segunda-feira, agosto 20, 2018

Os Amigos dos nossos filhos são nossos filhos também


Receber os amigos dos meus filhos, ter a casa cheia de pessoal, observá-los e recordar tempos idos é das vivências mais interessantes da fase adulta ou da meia-idade. Dei comigo a pensar nisto ao amanhecer deste domingo. Horas depois de a Leonor ter recolhido aos seus aposentos acomodando no seu quarto mais cinco pessoas.
Na véspera pedira à tia os colchões que eu e a Helena chegámos a utilizar nas nossas aventuras de solteiras quando o montanhismo era hobby de fim-de-semana. Além dos acolchoados colchões a diva - assim se caracteriza a jovem Leonor quando tenta autorização do pai para mais um convívio fora de horas ou uma renovada ida à cidade -, também cuidou de garantir reforços alimentares e alguns sumos para a verdadeira ceia. Uma ceia antecedida de longos banhos de piscina sob a lua de agosto.
Apesar da imaturidade, os nossos adolescentes são gente prevenida e do género, quem vai para o mar avia-se em terra. Assim, de cada vez que a Leonor, mas também o João, se prepara para promover mais um convívio, certifica-se de que nada faltará aos convivas. Quantas vezes enquanto família de acolhimento somos o táxi na “devolução” da miudagem aos pais! Fazemo-lo com gosto e até alguma dedicação. Há um ditado que nos diz que quem meu filho cuida minha alma adoça, logo temos por hábito cuidar dos amigos dos nossos filhos como sendo nossos filhos, também!

A adolescência e juventude dos nossos filhos é o tempo em que eles fazem novas amizades. O amigo do amigo que conheceram em registo educativo ou na prática desportiva dentro das quatro linhas. Muitas dessas amizades cujo crescimento se reforça nas experiências fora da escola ficam para a vida. É como se os afetos até então focados nos primos e na cumplicidade de sangue ganhassem novos contornos e semeassem um novo jardim de partilha.
É nesta altura que também nós, os adultos, iniciamos um novo tempo de vivências e observação. Por um lado sentimos o orgulho de os nossos filhos crescerem, tornando-se autónomos. Começam a afirmar-se pelos bons e menos bons motivos. Sobressai-lhes o modo de ser e de pensar. Às vezes condizentes com a nossa linha de orientação, noutras alturas o registo fica distante da “doutrina” que lhe fomos incutindo. Criam-se então as barreiras ou reforçam-se os laços de compreensão e cumplicidade entre gerações. Às vezes há uma espécie de conflito entre pares. Mas tudo se resolve graças á tolerância de pessoas e ao amor incondicional de pais.
É também nesta fase que perdemos o controlo dos passos delas e deles. Aquela coisa da mãe galinha, a mania de “impingir” os filhos dos nossos amigos aos nossos filhos e o “polícia” que há em nós ganha novos contornos. Embora nos mantenhamos vigilantes já não impomos. Ou já não conseguimos impor.

Embora nos assalte uma catadupa de perguntas sobre quem é quem, de onde vem e quem são os pais ou o que fazem, rapidamente deixamos cair o questionário evitando o rótulo de coscuvilheiras ou metediças. Isto é válido, sobretudo, para as mães. Os homens fazem menos filmes e confiam mais.
São estes estados de alma misturados com a alegria de receber os amigos dos meus filhos que comprovam a capacidade do ser humano em se adaptar às novas realidades. Aqui continuamos ao lado deles, e delas, para, mediante as nossas possibilidades e forças, continuarmos a dedicar-nos aos filhos.
Os nossos descendentes dão mais vida à pacatez dos dias quando nos enchem a casa de gente. É tão bom vê-los correr e saltar, mergulhar na piscina ou acantonar na nossa geografia privativa!
No fundo, eles seguem os nossos passos e vivências. O tempo em que as férias grandes eram passadas na aldeia dos nossos avós e os mergulhos eram na ribeira ou na charca mais próxima. Depois havia as festas de Verão. E a juventude reunia-se para o baile improvisado.
Os meus verões eram na serra da Gardunha e mais tarde na aldeia de Castelo Novo. Na montanha as férias grandes eram sinónimo de guardar as cabras e banhar-me nas águas gélidas do tanque localizado entre os cedros e a casa florestal.
Quando havia turistas e crianças os meus dias ganhavam outra alegria e às vezes cantávamos ao desafio. Já na aldeia, o Verão trazia as idas à ribeira e as infindáveis conversas na rua com as pessoas da minha idade que moravam em Lisboa e no Verão voltavam a Castelo Novo.

Memórias. E que memórias guardarão a Leonor, o João e o Francisco deste tempo em que o nosso habitat recebe jovens e adolescentes de outras latitudes?

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