Uma promessa
para prevenir uma praga ligada ao olival é o mote para uma tradição centenária
que “não deve ser massificada” mas que traduz a forma como gerações de naturais
de Vales de Pêro Viseu se dedicam à memória que “importa perpetuar”.
António
Henriques Duarte tem 98 anos, é provavelmente o mais antigo habitante de Pêro
Viseu e lembra-se desde sempre do Reinado. Uma tradição de Natal que se repete
a cada dia 25 de dezembro na anexa da freguesia. Depois da hora de almoço, no
dia de Natal, o largo em frente à capela de São Bartolomeu em Vales de Pêro
Viseu ganha vida pois as pessoas daquela aldeia concentram-se à volta do que
resta da fogueira da noite de consoada e ali degustam as filhoses oferecidas
pelos mordomos que no ano anterior foram escolhidos para manter a tradição do
Reinado.
“Uma tradição
genuína que valoriza a nossa terra no período do Natal” descreve o autarca
local. Para Pedro Mesquita “o mais importante é honrarmos a memória de todos os
que já contribuíram para a realização desta tradição e incutir nos mais novos a
autenticidade da mesma”. O Reinado assume-se, por isso, como um momento de
confraternização entre pessoas de todas as idades que gostam da partilha e
preservação das tradições locais. E os locais têm uma vaga memória da origem da
festa. Há até quem afirme que num ano em que não promoveram o Reinado, “a
aldeia ficou cheia de uma praga de bichos que queimou as folhas das oliveiras”.
“As folhas estavam todas cruzadas”, contou ao Jornal do Fundão Ana Milheiro,
natural de Vales de Pêro Viseu.
João Marçalo
é desde há quatro anos sacerdote naquela paróquia e além de corroborar a
estória da septuagenária Ana Milheiro enquadrou a tradição: “Nasceu associada a
uma outra tradição das festas de São Sebastião e tem a ver com questões de pestes,
estando muito ligada à crença das pessoas que neste caso não é o São Sebastião –
como acontece em Janeiro de Cima ou na Póvoa de Atalaia, só para citar algumas
- mas sim ao Santo Estevão”. “Houve uma peste que afetou as oliveiras que
começaram a deixar de dar azeitona e junto à capela criou-se uma praga. E foi
então que, de forma coletiva fizeram a promessa de todos os anos no dia de
Natal realizarem um momento de oração”. Seguem-se a prova das filhoses e a
“eleição” dos novos mordomos, uma procissão à volta da capela e beija-se o
Menino Jesus. Esta não é a única tradição de Natal na Pêro Viseu. Além do
madeiro, no dia 24, desde 2013 que na freguesia se realiza um mercado de Natal.
É sempre no segundo fim-de-semana de dezembro.
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