segunda-feira, agosto 01, 2016

Quando a Música é uma Brisa de Verão

Terminou mais uma edição do Festival de Música Antiga de Castelo Novo. Um evento diferenciador que em boa hora  Vítor Martins e Pedro Rafael Costa trouxeram para a Aldeia Histórica do concelho do Fundão. A concepção e produção do Festival é assinada pelo Município do Fundão.

É uma ideia muito feliz. Espero que se repita por muitos Verões, estações, momentos e ocasiões.

Às vezes, muitas vezes, bastam as conversas - de preferência se forem como as cerejas - para fazer acontecer e romper com a monotonia dos dias.

Encravada na encosta da Gardunha, Castelo Novo é uma dessas raras jóias do Património da nossa Beira e do país do bom sol e das tradições que nunca morrem. Mas essa geografia nem sempre é suficiente para concretizar sonhos e fazer da vontade uma narrativa com final feliz.
Felizmente há os entusiastas. Homens e mulheres capazes de arregaçar as mangas, bater a todas as portas e fazer acontecer.

O Festival de Música Antiga de Castelo Novo vai na IV edição. Penitencio-me por ter demorado tanto tempo a observá-lo e a deixar-me voar pela sonoridades dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Desta vez consegui dizer presente.  Não posso deixar de parabenizar Vítor Martins, um ilustre cidadão de Castelo Novo, e Pedro Rafael Costa, um homem da rádio que se rendeu a Castelo Novo (quem não se rende?) e que com a ajuda do Município do Fundão e da Rede de Aldeias Históricas de Portugal conseguiram realizar "Ventos Nocturnos"

O nome do Festival não poderia ser mais bem escolhido pois as noites imensamente quentes requerem uma brisa e algo que nos faça despertar os sentidos e viajar....viajar...até onde a mente alcança.

O Festival de Música Antiga de Castelo Novo que levou àquela aldeia a soprano Ana Paula Russo e a mezzo soprano e criativa cantora de música antiga Maria Jonas foi essa lufada de ar fresco com sabor a banho refrescante de cultura. 

Aquele espetáculo da dança barroca que nos transportou para a obra de Sebastian Bach foi excepcional. 
A abertura "com chave de ouro" do Festival aconteceu  no jardim da Quinta do Alardo. Um espaço emblemático da freguesia. Um belíssimo jardim onde ainda é possível observar o património da Quinta do Alardo. Era de noite e não se viam as flores mas os cedros e as marcas de um jardim romântico acrescentaram beleza à Suite Orquestral majestosamente dançada  por um corpo de bailarinos (as) cuja a coreografia foi assinada por Isabel Gonzaga.

O segundo espetáculo a que assisti foi igualmente belo e diferenciador. Aquela viagem sonora e visual ao universo medieval e as cantigas de amigo interpretadas pela Maria Jonas acompanhada pela percussão, guiterne e flautas transversais foi encantadora.

Nota ainda para as explicações prévias de cada espetáculo, um enquadramento histórico notável que ajuda a formar públicos e nos transporta para um tempo e um espaço quantas vezes inimagináveis mas que nos aguçam o apetite para uma nova jornada de descoberta da música e da riqueza dos nossos antepassados.

O Festival de Música Antiga foi, pois,  uma intensa e introspectiva brisa de Verão. 
Venha o próximo e que na próxima edição consigamos cativar mais jovens por forma a que também eles possam observar a história muito para além dos bancos da escola ou da faculdade.

Obrigada pela cumplicidade!


segunda-feira, julho 25, 2016

Uma senhora Malha

Sobral de São Miguel, concelho da Covilhã, já não é só praia fluvial e xisto.
O Sobral também é saber fazer e recriar.

Este dia fui convocada para observar o Xistrilhos - iniciativa de Verão para animar a freguesia que faz parte da Rede das Aldeias do Xisto de Portugal. Disseram-me que logo pela manhã haveria uma caminhada serra acima e com direito a observar a frescura das paisagens encravadas nas serranias.

Mas o que me despertou os sentidos foi a realização da malha do trigo.
Tarefa árdua que só os mais afoitos conseguem concretizar mas que cedo mobilizou uma povoação inteira!

Preparar a malha parece coisa do antigamente, mas no Sobral não há quem não se empenhe a fundo na recriação de uma das dinâmicas associadas à etnografia da Beira e aos trabalhos no campo.
Seja por a malha estar bastante enraizada naquele povo, seja por a Junta de Freguesia local estar empenhada em dar visibilidade às suas origens e tradições, a verdade é que ninguém faltou ao encontro.

E muitos vestiram-se a rigor. Que é como quem diz, foram ao guarda-roupa procurar os trajes mais típicos do trabalho no campo. Roupas antigas que tapam o frio e o calor como me explicaram alguns dos participantes.

Associado à realização da malha do pão estão os petiscos regionais. Na malha do Sobral de São Miguel não faltou o bolo a escorrer mel (miaus) nem a sangria feita à base de vinho tinto fresco com água e açucar ( champorrião). Um e outro são deliciosos , diga-se,  e constituíram a "bucha" para alimentar a barriga aos homens e mulheres que naquela manhã elevaram o mangual (mongalo) para retirar os grãos de trigo.

A eira estava repleta de gente para observar a dança do mangual e a cadência das batidas. Era imperioso registar o momento. As novas tecnologias e ferramentas de comunicação assim o determinam. Naquele sábado de julho, debaixo de um calor abrasador, muitos gravaram vídeos e
registaram o momento histórico para a freguesia que pretende ter maior visibilidade no mapa das Aldeias do Xisto.

E se o ditado diz que querer é poder, estou certa de que a autarca local (Sandra Ferreira) não deixará de esgrimir argumentos e elevar o discurso reivindicativo por forma a que Sobral passe a estar no mapa.

Não basta o esforço e empenho de uma povoação inteira. Não basta a sinalética que já se encontra nas imediações da freguesia. É preciso estendê-la às grandes vias de comunicação. Importa ainda incentivar os agentes locais e organizações institucionais a investir no Sobral.
Nessa altura haverá mais que um alojamento local, mais que o evento anual (Xistrilhos), mais que entrega de quem ali resiste e acredita no futuro da localidade encravada nas serras.


segunda-feira, julho 11, 2016

Dias da Música no Fundão

Os Dias da Música. Os Dias da Música costumam ser no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Mas também há dias da música na capital da Cova da Beira.

Pego no título de uma das mais prestigiantes iniciativas do Centro Cultural de Belém para me focar no igualmente prestigiante Concurso Internacional Cidade do Fundão ao qual se juntou neste ano de 2016 o FICE- Fundão International Cello Encounter.

O violoncelo foi, de facto, a mais valia e novidade da edição 17 do Concurso organizado pela escola de ensino artístico da música no Fundão.
Primeiro porque logo na estreia da variante de violoncelo houve cerca de 50 jovens instrumentistas a concorrer. Depois por o violoncelo ter sido o instrumento que deu ritmo e cor ao FICE.

Mas comecemos pelo Concurso Internacional.

A prova que este ano reuniu 180 concorrentes de Portugal, Espanha, Holanda e Brasil é um renovado caso de sucesso pois a cada edição há uma história paralela de alguém que se obriga a dar a volta ao mundo para conseguir marcar presença no encontro.
Lauro Lira Lopes é natural do Rio de Janeiro e quando soube da prova nem pensou duas vezes. Inscreveu-se e prespectivou como o Concurso Internacional do Fundão lhe poderia abrir horizontes e dar a conhecer professores capazes de lhe abrirem as portas para dar aulas na Europa e realizar o mestrado.
Com o Brasil meio em estado de sítio, Lauro Lopes viveu uma "verdadeira saga" e obrigou-se a vencer burocracias múltiplas para obter passaporte, viajar para Portugal e posteriormente para o Fundão a tempo de realizar a prova de violoncelo de nível superior.
Chegou horas antes das eliminatórias que ocorreram no dia sete e não se cansa de agradecer ao incansável diretor do Concurso, professor João Correia, por se ter disponibilizado a suprir a necessidade de transportas públicos fora de horas entre Lisboa e o Fundão e ter garantido a que Lauro chegava a tempo de realizar as provas de violoncelo.
Lauro não chegou viu e venceu mas obteve uma menção honrosa que, espera, possa traduzir-se na conjugação de recursos para se fixar em Portugal
Aos 23 anos o jovem que veio de mochila e violoncelo e que ficou mais de dez horas no aeroporto respira boa disposição e não poupa elogios o Concurso do Fundão e ao FICE.

Digamos que Lauro é uma espécie de porta-voz de todos quantos participaram e dinamizaram os Dias da Música no Fundão!
A também designada terra da Cereja respirou musica. As ruas da cidade de pequena dimensão ganharam mais vida e havia música no ar. Bastava andar pelo Fundão antigo e desde a Praça do Município até à Praça Velha ou ao Largo da Estação ferroviária o transeunte cruzava-se com o sorriso de dezenas de jovens que de instrumento às costas conversavam sobre a terra onde a cultura e a música andam de mãos dadas.

E se o Fundão já está no mapa das artes também por via do Concurso Internacional que a Academia de Música e Dança muito bem organiza e promove, esta terra passou a integrar o roteiro de acontecimentos culturais maiores.

A escolha do Fundão para acolher os músicos de renome que fizeram o FICE deve orgulhar, e orgulha, uma comunidade inteira. É que além de o Fundão passar a fazer parte de um projeto que desde há 21 anos se realiza no Rio de Janeiro, o Fundão assistiu a concertos e recitais que juntaram na Moagem e na Praça Velha David Chew , violoncelista que lançou no Brasil o Rice (Rio International Cello Encounter),  Russell Guyver ou Lorna Griffitt.

Não sabemos se o Cello Fundão terá continuidade ou se alguma vez atingirá o patamar de versatilidade cultural das edições do Brasil que também já permitem dar visibilidade à dança e às artes esculturais, mas temos a certeza de que valeu a pena o Fundão através da sua Academia de Música e do Município se terem envolvido na concretização de um evento que enriqueceu o Concurso Internacional e colocou o Fundão na rota de um grande acontecimento artístico.

Parabéns!

segunda-feira, junho 27, 2016

Orgulhosamente Academia de Música do Fundão

O mote do espetáculo de encerramento do ano letivo na escola de ensino artístico do Fundão era uma viagem a Londres.
Em palco estavam 350 jovens músicos e bailarinos das classes de teatro musical, orquestras, combo, coros.

Gente com uma energia incomensurável.

À hora marcada a juventude apanha o avião para uma viagem de sonho cuja banda sonora é uma combinação perfeita entre sons, dança, sentidos e emotividade.

Fly to London que esteve duas noites em cartaz no Fundão e com lotação esgotadíssima foi observado por 1400 pessoas que não poderiam ficar indiferentes ao talento e performance do coletivo magistralmente orientado pelo maestro Bruno Martins.

Durante mais de uma hora de espetáculo o espetador, sempre embalado pelos êxitos da música londrina e universal deixou-se guiar pelas bailarinas e viajantes que nos transportaram para locais emblemáticos londrinos. Um passeio no Wide Park famoso pelos seus jardins, observar o render da guarda no Palácio de Buckingham, assistir à rodagem de 007, visitar o Royal Ballet estiveram no périplo de um musical que ainda levou o espetador ao Fantasma da Ópera.

Um trabalho muito profissional apresentado pela Academia de Música e Dança do Fundão que é uma das referências culturais da capital da Cova da Beira e da região.

Se duvidas houvesse quanto ao valor seguro do investimento no ensino artístico da música e da dança, as mesmas seriam dissipadas por todos quantos puderam assistir ao espetáculo de encerramento do ano letivo da escola de ensino artístico do Fundão.

O diretor do estabelecimento de ensino que costuma emocionar-se com o talento e êxito dos alunos da Academia estava orgulhoso da sua escola, professores e alunos e explicou que o segredo de um percurso com vinte anos a somar êxitos se deve ao ambiente familiar que marca dos dias da Academia e ao trabalho que diariamente, às vezes fora de horas, se realiza nas salas de aula do estabelecimento de ensino.

E quando esse esforço e empenho continuados se traduzem num musical de qualidade superior só podemos aplaudir de pé e dar visibilidade pública ao trabalho da Academia Armando Paulouro.

A Academia de Música e Dança do Fundão é, de facto, um agente ativo na promoção da cultura nesta região de Portugal.

E não são apenas os magníficos concertos que atestam esse patamar de qualidade. O ano letivo que agora termina encerra na Academia de Música e Dança do Fundão um tempo letivo novamente marcado pela conquista de prémios, medalhas e outros reconhecimentos nas classes de piano e guitarra cujo dezenas de alunos foram este ano escolar premiados em concursos realizados no país e no estrangeiro.

Quando a nossa comunidade tem entre as suas instituições uma escola com a visibilidade e reconhecimento da Academia só podemos sentirmo-nos orgulhosos.

Parabéns a todos!

quarta-feira, junho 01, 2016

O canto da poesia num concerto de encher a alma

Às vezes tenho pena de não dispor de tempo nem disposição para escrever. Também tenho saudades de preencher os dias com a responsabilidade de dar notícias. As boas. Mesmo quando são más!

No outro dia estive na plateia para observar e ouvir um espetáculo de música portuguesa em que o mote foi revisitar a poesia portuguesa e as letras de amor de Camões ou Cecília Meireles.

Inserido na programação do Festival Literário da Gardunha, ao qual também não consegui ir, o concerto em que o piano de Mário Laginha tão bem combinou com a voz de Camané foi um belíssimo momento de introspeção.

"Cansaço" um poema de Luís Macedo num tema que ficou famoso na interpretação de Amália Rodrigues e que também foi interpretado no espetáculo Fado Revisitado foi dos momentos que mais me encheu a alma.

E diz o poema

Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.

Da poesia de David Mourão Ferreira que é dos poetas que Camané mais gosta de cantar fez se ouvir "Espelho Quebrado" que também é interpretado por Carminho e que diz


Com o seu chicote o vento / Quebra o espelho do lago
Em mim foi mais violento o estrago
Porque o vento ao passar / Murmurava o teu nome
Depois de o murmurar, deixou-me
Tão rápido passou / Nem soube destruír-me
As mágoas em que sou tão firme
Mas a sua passagem / Em vidro recortava
No lago a minha imagem de escrava
Ó líquido cristal / Dos meus olhos sem ti
Em vão o vendaval pedi
Para que se quebrasse / O espelho que me enluta
E me ficasse a face enxuta
Ai meus olhos sem ti sem ti
Em mim foi mais violento, o vento


Um dos mais conhecidos temas interpretados por Camané , chama-se "sei de um Rio". No concerto realizado no Fundão a interpretação deixou a plateia cheia de vontade de voltar ao registo do isqueiro ou da vela em punho e de braço no ar. 
Nunca me tinha dado conta da beleza do poema de Pedro Homem de Melo

Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando



E antes das despedidas, Mário Laginha e Camané recorreram à riqueza da "Inútil Paisagem" de Vinicius de Morais.

Mas pra quê? 
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar? Pra quê?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde? De que serve a tarde? 
Inútil Paisagem
Pode ser que não venhas mais;
Que não venhas nunca mais...
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?
Se meu caminho sozinho é nada...













terça-feira, maio 10, 2016

Quando os livros quebram o silêncio

Hoje escrevo sobre a biblioteca itinerante de Proença-a-Nova . Um projeto cultural que desde há dez anos é dinamizado por Nuno Marçal. Falar do bibliotecário que  viaja pelas aldeias mais recônditas do Pinhal Interior sem dar boa nota da componente humana do cidadão é muito pouco.
 

É que Nuno Marçal não se faz acompanhar apenas de livros. Às pessoas leva mais que livros. Na mala de viagem também vão revistas, bons conselhos e uma mão cheia de afetos.
Sorrisos feito palavras que abraçam e acrescentam alegria às pessoas que resistem à desertificação.

Nuno Marçal é um colecionador de imagens da vida no campo. Momentos de uma ruralidade em que a rotina só é quebrada pela chegada da bibliomóvel.

Quer seja através da Mala das Letras, quer através dos improvisados clubes de leitura que se criam nos lugares e nas aldeias onde às vezes sobressai o som de um acordeão ou a concertina de alguém que se junta ao coro das palavras soltas e consegue criar animação de rua.

Nesse instante o adro da igreja ou o espaço mais amplo do casario transforma-se num palco de cantigas ao desafio.

Quem diz cantigas, diz estórias. Memórias de outros tempos e lugares que a alma implora que se recordem. 
Partilha-se, então, esse património imaterial de uma geografia em que os livros quebram o silêncio.

Além dos livros e do gesto, a bibliomóvel de Proença-a-Nova promove ainda os diálogos entre pessoas cujas famílias estão muitas vezes distantes. Mas também ajuda a solucionar questões de natureza burocrática que tantas vezes representam um problema de maior dimensão para quem está isolado.

Por todas estas razões e outras que não caberiam nesta meia dúzia de linhas, vale a pena continuar a investir na rede de bibliotecas itinerantes. Em Portugal serão cerca de 60. Na Cova da Beira, houve o caso da biblioteca itinerante dinamizada pelo município do Fundão. Oxalá a dinâmica da bibliotecária Dina Matos faça da Eugénio de Andrade uma biblioteca que rasga fronteiras e combate a solidão que marca os dias das  nossas aldeias.

E agora apetece citar Jorge Luís Borges e um magnífico poema sobre os livros.

E diz assim:

Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo) 
São uma parte de mim, como este rosto 
De têmporas e olhos já cinzentos 
Que em vão vou procurando nos espelhos 
E que percorro com a minha mão côncava. 
Não sem alguma lógica amargura 
Entendo que as palavras essenciais, 
As que me exprimem, estarão nessas folhas 
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. 
Mais vale assim. As vozes desses mortos 
Dir-me-ão para sempre. 

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda" 

Aos leitores deixo ainda o link de uma belíssima conversa com Nuno Marçal. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-1-maio-2016-rcb-nuno-mar%C3%A7al/

quarta-feira, maio 04, 2016

Debater o Interior

O Jornal do Fundão retoma dentro de alguns dias uma das matrizes que tão bem o caracterizaram no tempo de António Paulouro. 

Discutir o Interior não é coisa pouca e se o debate abranger uma maior geografia territorial, tanto melhor! 

Bem sei que os sucessivos debates, iniciativas e grupos de trabalho em defesa do Interior têm alterado muito pouco o nosso fado. Mas se à mesma mesa se reunirem outras vozes de um eixo territorial mais basto que a Beira Interior pode ser que a expressão mediática que o fórum possa vir a ter seja mais um grito de alerta da geografia onde se colhem poucos votos. 

Desconheço se é apenas o facto de não sermos muitos que justifica o constante desinvestimento no Interior. Também não sei se essa é a única razão que, no caso concreto da Beira Interior,  nos trouxe as portagens mais caras do país. Porém, vejo que o discurso em defesa do Interior continua a estar na agenda. Reconquista holofotes. Está na génese da criação de mais um Grupo de Missão para o Desenvolvimento do Interior. 

Chegará? 

As Primeiras Jornadas do Interior que o Jornal do Fundão realiza no Fundão no dia 13 de maio recordam-me outras jornadas. As da Beira Interior que nos anos 80 do século XX António Paulouro promoveu. 

De então para cá a Beira Interior mudou muito. Felizmente para todos os que aqui resistem e continuam a acreditar no futuro deste cantinho entre serras. 

Ainda assim, importa fazer mais. Legislar no sentido de repovoar os territórios de baixa densidade. Nós por cá, vamos tendo tudo. 
Mas faltam pessoas. 

Venha o debate!

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...