Regressei ao "berço".
"Plantei" flores de saudade e revivi memórias dos antepassados. Um tempo ausente, mas muito presente.
Revisitar lugares que são nossos por natureza ou apenas por afeto e emotividade pode revelar-se uma "carga de trabalhos".
Quer isto dizer que a saudade me tomou os passos e o olhar deixou dores no pescoço. Às vezes olhamos para trás e a menina do olho prende-se no infindável mundo das recordações.
Primeiro as emocionais. Depois as paisagens. A seguir os gestos. Também as palavras ditas. As mesmas que neste domingo de abril me revisitaram. Algumas guardo-as em mim. Outras vou partilhá-las aqui.
Saberá o leitor como é revisitar "o berço" e darmos-nos conta de que já lá não mora quase ninguém?
Muitas vezes nem as boas memórias e o ecoar das brincadeiras de outrora apagam esta sensação fúnebre de que poderemos ser dos últimos a regressar ao "berço".
Naquele dia não era a única viajante. Nem só meus passos percorreram as estreitas ruas ladeadas do casario fechado.
Felizmente, vão aparecendo outros viajantes. Poucos!
Muito menos que o número de residentes que este postal dos anos 20 nos mostra.
Ai como custa regressar ao "berço" e dar-me conta de como o silêncio reinante é premonitório do fim das nossas aldeias!
Fracções de memórias passadas. Tempos idos e diluídos na espuma dos dias. A actualidade desta Beira que é a nossa!
terça-feira, abril 12, 2016
“O Deputado da Nação” apresentado no Fundão
“Uma
implacável sátira à classe política” e à volta de todos quantos sobrepõem o
interesse pessoal ao interesse coletivo.
Eis, em resumo, o novo livro de Manuel da Silva Ramos.
Escrito em parceria com outro escritor, Miguel Real, o livro narra a história de Umbelino Damião.
Eis, em resumo, o novo livro de Manuel da Silva Ramos.
Escrito em parceria com outro escritor, Miguel Real, o livro narra a história de Umbelino Damião.
Editado pela Parsifal o livro convoca o leitor para a “liberdade de expressão e o tom jocoso” de Manuel da Silva Ramos a que se junta “o tom histórico e linguagem abstrata” de Miguel Real. Para Miguel Real “O Deputado da Nação” é uma narrativa muito atual. “É uma caricatura dos deputados que uma vez no parlamento conseguem promover os negócios e contribuem para o descrédito da política”.
Já Manuel da Silva Ramos destaca como “O Deputado da Nação” encerra a trilogia iniciada com o livro de Miguel Real “A Morte de Portugal” e o trabalho assinado pelo escritor covilhanense “A Impunidade das Trevas e os Perfumes Eróticos” que retrataram os efeitos da austeridade em Portugal.
E
Silva Ramos deixa o sonho: “Que Portugal passe a ter uma Assembleia da República
virgem, sem gente corrupta”.
O
livro foi apresentado pelo jornalista Fernando Paulouro, para quem o livro é
"uma sátira implacável à sociedade atual". Fernando Paulouro encontra
em “O Deputado da Nação” traços da literatura de Camilo e de Eça, embora à
época não houvesse "mecanismos tão peritos" de negociata e de
promiscuidade político-económica.
Sublinhando o fato de o livro permitir viajar entre Lisboa e a Gardunha ou a Covilhã pois foi escrito a quatro mãos, Paulouro descreve o livro como sendo “muito bem-disposto” mas sem esquecer os “problemas graves da sociedade portuguesa”. “Da emigração à caricatura de políticos muito conhecidos da atualidade”. “Um livro capaz de nos mostrar como os deputados observam no exercício da política uma possibilidade de enriquecimento”, explicou Fernando Paulouro, acrescentando que o livro apresenta ainda "uma divertida caricatura da justiça".http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/media/201604111636-o_deputado_final_.mp3
Sublinhando o fato de o livro permitir viajar entre Lisboa e a Gardunha ou a Covilhã pois foi escrito a quatro mãos, Paulouro descreve o livro como sendo “muito bem-disposto” mas sem esquecer os “problemas graves da sociedade portuguesa”. “Da emigração à caricatura de políticos muito conhecidos da atualidade”. “Um livro capaz de nos mostrar como os deputados observam no exercício da política uma possibilidade de enriquecimento”, explicou Fernando Paulouro, acrescentando que o livro apresenta ainda "uma divertida caricatura da justiça".http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/media/201604111636-o_deputado_final_.mp3
domingo, agosto 10, 2014
Galeria de Arte imortaliza pintura de Manuela Justino
Um conjunto de obras de
pintura e tapeçaria da malograda Manuela Justino integram a Galaria de Arte
Manuela Justino que foi recentemente inaugurada na Aldeia Histórica de Castelo
Novo.
O espaço resulta do aproveitamento de uma antiga cavalariça e fica no número 13 da rua professor Gonçalves Coucho, perto da Associação Sociocultural de Castelo Novo. Um investimento de 100 mil euros, 60% dos quais financiados pelo PRODER.
O espaço resulta do aproveitamento de uma antiga cavalariça e fica no número 13 da rua professor Gonçalves Coucho, perto da Associação Sociocultural de Castelo Novo. Um investimento de 100 mil euros, 60% dos quais financiados pelo PRODER.
Um protocolo entre a
família da pintora falecida há meio ano e o município do Fundão permitiu a
cedência, por um período de trinta anos, de uma parte da obra da pintora e
tapeceira que adoptou Castelo Novo como sua terra de berço. O amor à Beira
Baixa e em particular a Castelo Novo e Alpedrinha foi sublinhado pela filha,
Sofia Durão, à margem da cerimónia de inauguração da Galeria de Arte. Um
momento de saudade e elogio público à obra da pintora cuja última exposição
realizada em vida aconteceu no Palácio do Picadeiro em Alpedrinha. “Sopro de
Água” foi o título da última mostra de arte na Beira Baixa. “A homenagem às
fontes, chafarizes e correntes de água” também acontece na mostra permanente da
Galeria agora inaugurada.
A relação de Manuela Justino com a água e outras fontes da natureza foi sublinhada por Celeste Capelo, presidente da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. “Presto homenagem à autarquia do Fundão por se lembrar dos seus filhos, perpetuando-os através destas iniciativas”, declarou a também amiga de Manuela Justino. Também Aida Rechena, diretora do Museu de Castelo Branco sublinhou as qualidades artísticas e pessoais da pintora prematuramente falecida. Tinha 56 anos! E verbalizou a “forte” relação de proximidade da artista com “a paisagem e o impressionismo abstracto” da obra assim descrita pela própria Manuela Justino.
Uma mulher “generosa, sensível para as questões feministas como se vê na tapeçaria e nos seus quadros” que também estão expostos no Museu Tavares Proença Júnior. O valor artístico de Manuela Justino levará a Câmara Municipal do Fundão (CMF) a atribuir-lhe, a título póstumo, a medalha de ouro da cidade do Fundão. Paulo Fernandes que é presidente da autarquia anunciou-o no dia em que também o município do Fundão prestou tributo à autora “de uma obra extraordinária que nos foi legada pela família de um nome maior nas artes plásticas”, referiu sobre Manuela Justino. A Galeria de Arte estará aberta nos mesmos dias e horários do posto de turismo.
A relação de Manuela Justino com a água e outras fontes da natureza foi sublinhada por Celeste Capelo, presidente da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. “Presto homenagem à autarquia do Fundão por se lembrar dos seus filhos, perpetuando-os através destas iniciativas”, declarou a também amiga de Manuela Justino. Também Aida Rechena, diretora do Museu de Castelo Branco sublinhou as qualidades artísticas e pessoais da pintora prematuramente falecida. Tinha 56 anos! E verbalizou a “forte” relação de proximidade da artista com “a paisagem e o impressionismo abstracto” da obra assim descrita pela própria Manuela Justino.
Uma mulher “generosa, sensível para as questões feministas como se vê na tapeçaria e nos seus quadros” que também estão expostos no Museu Tavares Proença Júnior. O valor artístico de Manuela Justino levará a Câmara Municipal do Fundão (CMF) a atribuir-lhe, a título póstumo, a medalha de ouro da cidade do Fundão. Paulo Fernandes que é presidente da autarquia anunciou-o no dia em que também o município do Fundão prestou tributo à autora “de uma obra extraordinária que nos foi legada pela família de um nome maior nas artes plásticas”, referiu sobre Manuela Justino. A Galeria de Arte estará aberta nos mesmos dias e horários do posto de turismo.
Além da inauguração da
Galeria Manuela Justino, o dia 26 de julho ficou marcado em Castelo Novo pela
inauguração da renovada área de lazer da freguesia. Um investimento de “quinze
mil euros”, integralmente suportados pela junta de freguesia local e que se
traduzem na abertura de uma piscina natural na ribeira de Alpreade.
Paralelamente foram inaugurados cerca de três quilómetros de percurso pedestre à volta da Aldeia Histórica que permitirão ao visitante inteirar-se da riqueza “do caminho da fonte da cale, enquanto sítio emblemático, a Casa da Comenda e o Parque do Alardo, entre outros”. Trata-se de um percurso que ajuda a compreender a malha urbana da localidade. Em termos turísticos, Castelo Novo aguarda a preservação da antiga fábrica dos cobertores pois a CMF “está a concluir as negociações para a aquisição” do imóvel localizado perto da ribeira de Alpreade.
De acordo com Paulo Fernandes, o espaço funcionará como centro de apoio à zona ribeirinha e um complemento à divulgação museológica do património de Castelo Novo. “Vamos procurar parceiros privados para desenvolver a componente de turismo na natureza junto à zona ribeirinha”, acrescentou Paulo Fernandes.
Paralelamente foram inaugurados cerca de três quilómetros de percurso pedestre à volta da Aldeia Histórica que permitirão ao visitante inteirar-se da riqueza “do caminho da fonte da cale, enquanto sítio emblemático, a Casa da Comenda e o Parque do Alardo, entre outros”. Trata-se de um percurso que ajuda a compreender a malha urbana da localidade. Em termos turísticos, Castelo Novo aguarda a preservação da antiga fábrica dos cobertores pois a CMF “está a concluir as negociações para a aquisição” do imóvel localizado perto da ribeira de Alpreade.
De acordo com Paulo Fernandes, o espaço funcionará como centro de apoio à zona ribeirinha e um complemento à divulgação museológica do património de Castelo Novo. “Vamos procurar parceiros privados para desenvolver a componente de turismo na natureza junto à zona ribeirinha”, acrescentou Paulo Fernandes.
Publicado no Jornal do Fundão, edição de 7 de agosto 1014
A Notícia também aqui http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/pag/23152
A Notícia também aqui http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/pag/23152
terça-feira, julho 22, 2014
Artesanato e gastronomia no “Xistrilhos” 2014
Dizem que é o centro do
universo, também lhe chamam o coração do xisto. Sobral de São Miguel no
concelho da Covilhã organizou e recebeu o “Xistrilhos”. A iniciativa deu
seguimento ao “Xisto e Lendas” e o êxito está garantido. No próximo ano, o
segundo fim-de-semana de julho voltará a ser ponto de encontro com o
artesanato, gastronomia e muita animação.
“Trilhando Sensações” foi
o slogan da iniciativa que entre
sexta-feira e domingo foi visitada por centenas de pessoas de toda a região. O
“Xistrilhos” foi organizado por um grupo de pessoas do Sobral que estão
determinadas em dar vida à aldeia do xisto. Suzette Ferreira integrou a organização
e partilhou connosco a satisfação pelo “êxito de um conceito de festa” que este
ano teve alguma inovação. Além das habituais tasquinhas, desta vez a animação
passou pelas várias artérias da iniciativa e o passeio pedestre também passou
por outros trilhos. “Vestígios arqueológicos, gravuras e as marcas dos rodados
da rota do sal” destaca a responsável. Inovadores foram também “o workshop e oficina de trabalhos manuais
sobre como trabalhar a ardósia e o xisto”. A nível gastronómico, “novos
sobralenses aderiram às tasquinhas e apresentaram novos pratos”. Do javali com
legumes, à pica de bacalhau, sem esquecer o feijão com couve à moda das primas
Sarilhas, houve de tudo um pouco. “Foi de comer e gritar por mais” disseram
alguns dos visitantes que no domingo à tarde se deslocaram a Sobral de São
Miguel para uma visita ao certame. Embora São Pedro tenha surpreendido os
convivas com chuva (no dia de sábado) a verdade é que a iniciativa “foi um
êxito” a repetir. E enquanto não chega a próxima edição Adília Pinto e Teresa
Paiva continuarão a dar ao dedo. Uma ocupar-se-á do tear de onde saem bonitos
naperons e painéis de linho bordados a preceito. A outra artesã dedicar-se-á
aos chapéus de renda e algodão. As meias brancas rendadas e os antigos
cobertores que passarão a tapetes multiusos compõem a oferta de quem faz da delicadeza
das mãos ganha-pão para a família. O Xistrilhos regressa dentro de um ano mas
até lá Sobral de são Miguel vai “inaugurar o caminho do xisto”, anunciou a
presidente da junta de freguesia Sandra Ferreira. “Será muito em breve”,
acrescentou. Depois disso, Sobral haverá de ser palco para a realização de “um
evento dedicado ao cogumelo, outro sobre geocaching
e uma feira do queijo corno”.
terça-feira, fevereiro 18, 2014
"Saudade" a rua que é uma família
Na cidade
com uma população flutuante de aproximadamente dez mil pessoas, há lugares que
ganham vida com a chegada dos estudantes. Gente que se governa no decurso do
ano académico e que já não sabe estar sem a movida dos universitários. A
Saudade é um desses lugares de vida e memórias.
O que seria
a Covilhã sem os estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI)? A pergunta
em jeito de resposta marca as conversas entre a repórter e os transeuntes de
uma das ruas mais universitárias da Covilhã. Mas a realidade é comum a outras
artérias de uma cidade onde “existem negócios que sobrevivem à custa dos
estudantes”. É o caso da zona da Anil, bastante procurada pela população
flutuante da Faculdade de Medicina! Além do alojamento e alimentação, a noite e
a dinâmica de vida da gente jovem permitem que a economia local movimente
milhares de euros. Mas centremo-nos na Saudade. Ali é fácil darmo-nos conta da
presença e partida dos estudantes. Quem regressa às origens nunca mais esquece
o bairro. Quem permanece na Covilhã volta à Saudade sempre que a folia aperta.
Mas também há quem não volte e leve na bagagem a saudade os dias, num bairro em
que as, outrora, casas de habitação são hoje segundas casas. E quem passou a
morar em zonas mais chiques da Covilhã, aluga os antigos apartamentos os
estudantes. Até ao número 100 da Rua da Saudade amontoam-se os carros de matrículas
oriundas de outras terras. Há mais movimento nas ruas do que o habitual.
Pessoas que envergam traje académico e com pronúncia do norte. E embora aquela
artéria da zona antiga da Covilhã já não tenha a mesma dinâmica que antecedeu o
nascimento de outros bairros, na zona de expansão da cidade, a verdade é que a
calmaria desaparece mal chegam os estudantes universitários. Além do bulício
crescente, entre a rua e os becos de acesso à Faculdade de Arquitectura ou ao
pólo principal da UBI, das janelas das casas sai o som das canções do mundo.
Música em altos berros, jovens nas varandas e janelas num movimento que ganha
maior expressão nos cafés do bairro. O Café da Saudade é um desses pontos de
confluência de jovens de todo o lado. Não só os residentes no Bairro da Saudade
mas os estudantes que residem em zonas mais caras da Covilhã ou nas residências
académicas. Não há ubiano que desconheça a Saudade. Ponto de referência para
jantaradas de grupo e outras partilhas. Geografia de afectos, gerador de
relações humanas, lugar onde chegam a estabelecer-se relações de quase família.
A imagem da repórter é corroborada por Ester Ferrinho. “Há estudantes que
conheço há mais de dezassete anos. Concluíram o curso, constituíram família e
mantém-se por cá”. A proprietária do Café da Saudade conhece tão bem alguns dos
estudantes da UBI como a própria filha. Os seus gostos e defeitos, basta vê-los
entrar e consegue perceber se já dormiram ou se a noite foi ao relento. “Na
recepção ao caloiro e na semana académico é frequente vê-los a dormir à porta
dos prédios, nas escadas ou nos elevadores. Uma vez num café aqui do bairro,
estavam a regressar e alguns adormeceram debaixo da mesa de snooker”.
Revelações de Ester Ferrinho que reforça o sorriso cúmplice quando recorda os
dias em que lhe cantaram uma serenata. “Umas duas ou três vezes, a última foi a
semana passada e eu gosto. Sinto que também me estimam”. Ester e o marido Júlio
são uma entre muitas famílias covilhanenses que estreitam laços com os jovens
oriundos de vários sítios de Portugal. Gente que muitas vezes é uma espécie de
família de acolhimento com quem os estudantes podem contar. “Às vezes pedem-me
uma aspirina ou uma forma de atenuar a gripe. Também temos quem peça
complacência pela dificuldade e em vez de pagar a conta no dia fá-lo ao fim do
mês. Quando conhecemos bem, gostamos de ajudar e as famílias não esquecem”. A
escolha da Covilhã para estudar não está associada apenas a nota mínima de
entrada nos cursos. Muitas famílias recorrem à cidade neve por saberem tratar-se
de uma terra de dimensão média “em que toda a gente se conhece e onde o custo
de vida é mais económico”. Foi o que aconteceu com o estudante de medicina
Pedro Oliveira. Oriundo de Santa Maria da Feira, o jovem preferiu a Faculdade
de Medicina da Covilhã em vez da Lisboa porque a cidade é mais acolhedora e as
rendas (na Anil que é das zonas mais caras da Covilhã) custam menos duzentos
euros que em Lisboa ou no Porto. Convidado a estabelecer um paralelismo entre a
vida académica numa cidade do interior ou numa capital, Pedro admite que a
dinâmica de festas e iniciativas académicas está concentrada em dois momentos
(recepção e semana académica) mas que poderia “ser mais profícua se diluída ao
longo do período académico. Por outro lado haveria uma maior probabilidade de
estimular a economia”, diz.
Nuno é
covilhanense e reside num dos bairros mais frequentados pela juventude da UBI.
Não tem dúvidas em afirmar que o crescimento exponencial da população académica
“é uma mais-valia” para a Covilhã e contesta a ideia de que entre os
universitários haja gente perdida e com pouco juízo - como dizem alguns habitantes
mais idosos. “São óptimas pessoas, a doideira passa-lhes a fim do primeiro
ano”, esclarece. Alberto de Matos tem 85 anos e reside na
Saudade há mais de vinte. Já morou em outros bairros da cidade, igualmente
povoados de estudantes mas é da Saudade que guarda as maiores recordações da vida
movimentada dos universitários. As festas fora de horas e para as quais nunca
foram convidados mas que entram pela casa adentro de cada um dos moradores
daquela artéria da zona antiga da Covilhã. Memória tem muitas, umas mais
engraçadas que outras. Também tem muito presente o reboliço associado à chegada
de novos “novos magotes de malta” e das tiranias que fazem uns aos outros. Numa
alusão às praxes, Alberto recorda os exageros associados ao consumo de álcool e
partilha connosco episódios como aquele em que uma rapariga queria ficar sem
roupa ao pé do contentor. Gente cheia de vida que ora perturba o sossego dos
outros ora é boa companhia para os dias mais cinzentos. Sobre os comportamentos
acrescenta que os angolanos são mais calmos que os outros. Rafael Ferreira tem 22 anos é natural do Entroncamento e matriculou-se na
Universidade da Beira Interior (UBI) há três anos, por opção. Ainda não
concluiu o curso de Engenharia Civil e já está a desenvolver um projecto
económico que dá trabalho a estudantes mas também os encaminha para as melhores
casas ou na busca de bons resultados lectivos. No último Verão constituiu a ImoStudy, Imobiliária e Centro de
Explicações. Um negócio que vai da ajuda ao arrendamento para estudantes até às
explicações. Rafael quando chegou à Covilhã desconhecia a realidade do
território e muito menos onde se dirigir para obter serviços básicos. Nesse
caso constituiu-se como mediador imobiliário “não burocrático”. Em cada
estudante um amigo é o lema da empresa que já celebrou alguns contractos com
mais de uma vintena de pessoas que através da ImoStudy passam a conhecer a Covilhã fora das portas da UBI.
Estimular a integração da população flutuante numa cidade do interior é o
objectivo da empresa que consegue preços mais competitivos. é o objectivo da
empresa que consegue preços mais competitivos. Ao JF, Rafael adianta que a
estratégia de negócio passa por tirar partido do período de matrículas em que
cerca de dois mil estudantes chegam à Covilhã à procura de um abrigo. “Colocar
uma placa a informar que se aluga quarto ou que se arrenda casa, não chega. As
famílias querem saber mais sobre a cidade universitária e os locais que os
filhos poderão frequentar. Nós encaminhamos essas pessoas”, esclarece o
estudante empreendedor.
Dados dos
serviços sociais da UBI indicam que no ano lectivo de 2012/13 estiveram
ocupadas 742 das 815 camas em residência académica. A maior percentagem de
população em residência diz respeito a estudantes oriundos dos distritos de
Castelo Branco (10,38%), Porto (9,97%) e Aveiro (9,43%), seguido dos estudantes
estrangeiros que chegam á Covilhã por via do programa Erasmus e que totalizam
cerca de (23,58%) dos residentes em instalações da universidade. Recorrer a uma
residência académica não é para todos os estudantes, depende dos rendimentos da
família e normalmente a dormida em residência é encara como um suplemento à
bolsa. De acordo com o Artigo 19º do
Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior,
os estudantes bolseiros deslocados do ensino superior público que não tenham
tido colocação em residência dos serviços de acção social, “beneficiam, no
período lectivo em causa, de um complemento mensal igual ao valor do encargo
efectivamente pago pelo alojamento e comprovado por recibo, até ao limite de 30
% do indexante dos apoios sociais”. Relativamente ao apoio financeiro para o
estudante morar na Covilhã, não existe nenhum caso, visto que todos os
candidatos a alojamento foram colocados em residência académica. Os dados satisfazem a organização que defende os interesses dos estudantes.
“A UBI tem das melhores percentagens de cobertura de residências para
estudantes”, referiu Pedro Bernardo presidente da AAUBI. Os preços variam
consoante a modernidade e conservação dos imóveis. No caso da UBI, a Casa Pedro
Álvares Cabral (ao Sineiro) é a menos em conta. “O valor médio a pagar é de 110
euros, no entanto há residências a 80 euros”. Alugar quarto ou casa na Covilhã
significa igualmente diversidade nos preços e comodidade. A localização é um
factor muito importante tanto para quem procura como para quem investiu no
negócio. Morar ao pé da Faculdade de Medicina ou junto ao pólo principal pode
custar mais caro que escolher um quarto ou uma casa na zona da Saudade. “O
preço é variável, se um quarto pode custar à volta de 100 euros, a renda de um
T0 pode chegar aos 400 a 500 euros. Mas em média os preços por quarto andam na
casa dos 150 a 160 euros mais despesas de luz, água e condomínio e sem contrato
de arrendamento”. Pedro Bernardo esclarece que por exemplo na zona da Saudade
“os arrendatários têm a preocupação de uniformizar o preço”. Questionado sobre
a ausência de contractos de arrendamento o presidente da AAUBI lembra como a
“necessidade aguça o engenho”, pois os estudantes querem pagar o menos possível
e os senhorios evitam os impostos. Mas o dirigente estudantil também deixa um
alerta:”É importante que se estabeleça algum compromisso”. E a título de
exemplo conta ao JF a história de um ubiano que recentemente se atrasou uma
semana a pagar a conta e foi convidado a abandonar o quarto onde permanecia há
muito tempo. “Com um contrato estão sempre salvaguardados os deveres e direitos
de inquilino e proprietário”, alerta! Sobre a frequência de centenas de
estudantes na cidade que também depende da economia universitária, Pedro
Bernardo, salienta que a Covilhã ainda não aprendeu a conviver com as mudanças
de comportamentos dos residentes. Aludindo ao período em que centenas de novos
estudantes se instalam na cidade e às festas académicas, Pedro Bernardo
desvaloriza supostos exageros, barulhos e mudança de comportamentos e sublinha
“os proveitos económicos” que a população académica deixa na Covilhã.
Quadros relativos à população estudante da UBI nas residências, bem como o distrito de proveniência:
Distrito
|
Nº Alunos 1º,
2º e 3º Ciclos e MI
|
%
|
Nº Aluno
alojados na residência*
|
%
|
Castelo Branco
|
1734
|
27,31%
|
77
|
10,38%
|
Guarda
|
703
|
11,07%
|
54
|
7,28%
|
Aveiro
|
531
|
8,36%
|
70
|
9,43%
|
Viseu
|
514
|
8,09%
|
46
|
6,20%
|
Porto
|
468
|
7,37%
|
74
|
9,97%
|
Braga
|
394
|
6,20%
|
55
|
7,41%
|
Santarém
|
311
|
4,90%
|
27
|
3,64%
|
Leiria
|
278
|
4,38%
|
26
|
3,50%
|
Coimbra
|
196
|
3,09%
|
16
|
2,16%
|
Lisboa
|
185
|
2,91%
|
26
|
3,50%
|
Vila Real
|
160
|
2,52%
|
10
|
1,35%
|
Bragança
|
136
|
2,14%
|
8
|
1,08%
|
Viana do
Castelo
|
121
|
1,91%
|
19
|
2,56%
|
Setúbal
|
99
|
1,56%
|
14
|
1,89%
|
R. A. Madeira
|
93
|
1,46%
|
21
|
2,83%
|
Faro
|
86
|
1,35%
|
14
|
1,89%
|
Portalegre
|
72
|
1,13%
|
3
|
0,40%
|
R. A. Açores
|
62
|
0,98%
|
4
|
0,54%
|
Évora
|
28
|
0,44%
|
2
|
0,27%
|
Beja
|
23
|
0,36%
|
1
|
0,13%
|
Outras
localidades/ países/ Erasmus
|
156
|
2,46%
|
175
|
23,58%
|
Total Geral
|
6350
|
742
|
Publicado no Jornal do Fundão em Novembro de 2013
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
New Hand Lab a fábrica que é um Laboratório Criativo.
Reúne meia dúzia de artistas da
região e dedica-se à produção de peças relacionadas com a lã. Mas também há
fotografia e aguarelas. Localizada junto à emblemática ponte pedonal da
Carpinteira a montra da criatividade haverá de ser um renovado motivo para
visitar a Covilhã industrial e judaica.
Quem se passeia sobre a ponte
desenhada por Carrilho da Graça e observa os telhados do aglomerado de antigas
fábricas que laboraram paredes meias com a Carpinteira, está longe de imaginar
que aquele lugar da Covilhã industrial poderá vir a ser um miradouro sobre o
Laboratório Criativo em que se tornou a antiga fábrica António Estrela. Francisco
Afonso é cicerone numa viagem à descoberta de um “espaço de expressão livre e
criativa”. Francisco é filho de Júlio Afonso, o último proprietário da fábrica
António Estrela construída em 1830. Realizar o sonho da família, preservando a
memória de uma empresa que se dedicou à produção de tecidos para senhora é a
missão de quem assistiu ao fim da fábrica que então empregava 40 pessoas. Assim
nasceu, em Junho último, o projecto do Laboratório Criativo. Revitalizar um
espaço onde permanecem muitas das máquinas que outrora deram trabalho a
centenas de pessoas é a missão! Embora nunca tenha ficado totalmente
abandonado, pois ainda dispõe de enormes quantidades de tecidos e
matéria-prima, o imóvel reúne agora um conjunto de artistas que são
fornecedores da Casa da Lagariça em Castelo Novo. “Os artistas que trabalham
connosco, e que são da região, têm aqui condições para desenvolverem a sua
actividade num espírito de partilha. A ideia é um dia mais tarde tentarmos
desenvolver um único produto que seja transversal a todos os criativos”,
acrescenta Francisco Afonso. Presentemente a produção a partir do Laboratório
Criativo também está á venda no primeiro piso da antiga unidade industrial.
A Casa da Lagariça em Castelo Novo e o boneco Petrus estão na origem de
um novo projecto criativo que visa dinamizar uma antiga fábrica de lanifícios
perto da ponte da Carpinteira na Covilhã. São dez mil metros quadrados de área
coberta num Laboratório Criativo que reúne meia dúzia de criadores. Trabalham artesanato,
lã e fotografia. O atelier Cool Nature de
Miguel Gigante, o estúdio de fotografia Pulse
and Vision de João Pedro Silva, o atelier Petrus de Ana Almeida, a MEG
em pasta de papel de Maria Eugénia Gomes, a Casa
da Lagariça em lãs mohair e lãs mais finas, o escultor Moreira Neves e o
aguarelista João Rui Frade estão entre os artistas residentes.
Mas é no rés-do-chão da antiga
fábrica que as mãos de criadores transformam a matéria-prima em criações de
encher o olho. O visitante entusiasma-se com a possibilidade de manusear máquinas
totalmente construídas na Covilhã e que embora já não estejam permanentemente
em laboração ajudam a decorar o laboratório criativo. “Estamos a utilizar
algumas para desenvolver produtos que mais tarde serão a matéria-prima para a
confecção de modelos assinados pelo criador Miguel Gigante. As mantas em mohair
são exemplo disso”, conclui. De resto, Miguel Gigante está a desenvolver a colecção
“Vestir a História”. Peças de vestuário em lã para senhora, disponíveis nas lojas
das Aldeias Históricas de Portugal. Um trabalho exclusivo que se estende à
decoração cujos acabamentos também se fazem a partir do Laboratório Criativo.
Assim acontece com “um fundo de cama e respectivas almofadas ou um candeeiro de
pé alto que será revestido a burel”. No Cool
Natura Lda, a revistadeira ajuda a decorar o espaço mas espera-se que um
dia venha a ser utilizada para desenvolver projectos de pintura nos tecidos que
Miguel Gigante poderá aplicar em novos modelos. “Temos aqui vários momentos de
ensaio de peças e acabamentos. Por exemplo uma carteira toda em lã”. Os
estiradores, uma ploter, máquinas de costura e outros equipamentos ajudam a
humanizar o amplo pavilhão que vai ganhando algum colorido por via dos
trabalhos em curso. Ao atelier do burel junta-se o espaço da Casa da Lagariça. É visível o trabalho
de fabrico de mantas em lã mohair que passa pelo tear e permite ao visitante
escolher na paleta de fios qual a tonalidade a dar às peças únicas. Num outro
sector encontramos o espaço de Ana Almeida onde é fabricado o ícone da Casa da
Lagariça. O Petrus tem marca registada,
é sinónimo de história. Petrus foi o
primeiro alcaide de Castelo Novo. “São peças únicas, numeradas e que têm
diferentes formas. São feitos à mão através da técnica da agulha com ponto
baixo. Um com trinta centímetros pode demorar um dia a construir” explica a
professora da Universidade da Beira Interior que trabalha no departamento de
química e cuja formação em engenharia química permitiu à criadora aliar formas
e pensar na consistência do modelo de autor. O Petrus “é uma espécie de mascote das Aldeias Históricas de
Portugal” diz Ana Almeida, cheia de orgulho. MEG é um nome incontornável do artesanato nacional e a qualidade
dos seus trabalhos têm-se traduzido em alguns prémios para a artista natural da
Covilhã. O espaço MEG reúne uma
panóplia de peças de artesanato elaboradas por Maria Eugénia Gomes. Com recurso
à pasta de papel (serrim que resulta do corte de tubos de papel utilizados na
indústria de lanifícios) e ao aproveitamento de objectos fora de moda, MEG apresenta peças bastante actuais e
com nomes muito sugestivos. “Mulheres sob Pressão” é uma das obras recriada.
“Aproveitando uma prensa dos livros e através da construção de duas mulheres em
pasta de papel, elas aparecem espalmadas depois de terem ficado sob a prensa”. “Conversa
Fiada é o título de outras das obras que nasceu a partir do aproveitamento de
uma roca de fiar linho e em que três mulheres se apresentam na amena cavaqueira.
A Semana é outro dos objectos decorativos que se desenvolve num quadro em que
os dois bonecos rapazes e as cinco raparigas nos dão a ideia do período de
descanso e de trabalho”. Já a peça “À Espera da Primavera, apresenta-se num
quadro em que uma mulher está sentada no baloiço improvisado no tronco de uma
árvore despida de folhas”. Trabalhos de artesanato que estão à venda na rede de
lojas das Aldeias do Xisto e em duas ou três lojas de Lisboa, Porto e Castelo
Novo. Segue-se o atelier de pintura de João Rui Frade. O aguarelista da Covilhã
que também trabalhou na Fábrica António Estrela aderiu ao projecto para ajudar
a preservar o património da unidade de lanifícios onde trabalhou na cardação e
na verificação do estado de saúde da maquinaria industrial. O antigo desenhador
de máquinas transporta-nos agora para outros desenhos que resultam das muitas
viagens pelo património natural da Covilhã. Lugares recônditos que despertam no
pintor a capacidade de construir cenários de sonho. “Um levantamento de lugares
emblemáticos da cidade para uma colecção de aguarelas sobre a vida urbana da
cidade”, preenche os dias do pintor de paisagens, telhados e igrejas mas que
também se dedica à recolha de recantos do mundo rural. Por entre aguarelas,
lápis e tintas, João Rui Frade confidencia a satisfação de ter um espaço para
trabalhar que além de muita luz se localiza num lugar onde a beleza da natureza
é uma constante. À porta da antiga fábrica de lanifícios o silêncio de um
princípio de tarde de outono só é quebrado pelo som da água da Ribeira da
Carpinteira que passa ao lado da unidade criativa. A natureza é o forte do
fotógrafo João Pedro Silva. No estúdio improvisado e decorado a partir da
utilização das caixas de madeira que foram utilizadas no transporte da lã, João
Pedro explica que a arte de fotografar vai muito além de um mero clique. Não
será ao acaso que “o contador de histórias em fotografia” foi seleccionado para
assinar o catálogo da colecção de burel para a Rede das Aldeias Históricas de
Portugal. Com o negócio da fotografia em crise, João Pedro vê na New Hand Lab uma nova janela de
oportunidade para a realização de projectos que vão além da fotografia
convencional. Sociólogo de formação Pedro tem em mãos o desafio de educar o
gosto pela arte fotográfica e tem realizado cursos de fotografia na Covilhã. A
fotografia de paisagem e os rostos são a aposta do Pulse and Vision explicou o especialista que tem vindo a realizar
trabalhos de promoção à arte do burel.
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