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terça-feira, maio 10, 2016

Quando os livros quebram o silêncio

Hoje escrevo sobre a biblioteca itinerante de Proença-a-Nova . Um projeto cultural que desde há dez anos é dinamizado por Nuno Marçal. Falar do bibliotecário que  viaja pelas aldeias mais recônditas do Pinhal Interior sem dar boa nota da componente humana do cidadão é muito pouco.
 

É que Nuno Marçal não se faz acompanhar apenas de livros. Às pessoas leva mais que livros. Na mala de viagem também vão revistas, bons conselhos e uma mão cheia de afetos.
Sorrisos feito palavras que abraçam e acrescentam alegria às pessoas que resistem à desertificação.

Nuno Marçal é um colecionador de imagens da vida no campo. Momentos de uma ruralidade em que a rotina só é quebrada pela chegada da bibliomóvel.

Quer seja através da Mala das Letras, quer através dos improvisados clubes de leitura que se criam nos lugares e nas aldeias onde às vezes sobressai o som de um acordeão ou a concertina de alguém que se junta ao coro das palavras soltas e consegue criar animação de rua.

Nesse instante o adro da igreja ou o espaço mais amplo do casario transforma-se num palco de cantigas ao desafio.

Quem diz cantigas, diz estórias. Memórias de outros tempos e lugares que a alma implora que se recordem. 
Partilha-se, então, esse património imaterial de uma geografia em que os livros quebram o silêncio.

Além dos livros e do gesto, a bibliomóvel de Proença-a-Nova promove ainda os diálogos entre pessoas cujas famílias estão muitas vezes distantes. Mas também ajuda a solucionar questões de natureza burocrática que tantas vezes representam um problema de maior dimensão para quem está isolado.

Por todas estas razões e outras que não caberiam nesta meia dúzia de linhas, vale a pena continuar a investir na rede de bibliotecas itinerantes. Em Portugal serão cerca de 60. Na Cova da Beira, houve o caso da biblioteca itinerante dinamizada pelo município do Fundão. Oxalá a dinâmica da bibliotecária Dina Matos faça da Eugénio de Andrade uma biblioteca que rasga fronteiras e combate a solidão que marca os dias das  nossas aldeias.

E agora apetece citar Jorge Luís Borges e um magnífico poema sobre os livros.

E diz assim:

Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo) 
São uma parte de mim, como este rosto 
De têmporas e olhos já cinzentos 
Que em vão vou procurando nos espelhos 
E que percorro com a minha mão côncava. 
Não sem alguma lógica amargura 
Entendo que as palavras essenciais, 
As que me exprimem, estarão nessas folhas 
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. 
Mais vale assim. As vozes desses mortos 
Dir-me-ão para sempre. 

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda" 

Aos leitores deixo ainda o link de uma belíssima conversa com Nuno Marçal. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-1-maio-2016-rcb-nuno-mar%C3%A7al/

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