Reúne meia dúzia de artistas da
região e dedica-se à produção de peças relacionadas com a lã. Mas também há
fotografia e aguarelas. Localizada junto à emblemática ponte pedonal da
Carpinteira a montra da criatividade haverá de ser um renovado motivo para
visitar a Covilhã industrial e judaica.
Quem se passeia sobre a ponte
desenhada por Carrilho da Graça e observa os telhados do aglomerado de antigas
fábricas que laboraram paredes meias com a Carpinteira, está longe de imaginar
que aquele lugar da Covilhã industrial poderá vir a ser um miradouro sobre o
Laboratório Criativo em que se tornou a antiga fábrica António Estrela. Francisco
Afonso é cicerone numa viagem à descoberta de um “espaço de expressão livre e
criativa”. Francisco é filho de Júlio Afonso, o último proprietário da fábrica
António Estrela construída em 1830. Realizar o sonho da família, preservando a
memória de uma empresa que se dedicou à produção de tecidos para senhora é a
missão de quem assistiu ao fim da fábrica que então empregava 40 pessoas. Assim
nasceu, em Junho último, o projecto do Laboratório Criativo. Revitalizar um
espaço onde permanecem muitas das máquinas que outrora deram trabalho a
centenas de pessoas é a missão! Embora nunca tenha ficado totalmente
abandonado, pois ainda dispõe de enormes quantidades de tecidos e
matéria-prima, o imóvel reúne agora um conjunto de artistas que são
fornecedores da Casa da Lagariça em Castelo Novo. “Os artistas que trabalham
connosco, e que são da região, têm aqui condições para desenvolverem a sua
actividade num espírito de partilha. A ideia é um dia mais tarde tentarmos
desenvolver um único produto que seja transversal a todos os criativos”,
acrescenta Francisco Afonso. Presentemente a produção a partir do Laboratório
Criativo também está á venda no primeiro piso da antiga unidade industrial.
A Casa da Lagariça em Castelo Novo e o boneco Petrus estão na origem de
um novo projecto criativo que visa dinamizar uma antiga fábrica de lanifícios
perto da ponte da Carpinteira na Covilhã. São dez mil metros quadrados de área
coberta num Laboratório Criativo que reúne meia dúzia de criadores. Trabalham artesanato,
lã e fotografia. O atelier Cool Nature de
Miguel Gigante, o estúdio de fotografia Pulse
and Vision de João Pedro Silva, o atelier Petrus de Ana Almeida, a MEG
em pasta de papel de Maria Eugénia Gomes, a Casa
da Lagariça em lãs mohair e lãs mais finas, o escultor Moreira Neves e o
aguarelista João Rui Frade estão entre os artistas residentes.
Mas é no rés-do-chão da antiga
fábrica que as mãos de criadores transformam a matéria-prima em criações de
encher o olho. O visitante entusiasma-se com a possibilidade de manusear máquinas
totalmente construídas na Covilhã e que embora já não estejam permanentemente
em laboração ajudam a decorar o laboratório criativo. “Estamos a utilizar
algumas para desenvolver produtos que mais tarde serão a matéria-prima para a
confecção de modelos assinados pelo criador Miguel Gigante. As mantas em mohair
são exemplo disso”, conclui. De resto, Miguel Gigante está a desenvolver a colecção
“Vestir a História”. Peças de vestuário em lã para senhora, disponíveis nas lojas
das Aldeias Históricas de Portugal. Um trabalho exclusivo que se estende à
decoração cujos acabamentos também se fazem a partir do Laboratório Criativo.
Assim acontece com “um fundo de cama e respectivas almofadas ou um candeeiro de
pé alto que será revestido a burel”. No Cool
Natura Lda, a revistadeira ajuda a decorar o espaço mas espera-se que um
dia venha a ser utilizada para desenvolver projectos de pintura nos tecidos que
Miguel Gigante poderá aplicar em novos modelos. “Temos aqui vários momentos de
ensaio de peças e acabamentos. Por exemplo uma carteira toda em lã”. Os
estiradores, uma ploter, máquinas de costura e outros equipamentos ajudam a
humanizar o amplo pavilhão que vai ganhando algum colorido por via dos
trabalhos em curso. Ao atelier do burel junta-se o espaço da Casa da Lagariça. É visível o trabalho
de fabrico de mantas em lã mohair que passa pelo tear e permite ao visitante
escolher na paleta de fios qual a tonalidade a dar às peças únicas. Num outro
sector encontramos o espaço de Ana Almeida onde é fabricado o ícone da Casa da
Lagariça. O Petrus tem marca registada,
é sinónimo de história. Petrus foi o
primeiro alcaide de Castelo Novo. “São peças únicas, numeradas e que têm
diferentes formas. São feitos à mão através da técnica da agulha com ponto
baixo. Um com trinta centímetros pode demorar um dia a construir” explica a
professora da Universidade da Beira Interior que trabalha no departamento de
química e cuja formação em engenharia química permitiu à criadora aliar formas
e pensar na consistência do modelo de autor. O Petrus “é uma espécie de mascote das Aldeias Históricas de
Portugal” diz Ana Almeida, cheia de orgulho. MEG é um nome incontornável do artesanato nacional e a qualidade
dos seus trabalhos têm-se traduzido em alguns prémios para a artista natural da
Covilhã. O espaço MEG reúne uma
panóplia de peças de artesanato elaboradas por Maria Eugénia Gomes. Com recurso
à pasta de papel (serrim que resulta do corte de tubos de papel utilizados na
indústria de lanifícios) e ao aproveitamento de objectos fora de moda, MEG apresenta peças bastante actuais e
com nomes muito sugestivos. “Mulheres sob Pressão” é uma das obras recriada.
“Aproveitando uma prensa dos livros e através da construção de duas mulheres em
pasta de papel, elas aparecem espalmadas depois de terem ficado sob a prensa”. “Conversa
Fiada é o título de outras das obras que nasceu a partir do aproveitamento de
uma roca de fiar linho e em que três mulheres se apresentam na amena cavaqueira.
A Semana é outro dos objectos decorativos que se desenvolve num quadro em que
os dois bonecos rapazes e as cinco raparigas nos dão a ideia do período de
descanso e de trabalho”. Já a peça “À Espera da Primavera, apresenta-se num
quadro em que uma mulher está sentada no baloiço improvisado no tronco de uma
árvore despida de folhas”. Trabalhos de artesanato que estão à venda na rede de
lojas das Aldeias do Xisto e em duas ou três lojas de Lisboa, Porto e Castelo
Novo. Segue-se o atelier de pintura de João Rui Frade. O aguarelista da Covilhã
que também trabalhou na Fábrica António Estrela aderiu ao projecto para ajudar
a preservar o património da unidade de lanifícios onde trabalhou na cardação e
na verificação do estado de saúde da maquinaria industrial. O antigo desenhador
de máquinas transporta-nos agora para outros desenhos que resultam das muitas
viagens pelo património natural da Covilhã. Lugares recônditos que despertam no
pintor a capacidade de construir cenários de sonho. “Um levantamento de lugares
emblemáticos da cidade para uma colecção de aguarelas sobre a vida urbana da
cidade”, preenche os dias do pintor de paisagens, telhados e igrejas mas que
também se dedica à recolha de recantos do mundo rural. Por entre aguarelas,
lápis e tintas, João Rui Frade confidencia a satisfação de ter um espaço para
trabalhar que além de muita luz se localiza num lugar onde a beleza da natureza
é uma constante. À porta da antiga fábrica de lanifícios o silêncio de um
princípio de tarde de outono só é quebrado pelo som da água da Ribeira da
Carpinteira que passa ao lado da unidade criativa. A natureza é o forte do
fotógrafo João Pedro Silva. No estúdio improvisado e decorado a partir da
utilização das caixas de madeira que foram utilizadas no transporte da lã, João
Pedro explica que a arte de fotografar vai muito além de um mero clique. Não
será ao acaso que “o contador de histórias em fotografia” foi seleccionado para
assinar o catálogo da colecção de burel para a Rede das Aldeias Históricas de
Portugal. Com o negócio da fotografia em crise, João Pedro vê na New Hand Lab uma nova janela de
oportunidade para a realização de projectos que vão além da fotografia
convencional. Sociólogo de formação Pedro tem em mãos o desafio de educar o
gosto pela arte fotográfica e tem realizado cursos de fotografia na Covilhã. A
fotografia de paisagem e os rostos são a aposta do Pulse and Vision explicou o especialista que tem vindo a realizar
trabalhos de promoção à arte do burel.
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