Fechado. Encerrado. Temporariamente fora de serviço. Não consuma nada dentro do estabelecimento. Faça fila única. Respeite a distância sanitária.
Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.
A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.
Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! - vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.
Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......
Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil. Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.
É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.
Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.
Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off (ver aqui o que implica
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?
E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.
Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.
E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.
A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.
É este o meu sentir no confinamento dos dias.
Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.
Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.
Vamos. Vamos todos.
Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.