens mais caras do país. Porém, vejo que o discurso em defesa do Interior continua a estar na agenda. Reconquista holofotes. Está na génese da criação de mais um Grupo de Missão para o Desenvolvimento do Interior. 

Chegará? 

As Primeiras Jornadas do Interior que o Jornal do Fundão realiza no Fundão no dia 13 de maio recordam-me outras jornadas. As da Beira Interior que nos anos 80 do século XX António Paulouro promoveu. 

De então para cá a Beira Interior mudou muito. Felizmente para todos os que aqui resistem e continuam a acreditar no futuro deste cantinho entre serras. 

Ainda assim, importa fazer mais. Legislar no sentido de repovoar os territórios de baixa densidade. Nós por cá, vamos tendo tudo. 
Mas faltam pessoas. 

Venha o debate!

terça-feira, maio 03, 2016

Festival Literário da Gardunha

Mais de 25 escritores de diferentes gerações e países, vão marcar presença na terceira edição do Festival Literário da Gardunha (FLG) que se realiza no concelho do Fundão de 16 a 22 de maio.

A programação do FLG prevê a realização de várias dinâmicas com escritores estando prevista a realização de outras atividades culturais. É o caso do lançamento do livro "O Caroço" de Albano Martins. Ou a inauguração de uma exposição fotográfica de Diamantino Gonçalves. Ponto alto da programação será o espetáculo "Fado Revisitado" com Camané e Mário Laginha agendado para dia 21 no Octógono. 
Do programa constam não só as conversas e mesas redondas com os escritores convidados, como duas residências literárias, dois encontros com alunos, uma feira do livro, uma projeção cinematográfica, e ainda “workshops”.  
O festival organizado pela Câmara Municipal do Fundão e A23 Edições tem a serra da Gardunha como fonte de inspiração para a temática do evento. "Escrever a Paisagem".
A promoção das relações ibéricas e internacionais, o encontro entre escritores consagrados e mais jovens e ainda a integração de escritores oriundos da região são outras das marcas que caracterizam o FLG.
Este ano, os encontros literários com a Gardunha permitirão ainda uma abordagem aos países lusófonos de Angola e Moçambique. Está garantida a representação de escritores angolanos e de um escritor moçambicano.
A relação com a comunidade local é outra das particularidades do FLG estando garantida a participação dos escritores Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso na realização das residências literárias e a deslocação a escolas do concelho do Fundão. 
Entre os que já confirmam presença estão César Antonio Molina (escritor ensaísta e antigo ministro da Cultura em Espanha, a quem caberá a sessão de abertura), Adriana Veríssimo Serrão, Clara Ferreira Alves, Cristina Carvalho, Eduardo Pitta, Fernando Dacosta, Fernando Echevarría, Fernando Guimarães, Pedro Mexia, Mário Zambujal ou Marcello Duarte Mathias e Mbate Pedro.

Práticas Agrícolas Sustentáveis em debate

A freguesia de Castelo Novo (Fundão) acolheu no dia 23 de abril a primeira edição dos "Encontros de Primavera", organizados pela Associação Sociocultural daquela Aldeia Histórica. Um dia de debates para aflorar as práticas agrícolas de antigamente e deixar ideias para o desenvolvimento agrícola sustentável do território.

O Encontro reuniu especialistas em produção agrícola e preservação da biodiversidade e na plateia estiveram dezenas de jovens empreendedores. Alguns dos quais deixaram o conforto dos empregos na área metropolitana de Lisboa e estão a radicar-se no interior profundo.

Tiago Lucena  é um desses jovens empreendedores que tem passado os últimos anos a estabelecer pontes e a dinamizar projetos de produção agrícola inovadores e amigos do planeta. O apicultor que está a mudar residência para Castelo Novo, entusiasmou a assistência  com uma intervenção contra a "lógica economicista do imediato". Uma intervenção repleta de soluções inovadoras que poderão inverter o estado de uma sociedade que "já conseguiu acabar com 50% do planeta". Um planeta que "é finito" e que tem na "permacultura e na biodiversidade o caminho da sustentabilidade”.


Lembrando que há um conjunto de estrangeiros experientes em boas práticas de desenvolvimento da agricultura que "estão a ser marginalizados", Tiago Lucena recordou como muitos estão a implementar boas práticas seculares e deixou exemplos de como a policultura ou o aproveitamento de resíduos para matéria orgânica são boas experiências de agricultura biológica.

Jorge Ferreira é engenheiro agrónomo e consultor em agricultura biológica. Em Castelo Novo explicou como o monopólio das empresas de sementes está a comprometer as variedades tradicionais. "Só as variedades de culturas permanentes, como as castas de vinha, as de oliveira, a pera rocha, ou maçã bravo-de-esmolfe", não estão comprometidas.


Os "Encontros de Primavera" constituíram uma lufada de ar fresco na abordagem ao cultivo das terras e a organização promete realizar outras iniciativas ainda este ano.

sexta-feira, abril 29, 2016

25 anos a Alicatar - o livro de Veiga Freire

A Recriação em azulejo alicatado dos Painéis de São Vicente de Fora exposta na biblioteca municipal do Fundão marcou o lançamento do livro "25 anos a Alicatar Azulejo com outra arte", do fundanense José Veiga Freire. A obra assinala as bodas de prata na carreira do artista.


Os painéis de São Vicente de Fora, pintura de referência do século XV, que se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga, constituem dos mais demorados e minuciosos desafios de José Veiga Freire.
Recriar o painel que “retrata 58 personagens e que é uma obra-prima” da pintura portuguesa não terá sido tarefa fácil mas Veiga Freire nunca se furtou a desafios maiores. 

Antonieta Garcia, professora e investigadora, sublinhou "o prazer de terminar algo que, quanto mais difícil é, mais desafiante se torna". "O mistério da criação" como "feitiço" na descoberta da obra de José Freire foi outra das ideias deixadas, na apresentação da obra.

E "como o saber fazer a arte que surpreende" marca o percurso do criador Veiga Freire, Antonieta Garcia folheou o livro e deixou-se encantar com os azulejos inspirados nas colchas de Castelo Branco "que tanto cativam os estrangeiros", no impressionismo das telas de Van-Gogh ou nos nomes sonantes da literatura. Fernando Pessoa, por exemplo, inspirou 18 telas do artista e denotam "vários traços identitários de ser português".  Nas referências à Beira Baixa e ao Fundão sobressai a figura de António Paulouro,acrescentou. 

"A forma de produzir arte do dia-a-dia aproximando-o dos seus conterrâneos" foi, aliás, sublinhada pelo amigo e advogado Leal Salvado que assinou o prefácio do livro.

No conjunto a obra de Veiga Freire é constituída por cerca de 500 peças. Muitas delas estiveram expostas em 2014 na Moagem- cidade do engenho e das artes no Fundão. 
Cada obra de arte transporta o visitante, agora é leitor da obra de Veiga Freire, para a geografia dos afetos.

A grandeza geográfica dos afetos de Veiga Freire esteve à vista na cerimónia de lançamento do livro. Rodeado de dezenas de amigos e familiares, Veiga Freire estava emotivamente satisfeito, pois contava reunir à sua volta tantas pessoas que lhe são próximas. O acontecimento cultural, diga-se, foi bastante concorrido. 


E quando a surpresa acontece que mais quererá o ex-bancário que completa em 2016 70 anos de vida e tem uma mão cheia de projetos e ideias para concretizar?!

terça-feira, abril 26, 2016

Contadores de Estórias na Biblioteca

No outro dia fui ouvir os Contadores de Estórias. Numa noite primaveril de abril António Fontinha, Ana Sofia Paiva e José Craveiro estiveram no Fundão para contar estórias de antigamente. 



Relatos sobre pessoas, lugares, tradições e piadas para uma plateia constituída por crianças e muitos adultos que riram muito com "um conto" ao qual se acrescentou "um ponto". Quer isto dizer que a oralidade recolhida na geografia territorial do país é muitas vezes recontada e dinamizada à maneira de cada contador de estórias. 

Outras vezes a memória coletiva de uma estória é adaptada à atualidade. Não raras vezes a intervenção soa a sátira.
No fundo, cada um dos atores imprime formulas diversificadas de interagir com o público.

Muitas vezes é o público que sugere a personagem ou a conclusão de uma linha condutora da Estória. 
Naquele sábado à noite, António Fontinha recorreu à imaginação do espectador para questionar o que é um travesseiro.

Houve quem recordasse o travesseiro como nome de um bolo. Uma criança sugeriu que travesseiro possa ser alguém que atravessa a passadeira.

A segunda opção mereceu a concordância de António Fontinha e a gargalhada do contador de estórias contagiou uma plateia inteira.
O segredo do êxito dos contadores de histórias tem muito a ver com o modo de interação entre quem conta e que ouve. Nesse particular António Fontinha e Ana Sofia Paiva são exímios.

A capacidade de brincar com as personagens, conferindo-lhe significados diferentes também cativa o público. José Craveiro, a dada altura, fez um trocadilho com "o diabo das histórias" ou "as histórias do diabo" e logo a gargalha coletiva tomou conta da sala.

Também há poesia e canções. Naquela noite recriou-se o "canto" do rouxinol que "é mais rico que o do cuco" avisou quem no palco encantou a plateia.

E as rimas encaixavam na perfeição. "Bendito e louvado que está tudo contado".
E assim terminou a segunda edição de "Contadores de Estórias". 

Para o ano, em abril, haverá mais uma sessão, prometeu a bibliotecária Dina Matos. O evento foi promovido pela Câmara Municipal do Fundão.

segunda-feira, abril 18, 2016

Senta-te aí!

O título tem tanto de sugestivo como de inusitado. Talvez o segundo adjetivo tenha mais a ver com o motivo da exposição que até dia 29 de maio está aberta ao público na Moagem- Cidade do Engenho e das Artes no Fundão.

A exposição "Senta-te Aí" promovida pelo jovem arquitecto fundanense Pedro Novo é uma viagem ao património particular de cadeiras que o também curador da mostra foi reunindo em casa. Dos anos 20 do século XX até 2014, cadeiras várias de sugestivo e anónimo designe. 

Algumas estiveram em lugares como o Café Aliança, o cine-Gardunha ou a Piscina Municipal do Fundão. Também há cadeiras assinadas pelo próprio Pedro Novo. Uma delas foi desenhada para uma intervenção minimalista em Lisboa.
Mas o património das cadeiras mostra-nos outras criações. Por exemplo uma dessas peças de mobiliário foi desenhada em 1978 por Gastão Machado.  

Outra, talvez das mais antigas, foi desenhada por Daciano da Costa, que a definiu como apresentando “um designe comprometido que se destinava a equipar espaços de trabalho”.

Depois há também uma cadeira de Eduardo Anahory que foi desenhada em 1959 para casa de lazer pois é constituída por madeira e lona.
José Espinho é porventura o nome do desenhador mais vezes repetido na mostra.
E por fim, destaco uma cadeira (a da imagem) do arquitecto Raul Chorão Ramalho datada de 1955.

As cadeiras de aço da década de 40 do século XX e o banco rotativo hospitalar ou a cadeira de projectista do cine Gardunha em madeira e aço da década de 50 do século passado.

Uma cadeira parideira, outra cadeira mas de baloiço e algumas cadeiras portuguesas da segunda metade do século XIX compõem a mostra.

O arquitecto Pedro Novo que há mais de um ano cuidou e assinou a riquíssima exposição sobre edifícios emblemáticos do século XX no Fundão está de volta com esta mostra. Pelo caminho deixou a marca da Pedro Novo – arquitectos nos conteúdos da Casa do Barro no Telhado (Fundão).


Em breve, espero, haveremos de contactar, com outros trabalhos seus. O centro interpretativo do centeio parece que precisa de uma volta! Força Pedro.

terça-feira, abril 12, 2016

Voltar ao "berço"

Regressei ao "berço". 

"Plantei" flores de saudade e revivi memórias dos antepassados. Um tempo ausente, mas muito presente.

Revisitar lugares que são nossos por natureza ou apenas por afeto e emotividade pode revelar-se uma "carga de trabalhos".

Quer isto dizer que a saudade me tomou os passos e o olhar deixou dores no pescoço. Às vezes olhamos para trás e a menina do olho prende-se no infindável mundo das recordações.

Primeiro as emocionais. Depois as paisagens. A seguir os gestos. Também as palavras ditas. As mesmas que neste domingo de abril me revisitaram. Algumas guardo-as em mim. Outras vou partilhá-las aqui.

Saberá o leitor como é revisitar "o berço" e darmos-nos conta de que já lá não mora quase ninguém?

Muitas vezes nem as boas memórias e o ecoar das brincadeiras de outrora apagam esta sensação fúnebre de que poderemos ser dos últimos a regressar ao "berço".

Naquele dia não era a única viajante. Nem só meus passos percorreram as estreitas ruas ladeadas do casario fechado.

Felizmente, vão aparecendo outros viajantes. Poucos! 
Muito menos que o número de residentes que este postal dos anos 20 nos mostra.

Ai como custa regressar ao "berço" e dar-me conta de como o silêncio reinante é premonitório do fim das nossas aldeias!

“O Deputado da Nação” apresentado no Fundão

“Uma implacável sátira à classe política” e à volta de todos quantos sobrepõem o interesse pessoal ao interesse coletivo. 
Eis, em resumo, o novo livro de Manuel da Silva Ramos. 
Escrito em parceria com outro escritor, Miguel Real, o livro narra a história de Umbelino Damião.

Editado pela Parsifal o livro convoca o leitor para a “liberdade de expressão e o tom jocoso” de Manuel da Silva Ramos a que se junta “o tom histórico e linguagem abstrata” de Miguel Real. Para Miguel Real “O Deputado da Nação” é uma narrativa muito atual. “É uma caricatura dos deputados que uma vez no parlamento conseguem promover os negócios e contribuem para o descrédito da política”.

Já Manuel da Silva Ramos destaca como “O Deputado da Nação” encerra a trilogia iniciada com o livro de Miguel Real “A Morte de Portugal” e o trabalho assinado pelo escritor covilhanense “A Impunidade das Trevas e os Perfumes Eróticos” que retrataram os efeitos da austeridade em Portugal.
E Silva Ramos deixa o sonho: “Que Portugal passe a ter uma Assembleia da República virgem, sem gente corrupta”.

O livro foi apresentado pelo jornalista Fernando Paulouro, para quem o livro é "uma sátira implacável à sociedade atual". Fernando Paulouro encontra em “O Deputado da Nação” traços da literatura de Camilo e de Eça, embora à época não houvesse "mecanismos tão peritos" de negociata e de promiscuidade político-económica. 

Sublinhando o fato de o livro permitir viajar entre Lisboa e a Gardunha ou a Covilhã pois foi escrito a quatro mãos, Paulouro descreve o livro como sendo “muito bem-disposto” mas sem esquecer os “problemas graves da sociedade portuguesa”. “Da emigração à caricatura de políticos muito conhecidos da atualidade”. “Um livro capaz de nos mostrar como os deputados observam no exercício da política uma possibilidade de enriquecimento”, explicou Fernando Paulouro, acrescentando que o livro apresenta ainda "uma divertida caricatura da justiça".http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/media/201604111636-o_deputado_final_.mp3

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...