Dizer
que 2017 é um ano que não vai deixar-me saudades é quase um lugar-comum. Efetivamente
os últimos doze meses, mas também os últimos anos, não me deixam saudades.
Ou
seja por a morte levar muitos amigos, conhecidos e até familiares. Ou por ter
cada vez maior consciência de que o mundo não é perfeito e que o país das
maravilhas é apenas um sonho de Alice. Mas também por sentir que a amizade e a
reciprocidade são cada vez mais substantivos femininos que não vão além do
léxico.
Este
é também um tempo em que a partilha e a promoção do convívio e harmonia entre
pares permanecem arredados da sociedade cada vez mais tecnológica e digital e
pouco dada à companhia e vivências entre pares.
Lamentos
à parte, o ano que agora termina deve servir para retirarmos lições de futuro e
reganharmos a força e motricidade suficientes para darmos a volta ao texto e
começar de novo.
Iniciar
um novo ano não significa apenas encerrar um capítulo. Significa ser capaz de
aprender com os erros ou ações menos apropriadas.
Significa
observar o passado, guardar as memórias boas e apagar todos os retratos e
imagens que nos entristecem e deixam mais céticos.
E
num ano vincadamente marcado pelo inferno dos incêndios florestais e pela
insensibilidade de quem gere o território, importa sermos capazes de enterrar a
fragilidade tornando-nos mais fortes e capazes reinventar modos de vida.
Reinventar
também é reclamar do atores políticos ações e boas práticas que vão além da
palmadinha solidária aos que no último Verão perderam familiares e amigos,
observaram a fúria do fogo e viram as suas vidas reduzidas a cinzas.
Que
o novo ano faça de todos nós pessoas audazes e resilientes. Que nunca nos doa a
voz para dizermos que os problemas de quem perdeu vidas, trabalho e viu comprometida
a economia de subsistência precisam de muito mais do que uma Unidade de Missão
e Valorização do Interior.
Criar
organismos, transportá-los para onde a dor é agora mais aguda, desenvolver
linhas programáticas de ação é fácil. Basta dar uso ao verbo.
Mas
o verbo não chega. É preciso ação.
Agir.
Mudar as políticas. Criar condições para desenvolver comunidades. Promover
ações que se traduzam em mecanismos reais e práticos com vista à criação de
emprego, à fixação de pessoas, ao desenvolvimento harmonioso dos territórios.
Se
assim for, certamente que daqui a um ano não estarei, não estaremos a
despedir-nos do ano velho com um sentimento de dor e impotência face à
realidade que caracterizou 2017.
O
mais negro dos anos levou-nos pessoas, floresta, produção agrícola e empresas. 2017
desnudou um Estado incapaz de evitar a morte de mais de uma centena de pessoas.
É,
pois, um ano que não deixa saudades.
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