Maria Ascensão Albuquerque Amaral
de Figueiredo Simões. Nasceu, em Nelas, há 90 anos. Consideram-na uma mulher à
frente do seu tempo e o Município da Covilhã homenageou-a pelo seu percurso
dedicado à educação e intervenção cívica. Uma trajetória de mais 40 anos dedicados
ao ensino que a levou a dar aulas em cidades como Caldas da Rainha, Torres
Vedras e Covilhã. Na Cidade Neve esteve 33 anos na Escola Industrial Campos
Melo, integrou a comissão de gestão e foi presidente do Conselho Diretivo. Uma
vez aposentada fundou a Academia Sénior da Covilhã onde desempenhou funções de
reitora. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia-geral da APAE
Campos Melo. Deixou-se seduzir pelo exercício da política quando realizou entre
2005 e 2009 o mandato de eleita na Assembleia Municipal da Covilhã. É viúva de Duarte
de Almeida Cordeiro Simões cofundador e diretor do Instituto Politécnico da
Covilhã.
Fomos ao encontro da mulher
de olhar penetrante e de brilho azul que nos falou do “exilio forçado” de cinco
anos nas Minas da Panasqueira, onde fixou residência temporária quando Duarte
Simões desempenhou funções de gestão na Beraltin
And Wolfram. O tempo em que esteve acantonada, num lugar onde não chegavam
os jornais, não deixa saudades à visionária, para quem a afirmação da mulher
continua a ser uma necessidade. Recordando as “tentativas subtis enraizadas na
sociedade que desencorajam a mulher a ser combativa e líder”, Ascensão Simões
lamenta que, presentemente, as empresas, de “forma sub-reptícia”, continuem a confiar
cargos de liderança aos homens “privando as mulheres da maternidade ou
afastando-as do exercício de cargos mas relevantes”.
Ascensão Simões licenciou-se
quando ainda era preciso apresentar uma tese. Naqueles anos debruçou-se sobre o
Portugal Restaurado do Conde da Ericeira. “Um trabalho histórico e filosófico sobre
a introdução de novas tecnologias e a restauração da independência”. A
professora aposentada considera-se uma boa educadora e a conversa encaminha-se
para a aprendizagem que “deve ser constante” pois “um professor demora muito
tempo a fazer-se”. “O trabalho burocrático e a preocupação com papéis roubam-lhe
energias”. Diz a nonagenária preocupada com “o ritmo frenético da vida moderna,
permanentemente dependente do computador e do trabalho fora de horas, sem tempo
para os filhos”.
Tempos de exigências bem
diferentes da realidade vivida pela professora que iniciou a sua atividade com
horário completo. No tempo da revolução os colegas escolheram-na para liderar
os destinos da Escola Campos Melo pois era um “período bastante agitado”. “Muitas
vezes saí de lá à meia-noite por coisas tão simples como ceder papel para a
propaganda eleitoral dos estudantes. A vida era muito conturbada e exigia-se
muito diálogo. Era um tempo em que os professores chagavam sem habilitação mas
a explosão escolar a isso obrigava”.
Condicionalismos superados
com diplomacia e muito diálogo. “Era preciso mostrar que as competências das
mulheres não ficavam atrás das do sexo oposto”, vinca a primeira diretora de
uma escola na Covilhã. “Tenho a certeza que a seguir à doutora Judite Chitas, no
ciclo preparatório, fui a mulher mais antiga a dirigir uma escola com 105
professores e 1600 alunos”, disse. Recuando no tempo, e à condição de
encarregada de educação, franje o sobrolho e num tom reprobatório lembra como foi
possível, na escola, alguém questionar da razão de ser encarregada de educação
das filhas. “Até para isso pensavam no
homem”!
Detentora de um percurso
recheado de inovação e desafios em prol do bem comum, Ascensão Simões recupera a
memória do centenário da Escola Campos Melo e o ano de 1984 quando a sua
condição de mulher inconformada a impeliu a aceitar o desafio de criar a APAE –
associação de pais e antigos alunos da escola Campos Melo. “Fiz um plano para as
comemorações, distribui trabalho. A escola não tinha associação de pais e isso
era imperioso até para os antigos alunos. A associação de pais estava meio
adormecida, fui ajudando no que pude”. Já quanto à constituição da associação
de antigos alunos, o processo foi mais rápido, uma vez que muitas pessoas bem
colocadas, como arquitetos e engenheiros, passaram pela Campos Melo, uma escola
de referência na Covilhã. A dedicação e arrojo que lhe marcaram a trajetória na
Campos Melo também caracterizaram os anos dedicados à Academia Sénior da Covilhã,
fundada em 2000, na qual chegou ser reitora. Criou-a para “manter-me ocupada e
aprender informática”. Recordando o início do projeto na Escola Quinta das
Palmeiras e posteriormente em casa de uma particular, Ascensão Simões não
esquece o contributo do Município da Covilhã, na pessoa do então presidente
Carlos Pinto, na solução para a sede da Academia, nem a Universidade da Beira Interior
cujos professores passaram a dar aulas na Academia Sénior da Covilhã atualmente
frequentada por 70 pessoas, com mais incidência nos 60 a 70 anos.
BIOGRAFIA
Maria Ascensão Simões nasceu, em Nelas, a 20 de junho de 1929. Frequentou o ensino primário no Colégio da Nossa Senhora da Conceição (Viseu), o ensino secundário no Liceu Infanta D. Maria (Coimbra) e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas. Dedicada ao ensino desde 1954 até a sua aposentação em 1996, lecionou em diversas cidades do país. Professora durante 33 anos na Escola Industrial Campos Melo, integrou a comissão de gestão em 1974/1975 vindo a ser presidente do conselho diretivo desde 1981 até 1988. Foi sócia fundadora da Academia Sénior da Covilhã e reitora de 2003 a 2018. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia geral da APAE Campos Melo e deputada na assembleia municipal da Covilhã entre 2005 e 2009.
ORIGINALMENTE publicado na edição de 11 de julho 2019 do caderno JF Comunidade do Jornal do Fundão.
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