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domingo, maio 05, 2019

Ode aos Afetos

Hoje é o dia da mãe.
A data, que o apelo ao consumo tornou mais comercial, deveria ser uma jornada de reflexão sobre a necessidade de valorizamos a mãe.

Não vou aqui publicar fotos da minha mãe nem mostrar um postal de ouro com os meus filhos. Eles até agradecem que não os exponha. Não assumem o desconforto de ver o orgulho da família plasmado nas redes sociais e nos fóruns. Mas sempre que nós damos a conhecer ao mundo a nossa felicidade pela realização deles e delas, lá vem o comentário ,"oh mãe publicaste aquilo?!"

Pois.....

Mas hoje apetece escrever. Escrever a todas as pessoas que se esquecem de, a cada dia, sempre que o apelo lhes chega, dizer às mães o quanto as amam, respeitam e quão poderosa é a sua proteção.
Recupero um texto do José Luís Peixoto que, a meu ver, nos incita a dizermos aquilo que tantas vezes silenciamos e só verbalizamos nos momentos de perda irreparável ou quando mergulhamos na saudade dos dias plenos.


Leiam.

«mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes».

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

terça-feira, abril 30, 2019

Onde é que te gastas?


Onde é que te gastas é uma pergunta bastante comum entre amig@s e significa que queremos saber onde tens andado. O que tens feito. E que terão feito os meus leitores do «De Castelo Novo para o Mundo»?

Por certo, algumas pessoas terão dado pela minha ausência!

Tenho trabalhado bastante. A missão de facilitar a comunicação absorve-me sobremaneira. Depois há o compromisso semanal de realizar o meu «Porque Hoje é Domingo» https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/  na Rádio Cova da Beira.

Ultimamente dedico-me pouco à reportagem escrita e aos dizeres daqui…
Às palavras que saem ao sabor da pena….

No outro dia uma companheira de jornada disse-me que passou a escrever no seu blogue uma vez por semana (www.nuncamaisesabado.net) e também me explicou que se obriga a fazê-lo pelo menos uma vez por semana.

Está explicada a razão do «Nunca mais é Sábado»! Vão lá ler.

Também fiquei entusiasmada. De tal forma que abri esta janela para o mundo e observei que não publico aqui nada desde dezembro de 2018.

Raios!

De então para cá fiz tantos passeios, acompanhei concertos e outros eventos. Celebrei a vida e a amizade. Também fui surpreendida pela visita de uma amiga de sempre e fomos à neve.

Até parece que estou longe desse cartaz maior que é a serra da Estrela!

“Dá Deus as nozes a quem não tem dentes”, já diziam os antigos e têm muita razão. Afinal a Estrela vê-se de todas as janelas da minha geografia e rotinas diárias!
Como diria o diretor do Jornal do Fundão, “são os custos da interioridade”!

E destes a gente gosta.

E que tenho feito, além de comunicar?

Perdi um amigo de sempre e não contive as lágrimas pela partida do João Martins. Um amigo de família que pelo menos uma vez foi protagonista dos meus apontamentos. https://apaixonadapelavida.blogspot.com/2016/11/gestos-e-afetos.html

Em dezembro último estivémos juntos. 




O João partiu semanas depois.

Neste tempo passou um século sobre o nascimento do meu pai. Foi a dia 10 de abril. 100 anos de nascimento de João Gabriel. Saudades tuas, meu pai de ouro. Ainda não consegui escrever o livro sobre o último guarda-florestal de Castelo Novo. A seu tempo, paizinho. A seu tempo!

Neste entretanto completei mais um aniversário, reuni amig@s e familiares.
Retomei o hábito antigo de ir, com regularidade, aos concertos que se fazem nas nossas salas de espetáculos. Também tenho passeado.

Dos concertos guardo a memórias das melhores companhias e a revisitação de grandes canções. No outro dia fascinei-me com «The Gift», revivi a vida com «Resistência» e descobri «Rubel».

https://youtu.be/A8ukTfUJUj8

Das canções às traições vai alguma distância mas a música também significa valorizar o património imaterial dos territórios. E na última Quaresma o meu Fundão promoveu espetáculos de encher a alma.

Num dia de abril fui à Capela de São Francisco, no Fundão, e assisti ao  concerto Martyrio, protagonizado pelo coro comunitário Ensemble Renovatio. Martyrio é o resultado do projeto de criação LACE – Laboratórios de Criação Etnográfica para a Quadragésima, que este ano teve por tema “coro como unidade de criação”. A tradição oral dos cânticos quaresmais da Beira foi, então, interpretada por um coro comunitário – Ensemble Renovatio – com direção artística de Susana Quaresma e Mariana Zenha.




Foi lindo! 
Às tantas senti-me em Castelo Novo a ouvir as pessoas da minha Aldeia a interpretarem os martírios de lá.

Maravilhosa foi a jornada em que a ida à Moagem para assistir a um documentário sobre profissões em vias de extinção me dei conta de como valorizamos tão pouco as nossas pessoas e as marcas que esses protagonistas deixam nos lugares outrora mais povoados.

Foi lá que conheci Rodolfo Nuno Anes Silveira. Licenciado em Cinema e Comunicação Multimédia pela Universidade Lusófona, Rodolfo tem raízes nos Três Povos (Fundão), vive em Munique (Alemanha) e está fazer doutorando em Media Artes, na UBI- Universidade da Beira Interior.
Coordenador de estudos da Universidade de Televisão e Filmes de Munique (Hochschule für Fernsehen und Film - HFF), Rodolfo Silveira estava acompanhado de Daniel Lang da mesma universidade. 



Um e outro promoveram na região uma recolha sobre ofícios em desuso e através da técnica “falar com imagens” reuniram um conjunto de curtas-metragens que nos ajudaram a redescobrir um ferreiro, um cesteiro, uma tecedeira, um padeiro e um construtor de pífaros.

Artes e ofícios em vias de extinção num documentário notável que será apresentado no Festival de Cinema Documental de Munique (DOKFEST) no próximo mês de maio.

Fiquei orgulhosa daqueles jovens que assim nos levaram até ao Jarmelo, Alcongosta, Janeiro de Cima, Silvares e Três Povos.
É bom quando os trilhos da vida nos cruzam com pessoas assim.

Até outro instante!

terça-feira, outubro 03, 2017

Uma Doçura de Teimosia

Qualquer dia faz dezasseis anos. Está uma mulher!
Há maneira que os anos avançam o perfil de menina torna-se mais refinado e damos-nos conta do quão parecidas somos.

Lá em casa as semelhanças dão um jeitão à classe masculina do clã. Vezes sem conta ouve-se uma voz mais poderosa e rabujenta que nos lembra a autenticidade dos nossos traços e modos de agir. 
- És mesmo como a tua mãe! 
A tirada do mais adulto homem da casa quase sempre tem resposta. E a mesma traduz-se numa estridente e cumplice gargalhada.

Mas como em tudo na vida, a rotina nem sempre veste azul ou transborda as cores do arco-íris. 
A Nina, como lhe chamo desde bebé, é uma doçura de teimosia. O modo de ser e as reações intempestivas que herdou da progenitora, quase sempre seladas com um ruidoso bater de porta, desaparecem instantes depois.
Na terminologia moderna chamar-lhe-ia bipolar. Mas eu, que sou tão igual a ela, perfiro caracterizá-la como mau feitio.

E o que é ter mau feitio, ser intempestiva ou bipolar?
Não quereremos dizer que somos determinadas? Exigentes...

A menina quase mulher é, efectivamente, uma rapariga determinada. Na escola, no desporto e nas relações interpessoais.

Os últimos tempos não têm sido fáceis pois o clã passou de cinco para quatro elementos. 
A "Judite Sousa" lá de casa está menos perto de nós. Menos presente. Ainda que seja um afastamento físico nenhum de nós esconde que temos saudades dos monólogos da "Judite Sousa" e da forma organizada e metódica que desde sempre caracterizam o seu percurso.

É diante esta realidade que o par de intempestivas reganha uma cumplicidade adormecida. 

A distância forçada de um deixou mais espaço e tempo para a mau feitio mor  renovar os laços umbilicais com a nadadora e pianista que sonha ter muitos filhos e casar com um homem rico.

Sim, o leitor percebeu bem! A Nina quer ser uma mãe de mão cheia. Contudo, não será a fada do lar.

Nós, pessoas determinadas e audazes, temos um enorme apego à família e alimentamos o cordão umbilical mas também queremos voar!

Voemos! Sejamos sempre uma doçura de teimosia. Nem que seja para que o Tiquita tenha a certeza que também o amamos muito. Tiquita será sempre o benjamim da família. E os traços de doçura teimosa já começam a dar sinais.

E agora que a prosa intimista chega aos fim, apetece-me dizer-vos: A Nina, que é sangue do meu sangue e papel químico dos Gabriel, tem sido o nosso amparo.

Ela é forte e determinada. Confia no amor incondicional e sabe promovê-lo.

Que a harmonia e musicalidade continuem a ser a banda sonora de nossas vidas.


Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...