No outro dia a RTP Memória surpreendeu-nos com a transmissão de um documentário sobre as tradições religiosas de Castelo Novo e o calendário agrícola. As filmagens remetem-nos para o ano de 1973 do século XX e são uma viagem pela preparação das festas do Corpo de Deus.
«Ensaio» é o título do documentário que pode revisitar nestes dois links:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-i/
Neste vídeo observamos o cruzeiro, estradas romanas, vista geral, castelo, lagareta (ruína romana); declarações de José Falcão, presidente da Junta de Freguesia, junto a cruzeiro, sobre a Freguesia e a emigração, intercaladas com imagens de brasão na fachada da Casa da Família Falcão, Chafariz Fundeiro, frontaria da Igreja Matriz, varanda de madeira, fachada de capela e detalhes do sino e da cruz, pormenores de janelas e ruas.
Seguem-se "Os Trabalhos do Campo": camponesas a sacharem milho; comentários de camponesas sobre o trabalho agrícola e a família; declarações de José Falcão, sobre a antiga fábrica de lanifícios, intercaladas com imagens do edifício fabril degradado.
"A Urdidura do Fio": fios de linho esticados; caixa com novelos de algodão; Maria Saraiva, urdideira, a trabalhar o fio de linho e declarações da mesma sobre a atividade, os utensílios usados e a vida familiar; vista geral de Castelo Novo; capela: detalhe de sino e escadaria; jornalista entrevista José Falcão sobre as Festas do Corpo de Deus e o leilão de beneficência; fiéis em frente à Igreja Matriz.
"A Procissão do Corpo de Deus": procissão do Corpo de Deus: pessoas a sair da Igreja Matriz, a descer as ruas, a passar junto do Pelourinho e à Casa da Câmara; torre com relógio; movimento de rua.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-ii/
Na preparação das festas: homem a acender e a largar foguete, mulheres com criança pela mão, mesas ao ar livre com fruta, habitantes a conviverem.
"O Leilão das Fogaças": leilão das fogaças, homem em cima de mesas a leiloar coelho, mesas com as fogaças e populares à volta; comentários de populares sobre a aldeia, intercalados com imagens de leilão, janela com flores e roupa estendida, ruas de Castelo Novo e fachadas de edifícios e mulher em soleira de porta.
"Conversa com o Pregoeiro": entrevista a José António Campos, leiloeiro e trabalhador da construção civil, sobre as suas profissões e o interesse em morar em Castelo Novo, intercalados com vista geral da Serra da Gardunha e fachadas de edifícios; declarações de José Falcão sobre o regresso de naturais a Castelo Novo, durante as festas populares e após a reforma, intercaladas com imagens do castelo, alpendre em edifício degradado, vasos de flores em fachadas de edifícios e criança à janela.
Comentários de José António Campos sobre as diversões existentes em Castelo Novo e as ocupações dos jovens; altifalante em árvore.
"O Baile": jovens a dançarem em baile na rua e pessoas a assistirem; declarações de José Falcão sobre a Liga de Amigos de Castelo Novo e as infraestruturas planeadas para a aldeia, intercaladas com imagens de homem a trabalhar no campo, fonte e muralha do castelo.
José Falcão, visionário presidente de junta de freguesia num território que chegou a ser sede de concelho e no qual desde sempre se elege a Gardunha, a frescura da água do Alardo e o turismo como elementos de capacitação e valorização da aldeia.
Fracções de memórias passadas. Tempos idos e diluídos na espuma dos dias. A actualidade desta Beira que é a nossa!
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terça-feira, junho 23, 2020
terça-feira, abril 30, 2019
Onde é que te gastas?
Onde é que
te gastas é uma pergunta bastante comum entre amig@s e significa que queremos
saber onde tens andado. O que tens feito. E que terão feito os meus leitores do
«De Castelo Novo para o Mundo»?
Por certo,
algumas pessoas terão dado pela minha ausência!
Tenho
trabalhado bastante. A missão de facilitar a comunicação absorve-me
sobremaneira. Depois há o compromisso semanal de realizar o meu «Porque Hoje é
Domingo» https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/ na Rádio Cova da Beira.
Ultimamente
dedico-me pouco à reportagem escrita e aos dizeres daqui…
Às palavras
que saem ao sabor da pena….
No outro
dia uma companheira de jornada disse-me que passou a escrever no seu blogue uma
vez por semana (www.nuncamaisesabado.net)
e também me explicou que se obriga a fazê-lo pelo menos uma vez por semana.
Está
explicada a razão do «Nunca mais é Sábado»! Vão lá ler.
Também
fiquei entusiasmada. De tal forma que abri esta janela para o mundo e observei
que não publico aqui nada desde dezembro de 2018.
Raios!
De então
para cá fiz tantos passeios, acompanhei concertos e outros eventos. Celebrei a
vida e a amizade. Também fui surpreendida pela visita de uma amiga de sempre e
fomos à neve.
Até parece
que estou longe desse cartaz maior que é a serra da Estrela!
“Dá Deus as
nozes a quem não tem dentes”, já diziam os antigos e têm muita razão. Afinal a
Estrela vê-se de todas as janelas da minha geografia e rotinas diárias!
Como diria
o diretor do Jornal do Fundão, “são os custos da interioridade”!
E destes a
gente gosta.
E que tenho
feito, além de comunicar?
Perdi um
amigo de sempre e não contive as lágrimas pela partida do João Martins. Um amigo
de família que pelo menos uma vez foi protagonista dos meus apontamentos. https://apaixonadapelavida.blogspot.com/2016/11/gestos-e-afetos.html
Neste tempo
passou um século sobre o nascimento do meu pai. Foi a dia 10 de abril. 100 anos
de nascimento de João Gabriel. Saudades tuas, meu pai de ouro. Ainda não
consegui escrever o livro sobre o último guarda-florestal de Castelo Novo. A
seu tempo, paizinho. A seu tempo!
Neste
entretanto completei mais um aniversário, reuni amig@s e familiares.
Retomei o
hábito antigo de ir, com regularidade, aos concertos que se fazem nas nossas
salas de espetáculos. Também tenho passeado.
Dos
concertos guardo a memórias das melhores companhias e a revisitação de grandes
canções. No outro dia fascinei-me com «The Gift», revivi a vida com
«Resistência» e descobri «Rubel».
https://youtu.be/A8ukTfUJUj8
https://youtu.be/A8ukTfUJUj8
Das canções
às traições vai alguma distância mas a música também significa valorizar o
património imaterial dos territórios. E na última Quaresma o meu Fundão
promoveu espetáculos de encher a alma.
Num dia de
abril fui à Capela de São Francisco, no Fundão, e assisti ao concerto Martyrio, protagonizado pelo coro
comunitário Ensemble Renovatio. Martyrio é o resultado do projeto de criação
LACE – Laboratórios de Criação Etnográfica para a Quadragésima, que este ano
teve por tema “coro como unidade de criação”. A tradição oral dos cânticos
quaresmais da Beira foi, então, interpretada por um coro comunitário – Ensemble
Renovatio – com direção artística de Susana Quaresma e Mariana Zenha.
Foi lindo!
Às
tantas senti-me em Castelo Novo a ouvir as pessoas da minha Aldeia a
interpretarem os martírios de lá.
Maravilhosa
foi a jornada em que a ida à Moagem para assistir a um documentário sobre
profissões em vias de extinção me dei conta de como valorizamos tão pouco as
nossas pessoas e as marcas que esses protagonistas deixam nos lugares outrora
mais povoados.
Foi lá que
conheci Rodolfo Nuno Anes Silveira. Licenciado
em Cinema e Comunicação Multimédia pela Universidade Lusófona, Rodolfo tem
raízes nos Três Povos (Fundão), vive em Munique (Alemanha) e está fazer doutorando
em Media Artes, na UBI- Universidade da Beira Interior.
Coordenador de estudos da Universidade de Televisão e Filmes de Munique (Hochschule für Fernsehen und Film - HFF), Rodolfo Silveira estava acompanhado de Daniel Lang da mesma universidade.
Coordenador de estudos da Universidade de Televisão e Filmes de Munique (Hochschule für Fernsehen und Film - HFF), Rodolfo Silveira estava acompanhado de Daniel Lang da mesma universidade.
Um e outro
promoveram na região uma recolha sobre ofícios em desuso e através da técnica “falar
com imagens” reuniram um conjunto de curtas-metragens que nos ajudaram a
redescobrir um ferreiro, um cesteiro,
uma tecedeira, um padeiro e um construtor de pífaros.
Artes e ofícios em vias
de extinção num documentário notável que será apresentado no Festival de Cinema
Documental de Munique (DOKFEST) no próximo mês de maio.
Fiquei orgulhosa daqueles jovens que assim nos
levaram até ao Jarmelo, Alcongosta, Janeiro de Cima, Silvares e Três Povos.
É bom quando os trilhos da vida nos cruzam com
pessoas assim.
Até outro instante!
sexta-feira, junho 01, 2018
Cem Anos e uma Vida Feliz
Apresento-vos
a centenária Maria de Lourdes Videira. Nasceu na cidade mais alta, veio para o
Fundão ainda bebé e completa no dia 3 de junho 100 anos. Uma centena de anos de
uma vida feliz. Contou-me no dia em que me recebeu em sua casa, no centro da
cidade do Fundão, para gravarmos a conversa que passará na Rádio Cova da Beira,
no programa “Porque Hoje é Domingo” exatamente à mesma hora em que na igreja
matriz do Fundão decorrerá a eucaristia que assinalará o centenário de
Lurdinhas Paulouro.
“Lurdinhas”
pela dedicação que familiares e amigos têm para com a viúva de Armando
Paulouro, o militar com que Maria de Lourdes Videira se casou depois de 26 anos
de namoro à distância. “O meu marido passou muitos anos nos Açores
e umas vezes queria casar, outras nem tanto. Escrevia-me muitas cartas de amor,
mais do que eu!”. Descreve Lourdes Videira que embora não tenha adotado o nome da
família Paulouro, é conhecida de todos os fundanenses como Lourdes Paulouro.
Na conversa
divertida e intimista na sala de estar de um apartamento na rua Vasco da Gama,
Lourdes Videira confessa-nos que gostaria de ter sido atriz. “Eu quando via o
palco, corria para lá e só me imaginava ali a demonstrar o que eu gostava de
fazer. Mas eu tinha uma vida muito presa. Não gostava de deixar os meus pais
sozinhos e também não tive grandes oportunidades de estudar”, revela-nos ainda quem
abriu no Fundão o primeiro colégio privado para as crianças. No entanto, o
mesmo deixou de existir quando chegaram ao Fundão as Irmãs Franciscanas que
criaram na Misericórdia um outro colégio que praticava “preços mais baixos” e
lhe acabou com o projeto, descreve.
Além
da educação infantil baseada na pedagogia de João de Deus Ramos *, Lourdes
Paulouro desenvolveu, até aos 70 anos, um percurso profissional em boa parte
foi dedicado ao combate à tuberculose. “Quando as Freiras me acabaram com o
colégio, havia muitas famílias com tuberculose e Monsenhor Santos Carreto**,
convidou-me para trabalhar no Dispensário de Tuberculose”. “Ajudei muitas
famílias. Nos anos cinquenta ia às barracas dos ciganos dar injeções e fazer
inquéritos para avaliar a evolução do surto da doença nas Minas da Panasqueira
e na Covilhã”, explicou quem também exerceu funções de assistente social e
reportava “diretamente ao diretor geral de saúde”.
Entusiasmada
com as memórias de uma vida sempre “bastante ativa” a minha entrevistada
orgulha-se de ter tido “a melhor nota – 16 valores – do seu ano no bacharelato
de ação social”. Ao mesmo tempo lamenta não ter podido inscrever-se na
licenciatura por “questões económicas”.
É
única viva das três filhas do casal Emília Castro e Silva e João Videira. Com o
sorriso contagiante que todoa a gente lhe reconhece, Maria de Lourdes conta
ainda que o seu pai, “enquanto militar foi o único português que deu um duplo
salto numa cerimónia oficial para a Rainha Dona Amélia”.
O
percurso de vida da viúva de Armando Paulouro, que durante vários mandatos foi
secretário de sucessivas mesas administrativas da Santa Casa da Misericórdia do
Fundão, cruza-se com a vida moderna da Misericórdia e do Hospital do Fundão
onde chegou a trabalhar quando o serviço local de Luta Contra a Tuberculose passou
para a alçada do Hospital local.
Uma
vida de bem-fazer que cedo começou a desenhar-se pois aos doze anos, “quando
ainda estudava num colégio na Guarda, um Missionário que foi visitar-nos
perguntou se alguém se voluntariava para o acompanhar em África. Coloquei-me em
cima de uma cadeira e ofereci-me para ir, mas era uma criança”, esclarece.
Diante
a atenção da sobrinha Ana Emília Junqueiro que assiste à conversa, Maria de
Lourdes socorre-se da memória fotográfica das muitas vivências e lugares
emblemáticos do seu Fundão: O cinema Gardunha, o colégio de Santo António (onde
conheceu o amor da sua vida) ou o Casino Fundanense dos bailes e outros
encontros cujas lembranças vivenciadas povoam a conversa que durou mais de duas
horas.
Já
no final da gravação da entrevista sugeriu que a sobrinha me ofertasse um
exemplar da revista satírica “O Mundo Ri” que durante anos foi desenvolvida por
Armando Paulouro, José Vilhena e Simões Nunes. A publicação cujo número 103,
datado de novembro de 1960, está agora na minha biblioteca custava 4$00 escudos.
Certamente
que a revista que perturbava a PIDE continuará a fazer parte das leituras de
quem gosta imenso de ler. Camões está entre os clássicos mas hoje em dia lê “livros mais leves” – terminou agora a leitura
de “Fellini na Praça Velha”, da autoria de seu sobrinho Fernando Paulouro Neves.
O
dia de Maria de Lourdes começa de manhã com as rotinas normais de quem gosta de
vestir “toaletes que me fiquem e façam sentir bem”. “Vou sempre almoçar fora de
casa e todos os dias tomo chá ou café com as minhas amigas. Não gosto de estar
em casa”, confirma.
Autónoma
e saudável, “só vai ao médico quando é obrigada”, escreve e lê sem precisar de
óculos. Não sabe o que são diabetes, colesterol elevado ou tensão arterial
irregular e diz-nos que o segredo é “estar sempre bem”.
E
ficará ainda melhor quando este domingo presenciar na festa surpresa do
centenário de nascimento um punhado de amigos, sobrinhos, sobrinhos netos e
alguns bisnetos.
Será
um momento inesquecível. Como inesquecível foi o pedaço da tarde de dia 31 de
maio de 2018, o dia da gravação de uma conversa que reforça a ideia de bondade,
pluralidade e modernidade da senhora Maria de Lourdes Videira.
*João de Deus
Ramos era filho do pedagogo e poeta João de Deus e de D. Guilhermina
Battaglia Ramos. João de Deus Ramos é autor, entre outras, das seguintes obras sobre
pedagogia: Reforma da Instrução Primária, 1911; A Reforma do Ensino
Normal, 1912; O Estado Mestre Escola e a Necessidade das Escolas
Primárias Superiores, 1924; A Criança em Portugal antes da Educação
Infantil, 1940 – in Wikipédia
**
Monsenhor Santos Carreto foi Sacerdote e Reitor do Seminário do Fundão
quarta-feira, abril 19, 2017
Canções com Memória
Diz o poema da canção que hoje ecoará no Meo Arena
"Quantas vezes me sinto perdido
No meio da noite Com problemas e angústias Que só gente grande é que tem Me afagando os cabelos Você certamente diria Amanhã de manhã você vai se sair muito bem Quando eu era criança Podia chorar nos seus braços E ouvir tanta coisa bonita Na minha aflição Nos momentos alegres Sentado ao seu lado, eu sorria E, nas horas difíceis Podia apertar sua mão" (...)
O tema belissimamente interpretado por Roberto Carlos é umas das minhas canções de e para a vida. O Rei completa hoje 76 anos. Minha mãe teria completado 72 e meu pai teria no dia 10 de abril alcançado a bonita fronteira dos 98.
Que têm meus pais a ver com uma das mais nostálgicas canções de Roberto Carlos?
Tudo.
Aprendi a ouvir Roberto Carlos nos anos 80 do século XX com os meus pais. Na Gardunha não havia televisão e naquela época também não havia consolas. Eu também não tinha muitos brinquedos nem bonecas. Na tranquilidade (hoje recordo assim a serra da Gardunha) ou na pasmaceira dos dias passados na solidão de que mora na floresta, as horas eram passadas na companhia dos pais e da minha irmã três anos mais nova.
Aos domingos à tarde, quando as temperaturas o permitiam, trazíamos o rádio para as escadas da casa e sintonizávamos a onde média da Rádio Altitude. Apesar de na aldeia as tardes de domingo serem propícias aos bailaricos no salão paroquial, eu permanecia na serra e ouvia os discos pedidos ( sim, naqueles anos a telefonia também dedicava discos e aproximava pessoas ou era remédio contra a solidão!) ao lado da mãe Patrocínia.
Levantávamos o volume do Rádio e mesmo que meus pais se entregassem à rega, à sacha ou às tarefas do campo, havia a certeza de que nenhum de nós perderia o programa emitido a partir da cidade mais alta.
Também havia momentos de pura empatia. Eu e a mãe chegávamos a cantarolar juntas. Às vezes também me sentava na perna direita de meu pai que guardava a esquerda para a mana Paula e fazia cavalinho connosco.
Ali ficávamos a contemplar a paisagem verde, às vezes já com tonalidades de verão e outono, e a receber do mimo incondicional dos progenitores.
"Lady Laura" é uma dessas canções intemporais que, além de um saudosismo profundamente melancólico, me faz recuar ao tempo em que sendo criança me fiz adulta e mulher precoce. Interiorizava o significado de cada uma das quadras da canção interpretada pelo lendário musico que neste 19 de abril de 2017 regressa a Portugal para um concerto que há-de ser memorável.
Às vezes, ou muitas vezes, as canções devolvem-me a lembrança dos dias andados, dos caminhos cruzados com a Gardunha ou outras paragens bem mais planas mas igualmente pejadas de boas lembranças a ouvir as canções do Rei.
E aqui vos deixo outra
https://www.youtube.com/watch?v=54xxnkXqltw
E mais outra
https://www.youtube.com/watch?v=3fuzoSGTNOo
Por razões diferentes são canções com memória.
quarta-feira, novembro 16, 2016
Em Memória de um Guardião
Quando nos despedimos de um fiel depositário da memória sentimos nostalgia mas também insegurança e fragilidade.
Ontem partiu um guardião da memória e das boas práticas das Obras de Misericórdia. Um homem com um enorme sentido de responsabilidade e apego às causas e dores de uma das mais nobres instituições do Fundão.
Eurico Ramos, irmão da Misericórdia do Fundão desde novembro de 1971.
Conheci-o há muitos anos. Poderei dizer que o percurso do irmão e dirigente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão se cruzou com o da jornalista em mais de duas décadas. Eurico Ramos era um homem cordial e compreensivo.
Mesmo em tempo de "guerras" e dificuldades de maior nunca lhe ouvi uma resposta torta ou uma observação menos própria, narrativa tão comum quando o jornalista quer ir além do óbvio.
Quis o destino que um dia me cruzasse e privasse com o senhor Eurico Ramos numa outra condição. A de colaboradora da Instituição onde Eurico Ramos era dirigente.
Foi durante este tempo que me dei conta de como Eurico Ramos nos observava sem qualquer tipo de sobranceria. Não havia dia, enquanto a saúde lhe o permitiu, que não viesse à Misericórdia deixar um sorriso e demonstrar inequívocos sinais de empenho e dedicação à organização onde esteve ligado mais de quarenta anos.
Ouvi na Rádio uma declaração pública do Provedor da Santa Casa em que Jorge Gaspar manifestava sentido pesar pela perda de um dos mais empenhados e abnegados irmãos da Misericórdia do Fundão. Uma observação perfeita e bem ilustrativa sobre alguém que de forma zelosa cuidava da memória, das tradições e do culto da Santa Casa. Uma realidade que pude constatar nos anos em que apreendi um bocadinho da experiência de Eurico Ramos na construção e caminhada de cada uma das edições da Semana Santa no Fundão. Um dos mais respeitosos e enriquecedores momentos anuais da vida da Santa Casa começava a ser preparado muitas semanas antes. Eurico Ramos ficava dias agarrado ao telefone e estabelecia contatos, construía pontes e envolvia a comunidade nas tradições Quaresmais. Também no âmbito do culto e das obrigações da Irmandade, plasmadas no livro do Compromissso da Santa Casa, Eurico Ramos recordava com entusiasmo os antepassados da visita dos irmãos aos doentes. Ajudava a identificar as campas dos irmãos falecidos e dava sempre o seu contributo no sentido de nos esclarecer, aos mais jovens colaboradores da Misericórdia, como deveríamos agarrar as situações e proteger a memória coletiva.
Depois, havia o Museu e uma quase ligação umbilical à geografia e história secular da instituição. Os cortejos de oferendas para a construção do hospital do Fundão. Tantas memórias! Tanto saber acumulado. Um dia escrevi que Eurico Ramos era o Guardador de Memórias. De facto a Santa Casa do Fundão e os seus colaboradores estão mais pobres com a partida do fiel depositário da história da Misericórdia.
Ontem partiu um guardião da memória e das boas práticas das Obras de Misericórdia. Um homem com um enorme sentido de responsabilidade e apego às causas e dores de uma das mais nobres instituições do Fundão.
Eurico Ramos, irmão da Misericórdia do Fundão desde novembro de 1971.
Conheci-o há muitos anos. Poderei dizer que o percurso do irmão e dirigente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão se cruzou com o da jornalista em mais de duas décadas. Eurico Ramos era um homem cordial e compreensivo.
Mesmo em tempo de "guerras" e dificuldades de maior nunca lhe ouvi uma resposta torta ou uma observação menos própria, narrativa tão comum quando o jornalista quer ir além do óbvio.
Quis o destino que um dia me cruzasse e privasse com o senhor Eurico Ramos numa outra condição. A de colaboradora da Instituição onde Eurico Ramos era dirigente.
Foi durante este tempo que me dei conta de como Eurico Ramos nos observava sem qualquer tipo de sobranceria. Não havia dia, enquanto a saúde lhe o permitiu, que não viesse à Misericórdia deixar um sorriso e demonstrar inequívocos sinais de empenho e dedicação à organização onde esteve ligado mais de quarenta anos.
Ouvi na Rádio uma declaração pública do Provedor da Santa Casa em que Jorge Gaspar manifestava sentido pesar pela perda de um dos mais empenhados e abnegados irmãos da Misericórdia do Fundão. Uma observação perfeita e bem ilustrativa sobre alguém que de forma zelosa cuidava da memória, das tradições e do culto da Santa Casa. Uma realidade que pude constatar nos anos em que apreendi um bocadinho da experiência de Eurico Ramos na construção e caminhada de cada uma das edições da Semana Santa no Fundão. Um dos mais respeitosos e enriquecedores momentos anuais da vida da Santa Casa começava a ser preparado muitas semanas antes. Eurico Ramos ficava dias agarrado ao telefone e estabelecia contatos, construía pontes e envolvia a comunidade nas tradições Quaresmais. Também no âmbito do culto e das obrigações da Irmandade, plasmadas no livro do Compromissso da Santa Casa, Eurico Ramos recordava com entusiasmo os antepassados da visita dos irmãos aos doentes. Ajudava a identificar as campas dos irmãos falecidos e dava sempre o seu contributo no sentido de nos esclarecer, aos mais jovens colaboradores da Misericórdia, como deveríamos agarrar as situações e proteger a memória coletiva.
Depois, havia o Museu e uma quase ligação umbilical à geografia e história secular da instituição. Os cortejos de oferendas para a construção do hospital do Fundão. Tantas memórias! Tanto saber acumulado. Um dia escrevi que Eurico Ramos era o Guardador de Memórias. De facto a Santa Casa do Fundão e os seus colaboradores estão mais pobres com a partida do fiel depositário da história da Misericórdia.
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