A
viagem poderá iniciar-se nas proximidades do Museu Arte Sacra, ao jardim público,
e se preferir recorrer àquela unidade museológica poderá ter a sorte de se
cruzar com Carlos Madalena, pois o coordenador da estrutura é das pessoas que
melhor conhece o património azulejar da Covilhã. Voltando ao percurso, a igreja
de Nossa Senhora da Conceição que foi um claustro do Convento de São Francisco datado
do século XVI entusiasma o visitante uma vez que os azulejos em tons de azul e
as imagens de cariz religioso facilmente se apegam ao olhar. Ali nas
proximidades, existe o Palacete Jardim desenhado pelo arquiteto e projetista
Ernesto Korrodi, edificado em 1915, que apresenta painéis de azulejo característicos
do “naturalismo e arte nova” cuja paisagem bucólica nos retém.
No
edifício que nos transporta para a Vila Hortênsia em Leiria já moraram o Inatel
da Covilhã e o Tribunal do Trabalho. O percurso não sinalizado mas que haverá
de constituir o Roteiro Azulejar da Covilhã prossegue por becos e ruelas da
Covilhã antiga onde é bastante comum encontrar uma linguagem azulejar cuja o
fabrico vem da fábrica de Constância. Também não é difícil cruzarmo-nos com
outros exemplares de toponímia cujo azulejo é inspirado na olaria do pintor e
ceramista Leopoldo Batistini. Neste particular destaque-se a beleza impar da
sinalética de azulejo esculpida nas paredes de algumas edificações com a
indicação do nome das ruas cujos titulares são quase sempre figuras associadas à
memória coletiva dos covilhanenses e ao património imaterial da urbe.
Mas
o património azulejar que em muitas das artérias da Covilhã antiga entronca na
Rota da Arte Urbana também é uma espécie de motivação para ir amiúde aos locais
onde estão alguns serviços públicos e de proximidade. Por certo que as
implicações de uma ida à Autoridade das Condições do Trabalho é rapidamente
minimizada pela beleza do imóvel datado da primeira metade do século XX e cujo
azulejo foi recolocado e preservado. Uma vez ali chegados, facilmente nos
rendemos aos “azulejos catequéticos e outros de natureza decorativa” que nos
transportam para realidades históricas e pedagógicas.
Mas
também há azulejos modernos como um mural na sede do Sindicato Têxtil da Beira
Baixa que foi pensado pelos alunos e professores da escola Campos Melo. E há
ainda edifícios que se apresentam engalanados “com grinaldas e outras formas
geométricas e florais coloridas” igualmente atraentes ao olhar e que logo nos
transportam para “a arte nova” do azulejar. O edifício residencial da Rua
Cristóvão de Castro ou o da rua Conselheiro Santos Viegas são apenas dois dos
exemplares.
E
aqui entram as casas particulares e a memória visual de um passeio em fevereiro
último faz lembrar a habitação desenhada pelo arquiteto Raúl Lino e cujos
painéis com motivos religiosos e de apego à tradição familiar são uma
construção da fábrica Lusapo de Coimbra. Também existem nas várias artérias da
cidade azulejos originários da fábrica Carvalhinho no Porto.
Ao
rol juntam-se ainda os exemplares da fábrica Aleluia de Aveiro cujos conjuntos
mais vistosos são a frontaria azulejada da igreja de Santa Maria ou a majestosa
entrada da antiga Empresa Transformadora de Lãs. Aliás, é da mesma “fornada” o
conjunto azulejar localizado na rua Marquês D´Ávila e Bolama ao pé da
Universidade da Beira Interior o qual nos indica a porta de acesso à serra da
Estrela e inúmera um conjunto de motivos de interesse para o visitante.
A
arte azulejar que é “a arte ornamental mais expressiva em Portugal” e cujo
fabrico iniciado em Portugal no século XVI é um património que importa conhecer
e preservar também é visível quando o visitante se rende à beleza e perfil
ímpares da obra de Sousa Araújo cujas particularidades do seu traço justificam
procura obrigatória” diz Carlos Madalena que tem dificuldade em indicar um
percurso especial pois os azulejos “estão espalhados por toda a cidade”. Ainda
assim o responsável pelo Museu Arte Sacra da Covilhã considera que o “Palacete
Jardim é o mais representativo bem como a Antiga Transformadora de Lãs a que se
junta a imagem de Nossa Senhora da Conceição na rua Marquês d´Ávila e Bolama,
precisamente da autoria de Sousa Araújo”.
Quanto
ao futuro a autarquia pretende iniciar o inventário azulejar do concelho da
Covilhã por forma a criar uma estratégia de defesa e valorização do património
azulejar do território. As intenções de projeto foram partilhadas no decurso das várias
iniciativas que colocaram o foco cultural na valorização de um património que
motivou a ida à Covilhã da diretora do projeto SOS Azulejo e cuja partilha e
ensinamentos ajudarão a criar uma estratégia de valorização e divulgação do
azulejo.
Este artigo foi originalmente por mim escrito e publicado na edição de 1 de março de 2018 do Jornal do Fundão.
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