quinta-feira, abril 02, 2020

Instantes do meu Confinamento 4

Imagem que fica do último nevão na minha aldeia berço 
Terra de encantos e memórias mil
Lugar tranquilo e de sonhos

Este parece não ser o tempo dos sonhos
São dias de interrogações
O que não sendo necessariamente mau  pode ajudar-nos a enxergar o que nunca havíamos observado

Como escreveu Tolentino Mendonça no livro «O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas», "talvez precisemos de descobrir que, no decurso do nosso caminho , os grandes ciclos de interrogação , a intensificação da procura, os tempos de impasse, as experiências da crise podem representar verdadeiras oportunidades". 

Oxalá que momento da nossa introspecção seja um momento de aprendizagem e foco no processo de gestação da nossa nova vida.

terça-feira, março 31, 2020

Instantes do meu Confinamento 3

O último dia de março acordou branco. A paisagem ganhou candura. Quase nos esquecemos da inominável ameaça à humanidade.



Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.



Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.

Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.



Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.

Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.




segunda-feira, março 30, 2020

Instantes do meu Confinamento 2

Fechado. Encerrado. Temporariamente fora de serviço. Não consuma nada dentro do estabelecimento. Faça fila única. Respeite a distância sanitária.

Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.

A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.

Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! -  vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.

Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......

Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil.  Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À  distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.

É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.

Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.

Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off  (ver aqui o que implica https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?

E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.

Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.

E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.

A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.

É este o meu sentir no confinamento dos dias.

Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.




Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.

Vamos. Vamos todos.

Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.



terça-feira, março 24, 2020

Instantes do meu Confinamento

Na Tentativa de gastar os tempos livres que resultam da suspensão da vida depois do horário laboral vou-me ocupando da leitura de livros e autores outrora companhia regular na mesa da cabeceira cá de casa.

Às vezes recorro à biblioteca para rever títulos e clássicos. Hoje de manhã deparei-me com o "ensaio sobre a cegueira" do Nobel da Literatura José Saramago. Apeteceu-me começar a devorar uma segunda ou terceira leitura de uma obra escrita em 1995 que nos relata a história de uma cegueira que começou num homem só e posteriormente  fez-se epidemia. 

As semelhanças com muito daquilo que desde há três semanas estamos a observar e vivenciar, à distância ou bastante perto de nós, fazem-me crer num tubo de ensaio literário para aprendermos a lidar com a pandemia Covid-19 como foi designada pela Organização Mundial de Saúde. 

E diz o livro  "Nesta quarentena esses sentimentos irão desenvolver-se sob
diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes (...)"
Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono.

Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja". 
Aos interessados em ler um pouco mais da obra recomenda-se este link https://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_ensaio_sobre_a_cegueira.pdf

Se preferirem leituras mais leves e menos introspetivas sugiro uma viagem pela obra da poetisa feminista Rupi Kaur que há uns anos editou "milk and honey", em Portugal "leite e mel",  e de onde retirei este poema que parece o meu auto retrato.


“dizes para me acalmar
porque as minhas opiniões me tornam menos bonita
mas não fui feita com um fogo no peito
para que conseguissem apagar-me
não fui feita com ligeireza na língua
para que fosse fácil engolir-me
fui feita pesada
meio espada meio seda
difícil de esquecer e nada fácil
de a mente entender”

A par da poesia a paisagem primaveril observada a partir de casa têm-me inspirado para os dias que se seguem. E bem preciso de paz e confiança. Logo hoje que foi oficialmente conhecido o primeiro caso de covid 19 positivo no concelho do Fundão.

sexta-feira, novembro 29, 2019

Avenida esse encontro feliz


«A Avenida – uma chama viva onde quer que viva». 
O título da nova peça da ESTE – Estação Teatral é por si só bastante apelativo. Vai daí a gente dá-se ao trabalho de sair de casa num quinta-feira à noite e fica logo contente com a adesão do Fundão à 38ª produção da Companhia de Teatro que há 15 anos resiste e subsiste ao quotidiano da vida artística e às dificuldades que à mesma, quase sempre, estão associadas.

Mas este meu momento de partilha não é para lamentar que a ESTE continue sem uma casa própria para desenvolver os projetos criativos, prolongando e valorizando as vivências da nossa geografia cultural, etnográfica, histórica e poética.
Servem estas linhas para dizer-lhes que é mesmo importante saírem de casa e assistirem ao novo espetáculo da ESTE.


«A Avenida» é um reencontro com a nossa memória coletiva. Os lugares, as lojas, as pessoas do centro nevrálgico do nosso Fundão, numa narrativa cheia de vida e humor que não deixará nenhum espetador indiferente.

«A Avenida» está em cena na Moagem no Fundão até dia 15 de dezembro, é apenas o primeiro de três criações assinadas pelo dramaturgo Nuno Pino Custódio que haverá de transportar-nos até outras realidades.

Neste episódio atores e espetadores viajam no tempo e recuam aos anos 40 e 50 do seculo XX. No próximo ano a companhia presentear-nos-á com as vivências do Fundão no tempo de Salazar e de Kubitschek. Por fim haveremos de assistir ao fôlego final que é a Liberdade.

A liberdade, criativa, é aliás a tónica dominante no espetáculo concretizado a partir da recolha junto da comunidade local de depoimentos de comerciantes, alfaiates, floristas, relojoeiros e outros conhecedores do Fundão.

Algumas dessas pessoas estiveram, como eu, na estreia de «A Avenida». Não imagina o leitor o grau de satisfação e alegria dessas pessoas que além de se reverem nos traços verbalizados sobre o Fundão de antigamente sentiram satisfação por, de certa forma, aqueles lugares tão nossos ganharem nova vida numa peça de teatro que além de preservar a história e estórias do Fundão também projeta o território enquanto lugar de vivências imortais.


«A Avenida» imortaliza, pois, esse traço do Fundão comercial cujas ruas ficavam cheias de gente muito para além dos dias de mercado.

Vão lá ver esse trabalho extraordinário de cocriação da ESTE e dos fundanenses que guardavam as melhores vivências do Fundão e agora se orgulham de ver os antepassados num formidável registo teatral cujos próximos capítulos / criações queremos acompanhar.

Parabéns à ESTE por nos surpreender em cada produção. 
Parabéns pela interpretação, cenários, guarda-roupa…..


Parabéns, vocês são uma bandeira cultural da nossa terra.

quinta-feira, setembro 05, 2019

Os teus vinte anos

Vinte anos. Onde é que eu estava quando completei vinte anos? Já andava pela Rádio. E esta é a única memória viva que guardo. Pensei nisto nos últimos dias e partilho-o agora neste breve registo que assinala o teu 20º aniversário. 

Agora que deixas de ser teen e passas à classe dos enty  e depois dos irty começarás a perceber que a vida passa num instante. E passa mesmo! 

Nestas duas décadas de ti recordo sempre o meu primeiro bebé, as inseguranças e incertezas que lhe estiveram associadas. As noites tranquilas, a descoberta e apego ao futebol com forte simpatia pelo Benfica. O rapaz próximo dos avós paternos e a cumplicidade com o avô Matos. O miúdo às vezes traquina que faz acontecer pela calada: Lembras-te da noite de Halloween em que resolveram colocar lixívia no borrifador de água? 



Mas o teu percurso também se caracteriza pelo João Carlos justo e amigo do seu amigo. Os amigos são um forte pilar na vida do meu estudante de engenharia mecânica. Não se largam. Rasgam fronteiras para estar juntos. Cooperam. Partilham.  Surpreendem-se. E isso é extraordinário, pois a tua geração ainda não é totalmente viciada na virtualidade das coisas boas ou ruins. Felizmente !

É pois interessante acompanhar cada passo teu e dar-me conta de que não perdeste nenhuma das tuas virtudes.  És um amigo incondicional da família. És o meu menino mais crescido. E hoje não poderia deixar passar esta data sem dizer-te que todos os dias tenho orgulho em ser tua mãe. 

Estou certa de que este meu sentir é partilhado pelo pai Carlos e pelos manos Leonor e Francisco. Sê sempre feliz Joãozinho. João. João Carlos. Jê Cê. Joca. Sê sempre tu. 
Feliz  Aniversário !



quarta-feira, setembro 04, 2019

À Catarina e às pessoas que me fazem bem


A Catarina faz anos. Nunca me tinha dado conta que uma das minhas amigas do coração nasceu um dia antes do meu filho João. Ou talvez já me tenha ocorrido mas o pensamento terá sido tão breve que não me fixei na curiosidade do calendário. Hoje fiquei a pensar em como duas pessoas que me são tão próximas nasceram em anos diferentes mas apenas com um dia de intervalo.

A Ana Catarina não é uma amiga de infância e nem temos muitas vivências em comum. Direi que temos mais amig@s em comum que experiências em conjunto. Mas as que temos são fartas. Generosas!

No outro dia jantámos e fiquei com a sensação de que ainda tínhamos tanto para conversar! Sabem aquelas pessoas de que gostamos profundamente mas vemos poucas vezes ? Quando se juntam, conversam sem rede, riem muito, fazem planos. E no fim do encontro têm vontade de puxar as orelhas ao relógio.

Não tenho presente o ano, muito menos o dia, em que nos conhecemos. Sei que a amizade com uma amiga comum nos juntou. E também sei, sinto, que conheço a Catarina desde sempre.

São tantos os pontos comuns! Os sonhos, a visão poética do mundo, as boas energias. Fundamentalmente, a generosidade em observar sem julgar. A entrega sem estarmos à espera de nada em troca.

Há muitos anos, num aniversário meu, numa noite gelada de janeiro estivémos juntas num bar do Fundão para celebrar a vida. A ideia partiu da Marta que nos juntou à mesa das conversas e fez desse serão um momento imensamente poderoso. Nesse dia, a Catarina brindou-me com um adereço de moda que ainda hoje me acompanha. Guardo-o com imenso carinho e sentido de gratidão.

De todas as vezes que o coloco lembro-me sempre dessa noite. Lembro sempre os olhos azuis e o sorriso contagiante da Ana Catarina. O colar com uma gaiola e um passarinho é um símbolo de liberdade. É uma ode à criatividade e às energias boas. Àquel@s que nos ajudam a voar.

Desses tempos longínquos guardo ainda o desafio de participar num livro solidário de poesia. Escrever um poema para uma obra cujas receitas reverteriam a favor da Entrelaços entusiasmou-me. Não tanto pela possibilidade de as minhas palavras passarem a estar reunidas num livro onde outros poetas de verdade iriam partilhar os seus dotes literários. Mas por ser um desafio da Ana Catarina Pereira. Inicialmente receie não estar à altura da exigência. Depois a ideia ganhou asas e saiu um poema de amor. Daqueles que nos desnudam e permitem interpretações várias.

Não tenho aqui o poema para o transcrever. Talvez seja mais seguro mantê-lo no baú das coisas escritas. As pessoas mais curiosas poderão encontra-lo nesse livro solidário que ainda está à venda, por exemplo, na Junta de Freguesia do Fundão.

Os livros sempre foram um ponto forte na minha relação com a minha amiga aniversariante. Há dias enquanto lia o contributo dela no livro “o que pode a arte?” editado pela Bordô –Grená  foi  delicioso deixar-me envolver pelo poder da poesia  na discussão de outra causa nossa: A Igualdade de Género.

O texto “pela poesia é que vamos – pela arte, resistimos” permitiu-me descobrir “leite e mel” de Rupi Kaur. Uma extraordinária obra poética que nos fala de amores e desamores, abusos e perdas. Ofensas encobertas à mulher. Foi ainda nesse artigo da minha amiga apaixonada pelo cinema no feminino que também encontrei motivação para, de uma vez por todas, ler com atenção a obra de Simone de Beauvoir. A escritora cuja obra desconstrói mitos e estereótipos sobre género e sexo escreveu no livro “segundo sexo” que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”.  

Que dizer mais sobre uma amiga inspiradora sempre disponível para enriquecer o meu percurso na comunicação? Neste capítulo, recordo as entrevistas que me deu. A mais recente aconteceu em 2017 no meu “Porque Hoje é Domingo” na Rádio Cova da Beira e está aqui. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-12-fevereiro-2017-rcb-ana-catarina-pereira/
Deleitem-se!

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...