Fonte de vida das nossas aldeias e lugares, estancam por
breves instantes o despovoamento. Graças ao esforço e dedicação de inúmeros
carolas que fazendo dos clubes e associações uma segunda casa e ali promovem
eventos que vão dando vida às sedes e ringues desportivos construídos nos anos
de ouro dos fundos comunitários. É verdade que muitas dessas infraestruturas se
encontram às moscas e estariam mesmo votadas ao abandono não fosse o caso de
existirem aficionados do associativismo que ao fim de semana ou à hora do café,
antes da missa ou em dias de futebol metem a chave na fechadura e abrem as
coletividades onde se juntam as poucas pessoas que ainda residem nas aldeias do
Interior. Felizmente vai havendo associações que agregam centenas de jovens,
adultos e idos à volta das atividades que promovem.
O Clube
de Amigos da Panasqueira, freguesia de São Jorge da Beira, é um desses pontos de
encontro para a hora da bica. Tiago Silva é o rosto da esperança e do
desalento. “As pessoas desinteressam-se pelas coletividades, o despovoamento é
cada vez mais acentuado, somos sempre os mesmos mas nem que seja só por uma
pessoa, continuamos a abrir o clube”, desabafa ao Jornal do Fundão o dirigente
nascido em 1977. Saudosista dos anos de ouro da vida nas Minas da Panasqueira,
quando os locais povoavam o Clube de Amigos da Panasqueira e também passavam
muito tempo no Clube Recreativo da Barroca Grande. Tiago Silva ouvia contar às
pessoas mais antigas que chegou a haver cinema num outro edifício agora
degradado. Na Panasqueira onde residem agora cerca de meia centena de pessoas,
Tiago Silva continua a sonhar com a recuperação do imóvel onde “poderíamos
fazer um anfiteatro para as atividades que no Verão realizamos ao ar livre aqui
no Clube”. Ideias não faltam a quem resiste no Couto Mineiro e nos diz que
“onde houver uma pessoa tem de haver luz e esperança”.
Prosseguimos viagem e chegamos ao Sport Club Estrela da Pousadinha coletividade que se localiza na
encosta da Serra da Estrela, no bairro da Pousadinha, pertencendo à União de
Freguesias Cantar-Galo e Vila do Carvalho. Foi fundado no dia 1 de Janeiro de
1977, quando dez moradores se juntaram com o intuito de formarem uma associação
que visava o “engrandecimento da cultura e do desporto. A criação desta
Associação surgiu da necessidade de os naturais do Bairro da Pousadinha
estabelecerem laços de convívio com as gentes oriundas de outras freguesia,
nomeadamente de Verdelhos, que iam à Covilhã trabalhar nos lanifícios e por ali
se encontravam. O clube que chegou a funcionar no café Estrela passou depois a
ter sede social e fama pela prática
de snooker, pool e pingue-pongue. Procurado por pessoas de localidades e concelhos
vizinhos o Pousadinha também tem realizado torneios de futebol e futsal, torneios
de malha e matraquilhos e provas de BTT. “Há dois anos deixamos o BTT pois
ficava dispendioso realizar provas que juntavam mais de cem praticantes de todo
o pais não se pagavam só com os subsídios”, revelou ao JF o atual presidente da
direção.
António
Pereira vinca ainda a importância do atletismo que nos anos 80 tinha forte
adesão. Conta-nos ainda do título de Campeão Nacional de Matraquilhos na 2ª
divisão e dos êxitos da equipa de damas. “A única federada no distrito”,
especifica. O dirigente revela ainda a urgência em colocar piso sintético e
balneários condignos no polidesportivo onde “habitualmente uma centena de
miúdos e jovens praticam futsal”. Vocacionado para a mocidade e seniores o Sport
Clube da Pousadinha criou um Grupo de Cantares que “realiza vinte atuações por
ano”. Atualmente esta coletividade atravessa uma
fase positiva, movimentando semanalmente dezenas de pessoas e reunindo cerca de
300 associados dos 10 aos 90 anos.
Da Estrela para a Gardunha é um pulinho e na serra no
concelho do Fundão há um local paradisíaco cuja esplanada é dinamizada pelo Grupo Cultural Recreativo e Desportivo de
Alcongosta há três anos reativado por um grupo de naturais ou residentes na
freguesia. Ana Rodrigues que lidera a assembleia geral não esconde o entusiasmo
quanto à coletividade como “ponto de encontro” e “espaço agregador” de pessoas
de todas as idades. A sede do Clube, localizada no mesmo edifício da Junta de
Freguesia e Centro de Dia da localidade só abre ao fim-de-semana. É lugar de
convívio inter geracional uma vez que algumas atividades fomentam o diálogo
entre associados, filhos, avós e netos. Embora não desenvolvam atividades
federadas, Ana Rodrigues recua aos anos 90 do século XX elencando os torneios
de futebol de cinco e o atletismo como
atividades marcantes no percurso da coletividade com 42 anos de existência.
A
coletividade que já foi Clube Académico de Alcongosta deu continuidade à história
desportiva da freguesia que nos anos 30 acolheu os primeiros jogos de futebol
contra aldeias vizinhas. Nos anos 60, Alcongosta teve, aliás, uma equipa de
futebol cuja identificação - "Estrelas Vermelhas"- fazia jus à terra
da cereja.
Memória que a atual equipa diretiva gosta de perpetuar
envolvendo-se na dinâmica de grupo. Pedro Nunes, Patrícia Fernandes, Telma
Rolão, São Henriques ou André Reis estão entre os atuais dirigentes que em nome
do convívio e vida na freguesia arregaçam as mangas para o que for preciso.
Além da abertura da sede social e das iniciativas ao ar livre no bar junto à
Casa Florestal de Alcongosta, organizam torneios e caminhadas. Não há muito
tempo remodelaram a sede social “desde o pavimento à eletricidade”, a mão-de-obra
foi dos dirigentes e sócios que no Verão ocuparam o tempo livre na exploração
do bar na serra e na aplicação dessas verbas na melhoria da sede social. Que
nunca lhes faltem as boas energias!
Originalmente publicado no Suplemento JF Comunidade do Jornal do Fundão de dia 16 julho 2020
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