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quarta-feira, dezembro 13, 2017

A Cantata de Natal da Academia de Música do Fundão

Chegou a época natalícia e com ela os habituais concertos de Natal promovidos pela escola de ensino artístico da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. 

Este dia as obrigações profissionais levaram-me a um desses momentos ricos de criação e execução musicais. Fi-lo com o sentido prazeroso do costume e o momento fez-me sentir mais leve e cheia de vontade de, este ano, celebrar o Natal.

A razão vai muito além do concerto. Mas não posso deixar de explicar ao leitor o quão aquelas palavras do narrador cativaram o ser fazendo-me sentir num verdadeiro ambiente de Natal.

Um sentimento, estou certa, comum às muitas pessoas que naquela noite de invernia, caracterizada por ventos ciclónicos e chuva abundante, sairam do conforto do lar e terão aquecido os corações num exemplar momento cultural e de intensa introspeção. 

No palco improvisado da igreja matriz do Fundão estavam várias dezenas de crianças de muitas idades que cantavam de forma harmoniosa e transmitiam um sentimento de invulgar amor ao Natal.

A explicação poderá estar no conteúdo da peça que aqui partilho e que muito nos fala das tradições do Natal na região da Beira Baixa. 

A Cantata de Natal da autoria de José Manuel Nunes é uma viagem imensa às tradições em louvor do Menino Jesus, da Missa do Galo e da romaria de gente à volta do Madeiro.

Realidades tão bem documentadas na Etnografia da Beira de Jaime Lopes Dias e que, em certa medida, estão na Cantata que aqui partilho.

E embora as condições técnicas do vídeo não sejam as melhores - pois não se ouvem bem as vozes do narrador, do anjo e dos Reis Magos - vale a pena escutar esta gravação. A obra em apreço engrandece o percurso da Academia de Música e Dança do Fundão onde, felizmente, a cidade do Fundão tem um dos seus melhores ativos culturais.

Fiquem com o vídeo e embrenhem-se no espírito natalício.






sexta-feira, janeiro 27, 2017

O exemplo da Liga dos Amigos do Tortosendo

No outro dia o meu programa de rádio saiu do estúdio da Rádio Cova da Beira e foi ao encontro de um conjunto de jovens e dirigentes que dão vida a uma das mais emblemáticas coletividades da vila do Tortosendo no concelho da Covilhã.

Foi o entusiasmo do recém-eleito presidente da Liga dos Amigos do Tortosendo, Eduardo Alves, que me fez ir à descoberta daquele espaço mágico, localizado bem no centro da vila operária, para perceber das intenções e projetos de futuro.

A história e as memórias de uma “família” que já reúne à volta de 800 membros é uma realidade que bastante orgulha Manuel Carrola, sócio fundador da organização que hoje é um pulmão de cultura.

A Liga dos Amigos do Tortosendo é-me bastante familiar por via do dinamismo de duas mulheres com quem tenho tido o privilégio de me cruzar neste percurso entre as notícias e a movida cultural da região. As professoras e amantes dos livros Merícia Passos e Adélia Mineiro.

É esse registo cultural que tão bem caracteriza a Liga dos Amigos do Tortosendo que continua a marcar o registo na simpática e acolhedora coletividade que até sabe descentralizar a ação e envolver os parceiros.
Basta lembrar o último Natal quando a filósofa e escritora Vanessa Martins escreveu o conto “O Frio do Menino Jesus” que além de ter sido ilustrado pelo artista Tó Pê teve a particularidade de chegar à mão das crianças da vila.

Uma iniciativa da Liga que foi apadrinhada pela Junta de Freguesia local, entidade que tudo fará para contribuir para o bem-estar e felicidade das 250 crianças do Tortosendo. E não é “coisa” pouca admite o autarca David Silva que no decurso do Porque Hoje é Domingo – o programa que passa aos domingos de manhã na telefonia, anunciou que haverá de convidar Vanessa a escrever a história do Tortosendo para crianças.

É fantástico este entusiasmo de quem sabe como a complementaridade e a partilha de recursos são hoje uma das regras base da sobrevivência dos povos e suas entidades e organizações tantas vezes habituadas a fazer muito com poucos recursos.
Boas-práticas adotadas pela Liga dos Amigos do Tortosendo que com a ajuda de outros parceiros públicos e privados conseguiu promover uma belíssima exposição de retratos do jovem pintor do Tortosendo Guilherme Ramos.

“Rostos”. Assim se chama a mostra que pode visitar num espaço cedido pela Gráfica do Tortosendo e na qual o também estudante de belas-artes dá expressão mágica a muitos dos exercícios das aulas.
Um encontro feliz com as artes na vila que ainda no último Verão brindou a comunidade regional com o Urban Art do Tortosendo que até homenageou o malogrado Zéca Afonso.

Símbolo de uma identidade que enriquecerá os próximos exemplares do Boletim Informativo da LAT que lá para setembro chegará à centésima edição. Nessa altura a publicação terá “um selo de qualidade”, promete David Silva que através da Junta de Freguesia local continuará a patrocinar atividades que muito enriquecem as comemorações dos 90 anos da elevação do Tortosendo à categoria de Vila.


segunda-feira, julho 11, 2016

Dias da Música no Fundão

Os Dias da Música. Os Dias da Música costumam ser no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Mas também há dias da música na capital da Cova da Beira.

Pego no título de uma das mais prestigiantes iniciativas do Centro Cultural de Belém para me focar no igualmente prestigiante Concurso Internacional Cidade do Fundão ao qual se juntou neste ano de 2016 o FICE- Fundão International Cello Encounter.

O violoncelo foi, de facto, a mais valia e novidade da edição 17 do Concurso organizado pela escola de ensino artístico da música no Fundão.
Primeiro porque logo na estreia da variante de violoncelo houve cerca de 50 jovens instrumentistas a concorrer. Depois por o violoncelo ter sido o instrumento que deu ritmo e cor ao FICE.

Mas comecemos pelo Concurso Internacional.

A prova que este ano reuniu 180 concorrentes de Portugal, Espanha, Holanda e Brasil é um renovado caso de sucesso pois a cada edição há uma história paralela de alguém que se obriga a dar a volta ao mundo para conseguir marcar presença no encontro.
Lauro Lira Lopes é natural do Rio de Janeiro e quando soube da prova nem pensou duas vezes. Inscreveu-se e prespectivou como o Concurso Internacional do Fundão lhe poderia abrir horizontes e dar a conhecer professores capazes de lhe abrirem as portas para dar aulas na Europa e realizar o mestrado.
Com o Brasil meio em estado de sítio, Lauro Lopes viveu uma "verdadeira saga" e obrigou-se a vencer burocracias múltiplas para obter passaporte, viajar para Portugal e posteriormente para o Fundão a tempo de realizar a prova de violoncelo de nível superior.
Chegou horas antes das eliminatórias que ocorreram no dia sete e não se cansa de agradecer ao incansável diretor do Concurso, professor João Correia, por se ter disponibilizado a suprir a necessidade de transportas públicos fora de horas entre Lisboa e o Fundão e ter garantido a que Lauro chegava a tempo de realizar as provas de violoncelo.
Lauro não chegou viu e venceu mas obteve uma menção honrosa que, espera, possa traduzir-se na conjugação de recursos para se fixar em Portugal
Aos 23 anos o jovem que veio de mochila e violoncelo e que ficou mais de dez horas no aeroporto respira boa disposição e não poupa elogios o Concurso do Fundão e ao FICE.

Digamos que Lauro é uma espécie de porta-voz de todos quantos participaram e dinamizaram os Dias da Música no Fundão!
A também designada terra da Cereja respirou musica. As ruas da cidade de pequena dimensão ganharam mais vida e havia música no ar. Bastava andar pelo Fundão antigo e desde a Praça do Município até à Praça Velha ou ao Largo da Estação ferroviária o transeunte cruzava-se com o sorriso de dezenas de jovens que de instrumento às costas conversavam sobre a terra onde a cultura e a música andam de mãos dadas.

E se o Fundão já está no mapa das artes também por via do Concurso Internacional que a Academia de Música e Dança muito bem organiza e promove, esta terra passou a integrar o roteiro de acontecimentos culturais maiores.

A escolha do Fundão para acolher os músicos de renome que fizeram o FICE deve orgulhar, e orgulha, uma comunidade inteira. É que além de o Fundão passar a fazer parte de um projeto que desde há 21 anos se realiza no Rio de Janeiro, o Fundão assistiu a concertos e recitais que juntaram na Moagem e na Praça Velha David Chew , violoncelista que lançou no Brasil o Rice (Rio International Cello Encounter),  Russell Guyver ou Lorna Griffitt.

Não sabemos se o Cello Fundão terá continuidade ou se alguma vez atingirá o patamar de versatilidade cultural das edições do Brasil que também já permitem dar visibilidade à dança e às artes esculturais, mas temos a certeza de que valeu a pena o Fundão através da sua Academia de Música e do Município se terem envolvido na concretização de um evento que enriqueceu o Concurso Internacional e colocou o Fundão na rota de um grande acontecimento artístico.

Parabéns!

terça-feira, julho 22, 2014

Artesanato e gastronomia no “Xistrilhos” 2014

Dizem que é o centro do universo, também lhe chamam o coração do xisto. Sobral de São Miguel no concelho da Covilhã organizou e recebeu o “Xistrilhos”. A iniciativa deu seguimento ao “Xisto e Lendas” e o êxito está garantido. No próximo ano, o segundo fim-de-semana de julho voltará a ser ponto de encontro com o artesanato, gastronomia e muita animação.





“Trilhando Sensações” foi o slogan da iniciativa que entre sexta-feira e domingo foi visitada por centenas de pessoas de toda a região. O “Xistrilhos” foi organizado por um grupo de pessoas do Sobral que estão determinadas em dar vida à aldeia do xisto. Suzette Ferreira integrou a organização e partilhou connosco a satisfação pelo “êxito de um conceito de festa” que este ano teve alguma inovação. Além das habituais tasquinhas, desta vez a animação passou pelas várias artérias da iniciativa e o passeio pedestre também passou por outros trilhos. “Vestígios arqueológicos, gravuras e as marcas dos rodados da rota do sal” destaca a responsável. Inovadores foram também “o workshop e oficina de trabalhos manuais sobre como trabalhar a ardósia e o xisto”. A nível gastronómico, “novos sobralenses aderiram às tasquinhas e apresentaram novos pratos”. Do javali com legumes, à pica de bacalhau, sem esquecer o feijão com couve à moda das primas Sarilhas, houve de tudo um pouco. “Foi de comer e gritar por mais” disseram alguns dos visitantes que no domingo à tarde se deslocaram a Sobral de São Miguel para uma visita ao certame. Embora São Pedro tenha surpreendido os convivas com chuva (no dia de sábado) a verdade é que a iniciativa “foi um êxito” a repetir. E enquanto não chega a próxima edição Adília Pinto e Teresa Paiva continuarão a dar ao dedo. Uma ocupar-se-á do tear de onde saem bonitos naperons e painéis de linho bordados a preceito. A outra artesã dedicar-se-á aos chapéus de renda e algodão. As meias brancas rendadas e os antigos cobertores que passarão a tapetes multiusos compõem a oferta de quem faz da delicadeza das mãos ganha-pão para a família. O Xistrilhos regressa dentro de um ano mas até lá Sobral de são Miguel vai “inaugurar o caminho do xisto”, anunciou a presidente da junta de freguesia Sandra Ferreira. “Será muito em breve”, acrescentou. Depois disso, Sobral haverá de ser palco para a realização de “um evento dedicado ao cogumelo, outro sobre geocaching e uma feira do queijo corno”. 

segunda-feira, novembro 18, 2013

Desinvestimento na cultura ameaça um bem essencial

Fernando Sena o actor que é director e fundador de uma companhia de teatro que é um exemplo de resistência à interioridade e à ausência de uma maior aposta na produção cultural. ”Sou contra a menorização da cultura”.


Fernando Sena, director do Teatro das Beiras, fundador da associação que deu origem à companhia profissional de teatro. O GICC- Grupo de Intervenção Cultural da Covilhã, fundado em 1974, e onde foi actor e encenador. Foi um dos mentores de um projecto cultural ecléctico, que à época era único na Beira Interior, pioneiro no combate ao analfabetismo. Na conversa realizada na sede da companhia, Fernando Sena recordou os primeiros passos de um projecto que assume como parte integrante da sua vida e elege a profissionalização da companhia como o marco mais importante do projecto. O primeiro espectáculo foi logo em 1975, mas a associação tinha uma intervenção multifacetada. “Muito antes de se falar de analfabetismo, dinamizámos a alfabetização e houve quem tenha feito o exame da quarta classe, após as aulas aqui realizadas”. A realização em Agosto de O acto na Montanha, permitindo a troca de experiência e aperfeiçoamento de conhecimento no teatro e outras artes foi, durante dez anos, outro doa marcos da companhia. Resistir “às inúmeras dificuldades criadas ao teatro e à cultura” tem sido a estratégia. Aos parcos apoios financeiros que desde sempre marcaram o apoio à produção cultural - ao contrato de financiamento assinada em 2009 com a Direcção Geral das Artes, sucederam-se cortes que em 2013 chegaram aos 70% - junta-se a interioridade. “Quando fizemos o primeiro festival, um camião com os cenários demorava nove horas na viagem desde Lisboa à Covilhã. Hoje as viagens são menos demoradas mas a vida das companhias no interior continua financeiramente muito complicada. Seja pelo desinvestimento do Estado, seja pelo encerramento de serviços. Sem elementos catalisadores decresce a população”. Apesar dos contratempos Sena orgulha-se da panóplia de espectáculos realizados. “Mais de duas mil e duzentas produções em 39 anos, uma centena de espectadores por sessão”. Contestando o aparente divórcio entre o público e o teatro, Fernando Sena sublinha o decréscimo de espectadores também no cinema e questiona se “esse divórcio com a cultura não será, antes, um reflexo da formação das pessoas e da sociedade em geral”. Ou no resultado da perda de poder de compra! Quanto à estratégia de produção a aposta recai em nomes universais (Moliére e Goldoni) e “textos acessíveis”. Trabalhamos para o grande público e também para as crianças. Também produzimos espectáculos a partir de textos mais herméticos” mas que “têm uma grande qualidade e que pertencem a autores de renome mundial”. Enriquecem a oferta da companhia profissional que ao longo dos anos apresentou “quase 90 produções próprias”. Actualmente o Teatro das Beiras tem em cena o espectáculo de Dário Fou, “Pagar aqui Ninguém Paga”, que tem tido boa receptividade do público mas “infelizmente não tem havido condições para fazermos circular mais peças a nível nacional”. Embora a região e o país disponham actualmente uma rede de - e infra-estruturas culturais a verdade é que de há “quatro ou cinco anos a esta parte fazem-se menos espectáculos e digressão”. Enaltecendo o plano de recuperação de cine-teatros nas capitais de distrito, Fernando Sena elogia a estratégia do então Ministro da Cultura (Manuel Maria Carrilho) mas lamenta que a construção de novos equipamentos (um por concelho) não tenha sido acompanhada pela contratação de bons programadores. “A maioria das salas encontra-se distante da actividade para a qual foi construída. Não estando abandonadas, são salas sem uma oferta regular de produção profissional”. A recuperação do Teatro Municipal da Covilhã que deverá ser uma das apostas do novo executivo do Município da Covilhã, merece um alerta: “Espero que não se comentam erros idênticos aos realizados pelo país em que se gastaram milhões de euros em salas com problemas técnicos de todo o tipo. A programação deverá ser adequada à cidade e não a preferência de uma ou duas pessoas”. O Teatro das Beiras está a fazer 39 anos, a caminho vem o Festival de Teatro, que nasceu em 1980 como Ciclo de Teatro de Outono, antevê-se uma programação cultural à altura da credibilidade da companhia. Actualmente reúne seis actores residentes, sonha com um espaço “mais digno para a apresentação de espectáculos”. “Trabalhamos com muito bons actores que não beneficiando do mediatismo das telenovelas são muito profissionais”. Embora a televisão seja um enorme meio de difusão de actores, Fernando Sena queixa-se de que “ao nível do espectáculo televisivo, não existe oferta de teatro. Nem na televisão pública! Mas a mediocridade não se fica pela oferta das estações privadas, a pública que é suportada por todos nós actua com a mesma ligeireza”, afirma. Em tom critico, lembra o ”país da compra e vende-se que esqueceu a cultura. Para mim a cultura faz parte da vida como um bem essencial”.

Publicado no Jornal do Fundão em Outubro de 2013

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