Ao turismo juntou-se na última quinzena a população flutuante do Verão. O fluxo de residentes temporários regista forte impacto nas duas semanas que se caracterizam pela preparação, realização e conclusão das festa do Senhor de Misericórdia.
Um acontecimento civil e religioso que é a maior reunião anual de residentes, naturais e amigos de Castelo Novo. Este ano não foi excepção.
Além da Banda da Liga de Amigos de Castelo Novo, enquanto elemento agregador de um povo, a festa do primeiro fim-de-semana de setembro em Castelo Novo é uma espécie de comprovativo de resiliência ou de sobrevivência ao despovoamento daquelas paragens.
À volta da devoção ao Senhor de Misericórdia e do amor às origens pessoas de todas as idades regressam àquela geografia de afectos e demonstram, através da garra e dedicação com que a cada ano se dedicam à festa, que mesmo sendo poucos ninguém os derrubará nem impedirá de, a cada ano, carregarem andores e semearem a esperança naquele chão encravado na Gardunha.
Estas palavras são, pois, uma ode aos homens e mulheres residentes, naturais e amigos de Castelo Novo que não deixam morrer a tradição e transportam para a aldeia essa vontade inabalável de fazer acontecer. Fazem-no no merecido período de férias, longe das cidades que há muitos anos os acolheram e onde conseguiram trabalho e pão.
Sem nunca esquecer o berço e tendo na Banda da Liga de Amigos o ponto forte de união, os naturais da Aldeia História constituíram família, fizeram amigos e o grupo de indefectíveis de Castelo Novo ganhou músculo. E aí estão cheios de uma alegria contagiante, uma garra pela manutenção das tradições de Castelo Novo que deveria inspirar-nos!
A dedicação dos naturais de Castelo Novo à história e vivências do território não é caso único. Felizmente para os que continuamos a acreditar nas potencialidades destas terras. No fim-de-semana em que chegam ao fim muitas das festas religiosas da temporada, merece igualmente ênfase a dedicação e empenho de cinco mulheres de Alcongosta, outra freguesia do concelho do Fundão, que estes dias deram o corpo ao manifesto para a realização da festa de Nossa Senhora da Anunciação.
Ana Rodrigues, Muriel Bernardo, Sandra Rolão, Marta Isabel Mendes e Sandra Batista completam 40 anos e manda a tradição que não reneguem as origens e se façam mordomas.
A preparação dos festejos agendados para este sábado, domingo e segunda feira começou há um ano atrás. Depois de um contacto presencial prévio e da troca de endereços eletrónicos, estas mulheres naturais do berço da cereja, mas residentes onde conseguiram trabalho, foram reunindo virtualmente e organizam uma romaria que é, também ali e em qualquer aldeia, o ponto de encontro de sucessivas gerações de pessoas a quem a reunião de naturais sabe a bálsamo e energia positiva para mais um ano de trabalho.
O amor à terra é, pois, um exemplo que deverá inspirar-nos sempre que arregaçarmos as mangas na procura das melhores soluções para as nossos desafios novos. O espírito de entrega e a partilha de saberes que são a alma da preservação do nosso património imaterial deveria inspirar-nos para tudo o que aqui fazemos pois o reencontro com o território é a esperança no amanhã melhor.
*Artigo adaptado e originalmente publicado na edição de 6 de setembro de 2018 do Jornal do Fundão
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