terça-feira, março 06, 2018

Na Rota do Património Azulejar da Covilhã

A cidade da lã e da neve, atualmente mais conhecida pelo roteiro de arte urbana é também um destino obrigatório para o contacto com o património azulejar. Certo dia a repórter apanhou a boleia do Museu Arte Sacra na Covilhã e descobriu paisagens de azulejos que merecem uma visita.



A viagem poderá iniciar-se nas proximidades do Museu Arte Sacra, ao jardim público, e se preferir recorrer àquela unidade museológica poderá ter a sorte de se cruzar com Carlos Madalena, pois o coordenador da estrutura é das pessoas que melhor conhece o património azulejar da Covilhã. Voltando ao percurso, a igreja de Nossa Senhora da Conceição que foi um claustro do Convento de São Francisco datado do século XVI entusiasma o visitante uma vez que os azulejos em tons de azul e as imagens de cariz religioso facilmente se apegam ao olhar. Ali nas proximidades, existe o Palacete Jardim desenhado pelo arquiteto e projetista Ernesto Korrodi, edificado em 1915, que apresenta painéis de azulejo característicos do “naturalismo e arte nova” cuja paisagem bucólica nos retém.

No edifício que nos transporta para a Vila Hortênsia em Leiria já moraram o Inatel da Covilhã e o Tribunal do Trabalho. O percurso não sinalizado mas que haverá de constituir o Roteiro Azulejar da Covilhã prossegue por becos e ruelas da Covilhã antiga onde é bastante comum encontrar uma linguagem azulejar cuja o fabrico vem da fábrica de Constância. Também não é difícil cruzarmo-nos com outros exemplares de toponímia cujo azulejo é inspirado na olaria do pintor e ceramista Leopoldo Batistini. Neste particular destaque-se a beleza impar da sinalética de azulejo esculpida nas paredes de algumas edificações com a indicação do nome das ruas cujos titulares são quase sempre figuras associadas à memória coletiva dos covilhanenses e ao património imaterial da urbe.



Mas o património azulejar que em muitas das artérias da Covilhã antiga entronca na Rota da Arte Urbana também é uma espécie de motivação para ir amiúde aos locais onde estão alguns serviços públicos e de proximidade. Por certo que as implicações de uma ida à Autoridade das Condições do Trabalho é rapidamente minimizada pela beleza do imóvel datado da primeira metade do século XX e cujo azulejo foi recolocado e preservado. Uma vez ali chegados, facilmente nos rendemos aos “azulejos catequéticos e outros de natureza decorativa” que nos transportam para realidades históricas e pedagógicas.

Mas também há azulejos modernos como um mural na sede do Sindicato Têxtil da Beira Baixa que foi pensado pelos alunos e professores da escola Campos Melo. E há ainda edifícios que se apresentam engalanados “com grinaldas e outras formas geométricas e florais coloridas” igualmente atraentes ao olhar e que logo nos transportam para “a arte nova” do azulejar. O edifício residencial da Rua Cristóvão de Castro ou o da rua Conselheiro Santos Viegas são apenas dois dos exemplares.



E aqui entram as casas particulares e a memória visual de um passeio em fevereiro último faz lembrar a habitação desenhada pelo arquiteto Raúl Lino e cujos painéis com motivos religiosos e de apego à tradição familiar são uma construção da fábrica Lusapo de Coimbra. Também existem nas várias artérias da cidade azulejos originários da fábrica Carvalhinho no Porto. 

Ao rol juntam-se ainda os exemplares da fábrica Aleluia de Aveiro cujos conjuntos mais vistosos são a frontaria azulejada da igreja de Santa Maria ou a majestosa entrada da antiga Empresa Transformadora de Lãs. Aliás, é da mesma “fornada” o conjunto azulejar localizado na rua Marquês D´Ávila e Bolama ao pé da Universidade da Beira Interior o qual nos indica a porta de acesso à serra da Estrela e inúmera um conjunto de motivos de interesse para o visitante.

A arte azulejar que é “a arte ornamental mais expressiva em Portugal” e cujo fabrico iniciado em Portugal no século XVI é um património que importa conhecer e preservar também é visível quando o visitante se rende à beleza e perfil ímpares da obra de Sousa Araújo cujas particularidades do seu traço justificam procura obrigatória” diz Carlos Madalena que tem dificuldade em indicar um percurso especial pois os azulejos “estão espalhados por toda a cidade”. Ainda assim o responsável pelo Museu Arte Sacra da Covilhã considera que o “Palacete Jardim é o mais representativo bem como a Antiga Transformadora de Lãs a que se junta a imagem de Nossa Senhora da Conceição na rua Marquês d´Ávila e Bolama, precisamente da autoria de Sousa Araújo”.



Quanto ao futuro a autarquia pretende iniciar o inventário azulejar do concelho da Covilhã por forma a criar uma estratégia de defesa e valorização do património azulejar do território. As intenções de projeto  foram partilhadas no decurso das várias iniciativas que colocaram o foco cultural na valorização de um património que motivou a ida à Covilhã da diretora do projeto SOS Azulejo e cuja partilha e ensinamentos ajudarão a criar uma estratégia de valorização e divulgação do azulejo.

Este artigo foi originalmente por mim escrito e publicado na edição de 1 de março de 2018 do Jornal do Fundão.



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