É Provedor do
Estudante desde 2014 e deverá ser substituído na próxima reunião do Conselho
Geral da UBI. Durante os quatro anos de mandato passaram-lhe pelos olhos 1.531 solicitações
de estudantes. Casos que procurou resolver por forma a fazer cumprirem os
direitos dos alunos da universidade.
Quem o conhece vinca a sua afabilidade,
discrição e espírito de missão. O professor doutor Luís António Nunes Lourenço
entrou na Universidade da Beira Interior como aluno de gestão em 1978 e sairá
como professor associado e Provedor do Estudante.
Em 40 anos de universidade, além
do percurso de aprendizagem, foi professor, diretor de curso, coordenador de
departamento e presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Trabalhou
com todos os reitores. De Passos Morgado a António Fidalgo sem esquecer João
Queirós de quem foi adversário numa lista para o Conselho Geral da UBI.
Substituiu no cargo de Provedor Pedro Pombo e na conversa com o Jornal do
Fundão garante que não abandonará “abruptamente o cargo”. Natural da Sertã e a
residir no concelho do Fundão desde 2000, Luís Lourenço foi seminarista na Diocese
de Castelo Branco e Portalegre.
Ao longo do percurso de estudante foi colega do
recentemente nomeado presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o juiz conselheiro
António Joaquim Piçarra.
Agora que está à beira da reforma garante que não abandonará
a atividade cívica. Luís Lourenço continuará na RIQUA – Rede de Investigadores
da Qualidade. É vice-presidente da assembleia intermunicipal da CIM das Beiras
e Serra da Estrela e eleito da CDU na Assembleia Municipal do Fundão.
1- Na missão de cuidar
dos direitos dos estudantes da UBI, qual é o balanço que faz do desempenho das
funções de Provedor do Estudante?
Foram
mais de quatro anos de um desafio permanente. Não foi e nunca será uma tarefa
fácil, pois lidamos com problemas cuja solução, por vezes, não é imediata.
Embora sejamos sempre maus juízes em causa própria, posso dizer que saio com a
tranquilidade de a ter desempenhado de forma positiva.
2- O seu mandato
terminou em fevereiro último e ainda não foi substituído. Até quando está
disponível para assegurar o cargo cuja nomeação é da responsabilidade do
conselho Geral da UBI?
Está
prevista a escolha de um novo Provedor do Estudante na reunião do Conselho
Geral agendada para 10 de outubro. Assumi, no Conselho Geral, o compromisso de
acompanhar ativamente a transição, caso o meu sucessor (ou sucessora) o entenda
necessário. Cumprirei com esse compromisso. Não seria bom para a instituição
(para a UBI) que, de forma regular, se não encontrasse uma solução nessa
reunião. Mas, garanto que não abandonarei abruptamente o cargo.
3- No universo dos
episódios e solicitações recebidas na Provedoria há situações recorrentes e
muitas delas relacionadas com a componente administrativa e burocrática, como
se explica que tais situações se repitam?
Apesar
de haver situações recorrentes elas têm sempre especificidades próprias. Aliás
é quase impossível tipificar a maioria das situações que motivaram o contacto
com o Provedor. Essas recorrências tiveram muito mais que ver com as
especificidades de cada situação do que com aspetos gerais.
4- Que foi feito por
forma a minorar essas "dificuldades" e "queixas" dos
estudantes?
Sempre
que foi possível tipificar situações o Provedor elaborou
pareceres/recomendações no sentido de as corrigir. Na generalidade dos casos
essas recomendações tiveram um acolhimento positivo por parte dos responsáveis.
5- Num momento em que
se fala de especulação imobiliária em outras cidades universitárias, como
observa o panorama da oferta de alojamento em residências académicas na UBI? A
questão da habitação não figura no mapa das queixas dos estudantes que são
reportadas ao Provedor?
Devo
confessar que essa questão (problemas decorrentes da especulação imobiliária)
nunca foi colocada ao Provedor. Devo também dizer que é uma área em que, dada a
complexidade do tema em si, bem como da quantidade e variedade dos
intervenientes, não seria fácil intervir. Quanto à situação específica da UBI e
da Covilhã convém referir dois aspetos. Por um lado, a UBI é a universidade
portuguesa que tem, se não a maior, uma das maiores taxas
de cobertura em termos de residências académicas. Por outro lado, creio que a
especulação imobiliária, e as suas consequências negativas, ainda não atingiram
na Covilhã os níveis de outras grandes cidades. Dito isto não significa que
devamos ficar descansados. Por um lado, é necessário que a resposta da UBI seja
melhorada. Por outro lado, é necessário encontrar formas de a UBI, em
colaboração com a autarquia, contrariar as consequências negativas dessa
especulação.
6- Que marca deixa na
Provedoria do Estudante?
Essa
é uma pergunta que me é difícil responder sem correr o risco de parecer presunçoso.
Ainda assim poderei afirmar que depois dos primeiros passos, sempre mais
difíceis e incertos, que foram dados pelo meu antecessor, a atividade que
desenvolvi contribuiu para que o cargo do Provedor do Estudante da UBI fosse
definitivamente conhecido e reconhecido.
7- É um profundo
conhecedor da UBI pois desempenhou diversas funções. Como observa a UBI e que
futuro vê na Universidade enquanto entidade e parceira no desenvolvimento do
território da Beira Interior?
De
facto, ocupei vários cargos e funções. Diria que quase todos os que poderia
ocupar por eleição dos pares. A experiência e conhecimento aí adquiridos foram
fundamentais para o desempenho da Função de Provedor. Quanto à sua questão
especificamente a resposta é muito simples e rápida. A UBI é um parceiro
fundamental e imprescindível.
8- Como olha para o
futuro da região marcada pelo despovoamento e onde existem uma universidade e
dois institutos politécnicos? Que futuro antevê para os estabelecimentos de
ensino superior na região?
O
desenvolvimento do país para ser sustentável tem necessariamente que ser
harmonioso. A litoralização e a concentração nos grandes centros são
prejudiciais para o interior mas também o é para esses grandes centros. É
necessário que, na definição das políticas públicas, se tenha isso em atenção.
A UBI e os Institutos Politécnicos da região são parceiros fundamentais na
implementação de qualquer política de desenvolvimento regional, mas por si sós
pouco podem fazer. Por isso, o seu futuro está obviamente ligado às opções que,
a este nível forem feitas.
9- Tenho conhecimento
que solicitou a sua aposentação, o que vai fazer depois de iniciar o período de
reforma?
Esse
é um assunto do foro pessoal que pouco interessará aos leitores do Jornal do
Fundão. A única coisa que posso dizer é que me não vou reformar da intervenção
cívica.
*Artigo integralmente publicado na edição de 27 de setembro de 2018 do Jornal do Fundão no espaço "Um Café Com"
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