Fracções de memórias passadas. Tempos idos e diluídos na espuma dos dias. A actualidade desta Beira que é a nossa!
terça-feira, junho 16, 2020
Castelo Novo esse amor sem rosto
Há lugares que de tão mágicos nos exortam a viajar pelo tempo. Castelo Novo, aqui retratado em drone é um desses pontos de paragem obrigatória no reencontro com o ser.
Observar a calmaria desta terra encravada na tantas vezes massacrada serra da Gardunha é alimentar a esperança de que um dia a beleza ímpar do casario, a imponência dos monumentos e as características da paisagem haverão de devolver a Castelo Novo a vida que merece.
A Aldeia Histórica de Portugal será, então, mais que memória e promessas adiadas. Será vida de pleno direito com investimento publico à altura de uma povoação amada pelos visitantes.
Amar Castelo Novo é senti-lo muito para lá das pessoas. É perceber que esta geografia que nos inspira não nos trai, como tantas vezes o homem traiu esta jóia do nosso património.
Castelo Novo é paz, serenidade e sensação de segurança. É sonho e horizonte de glória.
É acreditar que em cada dia há uma nova luz de esperança a fazer-nos ficar.
Voltar. Uma e outra vez. Sempre na expectativa de a capacitarmos.
Castelo Novo, um amor sem rosto!
sábado, maio 23, 2020
Desconfinando
Registo para memória futura do rendez vous entre amigas, dois meses e meio após a declaração de pandemia por causa do Covid-19. Seguiu-se o Estado de Emergência e depois o de Calamidade.
Agora que estamos à beira de uma nova fase do desconfinamento não resistimos à tentação de afogar a saudade na gulosa sangria tinta que a nossa Nanda preparou para o lanche com produtos locais e como sinal da nossa resistência à maior ameaça recente da humanidade.
Cansadas deste novo normal que para todas nós é uma espécie de degredo resolvemos desafiar a sorte e dizer presente. A vida é para ser vivida, mesmo se o inominável bicho não nos deixa abraçar, largar a máscara e retomar a regularidade de cada final de sexta-feira. Mas este reencontro que soube a esperança faz-nos antever resiliência e determinação na luta pela saúde de todas as pessoas.
Foi uma vez sem exemplo, mas quando esta guerra silenciosa terminar iremos celebrar a resistência num mega jantar com tudo aquilo a que temos direito.
sexta-feira, abril 24, 2020
Instantes do Meu Confinamento 6
Já não escrevo diários da pandemia há quase 20 dias.
Estou em semi confinamento há
mais de um mês. Tantos dias, quantas as vezes que fui e vim do trabalho.
Estas viagens casa - Santa Casa
da Misericórdia do Fundão com direito a paragens pontuais para abastecer a
despensa cá de casa têm-me deixado respirar.
Pouco mais que isso.
Contrariando a expectativa
inicial que apontava para um período de algum relaxe nas obrigações
profissionais e tempo, com fartura, para devolver disponibilidade e entrega a mil
coisas pendentes revelou-se um engano.
Eu vou e venho, ligo e desligo
o pensamento das obrigações. Mas não consigo ter energia suficiente para me
concentrar em algo prazeroso, aprazível, capaz de me fazer sentir plenamente
feliz.
Hoje confessava a uma amiga a
minha frustração e aborrecimento interior quanto à incapacidade de dar
expressão escrita às múltiplas vivências que têm caracterizado este mês e tal de
conversação factual com profissionais do Terceiro Setor. Pessoas como nós que, de forma exemplar, têm vivido a pandemia da covid 19 com um sentido de entrega e criatividade
ímpares.
E chegam-me relatos de pessoas
igualmente excecionais cuja batalha contra o coronavírus se tem revestido de
tantas narrativas emotivas e cheias de vida!
Que preguiça mental é esta que
me devora a mente e faz de mim um ser incapaz de concentrar-se na essência das
experiências maiores e cheias de sentimento?!
Reflexões, no exato momento em
que a memória me recorda: Dulce tens horas de perguntas e respostas cujo conteúdo
precisas transcrever, dando continuidade a um dos mais importantes projetos do corrente
ano.
Raios partam a pandemia, a
passividade ou a saudade das semanas que chegavam ao fim com direito ao
exercício mental de realizar as conversas no «Porque Hoje é Domingo» na Rádio
Cova da Beira.
Depois havia os jantares com as
amigas de uma vida, os lanches e petiscos na nossa amada Nanda.
Desta vez nem fizemos o
ajuntamento maior que assinalava o fim do Inverno e a chegada da Primavera !
Conseguiremos despedir-nos do Outono?
Conseguiremos despedir-nos do Outono?
Saudades vossas minhas
aranhiças do coração!
quarta-feira, abril 08, 2020
Instantes do Meu Confinamento 5
Quando Esperar não é uma perda de
tempo…
Sempre fui
avessa ao nim, nem não nem sim, ao logo se vê, depois falamos, cada coisa a seu
tempo.
Não é que
seja uma mulher aparelhada, de sofisticada tecnologia, mais rápida que o vento. Mas sempre achei que não temos tempo a
perder.
Havia
situações em que repetidamente brincava com as notícias que davam conta da
constituição de mais uma comissão, grupo de trabalho, conselho consultivo …. Blá
blá blá.
Na verdade
sempre fui muito de mais vale uma má decisão do que uma não decisão.
Agora que
vivo há três semanas entre casa e o serviço sem direito a outras vidas dou
comigo a experienciar uma condição, até agora, pouco provável em mim.
A condição da
espera. Esperar que tudo acabe em bem. Que a minha família, amigos, conhecidos
e a organização onde passo os dias consigam ultrapassar esta pandemia sem
sobressaltos maiores.
Nesta já longa espera sinto que aprendi a viver sem as
jantaradas de sexta-feira, sem mais uns sapatos, uma carteira ou um vestido
novo.
De hoje para
amanhã, creio até que serei capaz de encontrar uma solução para as raízes dos
meus caracóis.
Uma solução que em nada tem a ver com o registo habitual do se a
cabeleira A não pode, a B deve ter uma aberta. Posso sempre recorrer à C.
E neste instante
ocorre-me a infância em Castelo Novo, entre a serra da Gardunha e a Aldeia e a
véspera de um casamento em Louriçal do Campo. Eu e a minha irmã Paula, meninas
de tenra idade, pais sem recursos e logística para irmos ao cabeleiro a
Alpedrinha. Vai daí o nosso pai improvisa e leva-nos ao barbeiro.
Saímos de lá com
uma tijela na cabeça. Literalmente!
Tudo tem
solução, diziam os meus pais do alto da experiência de quem sempre viveu com
pouco.
Com pouco e
sem pressa. A serra da Gardunha tinha, ainda tem, esse poder de ajudar-nos a
caminhar com vagar.
Vivamos então
esta pandemia com a ponderação e recomendações de quem sabe. Sejamos cautelosos
e capazes de esperar pelo fim deste tempo impeditivo de tantas situações que
afinal se afiguram não essenciais.
Essencial é continuarmos aqui para
contar a história.
Retemperando
energias com a memória dos dias bons. Reflexos da nossa existência
aparentemente comum mas com bases sólidas para hoje em dia sermos capazes de
esperar que a tempestade passe para relançarmos as sementes da amizade e do
amor entre pares.
Todo o amor verdadeiro se faz de uma longa
espera
quinta-feira, abril 02, 2020
Instantes do meu Confinamento 4
Imagem que fica do último nevão na minha aldeia berço
Terra de encantos e memórias mil
Lugar tranquilo e de sonhos
Este parece não ser o tempo dos sonhos
São dias de interrogações
O que não sendo necessariamente mau pode ajudar-nos a enxergar o que nunca havíamos observado
Como escreveu Tolentino Mendonça no livro «O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas», "talvez precisemos de descobrir que, no decurso do nosso caminho , os grandes ciclos de interrogação , a intensificação da procura, os tempos de impasse, as experiências da crise podem representar verdadeiras oportunidades".
Oxalá que momento da nossa introspecção seja um momento de aprendizagem e foco no processo de gestação da nossa nova vida.
terça-feira, março 31, 2020
Instantes do meu Confinamento 3
O último dia de março acordou branco. A paisagem ganhou candura. Quase nos esquecemos da inominável ameaça à humanidade.
Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.
Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.
Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.
Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.
Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.
Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.
Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.
Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.
Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.
Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.
segunda-feira, março 30, 2020
Instantes do meu Confinamento 2
Fechado. Encerrado. Temporariamente fora de serviço. Não consuma nada dentro do estabelecimento. Faça fila única. Respeite a distância sanitária.
Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.
A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.
Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! - vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.
Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......
Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil. Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.
É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.
Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.
Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off (ver aqui o que implica https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?
E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.
Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.
E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.
A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.
É este o meu sentir no confinamento dos dias.
Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.
Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.
Vamos. Vamos todos.
Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.
Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.
A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.
Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! - vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.
Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......
Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil. Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.
É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.
Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.
Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off (ver aqui o que implica https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?
E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.
Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.
E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.
A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.
É este o meu sentir no confinamento dos dias.
Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.
Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.
Vamos. Vamos todos.
Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.
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