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terça-feira, outubro 16, 2018

“O porquinho mealheiro é o pior exemplo de poupança”


Há quem o apelide de senhor poupança pois o programa “Contas-poupança” na televisão reforçou-lhe o mediatismo. Semanalmente no ar há 8 anos, “Contas-poupança” deu origem a dois livros sobre economia pessoal e familiar. O segundo está nas bancas há pouco tempo e serviu de mote a um conjunto de questões ao jornalista covilhanense Pedro Andersson.


Perfil

Jornalista há mais de 20 anos, Pedro Andersson iniciou o contacto com os media era ainda adolescente. Começou na Rádio Clube da Covilhã, foi jornalista na rádio TSF entre 1997 e 2001, altura em que foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, na SIC é jornalista-coordenador e autor da rubrica sobre finanças pessoais "Contas-poupança", emitido todas as semanas há mais de 8 anos.
É autor de 2 livros sobre finanças pessoais: "Contas-poupança - Viva melhor com o mesmo dinheiro" (2016)  e "Contas-poupança - Poupe ainda mais, Invista melhor" (2018).





1- Está nas livrarias um novo "Contas-poupança". Significa que os seguidores do programa da SIC estão mesmo a seguir os conselhos deste SOS poupança escrito por Pedro Andersson?

Pelos vistos, sim. Isso deixa-me muito feliz. No princípio até achava que algumas dicas eram demasiado simples e que as pessoas iam criticar-me porque estava a dizer coisas óbvias. Mas não. Há uma imensidão de pessoas que de facto precisam dos conselhos SOS de finanças pessoais, poupança e investimento. Eu chamo a esses conselhos "terapia de choque financeira". Há dezenas de milhares de pessoas que precisam mesmo de ajuda para porem as suas contas em ordem. Encaro isto como uma espécie de missão mais do que jornalística, de cidadania. Infelizmente, em Portugal quase ninguém tem formação financeira básica para fazer contas, comparar, negociar e lidar com as empresas, instituições e com o Estado de igual para igual. Parecemos sempre muito pequeninos e impotentes. Aceitamos o que nos dizem sem questionar. Isso tem de acabar.


2-Dois livros. O que separa o primeiro do segundo? O que os distingue?

Duas coisas separam o primeiro do segundo.  São dois anos de dicas rigorosamente novas que surgiram depois de ter escrito o primeiro livro. Ou seja, estão sempre a surgir novas oportunidades de pouparmos. As dicas de poupança surgem debaixo das pedras, como costumo dizer. Estou a fazer uma reportagem e é o entrevistado que diz: "Olhe, e já reparou que também pode poupar nisto e naquilo?". Isto quer dizer que o trabalho do "Contas-poupança" é interminável. Há sempre maneiras novas de termos o mesmo (ou de preferência melhor) com o mesmo dinheiro ou menos. Esse é o meu desafio em todas as reportagens. Não é poupar vivendo pior. O que é desafiante é conseguirmos viver melhor com menos dinheiro. E a existência do "Contas-poupança" prova que isso é possível. No segundo livro, há também uma vertente completamente nova: a do investimento. Percebi que não vale a pena poupar se não soubermos para que queremos o dinheiro. Temos de o fazer crescer senão ele vai definhando. A ideia do porquinho mealheiro é o pior exemplo de poupança. É o contrassenso absoluto.  Ao prendermos o dinheiro numa coisa parada estamos a deixar o dinheiro desvalorizar. Eu posso ter 10 mil euros e daqui a 10 anos esse dinheiro só vai valer 5 ou 6 mil, embora lá tenha os tais 10 mil. A inflação come o nosso dinheiro, mas como não o vemos desaparecer fazemos de conta que a inflação não existe. Qualquer produto de poupança que renda menos de 1,6% está a "matar" o nosso dinheiro. No livro dou variadíssimas alternativas de investimento - com risco e sem risco - para poder escolher de acordo com o seu perfil. Para mim, que nunca investi em produtos com risco, foi uma surpresa absoluta o que ganhei nos meses mais recentes com pequenos valores que investi para testar as reportagens. 

3-Em que medida é que os alertas do programa e do livro têm contribuído para formar o consumidor? 

Os consumidores portugueses estão cada vez melhor informados e formados. Já sabem ao que vão e fazem cada vez mais perguntas. E reclamam por escrito, coisas que raramente faziam no passado. E já vão ter com as empresas e instituições com os olhos mais abertos. Já sabem o que querem e, melhor do que isso, o que não querem. A palavra não está a entrar na linguagem do consumidor e isso é uma vitória enorme. Ir a um banco, receber uma simulação e dizer não ao funcionário do banco deve ser um choque para alguns desses funcionários. No passado, o que o gestor de conta dizia era lei para nós. Agora já percebemos que os gestores de conta estão a trabalhar para atingir os objetivos do banco e não para defender os nossos interesses.

4- Parece-lhe que os conselhos dados têm sido acatados pelas grandes marcas e prestadores de serviços vários?

Não muito. Noto algumas diferenças, mas só porque são obrigados pelas autoridades de supervisão e pelos reguladores. A pressão da comunicação social (nomeadamente do "Contas-poupança") tem a sua influência mas apenas isso. Já houve empresas que melhoraram o apoio ao cliente ou clarificaram algumas regras por causa do programa, mas ainda é uma coisa insípida. O verdadeiro trabalho está nas mãos de cada consumidor. Tem de ser uma "batalha" corpo a corpo, consumidor a consumidor, porque cada caso é um caso. O consumidor só deve desistir de uma reclamação quando estiver satisfeito com a resposta. É essa a mensagem que quero passar. Nem que demore 10 anos.

5-Quais são as áreas em que nós, os consumidores, somos mais negligenciados?

Somos muito negligenciados pelas grandes empresas e pelo Estado. Quando fazemos um pedido de esclarecimento ou fazemos um pedido ou uma reclamação, mandam uma resposta chapa 5 do tipo "Gostamos muito de si, é muito importante para nós e vamos analisar..." e passam semanas e não acontece nada. Isso é trágico e tem de mudar. Por vezes a única solução é avançar para o Provedor de Justiça e os Centros de Arbitragem.

6-Como observa o poder de compra dos portugueses?

Nesta fase está a melhorar. A crise foi muito grave e deixou mossa. Mas estou a ver demasiadas pessoas a esquecerem rapidamente o que podiam ter aprendido com a crise. Eu aprendi, e muito. Devíamos nesta altura de vacas menos magras estar a preparar a nossa defesa para quando a próxima crise chegar. Porque vai chegar. E não é preciso ser rico para poupar. O segredo é tão simples quanto isto: Nunca gastar mais do que se ganha. Só isso. E se conseguir pôr de lado 10% do que ganha todos os meses assim que recebe o ordenado isso é o ideal. Quem fizer isto estará preparado para tudo o que possa vir a acontecer. Mas não é fácil. O português não sabe poupar e não sabe investir. A verdade é que também nunca ninguém nos ensinou, nem as famílias nem a escola. E  cometemos erros de gestão financeira pessoal desde que nascemos até morrermos. Está na altura de fazer qualquer coisa para mudar esta atitude perante o dinheiro. Temos de perder o medo de falar de dinheiro. Ele não morde. Tanto pode ser nosso amigo como inimigo. Depende de nós.



7-Iniciou o seu percurso de jornalista na imprensa regional como observa o estado do jornalismo?

Sim, comecei na Rádio Clube da Covilhã. O jornalismo está neste momento numa encruzilhada, sobretudo por causa das redes sociais e do digital. Qualquer pessoa pode produzir informação e chegar num segundo a dezenas de milhares de pessoas. E não precisa ser jornalista. O grande desafio do jornalismo hoje é credibilizar-se a ponto das pessoas estarem dispostas a pagar (por assinatura ou assistindo a publicidade) para terem a certeza de que a informação que estão a receber é absolutamente verdadeira e que lhes traz valor acrescentado. Há tanto ruído hoje que o jornalismo tem a tentação de seguir a onda da rapidez da informação sem o rigor necessário e, se o fizer, vai perder a guerra. 


8-Como vai a liberdade de expressão em Portugal?

Muito bem. Creio que não há um problema de liberdade de expressão em Portugal. Felizmente vivemos num país onde essa questão neste momento não se coloca, na minha opinião. Pelo menos no meu caso nunca, em nenhuma circunstância, vi a minha liberdade de expressão enquanto jornalista ou cidadão ameaçada ou atacada. E nos casos em que isso acontece, os tribunais têm funcionado.


9-Natural da Covilhã, como observa a cidade e a região da Beira Interior a partir de Lisboa?

Venho ver a minha mãe regularmente. Ela ainda vive no concelho da Covilhã. Tenho visto a cidade a desenvolver-se e isso deixa-me muito satisfeito. Fico com uma imagem positiva do desenvolvimento da região e do distrito de Castelo Branco, mas só tenho uma visão de passagem. Não posso dizer que acompanhe o dia-a-dia da região. Mantenho o meu contacto com amigos e colegas, mas mais a nível pessoal do que como alguém com ligações à Beira Interior. Mas fico feliz por ver o fosso entre o litoral e o interior a esbater-se em algumas coisas. Infelizmente, há também algumas que permanecem quase iguais como a falta de investimento em infraestruturas.

10-O despovoamento que marca esta região preocupa-o? Como lhe parece que poderemos inverter a tendência de baixa natalidade e abandono do meio rural?

Acho que é um problema de todo o interior de Portugal. Eu próprio, depois de ter terminado o Curso de Comunicação Social na UBI tive de procurar saídas profissionais em Lisboa. Não encontrei outra forma de crescer profissionalmente e tenho uma enorme admiração pelos meus colegas jornalistas que ainda se mantêm na imprensa regional apesar de todos os desafios. Não conheço as outras profissões em pormenor, mas creio que todas têm problemas semelhantes. As pessoas quanto não encontram alternativas no meio onde nasceram e cresceram têm de procurar outras soluções. É assim há décadas. Sinceramente não sei como inverter essa tendência. Deixo isso para quem tem poder de decisão. Suponho que criar estímulos para trazer e manter as pessoas no interior exija investimentos altíssimos que não sei se os recursos do país permitem.


11-Que referências tem desta região?

Prefiro falar de memórias: O cheiro da terra das courelas dos meus avós no "Chão Grande", a ribeira do Paúl (onde pesquei muitas trutas na minha infância e aprendi a nadar), o autocarro da Auto Transportes do Fundão que me levava e trazia do Paúl para a Covilhã com os vidros sempre embaciados por causa da chuva e do frio, tentar andar em cima do gelo frágil da levada junto à escola preparatória do Paúl, a geada branca como a neve nas manhãs frias de inverno, os jogos de futebol até às 11 da noite no meio da rua só interrompidos de vez em quando por um carro que passava, o apanhar flores de tília para vender saquinhos de chá aos vizinhos por uns tostões que já não me lembro, olhar para a Serra da Estrela e vê-la coberta de neve até meio e desejar estar lá em cima a fazer bonecos de neve, o cheiro a lenha queimada na chapa da minha avó onde grelhávamos míscaros com umas pitadas de sal apanhados no pinhal ali perto. São algumas coisas que quem nasceu e cresceu na cidade não conhece nem dá valor. Tenho saudades.

12- Gostaria de voltar à Covilhã ?


Vou voltando. Para viver definitivamente, creio não ter reunidas as condições neste momento face ao percurso profissional que estou a seguir e o facto de já ter dois filhos que nasceram em Lisboa e que têm aqui todos os seus amigos torna as coisas mais difíceis de gerir. Mas o futuro tem sempre muitas surpresas e desafios, não é? Um dia gostava de ensinar jornalismo. Quem sabe se a UBI poderia ser uma opção. Já tenho algumas coisas para ensinar. Mas para já ainda sinto que tenho muito para fazer na área do jornalismo financeiro e da cidadania.



# Trabalho integralmente publicado na edição de 11 de outubro de 2018 do Jornal do Fundão

sexta-feira, setembro 28, 2018

“Não me vou reformar da minha intervenção cívica”


É Provedor do Estudante desde 2014 e deverá ser substituído na próxima reunião do Conselho Geral da UBI. Durante os quatro anos de mandato passaram-lhe pelos olhos 1.531 solicitações de estudantes. Casos que procurou resolver por forma a fazer cumprirem os direitos dos alunos da universidade. 
Quem o conhece vinca a sua afabilidade, discrição e espírito de missão. O professor doutor Luís António Nunes Lourenço entrou na Universidade da Beira Interior como aluno de gestão em 1978 e sairá como professor associado e Provedor do Estudante. 

Em 40 anos de universidade, além do percurso de aprendizagem, foi professor, diretor de curso, coordenador de departamento e presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Trabalhou com todos os reitores. De Passos Morgado a António Fidalgo sem esquecer João Queirós de quem foi adversário numa lista para o Conselho Geral da UBI. 
Substituiu no cargo de Provedor Pedro Pombo e na conversa com o Jornal do Fundão garante que não abandonará “abruptamente o cargo”. Natural da Sertã e a residir no concelho do Fundão desde 2000, Luís Lourenço foi seminarista na Diocese de Castelo Branco e Portalegre. 
Ao longo do percurso de estudante foi colega do recentemente nomeado presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o juiz conselheiro António Joaquim Piçarra. 
Agora que está à beira da reforma garante que não abandonará a atividade cívica. Luís Lourenço continuará na RIQUA – Rede de Investigadores da Qualidade. É vice-presidente da assembleia intermunicipal da CIM das Beiras e Serra da Estrela e eleito da CDU na Assembleia Municipal do Fundão.


1- Na missão de cuidar dos direitos dos estudantes da UBI, qual é o balanço que faz do desempenho das funções de Provedor do Estudante?
Foram mais de quatro anos de um desafio permanente. Não foi e nunca será uma tarefa fácil, pois lidamos com problemas cuja solução, por vezes, não é imediata. Embora sejamos sempre maus juízes em causa própria, posso dizer que saio com a tranquilidade de a ter desempenhado de forma positiva.

2- O seu mandato terminou em fevereiro último e ainda não foi substituído. Até quando está disponível para assegurar o cargo cuja nomeação é da responsabilidade do conselho Geral da UBI?
Está prevista a escolha de um novo Provedor do Estudante na reunião do Conselho Geral agendada para 10 de outubro. Assumi, no Conselho Geral, o compromisso de acompanhar ativamente a transição, caso o meu sucessor (ou sucessora) o entenda necessário. Cumprirei com esse compromisso. Não seria bom para a instituição (para a UBI) que, de forma regular, se não encontrasse uma solução nessa reunião. Mas, garanto que não abandonarei abruptamente o cargo.

3- No universo dos episódios e solicitações recebidas na Provedoria há situações recorrentes e muitas delas relacionadas com a componente administrativa e burocrática, como se explica que tais situações se repitam?
Apesar de haver situações recorrentes elas têm sempre especificidades próprias. Aliás é quase impossível tipificar a maioria das situações que motivaram o contacto com o Provedor. Essas recorrências tiveram muito mais que ver com as especificidades de cada situação do que com aspetos gerais.

4- Que foi feito por forma a minorar essas "dificuldades" e "queixas" dos estudantes?
Sempre que foi possível tipificar situações o Provedor elaborou pareceres/recomendações no sentido de as corrigir. Na generalidade dos casos essas recomendações tiveram um acolhimento positivo por parte dos responsáveis.

5- Num momento em que se fala de especulação imobiliária em outras cidades universitárias, como observa o panorama da oferta de alojamento em residências académicas na UBI? A questão da habitação não figura no mapa das queixas dos estudantes que são reportadas ao Provedor?
Devo confessar que essa questão (problemas decorrentes da especulação imobiliária) nunca foi colocada ao Provedor. Devo também dizer que é uma área em que, dada a complexidade do tema em si, bem como da quantidade e variedade dos intervenientes, não seria fácil intervir. Quanto à situação específica da UBI e da Covilhã convém referir dois aspetos. Por um lado, a UBI é a universidade portuguesa que tem, se não a maior, uma das maiores taxas de cobertura em termos de residências académicas. Por outro lado, creio que a especulação imobiliária, e as suas consequências negativas, ainda não atingiram na Covilhã os níveis de outras grandes cidades. Dito isto não significa que devamos ficar descansados. Por um lado, é necessário que a resposta da UBI seja melhorada. Por outro lado, é necessário encontrar formas de a UBI, em colaboração com a autarquia, contrariar as consequências negativas dessa especulação.

6- Que marca deixa na Provedoria do Estudante?
Essa é uma pergunta que me é difícil responder sem correr o risco de parecer presunçoso. Ainda assim poderei afirmar que depois dos primeiros passos, sempre mais difíceis e incertos, que foram dados pelo meu antecessor, a atividade que desenvolvi contribuiu para que o cargo do Provedor do Estudante da UBI fosse definitivamente conhecido e reconhecido.

7- É um profundo conhecedor da UBI pois desempenhou diversas funções. Como observa a UBI e que futuro vê na Universidade enquanto entidade e parceira no desenvolvimento do território da Beira Interior?
De facto, ocupei vários cargos e funções. Diria que quase todos os que poderia ocupar por eleição dos pares. A experiência e conhecimento aí adquiridos foram fundamentais para o desempenho da Função de Provedor. Quanto à sua questão especificamente a resposta é muito simples e rápida. A UBI é um parceiro fundamental e imprescindível.

8- Como olha para o futuro da região marcada pelo despovoamento e onde existem uma universidade e dois institutos politécnicos? Que futuro antevê para os estabelecimentos de ensino superior na região?
O desenvolvimento do país para ser sustentável tem necessariamente que ser harmonioso. A litoralização e a concentração nos grandes centros são prejudiciais para o interior mas também o é para esses grandes centros. É necessário que, na definição das políticas públicas, se tenha isso em atenção. A UBI e os Institutos Politécnicos da região são parceiros fundamentais na implementação de qualquer política de desenvolvimento regional, mas por si sós pouco podem fazer. Por isso, o seu futuro está obviamente ligado às opções que, a este nível forem feitas.

9- Tenho conhecimento que solicitou a sua aposentação, o que vai fazer depois de iniciar o período de reforma?
Esse é um assunto do foro pessoal que pouco interessará aos leitores do Jornal do Fundão. A única coisa que posso dizer é que me não vou reformar da intervenção cívica.

*Artigo integralmente publicado na edição de 27 de setembro de 2018 do Jornal do Fundão no espaço "Um Café Com"



quarta-feira, novembro 27, 2013

Tratamento para abusadores sexuais precisa-se

“Sexo, Crianças e Abusadores” é o título de um livro que resulta da realização de uma investigação clínico-forense, no âmbito da conclusão do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI. Um trabalho de Filipa Carrola que entre 2010 e 2011 se dedicou a uma investigação que ajuda a avaliar “a personalidade e saúde mental” do sujeito abusador.
O documento com prefácio de Barra da Costa (profiler criminal) poderá ser um contributo para a compreensão e promoção de acções de acompanhamento e cura dos abusadores sexuais. Por outro lado, a tese de mestrado ajuda a “desmistificar a confusão que existe na sociedade entre pedofilia e abuso sexual de crianças, e os mitos que criam um imagem estereotipada acerca do crime de abuso sexual de crianças, abusadores e crianças”. 
No âmbito do estudo foram ouvidos em contexto prisional “62 abusadores sexuais de crianças” que cumprem pena nos estabelecimentos prisionais da Guarda, Covilhã, Castelo Branco e Carregueira. No trabalho de campo a jovem investigadora ouviu ainda “63 sujeitos da população normativa, que foram avaliados em termos da sua personalidade e saúde mental, através da aplicação de dois instrumentos de avaliação psicológica (entenda-se, questionários). Para complementar o estudo e melhor caracterizar a amostra foi também aplicado a todos os sujeitos de ambos os grupos um breve questionário sócio-demográfico. Após a análise estatística concluiu-se que a média de idades dos abusadores sexuais foi “de 44 anos, sendo que 53,22% destes sujeitos tinha idade igual ou inferior a 45 anos. No que respeita à escolaridade, 48,38% dos abusadores estudados tinham escolaridade equivalente ao 2.º/3.º ciclos do ensino básico, 40,32% tinham escolaridade igual ou inferior ao 1.º ciclo do ensino básico e 11,29% tinham escolaridade igual ou superior ou ensino secundário”. Por outro lado, os abusadores em causa pertencem a “vários estratos socio-económicos e as suas competências sociais e culturais são variáveis. É um grupo heterogéneo psicologicamente afectado, pois ao nível da personalidade tinham dificuldade em identificar e gerir emoções”. São tendencialmente hostis e negativistas. Estão associados a problemas de alcoolismo e a um sub mundo quantas vezes criado pelos próprios e com base nas “fantasias e vícios” de cada um.
Filipa Carrola entrevistou cada um dos abusadores e em nenhum momento sentiu desconforto. Ainda assim sublinha a tentativa de cada um dos abusadores em justificar o injustificável. “Muitas vezes disseram que foram seduzidos pela vítima. Mas o relato mais marcante foi o de um jovem abusador que me disse ser o Messias e encarnando uma pessoa teria de dar carinho e afecto permanente às crianças”.
Apreensiva com o retrato dos abusadores, Filipa Carrola deseja que o seu trabalho académico abra caminho “ao tratamento dos abusadores evitando o crescimento das taxas de reincidência e protegendo mais as crianças”. A investigadora, natural da Covilhã, referiu ao JF ser imperioso “contrariar a ideia de que a prisão é o único tratamento penal para estes sujeitos, pois muitas vezes saem mais perigosos”. À semelhança do que acontece com os condenados por violência doméstica, em Portugal não há uma estratégia de tratamento dos criminosos/condenados. Filipa Carrola lembra a Convenção dos Direitos da Criança em que os todos os países se comprometem a legislar para prevenir todas as formas de violência sexual e a prevenção está também no tratamento, alerta! Ainda assim, sublinhe-se que em Portugal existe nos Estabelecimentos Prisionais de Paços de Ferreira, Carregueira e Funchal um programa de acompanhamento de abusadores sexuais mas cujos resultados práticos são desconhecidos. “Em 2011 pensou-se dar continuidade ao programa fora do contexto da cadeia”, conclui. Da investigação, que permitiu a Filipa Corrola um brilhante 19, resultou a publicação de um artigo numa revista de Criminologia no Brasil e dois capítulos na revista Portuguesa de Psicologia. Continuar o trabalho académico de investigação nesta área é o próximo passo da autora do livro “Sexo, Crianças e Abusadores, que se propõe tirar o Doutoramento e desenvolver as suas competências no acompanhamento dos abusadores sexuais. 

Publicado no Jornal do Fundão de 14 de Novembro de 2013

domingo, novembro 17, 2013

Da UBI para o mundo da moda

Priscila Borges Franco, mestre em Design de Moda pela Universidade da Beira Interior apresentou a sua colecção Primavera/Verão 2014 no Portugal Fashion. O convite surgiu depois de ter ganho o concurso Portuguese Fashion News/Modtissimo. Natural do Brasil a jovem que se apaixonou pela Covilhã ruma a Edimburgo na Escócia para fazer o doutoramento em sensores têxteis incorporados.

A conversa decorreu no Serra Shopping da Covilhã um dia depois de Pritt (nome artístico) de 31 anos ter vivido uma das mais importantes experiências no mundo da moda. Mostrar as suas criações no palco dos novos talentos do Portugal Fashion. Na véspera de apanhar voo de regresso ao Brasil a jovem designer de moda partilhou com o JF a aventura de casar e viver ao lado da sua cara-metade numa cidade com menos 650 mil habitantes que Uberlândia no estado de Minas Gerais. Nada que a tenha transtornado pois a ideia de um povoado junto à serra da Estrela sem movimento nem diversão rapidamente caiu por terra e o casal vê a Covilhã como um território próspero e cosmopolita. “A Covilhã já foi um centro económico importantíssimo para Portugal e embora tenha perdido alguma dessa influência, carrega uma história valiosa em tudo idêntica à de muitos Portugueses que conseguiram grandes feitos e descobertas”, afirma a jovem estudante que nos dois anos em que viveu na Beira Interior não esqueceu de conhecer a terra do descobridor Pedro Álvares Cabral. Foi na Covilhã que se desenvolveu toda a estratégia de participação em iniciativas que pudessem abrir horizontes no mundo da moda. Pritt participou com mais duas colegas da UBI num concurso europeu em França que lhe permitiu conhecer gente de toda a Europa, e nessa altura constatou que a UBI é conhecida no estrangeiro. Nessa altura teve a primeira oportunidade de mostrar a sua capacidade de trabalhar a lã e o burel. “Estando na serra da Estrela fui a Manteigas ver uma exploração de burel e por lá inspirei-me no pastor, criei duas peças de burel, um tecido excelente para desenvolver um vestido longo de cerimónia e um outro conjunto prêt à porter para o dia-a-dia baseado na realidade da calça larga do guardador de gado mais o colete e o boné. Foi uma experiência muito enriquecedora trabalhar a lã cardada e no burel”, conclui Pritt. “Agradeço à Universidade da Beira Interior por todo o apoio e incentivo que recebi nestes dois anos que aqui estive. A universidade foi fundamental para expandir os meus conhecimentos e horizontes e com este desfile, no maior evento de moda de Portugal, recebo o reconhecimento público de toda a formação que aqui adquiri”, salienta a designer que, no último fim-de-semana, mostrou as suas coordenadas na Passerellle Bloom do Portugal Fashion. Na passadeira para estreantes Priscila Franco apresentou conjuntos para a próxima Primavera/Verão cujas fotos foram imediatamente publicados no site da prestigiada Vogue. Mas chegar ao Portugal Fashion implicou a realização de outros trabalhos, vencendo outras provas de fogo. Foi assim há um ano no Modtissimo no Porto, uma exposição técnica onde as empresas de Portugal e do estrangeiro mostram tecidos dando oportunidade a novos designers. “A organização vai às universidades em busca dos melhores e através da UBI pude participar, na edição de Outubro de 2012, com o trabalho para os desfiles e outras provas. Fiquei em primeiro lugar com um trabalho vanguardista dedicado ao tema Galáxia XXI. A ideia foi criar algo diferenciado num tecido às riscas e num outro tecido de xadrez pouco recto. Um vestido de alças longo e no qual todas as riscas se encontraram. Criei ainda um casaco inspirado nos discos voadores com várias camadas, uma espécie de ovni com várias linhas à volta da nave”. O primeiro lugar permitiu à designer entrar directamente no espaço novos talentos do Portugal Fashion e um prémio de 300 euros que foi o valor atribuído pelo Modtissimo à criação vencedora. Pritt começou a estudar moda aos vinte e sete anos mas está orgulhosa de ter partilhado a passerelle dos novos talentos com outros designer que estão “a desabrochar para a fama”. Na alfândega do Porto apresentou, então, oito coordenadas às quais atribuiu o nome de “Colecção Ogive”, inspirada nas formas ogivais que estão presentes na arquitetura de estilo gótico. “Com esta inspiração simples, a coleção surgiu com curvas sensuais e fortes, marcando a feminilidade de uma mulher jovial, urbana e que gosta de estar elegante, com um toque de sportswear”. As cores da colecção são marcadamente claras e traduzem a jovialidade da mulher, que carregando muitas responsabilidades, é uma personagem alegre. De resto, a nacionalidade tropical da criadora, traduz-se na utilização de cores vivas nas colecções. Foi uma jovem de ADN contagiante aquela que tomou café connosco. Pritt leva na bagagem toda a experiência académica que a UBI lhe proporcionou mas também um coração cheio de memórias de uma Covilhã cujo “património deveria ser conservado”. E dá o exemplo do palacete junto ao Jardim Público da cidade como um dos “mais bonitos edifícios onde apetece morar”. Chegou à Covilhã com uma mão à frente e outra atrás mas leva uma mala cheia de recordações e o sonho de voltar a Portugal para desenvolver as suas competências em empresas como a Paulo de Oliveira ou a Penteadora e conhecer melhor os estilistas Carlos Gil e Miguel Gigante.

Publicado no Jornal do Fundão de 31 de Outubro de 2013

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...