Natural e residente na Covilhã, Fátima Nina foi hoje galardoada em Roma com o prémio melhor presépio estrangeiro.
Um prémio pela obra apresentada no decurso da exposição colectiva de presépios que decorreu de Novembro até dia 7 de janeiro na capital italiana.
A mostra organizada Rivista delle Nazioni, reuniu mais de centena e meia de obras de artistas de Itália e do resto do mundo. O presépio de Fátima Nina integrou o conjunto dos 41 conjuntos apresentados por criadores de fora de Itália e valeu à designer de moda a participar na "Exposição Internacional 100 Presépios" e trazer para Portugal um troféu de que muito se orgulha.
A artista que expôs em Itália a convite da Embaixada de Portugal na Santa Sé apresentou um presépio de cores vivas e concretizado a partir de tecidos especiais.
Fátima Nina é uma mulher bastante inspiradora. Em novembro do ano passado tive o grato gosto de a entrevistar para o meu programa "Porque Hoje é Domingo" na Rádio Cova da Beira e já nessa altura a expectativa da artista era eladíssima.
De resto, é com gosto que aqui recupero o texto jornalístico que escrevi para o Jornal do Fundão, também em novembro último, sobre uma das pessoas mais criativas que conheço.
Aqui está
Fátima
Pereira Nina tem uma relação umbilical com a arte. Sempre gostou muito de
formas, cores e tecidos. É uma artista plástica que iniciou o percurso em
Lisboa quando se licenciou em designe
de moda. Viveu em Paris e voltou à cidade berço para desenhar modelos para
coleções de uma empresa de lanifícios. Os tecidos e a moldagem dos mesmos
continuam a fazer parte da vida desta covilhanense que ama a sua terra e se
inspira nas suas paisagens e na canção francesa para criar.
“Se
os filhos de Adão tocaram, os da Covilhã sempre cardaram”. A frase está
inscrita no painel dedicado aos lanifícios que se encontra no hotel “Pura Lã”
na Covilhã. A obra assinada pela designer
e artista plástica Fátima Pereira Nina é “um memorando complexo todo feito com
lã e fios e que através de oito painéis nos transporta até à paisagem das
ribeiras, da pastorícia, dos teares ou das chaminés das fábricas”. A obra
constitui um dos mais recentes trabalhos da nossa convidada para a rubrica “Um
Café Com”.
Desta
vez o ponto de encontro é o atelier
da covilhanense Fátima Pereira Nina, uma artista plástica conhecida sobretudo
pela vasta obra dedicada aos presépios e à mulher. O trabalho a partir do
movimento escultural da mulher, o feminino a partir de folhas de árvores ou de
ouriços são os motivos mais conhecidos da obra da artesã que se diz apaixonada
pela história do traje e que se deixa fascinar pela liberdade criativa de cada
um. “Nós hoje somos livres de criar o nosso próprio estilo”, refere a artista
plástica que por estes dias terá trabalhos seus expostos em Roma, Lisboa e
Coimbra. “Em Itália vou estar representada, a partir de dia 24 de novembro,
numa coletiva de presépios de que muito me orgulho”, refere Fátima Nina ao
mesmo tempo que deixa escapar um lamento:” Desta vez deixei escapar o Porto,
não tive tempo para criar uma obra especifica para a mostra”.
Esta
é altura do calendário em que Fátima Nina tem mais trabalho. “Até ao fim de
novembro tenho de concluir cerca de 50 presépios”, explica-nos a artista no
momento em que nos serve um café no soalheiro atelier localizado nas imediações
do Centro Hospitalar Cova da Beira e com vistas para o Data Center da Covilhã e para a serra da Gardunha.
“Outono
significa agarrar-me ao trabalho, as pastas secam ao ar livre e as temperaturas
mais frescas que no Verão permitem que o processo de secagem seja lento e
eficaz”, explica-nos a artista que guarda os meses de julho e agosto para se
dedicar à pintura ou para viajar até à sua segunda cidade. Lisboa.
Rendida
aos campos da Beira Baixa, Fátima Nina conta-nos através da janela para a
Gardunha como a paleta de cores a inspira para realizar novos trabalhos e
cumprir uma agenda que a no próximo ano lhe permitirá apresentar-se numa
exposição “francófona em que a figura feminina estará presente e de forma mais
evidente, pois a mulher terá mais porte mas estará igualmente bela”. A par
desta mostra que em princípio ocorrerá em Lisboa, Fátima Nina prepara-se para
desenvolver um outro trabalho criativo em que aparecerão as telas e que terá o
contributo do artista do Tortosendo Pedro Goulão Taborda.
A
mostra programada para 2018 será mais uma a inscrever no percurso da artista
que tem no Palácio de Rio Frio em Palmela um dos lugares onde mais gostou de
expor. Mas também o Porto, onde esteve pela primeira vez em 2014, ou cidades
como Sabugal, Coimbra, Lisboa e claro, a sua Covilhã! A cidade da lã e da neve
que recorda como uma geografia “como um lugar povoado pelo barulho das
máquinas, os cheiros e outras características especiais” das quais “não tenho
saudades” pois prefere identificar-se com a UBI e a valorização das antigas
unidades fabris fomentando a preservação de um património industrial a que se
junta agora a arte urbana.
“Aprecio
muito, descobri há pouco tempo essa riqueza e confesso que não estava à espera
do que vi”, revela quem se inspira “nas árvores e nos castanheiros da Beira”
para criar a árvore como escultura feminina e a copa como o rosto da mulher ou
personagens do portfólio onde figuram os tradicionais presépios com São José,
Nossa Senhora e os Reis Magos, ou outras obras como os Homens Forcados e
Toureiros, os Bailaricos e as Rainhas de Portugal.
Nessa
como em todas as obras Fátima Nina projeta a figura feminina e inspira-se na
canção francesa para juntar tecidos e outra matéria-prima. No atelier podemos observar trabalhos com
esfregão de arame mas também com papel de alumínio, folhas de ferro forjado,
cortiça, linho em rama ou arame. À pergunta sobre como e quando decidiu
enveredar pela arte de transformar matérias em aclamadas peças decorativas,
Fátima solta uma contagiante gargalhada, conta-nos que começou por “precisar de
fazer um presépio e uma vez que conhecia a técnica começou a fazer
experiências”. Iniciou com uma Nossa Senhora, diz-se uma pessoa criativa que
“gosta muito de criar formas de moda” e há mais de dez anos que se dedica
afincadamente ao ofício.
Sobre
a moda propriamente dita, Fátima confessa-se desligada das novas tendências mas
reconhece que “há um enorme potencial de gente a criar e a fazer diferente”.
“Sigo um ou outro, acompanho o fantástico Carlos Gil mas não estou em condições
de analisar com sentido critico o trabalho seja de quem for”, esclarece.
Não
se assume como feminista mas não se furta a elogios e odes à mulher e à
condição feminina. “A mais importante, a mais bela dos seres”, vinca.
Indigna-se facilmente com a desigualdade de género e «explode» quando a
televisão e os jornais lhe mostram a crueldade da violência doméstica. O grau
de revolta quanto à ausência de oportunidades para a generalidade das mulheres
só tem paralelo com a narrativa à volta do flagelo dos incêndios que no último
Verão varreu paisagens de que tanto gosta. “Um horror que me entrou pela janela
e me deixou chocada e preocupada com o futuro”.