O Fundão está na
rota das comemorações do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Expoente
máximo do fado, mulher amada ou rainha do fado, Amália nem sempre foi
acarinhada pelo seu Fundão. Isso mesmo confirmaram no programa
«Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova da Beira os convidados da emissão de dia
12 de julho que quiseram partilhar comigo e com os seguidores do
programa, que está no ar desde 2013, os convidados da mesa redonda radiofónica
que antecede um conjunto de iniciativas concelhios a realizar no Fundão a
partir do dia 23 de julho.
Estórias com gente dentro numa conversa com José Manuel Lopes Rodrigues (sobrinho de Amália Rodrigues), António Fernandes (escritor e cronista) José Filipe Gonçalves (primo de Amália) e Alcina Cerdeira (vereadora da cultura no Município do Fundão).
Das comemorações à memória viva de Amália Rodrigues num registo informal e
emotivo que podem ouvir neste link:
Amália da Piedade Rebordão
Rodrigues não passava despercebida, “atraia a rapaziada, toda a gente queria
estar com ela, mulher de visão libertadora que também gostava de passear”, disseram
os meus interlocutores na telefonia.
Trovadora triste e melancólica
mas também alegre e feliz, assim a descreve o sobrinho José Manuel Lopes
Rodrigues que se lembra da “tristeza e algum desgosto” que caracterizavam
Amália sempre que recordava as passagens pelo Fundão.
Na então vila onde chegou a atuar
no Casino, havia uma elite feminina desconfortável com a presença da
embaixadora do fado. Realidades indesmentíveis dizem os vários registos
consultados na imprensa de época e no Jornal do Fundão, semanário onde chegaram
a ser publicadas intervenções públicas quanto aos atrasos na entrega da Medalha
de Ouro do Fundão que deveria ter-lhe sido atribuída em vida.
“O Fundão não tem grande carinho
por mim”, diria numa entrevista a fadista cuja condecoração do Município aprovada em 1989 - data dos 50 anos de carreira da artista - nunca recebeu.
Mais tarde, depois de várias
observações e criticas na imprensa, o executivo camarário remediou a falha e
entregou ao sobrinho José Manuel Lopes Rodrigues a dita medalha.
De fato Amália foi mal amada no
seu Fundão. Há até o registo factual da “atuação de Amália no Casino em 1946, na
companhia do Grupo Cénico e a lápide que assinalava a presença da artista
desapareceu”.
Oriunda de uma família modesta e
numerosa, Amália Rodrigues que os admiradores caracterizavam como “rouxinol da
senhora da Conceição” era afinal uma beirã que também deu concertos na Covilhã.
“Certa vez chegou a casa da minha
mãe já de madrugada e apesar da hora tardia houve anedotas, bolos da Joaquina
do forno e queijo curado” partilhou o primo José Filipe Gonçalves.
António Alves Fernandes, fã
incondicional de Amália, recorda-se do pai “apaixonado” pelo percurso, dotes
vocais e talento da fadista maior, encarada pela imprensa da especialidade como
uma artista “com futuro risonho”, prognosticavam.
Memórias partilhadas no programa «Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova
da Beira onde foi possível revistar a ida de Amália à Santa Luzia, com Varela
Silva e a irmão Celeste Rodrigues, entoando cânticos alusivos à padroeira da
visão e num carro de bois bastante bem enfeitado, revelaram.
Uma conversa que antecipou a
comemoração local do centenário de nascimento de Amália cujo programa prevê a
edição pelo Jornal do Fundão de um livro com ilustrações do arquiteto Álvaro
Siza Vieira e um mural de arte urbana assinado por Frederico Draw que se
localiza nas imediações da Praça Amália Rodrigues.
Ao longo de um ano haverá, também
no Fundão, um conjunto de iniciativas culturais como a estreia em dezembro de
2020 de um Musical assinado por Rita Ribeiro com figurinos de Carlos Gil
(estilista do Fundão), um concerto com Mariza em agosto de 2021 ou a atuação de
Lula Pena também no Fundão mas em outubro do próximo ano.