“Sexo, Crianças e
Abusadores” é o
título de um livro que resulta da
realização de uma investigação clínico-forense, no âmbito da conclusão do
Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da UBI. Um trabalho de Filipa Carrola que entre 2010 e 2011 se dedicou
a uma investigação que ajuda a avaliar “a personalidade e saúde mental” do
sujeito abusador.
O
documento com prefácio de Barra da Costa (profiler
criminal) poderá ser um contributo para a compreensão e promoção de acções de
acompanhamento e cura dos abusadores sexuais. Por outro lado, a tese de
mestrado ajuda a “desmistificar a confusão que existe na sociedade entre
pedofilia e abuso sexual de crianças, e os mitos que criam um imagem estereotipada
acerca do crime de abuso sexual de crianças, abusadores e crianças”.
No
âmbito do estudo foram ouvidos em contexto prisional “62 abusadores sexuais de
crianças” que cumprem pena nos estabelecimentos prisionais da Guarda, Covilhã,
Castelo Branco e Carregueira. No trabalho de campo a jovem investigadora ouviu
ainda “63 sujeitos da população normativa, que foram avaliados em termos da sua
personalidade e saúde mental, através da aplicação de dois instrumentos de
avaliação psicológica (entenda-se, questionários). Para complementar o estudo e
melhor caracterizar a amostra foi também aplicado a todos os sujeitos de ambos
os grupos um breve questionário sócio-demográfico. Após a análise estatística
concluiu-se que a média de idades dos abusadores sexuais foi “de 44 anos, sendo
que 53,22% destes sujeitos tinha idade igual ou inferior a 45 anos. No que
respeita à escolaridade, 48,38% dos abusadores estudados tinham escolaridade
equivalente ao 2.º/3.º ciclos do ensino básico, 40,32% tinham escolaridade
igual ou inferior ao 1.º ciclo do ensino básico e 11,29% tinham escolaridade
igual ou superior ou ensino secundário”. Por outro lado, os abusadores em causa
pertencem a “vários estratos socio-económicos e as suas competências sociais e
culturais são variáveis. É um grupo heterogéneo psicologicamente afectado, pois
ao nível da personalidade tinham dificuldade em identificar e gerir emoções”.
São tendencialmente hostis e negativistas. Estão associados a problemas de
alcoolismo e a um sub mundo quantas vezes criado pelos próprios e com base nas
“fantasias e vícios” de cada um.
Filipa
Carrola entrevistou cada um dos abusadores e em nenhum momento sentiu
desconforto. Ainda assim sublinha a tentativa de cada um dos abusadores em
justificar o injustificável. “Muitas vezes disseram que foram seduzidos pela
vítima. Mas o relato mais marcante foi o de um jovem abusador que me disse ser
o Messias e encarnando uma pessoa teria de dar carinho e afecto permanente às
crianças”.
Apreensiva
com o retrato dos abusadores, Filipa Carrola deseja que o seu trabalho
académico abra caminho “ao tratamento dos abusadores evitando o crescimento das
taxas de reincidência e protegendo mais as crianças”. A investigadora, natural
da Covilhã, referiu ao JF ser imperioso “contrariar a ideia de que a prisão é o
único tratamento penal para estes sujeitos, pois muitas vezes saem mais
perigosos”. À semelhança do que acontece com os condenados por violência
doméstica, em Portugal não há uma estratégia de tratamento dos
criminosos/condenados. Filipa Carrola lembra a Convenção dos Direitos da
Criança em que os todos os países se comprometem a legislar para prevenir todas
as formas de violência sexual e a prevenção está também no tratamento, alerta!
Ainda assim, sublinhe-se que em Portugal existe nos Estabelecimentos Prisionais
de Paços de Ferreira, Carregueira e Funchal um programa de acompanhamento de
abusadores sexuais mas cujos resultados práticos são desconhecidos. “Em 2011
pensou-se dar continuidade ao programa fora do contexto da cadeia”, conclui. Da
investigação, que permitiu a Filipa Corrola um brilhante 19, resultou a
publicação de um artigo numa revista de Criminologia no Brasil e dois capítulos
na revista Portuguesa de Psicologia. Continuar o trabalho académico de
investigação nesta área é o próximo passo da autora do livro “Sexo, Crianças e
Abusadores, que se propõe tirar o Doutoramento e desenvolver as suas
competências no acompanhamento dos abusadores sexuais.
Publicado no Jornal do Fundão de 14 de Novembro de 2013
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