terça-feira, julho 14, 2020

Centenário Amália Rodrigues

O Fundão está na rota das comemorações do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Expoente máximo do fado, mulher amada ou rainha do fado, Amália nem sempre foi acarinhada pelo seu Fundão.  Isso mesmo confirmaram no programa «Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova da Beira os convidados da emissão de dia 12 de julho que quiseram partilhar comigo e com os seguidores do programa, que está no ar desde 2013, os convidados da mesa redonda radiofónica que antecede um conjunto de iniciativas concelhios a realizar no Fundão a partir do dia 23 de julho.



Estórias com gente dentro numa conversa com José Manuel Lopes Rodrigues (sobrinho de Amália Rodrigues), António Fernandes (escritor e cronista) José Filipe Gonçalves (primo de Amália) e Alcina Cerdeira (vereadora da cultura no Município do Fundão).  


Das comemorações à memória viva de Amália Rodrigues num registo informal e emotivo que podem ouvir neste link: 


Amália da Piedade Rebordão Rodrigues não passava despercebida, “atraia a rapaziada, toda a gente queria estar com ela, mulher de visão libertadora que também gostava de passear”, disseram os meus interlocutores na telefonia.

Trovadora triste e melancólica mas também alegre e feliz, assim a descreve o sobrinho José Manuel Lopes Rodrigues que se lembra da “tristeza e algum desgosto” que caracterizavam Amália sempre que recordava as passagens pelo Fundão.

Na então vila onde chegou a atuar no Casino, havia uma elite feminina desconfortável com a presença da embaixadora do fado. Realidades indesmentíveis dizem os vários registos consultados na imprensa de época e no Jornal do Fundão, semanário onde chegaram a ser publicadas intervenções públicas quanto aos atrasos na entrega da Medalha de Ouro do Fundão que deveria ter-lhe sido atribuída em vida.

“O Fundão não tem grande carinho por mim”, diria numa entrevista a fadista cuja condecoração do Município aprovada em 1989 - data dos 50 anos de carreira da artista - nunca recebeu. 
Mais tarde, depois de várias observações e criticas na imprensa, o executivo camarário remediou a falha e entregou ao sobrinho José Manuel Lopes Rodrigues a dita medalha.

De fato Amália foi mal amada no seu Fundão. Há até o registo factual da “atuação de Amália no Casino em 1946, na companhia do Grupo Cénico e a lápide que assinalava a presença da artista desapareceu”.
Oriunda de uma família modesta e numerosa, Amália Rodrigues que os admiradores caracterizavam como “rouxinol da senhora da Conceição” era afinal uma beirã que também deu concertos na Covilhã.
“Certa vez chegou a casa da minha mãe já de madrugada e apesar da hora tardia houve anedotas, bolos da Joaquina do forno e queijo curado” partilhou o primo José Filipe Gonçalves.

António Alves Fernandes, fã incondicional de Amália, recorda-se do pai “apaixonado” pelo percurso, dotes vocais e talento da fadista maior, encarada pela imprensa da especialidade como uma artista “com futuro risonho”, prognosticavam.

Memórias partilhadas no programa «Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova da Beira onde foi possível revistar a ida de Amália à Santa Luzia, com Varela Silva e a irmão Celeste Rodrigues, entoando cânticos alusivos à padroeira da visão e num carro de bois bastante bem enfeitado, revelaram.

Uma conversa que antecipou a comemoração local do centenário de nascimento de Amália cujo programa prevê a edição pelo Jornal do Fundão de um livro com ilustrações do arquiteto Álvaro Siza Vieira e um mural de arte urbana assinado por Frederico Draw que se localiza nas imediações da Praça Amália Rodrigues.


Ao longo de um ano haverá, também no Fundão, um conjunto de iniciativas culturais como a estreia em dezembro de 2020 de um Musical assinado por Rita Ribeiro com figurinos de Carlos Gil (estilista do Fundão), um concerto com Mariza em agosto de 2021 ou a atuação de Lula Pena também no Fundão mas em outubro do próximo ano.
A programação está disponível aqui https://centenarioamaliarodrigues.pt/tag/mais-programas/

sábado, junho 27, 2020

Parabéns Nanda

Chegar aos 60 rodeada de amig@s.
Nada de surpreendente se a aniversariante é amiga de muitas pessoas.
Em várias geografias.

Cada uma de nós mora, à sua maneira, nas gavetas da Neves, da Nanda, da Fernanda, da moça da pastelaria Jardim.
Quase toda a gente conhece a Nanda ou a pastelaria da Nanda.

Pela simpatia e acolhimento. Pela forma como se envolve na vida da comunidade. Pela popularidade.
Fundamentalmente pela generosidade que caracteriza a Nanda.



Não tenho presente o ano em que nos conhecemos. Sei que, ainda menina e aprendiz de jornalista, tinha [e ainda tenho] na Nanda e na sua pastelaria um porto de abrigo para tudo o que fosse [seja] preciso.

Da Nanda e do seu saudoso pai recebi muitas vezes deliciosas tostas mistas ou generosas sandes que um confeccionada e o outro - a Nanda - levava ao segundo andar do prédio no Beco dos Borracheiros ou Rua 5 de Outubro onde durante anos se fez a Rádio Jornal do Fundão.

A Nanda fonte de informação. É das pessoas que mais conhece @s transeuntes da cidade e arredores.
A Nanda alerta. Uma espécie de provedora do cidadão comum com problemas como os nossos e dos quais subtraia informação tantas vezes importante na busca de notícias ou no cruzamento de fontes fidedignas de informação.

Ela e a pastelaria, negócio de família, onde me tenho cruzado com tantas das minhas pessoas ou protagonistas de outras realidades que povoam a minha própria existência.

A Nanda que recebia o telegrama do meu admirador secreto ou observava os namoricos da minha eterna juventude.

A mulher que tantas vezes foi ombro amigo e me secou as lágrimas no fatídico ano de 1996. E nos meses que antecedem a morte da minha amada mãe.
Deve ser por isso que ainda sei de cor o telefone da pastelaria Jardim.
 
É também por isso que aqui alinho estas breves palavras de gratidão à dedicação da Nanda.
Esta é uma narrativa de saudade dos tempos idos.
Uma janela para a memória dos dias claros pois a amizade entre as pessoas deve ser sempre transparente e límpida.



Parabéns querida Nanda. Parabéns pelos 60 !

Oxalá consigamos continuar por aqui, por aí, a celebrar a vida e cantar vivas à Amizade.
Como o fizemos neste dia 27-06-2020, ainda sob as regras de um estado de calamidade que já foi de emergência e nos obrigou a ficar confinadas à nossa casa e família chegada.

Memorizando: Chegaste aos 60 no ano da pandemia covid 19.

Brindemos à vida.
À saúde.
À tua saúde e das pessoas que mais gostas.


Abraço. 

terça-feira, junho 23, 2020

Memória anos 70

No outro dia a RTP Memória surpreendeu-nos com a transmissão de um documentário sobre as tradições religiosas de Castelo Novo e o calendário agrícola. As filmagens remetem-nos para o ano de 1973 do século XX e são uma viagem pela preparação das festas do Corpo de Deus.

«Ensaio» é o título do documentário que pode revisitar nestes dois links:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-i/

Neste vídeo observamos o cruzeiro, estradas romanas, vista geral, castelo, lagareta (ruína romana); declarações de José Falcão, presidente da Junta de Freguesia, junto a cruzeiro, sobre a Freguesia e a emigração, intercaladas com imagens de brasão na fachada da Casa da Família Falcão, Chafariz Fundeiro, frontaria da Igreja Matriz, varanda de madeira, fachada de capela e detalhes do sino e da cruz, pormenores de janelas e ruas. 

Seguem-se "Os Trabalhos do Campo": camponesas a sacharem milho; comentários de camponesas sobre o trabalho agrícola e a família; declarações de José Falcão, sobre a antiga fábrica de lanifícios, intercaladas com imagens do edifício fabril degradado. 

"A Urdidura do Fio": fios de linho esticados; caixa com novelos de algodão; Maria Saraiva, urdideira, a trabalhar o fio de linho e declarações da mesma sobre a atividade, os utensílios usados e a vida familiar; vista geral de Castelo Novo; capela: detalhe de sino e escadaria; jornalista entrevista José Falcão sobre as Festas do Corpo de Deus e o leilão de beneficência; fiéis em frente à Igreja Matriz. 

"A Procissão do Corpo de Deus": procissão do Corpo de Deus: pessoas a sair da Igreja Matriz, a descer as ruas, a passar junto do Pelourinho e à Casa da Câmara; torre com relógio; movimento de rua.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-ii/


Na preparação das festas: homem a acender e a largar foguete, mulheres com criança pela mão, mesas ao ar livre com fruta, habitantes a conviverem. 

"O Leilão das Fogaças": leilão das fogaças, homem em cima de mesas a leiloar coelho, mesas com as fogaças e populares à volta; comentários de populares sobre a aldeia, intercalados com imagens de leilão, janela com flores e roupa estendida, ruas de Castelo Novo e fachadas de edifícios e mulher em soleira de porta. 

"Conversa com o Pregoeiro": entrevista a José António Campos, leiloeiro e trabalhador da construção civil, sobre as suas profissões e o interesse em morar em Castelo Novo, intercalados com vista geral da Serra da Gardunha e fachadas de edifícios; declarações de José Falcão sobre o regresso de naturais a Castelo Novo, durante as festas populares e após a reforma, intercaladas com imagens do castelo, alpendre em edifício degradado, vasos de flores em fachadas de edifícios e criança à janela. 

Comentários de José António Campos sobre as diversões existentes em Castelo Novo e as ocupações dos jovens; altifalante em árvore.

 "O Baile": jovens a dançarem em baile na rua e pessoas a assistirem; declarações de José Falcão sobre a Liga de Amigos de Castelo Novo e as infraestruturas planeadas para a aldeia, intercaladas com imagens de homem a trabalhar no campo, fonte e muralha do castelo.

José Falcão, visionário presidente de junta de freguesia num território que chegou a ser sede de concelho e no qual desde sempre se elege a Gardunha, a frescura da água do Alardo e o turismo como elementos de capacitação e valorização da aldeia.

terça-feira, junho 16, 2020

Castelo Novo esse amor sem rosto



Há lugares que de tão mágicos nos exortam a viajar pelo tempo. Castelo Novo, aqui retratado em drone é um desses pontos de paragem obrigatória no reencontro com o ser.

Observar a calmaria desta terra encravada na tantas vezes massacrada serra da Gardunha é alimentar a esperança de que um dia a beleza ímpar do casario, a imponência dos monumentos e as características da paisagem haverão de devolver a Castelo Novo a vida que merece.

A Aldeia Histórica de Portugal será, então, mais que memória e promessas adiadas. Será vida de pleno direito com investimento publico à altura de uma povoação amada pelos visitantes.

Amar Castelo Novo é senti-lo muito para lá das pessoas. É perceber que esta geografia que nos inspira não nos trai, como tantas vezes o homem traiu esta jóia do nosso património.

Castelo Novo é paz, serenidade e sensação de segurança. É sonho e horizonte de glória.

É acreditar que em cada dia há uma nova luz de esperança a fazer-nos ficar.

Voltar. Uma e outra vez. Sempre na expectativa de a capacitarmos.

Castelo Novo, um amor sem rosto!

sábado, maio 23, 2020

Desconfinando


Registo para memória futura do rendez vous entre amigas, dois meses e meio após a declaração de pandemia por causa do Covid-19. Seguiu-se o Estado de Emergência e depois o de Calamidade. 

Agora que estamos à  beira de uma nova fase do desconfinamento não resistimos à tentação de afogar a saudade na gulosa sangria tinta que a nossa Nanda preparou para o lanche com produtos locais e como sinal da nossa resistência à maior ameaça recente da humanidade. 

Cansadas deste novo normal que para todas nós é  uma espécie de degredo resolvemos desafiar a sorte e dizer presente.  A vida é  para ser vivida, mesmo se o inominável bicho não nos deixa abraçar, largar a máscara e retomar a regularidade de cada final de sexta-feira. Mas este reencontro que soube a esperança faz-nos antever resiliência e  determinação na luta pela saúde de todas as pessoas. 


Foi uma vez sem exemplo, mas quando esta guerra silenciosa terminar iremos celebrar a resistência num mega jantar com  tudo aquilo a que temos direito.


sexta-feira, abril 24, 2020

Instantes do Meu Confinamento 6


Já não escrevo diários da pandemia há quase 20 dias.
Estou em semi confinamento há mais de um mês. Tantos dias, quantas as vezes que fui e vim do trabalho.
Estas viagens casa - Santa Casa da Misericórdia do Fundão com direito a paragens pontuais para abastecer a despensa cá de casa têm-me deixado respirar. 

Pouco mais que isso.

Contrariando a expectativa inicial que apontava para um período de algum relaxe nas obrigações profissionais e tempo, com fartura,  para devolver disponibilidade e entrega a mil coisas pendentes revelou-se um engano.

Eu vou e venho, ligo e desligo o pensamento das obrigações.  Mas não consigo ter energia suficiente para me concentrar em algo prazeroso, aprazível, capaz de me fazer sentir plenamente feliz.

Hoje confessava a uma amiga a minha frustração e aborrecimento interior quanto à incapacidade de dar expressão escrita às múltiplas vivências que têm caracterizado este mês e tal de conversação factual com profissionais do Terceiro Setor. Pessoas como nós  que, de forma exemplar,  têm vivido a pandemia da covid 19 com um sentido de entrega e criatividade ímpares. 

E chegam-me relatos de pessoas igualmente excecionais cuja batalha contra o coronavírus se tem revestido de tantas narrativas emotivas e cheias de vida!

Que preguiça mental é esta que me devora a mente e faz de mim um ser incapaz de concentrar-se na essência das experiências maiores e cheias de sentimento?!

Que espécie de cansaço mental se abateu sobre mim que não vislumbro uma luz para o ócio?



Reflexões, no exato momento em que a memória me recorda: Dulce tens horas de perguntas e respostas cujo conteúdo precisas transcrever, dando continuidade a um dos mais importantes projetos do corrente ano.

Raios partam a pandemia, a passividade ou a saudade das semanas que chegavam ao fim com direito ao exercício mental de realizar as conversas no «Porque Hoje é Domingo» na Rádio Cova da Beira.

Depois havia os jantares com as amigas de uma vida, os lanches e petiscos na nossa amada Nanda.

Desta vez nem fizemos o ajuntamento maior que assinalava o fim do Inverno e a chegada da Primavera !

Conseguiremos despedir-nos do Outono?


Saudades vossas minhas aranhiças do coração!



quarta-feira, abril 08, 2020

Instantes do Meu Confinamento 5


Quando Esperar não é uma perda de tempo
Sempre fui avessa ao nim, nem não nem sim, ao logo se vê, depois falamos, cada coisa a seu tempo.



Não é que seja uma mulher aparelhada, de sofisticada tecnologia, mais rápida que o vento.  Mas sempre achei que não temos tempo a perder.
Havia situações em que repetidamente brincava com as notícias que davam conta da constituição de mais uma comissão, grupo de trabalho, conselho consultivo …. Blá blá blá.

Na verdade sempre fui muito de mais vale uma má decisão do que uma não decisão.
Agora que vivo há três semanas entre casa e o serviço sem direito a outras vidas dou comigo a experienciar uma condição, até agora, pouco provável em mim.

A condição da espera. Esperar que tudo acabe em bem. Que a minha família, amigos, conhecidos e a organização onde passo os dias consigam ultrapassar esta pandemia sem sobressaltos maiores.

Nesta já longa espera sinto que aprendi a viver sem as jantaradas de sexta-feira, sem mais uns sapatos, uma carteira ou um vestido novo.
De hoje para amanhã, creio até que serei capaz de encontrar uma solução para as raízes dos meus caracóis. 

Uma solução que em nada tem a ver com o registo habitual do se a cabeleira A não pode, a B deve ter uma aberta. Posso sempre recorrer à C.
E neste instante ocorre-me a infância em Castelo Novo, entre a serra da Gardunha e a Aldeia e a véspera de um casamento em Louriçal do Campo. Eu e a minha irmã Paula, meninas de tenra idade, pais sem recursos e logística para irmos ao cabeleiro a Alpedrinha. Vai daí o nosso pai improvisa e leva-nos ao barbeiro.
Saímos de lá com uma tijela na cabeça. Literalmente!

Tudo tem solução, diziam os meus pais do alto da experiência de quem sempre viveu com pouco.
Com pouco e sem pressa. A serra da Gardunha tinha, ainda tem, esse poder de ajudar-nos a caminhar com vagar.



Vivamos então esta pandemia com a ponderação e recomendações de quem sabe. Sejamos cautelosos e capazes de esperar pelo fim deste tempo impeditivo de tantas situações que afinal se afiguram não essenciais.
Essencial é continuarmos aqui para contar a história.

Retemperando energias com a memória dos dias bons. Reflexos da nossa existência aparentemente comum mas com bases sólidas para hoje em dia sermos capazes de esperar que a tempestade passe para relançarmos as sementes da amizade e do amor entre pares.
Todo o amor verdadeiro se faz de uma longa espera

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...