Priscila Borges Franco, mestre em Design de
Moda pela Universidade da Beira Interior apresentou a sua colecção
Primavera/Verão 2014 no Portugal Fashion. O convite surgiu depois de ter ganho
o concurso Portuguese Fashion News/Modtissimo. Natural do Brasil a jovem que se
apaixonou pela Covilhã ruma a Edimburgo na Escócia para fazer o doutoramento em
sensores têxteis incorporados.
A conversa decorreu no Serra Shopping da Covilhã um dia depois de Pritt
(nome artístico) de 31 anos ter vivido uma das mais importantes experiências no
mundo da moda. Mostrar as suas criações no palco dos novos talentos do Portugal Fashion. Na véspera de apanhar
voo de regresso ao Brasil a jovem designer
de moda partilhou com o JF a aventura de casar e viver ao lado da sua
cara-metade numa cidade com menos 650 mil habitantes que Uberlândia no estado
de Minas Gerais. Nada que a tenha transtornado pois a ideia de um povoado junto
à serra da Estrela sem movimento nem diversão rapidamente caiu por terra e o
casal vê a Covilhã como um território próspero e cosmopolita. “A Covilhã já foi
um centro económico importantíssimo para Portugal e embora tenha perdido alguma
dessa influência, carrega uma história valiosa em tudo idêntica à de muitos Portugueses
que conseguiram grandes feitos e descobertas”, afirma a jovem estudante que nos
dois anos em que viveu na Beira Interior não esqueceu de conhecer a terra do
descobridor Pedro Álvares Cabral. Foi na Covilhã que se desenvolveu toda a
estratégia de participação em iniciativas que pudessem abrir horizontes no
mundo da moda. Pritt participou com mais duas colegas da UBI num concurso
europeu em França que lhe permitiu conhecer gente de toda a Europa, e nessa
altura constatou que a UBI é conhecida no estrangeiro. Nessa altura teve a
primeira oportunidade de mostrar a sua capacidade de trabalhar a lã e o burel.
“Estando na serra da Estrela fui a Manteigas ver uma exploração de burel e por
lá inspirei-me no pastor, criei duas peças de burel, um tecido excelente para
desenvolver um vestido longo de cerimónia e um outro conjunto prêt à porter para o dia-a-dia baseado
na realidade da calça larga do guardador de gado mais o colete e o boné. Foi
uma experiência muito enriquecedora trabalhar a lã cardada e no burel”, conclui
Pritt. “Agradeço à Universidade da Beira Interior por todo o apoio e incentivo
que recebi nestes dois anos que aqui estive. A universidade foi fundamental
para expandir os meus conhecimentos e horizontes e com este desfile, no maior
evento de moda de Portugal, recebo o reconhecimento público de toda a formação
que aqui adquiri”, salienta a designer que,
no último fim-de-semana, mostrou as suas coordenadas na Passerellle Bloom do Portugal Fashion. Na passadeira para
estreantes Priscila Franco apresentou conjuntos para a próxima Primavera/Verão
cujas fotos foram imediatamente publicados no site da prestigiada Vogue. Mas chegar ao Portugal Fashion implicou a realização
de outros trabalhos, vencendo outras provas de fogo. Foi assim há um ano no Modtissimo no Porto, uma exposição
técnica onde as empresas de Portugal e do estrangeiro mostram tecidos dando
oportunidade a novos designers. “A
organização vai às universidades em busca dos melhores e através da UBI pude
participar, na edição de Outubro de 2012, com o trabalho para os desfiles e
outras provas. Fiquei em primeiro lugar com um trabalho vanguardista dedicado
ao tema Galáxia XXI. A ideia foi criar
algo diferenciado num tecido às riscas e num outro tecido de xadrez pouco recto.
Um vestido de alças longo e no qual todas as riscas se encontraram. Criei ainda
um casaco inspirado nos discos voadores com várias camadas, uma espécie de ovni
com várias linhas à volta da nave”. O primeiro lugar permitiu à designer entrar directamente no espaço
novos talentos do Portugal Fashion e
um prémio de 300 euros que foi o valor atribuído pelo Modtissimo à criação vencedora. Pritt começou a estudar moda aos vinte
e sete anos mas está orgulhosa de ter partilhado a passerelle dos novos
talentos com outros designer que estão “a desabrochar para a fama”. Na
alfândega do Porto apresentou, então, oito coordenadas às quais atribuiu o nome de “Colecção Ogive”, inspirada nas formas
ogivais que estão presentes na arquitetura de estilo gótico. “Com esta
inspiração simples, a coleção surgiu com curvas sensuais e fortes, marcando a
feminilidade de uma mulher jovial, urbana e que gosta de estar elegante, com um
toque de sportswear”. As cores da colecção são marcadamente claras e traduzem a
jovialidade da mulher, que carregando muitas responsabilidades, é uma
personagem alegre. De resto, a nacionalidade tropical da criadora, traduz-se na
utilização de cores vivas nas colecções. Foi uma jovem de ADN contagiante aquela
que tomou café connosco. Pritt leva na bagagem toda a experiência académica que
a UBI lhe proporcionou mas também um coração cheio de memórias de uma Covilhã
cujo “património deveria ser conservado”. E dá o exemplo do palacete junto ao
Jardim Público da cidade como um dos “mais bonitos edifícios onde apetece
morar”. Chegou à Covilhã com uma mão à frente e outra atrás mas leva uma mala
cheia de recordações e o sonho de voltar a Portugal para desenvolver as suas competências
em empresas como a Paulo de Oliveira ou a Penteadora e conhecer melhor os
estilistas Carlos Gil e Miguel Gigante.
Publicado no Jornal do Fundão de 31 de Outubro de 2013
Publicado no Jornal do Fundão de 31 de Outubro de 2013