Chegar aos 60 rodeada de amig@s.
Nada de surpreendente se a aniversariante é amiga de muitas pessoas.
Em várias geografias.
Cada uma de nós mora, à sua maneira, nas gavetas da Neves, da Nanda, da Fernanda, da moça da pastelaria Jardim.
Quase toda a gente conhece a Nanda ou a pastelaria da Nanda.
Pela simpatia e acolhimento. Pela forma como se envolve na vida da comunidade. Pela popularidade.
Fundamentalmente pela generosidade que caracteriza a Nanda.
Não tenho presente o ano em que nos conhecemos. Sei que, ainda menina e aprendiz de jornalista, tinha [e ainda tenho] na Nanda e na sua pastelaria um porto de abrigo para tudo o que fosse [seja] preciso.
Da Nanda e do seu saudoso pai recebi muitas vezes deliciosas tostas mistas ou generosas sandes que um confeccionada e o outro - a Nanda - levava ao segundo andar do prédio no Beco dos Borracheiros ou Rua 5 de Outubro onde durante anos se fez a Rádio Jornal do Fundão.
A Nanda fonte de informação. É das pessoas que mais conhece @s transeuntes da cidade e arredores.
A Nanda alerta. Uma espécie de provedora do cidadão comum com problemas como os nossos e dos quais subtraia informação tantas vezes importante na busca de notícias ou no cruzamento de fontes fidedignas de informação.
Ela e a pastelaria, negócio de família, onde me tenho cruzado com tantas das minhas pessoas ou protagonistas de outras realidades que povoam a minha própria existência.
A Nanda que recebia o telegrama do meu admirador secreto ou observava os namoricos da minha eterna juventude.
A mulher que tantas vezes foi ombro amigo e me secou as lágrimas no fatídico ano de 1996. E nos meses que antecedem a morte da minha amada mãe.
Deve ser por isso que ainda sei de cor o telefone da pastelaria Jardim.
É também por isso que aqui alinho estas breves palavras de gratidão à dedicação da Nanda.
Esta é uma narrativa de saudade dos tempos idos.
Uma janela para a memória dos dias claros pois a amizade entre as pessoas deve ser sempre transparente e límpida.
Parabéns querida Nanda. Parabéns pelos 60 !
Oxalá consigamos continuar por aqui, por aí, a celebrar a vida e cantar vivas à Amizade.
Como o fizemos neste dia 27-06-2020, ainda sob as regras de um estado de calamidade que já foi de emergência e nos obrigou a ficar confinadas à nossa casa e família chegada.
Memorizando: Chegaste aos 60 no ano da pandemia covid 19.
Brindemos à vida.
À saúde.
À tua saúde e das pessoas que mais gostas.
Abraço.
Fracções de memórias passadas. Tempos idos e diluídos na espuma dos dias. A actualidade desta Beira que é a nossa!
sábado, junho 27, 2020
terça-feira, junho 23, 2020
Memória anos 70
No outro dia a RTP Memória surpreendeu-nos com a transmissão de um documentário sobre as tradições religiosas de Castelo Novo e o calendário agrícola. As filmagens remetem-nos para o ano de 1973 do século XX e são uma viagem pela preparação das festas do Corpo de Deus.
«Ensaio» é o título do documentário que pode revisitar nestes dois links:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-i/
Neste vídeo observamos o cruzeiro, estradas romanas, vista geral, castelo, lagareta (ruína romana); declarações de José Falcão, presidente da Junta de Freguesia, junto a cruzeiro, sobre a Freguesia e a emigração, intercaladas com imagens de brasão na fachada da Casa da Família Falcão, Chafariz Fundeiro, frontaria da Igreja Matriz, varanda de madeira, fachada de capela e detalhes do sino e da cruz, pormenores de janelas e ruas.
Seguem-se "Os Trabalhos do Campo": camponesas a sacharem milho; comentários de camponesas sobre o trabalho agrícola e a família; declarações de José Falcão, sobre a antiga fábrica de lanifícios, intercaladas com imagens do edifício fabril degradado.
"A Urdidura do Fio": fios de linho esticados; caixa com novelos de algodão; Maria Saraiva, urdideira, a trabalhar o fio de linho e declarações da mesma sobre a atividade, os utensílios usados e a vida familiar; vista geral de Castelo Novo; capela: detalhe de sino e escadaria; jornalista entrevista José Falcão sobre as Festas do Corpo de Deus e o leilão de beneficência; fiéis em frente à Igreja Matriz.
"A Procissão do Corpo de Deus": procissão do Corpo de Deus: pessoas a sair da Igreja Matriz, a descer as ruas, a passar junto do Pelourinho e à Casa da Câmara; torre com relógio; movimento de rua.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-ii/
Na preparação das festas: homem a acender e a largar foguete, mulheres com criança pela mão, mesas ao ar livre com fruta, habitantes a conviverem.
"O Leilão das Fogaças": leilão das fogaças, homem em cima de mesas a leiloar coelho, mesas com as fogaças e populares à volta; comentários de populares sobre a aldeia, intercalados com imagens de leilão, janela com flores e roupa estendida, ruas de Castelo Novo e fachadas de edifícios e mulher em soleira de porta.
"Conversa com o Pregoeiro": entrevista a José António Campos, leiloeiro e trabalhador da construção civil, sobre as suas profissões e o interesse em morar em Castelo Novo, intercalados com vista geral da Serra da Gardunha e fachadas de edifícios; declarações de José Falcão sobre o regresso de naturais a Castelo Novo, durante as festas populares e após a reforma, intercaladas com imagens do castelo, alpendre em edifício degradado, vasos de flores em fachadas de edifícios e criança à janela.
Comentários de José António Campos sobre as diversões existentes em Castelo Novo e as ocupações dos jovens; altifalante em árvore.
"O Baile": jovens a dançarem em baile na rua e pessoas a assistirem; declarações de José Falcão sobre a Liga de Amigos de Castelo Novo e as infraestruturas planeadas para a aldeia, intercaladas com imagens de homem a trabalhar no campo, fonte e muralha do castelo.
José Falcão, visionário presidente de junta de freguesia num território que chegou a ser sede de concelho e no qual desde sempre se elege a Gardunha, a frescura da água do Alardo e o turismo como elementos de capacitação e valorização da aldeia.
«Ensaio» é o título do documentário que pode revisitar nestes dois links:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-i/
Neste vídeo observamos o cruzeiro, estradas romanas, vista geral, castelo, lagareta (ruína romana); declarações de José Falcão, presidente da Junta de Freguesia, junto a cruzeiro, sobre a Freguesia e a emigração, intercaladas com imagens de brasão na fachada da Casa da Família Falcão, Chafariz Fundeiro, frontaria da Igreja Matriz, varanda de madeira, fachada de capela e detalhes do sino e da cruz, pormenores de janelas e ruas.
Seguem-se "Os Trabalhos do Campo": camponesas a sacharem milho; comentários de camponesas sobre o trabalho agrícola e a família; declarações de José Falcão, sobre a antiga fábrica de lanifícios, intercaladas com imagens do edifício fabril degradado.
"A Urdidura do Fio": fios de linho esticados; caixa com novelos de algodão; Maria Saraiva, urdideira, a trabalhar o fio de linho e declarações da mesma sobre a atividade, os utensílios usados e a vida familiar; vista geral de Castelo Novo; capela: detalhe de sino e escadaria; jornalista entrevista José Falcão sobre as Festas do Corpo de Deus e o leilão de beneficência; fiéis em frente à Igreja Matriz.
"A Procissão do Corpo de Deus": procissão do Corpo de Deus: pessoas a sair da Igreja Matriz, a descer as ruas, a passar junto do Pelourinho e à Casa da Câmara; torre com relógio; movimento de rua.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/castelo-velho-castelo-novo-parte-ii/
Na preparação das festas: homem a acender e a largar foguete, mulheres com criança pela mão, mesas ao ar livre com fruta, habitantes a conviverem.
"O Leilão das Fogaças": leilão das fogaças, homem em cima de mesas a leiloar coelho, mesas com as fogaças e populares à volta; comentários de populares sobre a aldeia, intercalados com imagens de leilão, janela com flores e roupa estendida, ruas de Castelo Novo e fachadas de edifícios e mulher em soleira de porta.
"Conversa com o Pregoeiro": entrevista a José António Campos, leiloeiro e trabalhador da construção civil, sobre as suas profissões e o interesse em morar em Castelo Novo, intercalados com vista geral da Serra da Gardunha e fachadas de edifícios; declarações de José Falcão sobre o regresso de naturais a Castelo Novo, durante as festas populares e após a reforma, intercaladas com imagens do castelo, alpendre em edifício degradado, vasos de flores em fachadas de edifícios e criança à janela.
Comentários de José António Campos sobre as diversões existentes em Castelo Novo e as ocupações dos jovens; altifalante em árvore.
"O Baile": jovens a dançarem em baile na rua e pessoas a assistirem; declarações de José Falcão sobre a Liga de Amigos de Castelo Novo e as infraestruturas planeadas para a aldeia, intercaladas com imagens de homem a trabalhar no campo, fonte e muralha do castelo.
José Falcão, visionário presidente de junta de freguesia num território que chegou a ser sede de concelho e no qual desde sempre se elege a Gardunha, a frescura da água do Alardo e o turismo como elementos de capacitação e valorização da aldeia.
terça-feira, junho 16, 2020
Castelo Novo esse amor sem rosto
Há lugares que de tão mágicos nos exortam a viajar pelo tempo. Castelo Novo, aqui retratado em drone é um desses pontos de paragem obrigatória no reencontro com o ser.
Observar a calmaria desta terra encravada na tantas vezes massacrada serra da Gardunha é alimentar a esperança de que um dia a beleza ímpar do casario, a imponência dos monumentos e as características da paisagem haverão de devolver a Castelo Novo a vida que merece.
A Aldeia Histórica de Portugal será, então, mais que memória e promessas adiadas. Será vida de pleno direito com investimento publico à altura de uma povoação amada pelos visitantes.
Amar Castelo Novo é senti-lo muito para lá das pessoas. É perceber que esta geografia que nos inspira não nos trai, como tantas vezes o homem traiu esta jóia do nosso património.
Castelo Novo é paz, serenidade e sensação de segurança. É sonho e horizonte de glória.
É acreditar que em cada dia há uma nova luz de esperança a fazer-nos ficar.
Voltar. Uma e outra vez. Sempre na expectativa de a capacitarmos.
Castelo Novo, um amor sem rosto!
sábado, maio 23, 2020
Desconfinando
Registo para memória futura do rendez vous entre amigas, dois meses e meio após a declaração de pandemia por causa do Covid-19. Seguiu-se o Estado de Emergência e depois o de Calamidade.
Agora que estamos à beira de uma nova fase do desconfinamento não resistimos à tentação de afogar a saudade na gulosa sangria tinta que a nossa Nanda preparou para o lanche com produtos locais e como sinal da nossa resistência à maior ameaça recente da humanidade.
Cansadas deste novo normal que para todas nós é uma espécie de degredo resolvemos desafiar a sorte e dizer presente. A vida é para ser vivida, mesmo se o inominável bicho não nos deixa abraçar, largar a máscara e retomar a regularidade de cada final de sexta-feira. Mas este reencontro que soube a esperança faz-nos antever resiliência e determinação na luta pela saúde de todas as pessoas.
Foi uma vez sem exemplo, mas quando esta guerra silenciosa terminar iremos celebrar a resistência num mega jantar com tudo aquilo a que temos direito.
sexta-feira, abril 24, 2020
Instantes do Meu Confinamento 6
Já não escrevo diários da pandemia há quase 20 dias.
Estou em semi confinamento há
mais de um mês. Tantos dias, quantas as vezes que fui e vim do trabalho.
Estas viagens casa - Santa Casa
da Misericórdia do Fundão com direito a paragens pontuais para abastecer a
despensa cá de casa têm-me deixado respirar.
Pouco mais que isso.
Contrariando a expectativa
inicial que apontava para um período de algum relaxe nas obrigações
profissionais e tempo, com fartura, para devolver disponibilidade e entrega a mil
coisas pendentes revelou-se um engano.
Eu vou e venho, ligo e desligo
o pensamento das obrigações. Mas não consigo ter energia suficiente para me
concentrar em algo prazeroso, aprazível, capaz de me fazer sentir plenamente
feliz.
Hoje confessava a uma amiga a
minha frustração e aborrecimento interior quanto à incapacidade de dar
expressão escrita às múltiplas vivências que têm caracterizado este mês e tal de
conversação factual com profissionais do Terceiro Setor. Pessoas como nós que, de forma exemplar, têm vivido a pandemia da covid 19 com um sentido de entrega e criatividade
ímpares.
E chegam-me relatos de pessoas
igualmente excecionais cuja batalha contra o coronavírus se tem revestido de
tantas narrativas emotivas e cheias de vida!
Que preguiça mental é esta que
me devora a mente e faz de mim um ser incapaz de concentrar-se na essência das
experiências maiores e cheias de sentimento?!
Reflexões, no exato momento em
que a memória me recorda: Dulce tens horas de perguntas e respostas cujo conteúdo
precisas transcrever, dando continuidade a um dos mais importantes projetos do corrente
ano.
Raios partam a pandemia, a
passividade ou a saudade das semanas que chegavam ao fim com direito ao
exercício mental de realizar as conversas no «Porque Hoje é Domingo» na Rádio
Cova da Beira.
Depois havia os jantares com as
amigas de uma vida, os lanches e petiscos na nossa amada Nanda.
Desta vez nem fizemos o
ajuntamento maior que assinalava o fim do Inverno e a chegada da Primavera !
Conseguiremos despedir-nos do Outono?
Conseguiremos despedir-nos do Outono?
Saudades vossas minhas
aranhiças do coração!
quarta-feira, abril 08, 2020
Instantes do Meu Confinamento 5
Quando Esperar não é uma perda de
tempo…
Sempre fui
avessa ao nim, nem não nem sim, ao logo se vê, depois falamos, cada coisa a seu
tempo.
Não é que
seja uma mulher aparelhada, de sofisticada tecnologia, mais rápida que o vento. Mas sempre achei que não temos tempo a
perder.
Havia
situações em que repetidamente brincava com as notícias que davam conta da
constituição de mais uma comissão, grupo de trabalho, conselho consultivo …. Blá
blá blá.
Na verdade
sempre fui muito de mais vale uma má decisão do que uma não decisão.
Agora que
vivo há três semanas entre casa e o serviço sem direito a outras vidas dou
comigo a experienciar uma condição, até agora, pouco provável em mim.
A condição da
espera. Esperar que tudo acabe em bem. Que a minha família, amigos, conhecidos
e a organização onde passo os dias consigam ultrapassar esta pandemia sem
sobressaltos maiores.
Nesta já longa espera sinto que aprendi a viver sem as
jantaradas de sexta-feira, sem mais uns sapatos, uma carteira ou um vestido
novo.
De hoje para
amanhã, creio até que serei capaz de encontrar uma solução para as raízes dos
meus caracóis.
Uma solução que em nada tem a ver com o registo habitual do se a
cabeleira A não pode, a B deve ter uma aberta. Posso sempre recorrer à C.
E neste instante
ocorre-me a infância em Castelo Novo, entre a serra da Gardunha e a Aldeia e a
véspera de um casamento em Louriçal do Campo. Eu e a minha irmã Paula, meninas
de tenra idade, pais sem recursos e logística para irmos ao cabeleiro a
Alpedrinha. Vai daí o nosso pai improvisa e leva-nos ao barbeiro.
Saímos de lá com
uma tijela na cabeça. Literalmente!
Tudo tem
solução, diziam os meus pais do alto da experiência de quem sempre viveu com
pouco.
Com pouco e
sem pressa. A serra da Gardunha tinha, ainda tem, esse poder de ajudar-nos a
caminhar com vagar.
Vivamos então
esta pandemia com a ponderação e recomendações de quem sabe. Sejamos cautelosos
e capazes de esperar pelo fim deste tempo impeditivo de tantas situações que
afinal se afiguram não essenciais.
Essencial é continuarmos aqui para
contar a história.
Retemperando
energias com a memória dos dias bons. Reflexos da nossa existência
aparentemente comum mas com bases sólidas para hoje em dia sermos capazes de
esperar que a tempestade passe para relançarmos as sementes da amizade e do
amor entre pares.
Todo o amor verdadeiro se faz de uma longa
espera
quinta-feira, abril 02, 2020
Instantes do meu Confinamento 4
Imagem que fica do último nevão na minha aldeia berço
Terra de encantos e memórias mil
Lugar tranquilo e de sonhos
Este parece não ser o tempo dos sonhos
São dias de interrogações
O que não sendo necessariamente mau pode ajudar-nos a enxergar o que nunca havíamos observado
Como escreveu Tolentino Mendonça no livro «O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas», "talvez precisemos de descobrir que, no decurso do nosso caminho , os grandes ciclos de interrogação , a intensificação da procura, os tempos de impasse, as experiências da crise podem representar verdadeiras oportunidades".
Oxalá que momento da nossa introspecção seja um momento de aprendizagem e foco no processo de gestação da nossa nova vida.
terça-feira, março 31, 2020
Instantes do meu Confinamento 3
O último dia de março acordou branco. A paisagem ganhou candura. Quase nos esquecemos da inominável ameaça à humanidade.
Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.
Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.
Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.
Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.
Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.
Quase. É mesmo só quase.
Este manto branco num ano de raríssima neve, com consequências para quem vive do setor turístico na Estrela, significaria esperança para hoteleiros e visitantes. A Páscoa na neve é sempre algo desejável para todas as partes.
Mas não! O Estado de Emergência Sanitária não combina com janelas de esperança para hoteleiros, restauração e desportos na neve / natureza.
Estamos em casa. Observamos a dádiva da natureza.
Focamos-nos nas imagens captadas ao inicio da manhã, no caminho de casa para o emprego, sentimos que nos aconchegam a alma.
Quase acreditamos que de agora em diante conseguiremos ver oportunidades em vez de nuvens, desenvolvimento e vez de declínio.
segunda-feira, março 30, 2020
Instantes do meu Confinamento 2
Fechado. Encerrado. Temporariamente fora de serviço. Não consuma nada dentro do estabelecimento. Faça fila única. Respeite a distância sanitária.
Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.
A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.
Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! - vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.
Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......
Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil. Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.
É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.
Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.
Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off (ver aqui o que implica https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?
E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.
Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.
E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.
A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.
É este o meu sentir no confinamento dos dias.
Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.
Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.
Vamos. Vamos todos.
Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.
Eis um conjunto de informação útil na qual tropeço hã mais de duas semanas e que me entristece o olhar, como me esmorece observar todas as ruas e praças desertas, as lojas fechadas, os serviços semi-abertos.
A juntar à realidade vêm-me as saudades dos lanches à sexta-feira, o calor humano e dedicação da Nanda, os jantares em grupo ou em família alargada.
Até o trabalho passou a ser esquisito. Somos poucos no edifício onde uns quantos de nós passaram a trabalhar a partir de casa ao mesmo tempo que têm sido amas, educadores, professores e explicadores de última hora.
Eu tive sorte - digo-o assim por ser pássaro fora da gaiola e odiar ficar muito tempo em casa. Já me bastam os fins de semana e as longas horas após a jornada continua no emprego! - vou saindo de casa para o trabalho e assim não observo o frenesim de e-mails e trabalhos que a classe docente, empenhada - diga-se - tem enviados aos alunos que parecem mais dedicados que nunca e sentem gratidão pelas dinâmicas improvisadas no meio escolar e universitário.
Na rotina, casa trabalho, trabalho casa, sempre dá para observar a paisagem ou dar-me conta de como este vírus mudou a vida de todos nós. E as pessoas, onde estão as pessoas? O passo largo, o olhar distante ou penetrante. O sorriso que contagia ou disfarça a rotina. O bom dia e olá no passeio, na esplanada, no serviço.......
Até o meu ofício de comunicadora me tem sido difícil. Gerir solicitações, perguntas e respostas através do telefone e do e-mail. Eu gosto da conversa presencial. De estar no terreno, sentir o pulsar das organizações, pessoas e líderes. À distância não é a mesma coisa. Perde-se o encanto, a sensação e capacidade de interpretar estados de alma, estimulando apuradas respostas e ações.
É este o meu, o nosso e vosso novo mundo. Cheio de barreiras profiláticas.
As mesmas que travam o convívio e tramam a economia.
Numa tarde de final de março, dias depois da entrada da Primavera, dou comigo a pensar que é fim do mês e que haverá milhares de trabalhadores por conta de outrem cuja ansiedade e nervoso lhes toldam as noites que deveriam ser de sono mas passaram a ser em branco.
Quantos haverá com receio de não receberem, já neste final de março, o salário por inteiro.
Pior, quantos estarão a ter pesadelos com a possibilidade de serem temporariamente dispensados ao abrigo de um lay off (ver aqui o que implica https://www.jornaldenegocios.pt/economia/coronavirus/detalhe/novo-lay-off-guia-para-trabalhadores-e-empresas) ?
E os patrões? Os pequenos empresários, donos de micro empresas, subsistência de famílias inteiras.
Não querendo ser profeta da desgraça nem contrariar as correntes de energia positiva que todos os dias no caem na time line não consigo que o meu sentido emotivo se sobreponha ao lado mais racional.
Chamem-me o quiserem, acusem-me de ser pessimista... Mas não consigo ficar indiferente à realidade do tecido empresarial do território, observar hotéis a suspender a atividade quando tinham iniciado investimentos de milhões para acompanhar a modernização e impacto do turismo na economia.
E neste entretanto há uma imagem que não me sai da cabeça: Hoje à tarde o diretor geral de uma das maiores unidades empregadoras do meu concelho publicava uma fotografia com os corredores da empresa vazios.
A unidade empregadora em questão põe pão na mesa a 300 pessoas. Está temporariamente fechada desde meados de março.
É este o meu sentir no confinamento dos dias.
Para que não digam que só vejo nuvens, deixo-vos com a paisagem.
Cuidem-se! Dos momentos de fraqueza não reza a história.
Vamos. Vamos todos.
Fiquemos juntos nesta luta contra o mal.
terça-feira, março 24, 2020
Instantes do meu Confinamento
Na Tentativa de gastar os tempos livres que resultam da suspensão da vida depois do horário laboral vou-me ocupando da leitura de livros e autores outrora companhia regular na mesa da cabeceira cá de casa.
Às vezes recorro à biblioteca para rever títulos e clássicos. Hoje de manhã deparei-me com o "ensaio sobre a cegueira" do Nobel da Literatura José Saramago. Apeteceu-me começar a devorar uma segunda ou terceira leitura de uma obra escrita em 1995 que nos relata a história de uma cegueira que começou num homem só e posteriormente fez-se epidemia.
As semelhanças com muito daquilo que desde há três semanas estamos a observar e vivenciar, à distância ou bastante perto de nós, fazem-me crer num tubo de ensaio literário para aprendermos a lidar com a pandemia Covid-19 como foi designada pela Organização Mundial de Saúde.
E diz o livro "Nesta quarentena esses sentimentos irão desenvolver-se sob
diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes (...)"
Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono.
Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja".
Aos interessados em ler um pouco mais da obra recomenda-se este link https://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_ensaio_sobre_a_cegueira.pdf
Se preferirem leituras mais leves e menos introspetivas sugiro uma viagem pela obra da poetisa feminista Rupi Kaur que há uns anos editou "milk and honey", em Portugal "leite e mel", e de onde retirei este poema que parece o meu auto retrato.
“dizes para me acalmar
porque as minhas opiniões me tornam menos bonita
mas não fui feita com um fogo no peito
para que conseguissem apagar-me
não fui feita com ligeireza na língua
para que fosse fácil engolir-me
fui feita pesada
meio espada meio seda
difícil de esquecer e nada fácil
de a mente entender”
A par da poesia a paisagem primaveril observada a partir de casa têm-me inspirado para os dias que se seguem. E bem preciso de paz e confiança. Logo hoje que foi oficialmente conhecido o primeiro caso de covid 19 positivo no concelho do Fundão.
sexta-feira, novembro 29, 2019
Avenida esse encontro feliz
«A Avenida – uma chama viva onde quer que viva».
O título
da nova peça da ESTE – Estação Teatral é por si só bastante apelativo. Vai daí
a gente dá-se ao trabalho de sair de casa num quinta-feira à noite e fica logo
contente com a adesão do Fundão à 38ª produção da Companhia de Teatro que há 15
anos resiste e subsiste ao quotidiano da vida artística e às dificuldades que à
mesma, quase sempre, estão associadas.
Mas este meu momento de partilha não é para lamentar que
a ESTE continue sem uma casa própria para desenvolver os projetos criativos,
prolongando e valorizando as vivências da nossa geografia cultural,
etnográfica, histórica e poética.
Servem estas linhas para dizer-lhes que é mesmo
importante saírem de casa e assistirem ao novo espetáculo da ESTE.
«A Avenida» é um reencontro com a nossa memória coletiva.
Os lugares, as lojas, as pessoas do centro nevrálgico do nosso Fundão, numa
narrativa cheia de vida e humor que não deixará nenhum espetador indiferente.
«A Avenida» está em cena na Moagem no Fundão até dia 15 de dezembro, é apenas o primeiro de três criações assinadas pelo dramaturgo Nuno Pino Custódio que haverá de transportar-nos até outras realidades.
Neste episódio atores e espetadores viajam no tempo e recuam aos anos 40 e 50 do seculo XX. No próximo ano a companhia presentear-nos-á com as vivências do Fundão no tempo de Salazar e de Kubitschek. Por fim haveremos de assistir ao fôlego final que é a Liberdade.
A liberdade, criativa, é aliás a tónica dominante no espetáculo concretizado a partir da recolha junto da comunidade local de depoimentos de comerciantes, alfaiates, floristas, relojoeiros e outros conhecedores do Fundão.
Algumas dessas pessoas estiveram, como eu, na estreia de «A Avenida». Não imagina o leitor o grau de satisfação e alegria dessas pessoas que além de se reverem nos traços verbalizados sobre o Fundão de antigamente sentiram satisfação por, de certa forma, aqueles lugares tão nossos ganharem nova vida numa peça de teatro que além de preservar a história e estórias do Fundão também projeta o território enquanto lugar de vivências imortais.
«A Avenida» imortaliza, pois, esse traço do Fundão
comercial cujas ruas ficavam cheias de gente muito para além dos dias de
mercado.
Vão lá ver esse trabalho extraordinário de cocriação da ESTE e dos fundanenses que guardavam as melhores vivências do Fundão e agora se orgulham de ver os antepassados num formidável registo teatral cujos próximos capítulos / criações queremos acompanhar.
Parabéns à ESTE por nos surpreender em cada produção.
Parabéns pela interpretação, cenários, guarda-roupa…..
Parabéns, vocês são uma bandeira cultural da nossa terra.
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Eugénio de Andrade o poeta maior
Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...
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Volto hoje ao verbo para partilhar com os leitores a boa notícia do reconhecimento da artista plástica Fátima Nina. Natural e residente ...
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Uma promessa para prevenir uma praga ligada ao olival é o mote para uma tradição centenária que “não deve ser massificada” mas que traduz ...
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Apaixonou designers e criativos. É muito mais que um agasalho. Habitualmente utilizado na decoração de interiores e mobiliário, o produt...