Quando em setembro de 2018 fui ao encontro de José Lopes
Nunes para gravarmos uma conversa para o meu «Porque Hoje é Domingo» na Rádio
Cova da Beira, estava longe de imaginar que a «Casa Portugal», onde fui ter com
o Jolon, estaria na eminência de fechar portas.
Leio agora na imprensa falada e digital que o Jolon encerrou
a loja localizada na Rua 25 de Abril, uma das mais movimentadas da Vila de Penamacor.
Ouvi-o na Rádio a confessando-se “constrangido” por encerrar a loja onde esteve
mais de 45 anos, como verdadeiro prestador de serviços às populações.
A «Casa Portugal» com mais de 100 anos já foi loja de seguros
e outros serviços. Foi, fundamentalmente, paragem regular para “Adelino Galhardo,
Rodrigues da Silva ou o poeta Domingos Campos”. “Amigos que às dez e meia
vinham aqui para o café”, recorda, já com saudade, o homem que nos habituamos a
ler nas estórias publicadas no Jornal do Fundão e nos livros entretanto
editados.
“Não me sinto um pássaro fora da gaiola, por ter mais
liberdade para a fotografia, pesca e escrita. Saio daqui com um misto de
satisfação pelo serviço público que desenvolvi ao longo da vida e alguma
preocupação por sentir que farei falta a muitas pessoas que aqui vinham”, contou
ao Luís Seguro numa conversa que ouvi na telefonia.
Efetivamente, a «Casa Portugal», era muito mais que uma
retrosaria povoada de coloridos mostruários de linhas e outras utilidades
associadas à renda, bordados e arte de transformar tecidos. Quando lá cheguei,
naquela manhã de setembro, já tinha “clientes”.
Clientes entre aspas, pois na verdade quem procurava a «Casa Portugal»
fazia-o mais para partilhar situações, estórias e vivências que muitas vezes
enriqueceram a prosa do fotógrafo e repórter José Lopes Nunes.
“Muitas vezes as pessoas passavam ali e faziam-me adeus”,
partiam do princípio que eu estava cá dentro”. Isso mesmo referiu no «Porque
Hoje é Domingo» de dia 9 de setembro de 2018 José Lopes Nunes. Agora que o “mais
antigo comércio tradicional de Penamacor” encerra, certamente que os
transeuntes deixarão de acenar ao Jolon.
O rés do chão da loja de Jolon também era espaço para debater
o território, partilhar episódios políticos, perceber sensibilidades. Tantas vezes
dirigentes, pessoas singulares e gente anónima, chegados a Penamacor,
procuravam a casa das linhas do Jolon.
Naquele dia, após a gravação do programa (pode recordá-lo
aqui https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-224-09-setembro-2018-jos%C3%A9-lopes-nunes-jolon/)
regressámos à «Casa Portugal» e lá estava um político da terra. Francisco Abreu,
militante do PS, ex- autarca e ex- delegado distrital do Instituto Português da
Juventude. Foi um reencontro feliz com alguém a quem as conversas à volta da
Beira e seus territórios entre a fronteira, as serranias e o regadio dizem
bastante.
Ali ficamos alguns instantes a falar de pessoas mais ou
menos mediáticas. Recordamos José Luís Gonçalves, António José Seguro; Jorge Seguro
Sanches, – figuras políticas marcantes com quem tantas vezes me cruzei no exercício
responsável de informar- e os dias em que Francisco abreu foi cronista na Rádio
Jornal do Fundão. Ficámos de falar num registo menos informal no «Porque Hoje é
Domingo».
O tempo corre veloz e num ano não levei o Francisco Abreu à
Rádio Cova da Beira! Lembro-o agora neste registo saudosista da importância da
«Casa Portugal» na movida de Penamacor.
Estou certa que o Jolon saberá reencontrar-se com os amigos
de sempre num outro local cheio de luz, com vista para a Malcata, foco na sua
amada Aranhas ou com Espanha no horizonte.
Vida longa ao José Lopes Nunes que é um conhecedor profundo
de Penamacor, das suas gentes na vila e nas aldeias.
1 comentário:
Creio que está tudo dito, ou melhor, quase tudo. As amizades e encontros prosseguirão em qualquer lugar e em qualquer momento.
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