Não sei se
alguma pintei um desenho de que me possa orgulhar. Mas conheço imensas pessoas
cuja pintura me faz viajar pelas paisagens da minha Gardunha quando ainda não
vestia negro. Lembrei-me disto, esta
semana, quando numa visita relâmpago a Castelo Novo me apercebi da chegada da
Arte Urbana à Aldeia Histórica de Portugal encravada na serra.
Nesse
instante revisitei a memória das aulas de educação visual no Externato Capitão
Santiago de Carvalho em Alpedrinha e o pensamento fixou-se no desenho
geométrico do professor João de Matos. O malogrado educador para quem o “olhos
eram a régua e o nariz o compasso”….
Quase me
apeteceu entrar em casa, subir ao sótão e procurar no baú dos trabalhos da
escola as pastas com desenhos geométricos realizados nas folhas de papel
cavalinho. “O melhor, pois as folhas são
resistentes e ótimas para desenho com lápis de carvão”. Também o João Barreira,
um pintor que na minha juventude se dedicava às paisagens verdejantes da minha
geografia de infância, já me surpreendeu com belíssimas obras matizadas a
verde.
As
paisagens verdejantes da Beira Baixa, que outrora inspiraram a poesia de Albano
Martins ou Eugénio de Andrade, também caracterizavam a obra do pintor Barata
Moura. O Mestre que nunca renegou as suas origens beirãs e se formou na Escola
António Arroio e na Superior de Artes Aplicadas também pintava a Beira como
ninguém.
Falecido em
2011, 100 anos depois do seu nascimento, Barata Moura está nas mais de mil
telas a óleo e inspira uma nova geração de pessoas ligadas à arte de eternizar
personalidades e vivências de um território.
Esse
património está agora mais completo com o mural alusivo ao pintor Barata Moura
cuja memória passa a estar perpetuada na antiga torre da EDP na sua aldeia
Natal.
Castelo
Novo tem desde há uns dias um exemplar de arte urbana assinado por João Samina https://saminashop.bigcartel.com/.
O artista que também pintou Carlos Paredes ou algumas das mais carismáticas
figuras típicas da Covilhã, tem na Beira Baixa um trabalho dedicado ao pintor
que sentia as paisagens, pessoas e recantos da sua Beira transportando-as para a tela num registo multicolor que nos
prende o olhar e nos faz vibrar de alegria.
Na obra de
Samina, Barata Moura “apresenta-se” em tons de preto e encarnado num jogo que
nos faz acreditar que o traço característico do João ajudará a fazer do “miradouro
da pardinha” – assim é designado pelos naturais de Castelo Novo a encosta da
freguesia onde se encontra “a escultura” do mestre pintor – um ponto de paragem
obrigatória no roteiro de visitação à localidade.
O toque de
modernidade na Aldeia povoada de história acrescenta vida à localidade desejosa
de espreguiçar-se para a Gardunha vestida de verde.
Mas
passaram dois anos e como muitos transeuntes comentam, faz impressão que
Castelo Novo continue rodeado de negro, marca indelével do fogo.
Neste meu
regresso, à geografia que em agosto de 2017 voltou a ser massacrada pelos incêndios,
não posso deixar de descrever a melancolia que assombra qualquer natural ou
forasteiro que logo na autoestrada da Beira Interior se dá conta de como
Castelo Novo permanece vestido de luto.
Não vemos
árvores, a serra está globalmente despida. Dá pena olhar para o cabeço da Penha
e observá-lo desnudo. Já no interior da localidade observamos o casario ainda
fechado aguardando a chegada das centenas de pessoas que este Verão voltarão à
sua terra do coração dando-lhe vida e esperança num ritual anual que nos faz
continuar a acreditar que Castelo Novo ainda pode merecer mais que uma obra de
arte de amor a Barata Moura.
Aguardemos!
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