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quinta-feira, janeiro 19, 2023

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa de Atalaia na celebração do centenário Eugénio de Andrade.

O poeta maior só na meia-idade se reencontrou com a Póvoa de Atalaia, localidade onde as marcas da sua obra literária são bem visíveis. Ali haverá de nascer a Sala da Leitura mas os locais querem mais. Ouvir aqui a reportagem que passa hoje na Rádio Cova da Beira https://audiomack.com/cova-da-beira/song/peca-dulce-centenario-eugenio

A Sala de Leitura a localizar no olival que inspirou alguns dos poemas de Eugénio, irá enriquecer a obra física perpetuando o percurso literário do poeta que morou na Rua da Eira, viveu em Lisboa e passou grande parte da vida no Porto- cidade onde faleceu no ano de 2005.

Mas a população quer mais que edifícios e o secretário da União de Freguesias de Póvoa e Atalaia do Campo acompanha o sonho da comunidade. O autarca gostaria que as comemorações do centenário terminassem na terra Natal do poeta.

Enquanto não se sabe se a vontade da comunidade se concretiza, importa registar a memória falada da vida do poeta que deu vinte escudos à prima Maria Mesquita Fontinhas para comprar um bibe.



O pai de Maria Mesquita Fontinhas era irmão da mãe de Eugénio. Irmão de Maria dos Anjos. A mulher amada pelo poeta que foi mãe solteira e empregada de servir. Contou à RCB Maria de Jesus Rato de 74 anos. Sobre o poeta, recorda o sentido de família alargada de Eugénio de Andrade e o orgulho de Póvoa de Atalaia quanto ao filho da terra.

As memórias de Maria de Jesus são de ouvido e a poesia de Eugénio de Andrade é algo que só na idade adulta a despertou. Ainda assim, Maria de Jesus sabe que os seus poemas falavam da ribeira da Orca e da infância.

Maria de Jesus não é uma mulher de preto mas consegue ler a obra do poeta da Póvoa e garante que Eugénio de Andrade foi das mais importantes personalidades da localidade onde é visível a trajetória de inspiração de José Fontinhas. Um percurso de inspiração que enaltece os sentimentos, o amor de mãe e a geografia da sua meninice.



A Sala da Leitura projetada pelo arquiteto Siza Vieira ficará a caminho do Corricão, num antigo olival que irá tornar-se ponto de paragem obrigatória no circuito da Rota dos Escritores. A obra que merece a concordância das gentes de Póvoa de Atalaia irá juntar-se à Casa da Poesia e ao Lugar da Casa, espaços que já fazem parte do circuito de visitação poética à terra Natal de Eugénio de Andrade.

sexta-feira, agosto 28, 2020

Já Tínhamos Saudades

No Verão do novo normal fomos ao encontro de emigrantes que arriscaram vir a casa num tempo de redobrada exigência sanitária. Embora a região assista a um decréscimo de presenças, o território não ficou indiferente ao calendário e até as tradições religiosas se adaptaram à pandemia.

Souvenirs e lembranças adequadas à geografia do território ou às crenças e figuras icónicas das nossas terras, objetos alusivos à saudade de quem visita o país da língua de Camões estão à vista de quem entra nos quiosques, praças e mercados ou lojas de produtos locais que por estas semanas são ponto de paragem obrigatória por parte dos inúmeros emigrantes que nos visitam.

Não tantos quanto o desejável e muito menos do que em anos normais, dizem comerciantes, transeuntes e hoteleiros que embora não tenham preparado iniciativas específicas para receber os emigrantes habituaram-se a esperar por agosto para equilibrar a faturação do ano inteiro.

Na Praça Municipal, no mercado, nas esplanadas e restaurantes das cidades, vilas e aldeias percebe-se que há mais movimento, mas “estamos aquém” de outros tempos vincam autarcas e dirigentes de organizações de comerciantes e restauração.

No ano em que as generalidades das novas gerações de emigrantes não puderam vir a Portugal para se protegerem da pandemia covid 19, encontramos algumas famílias mais jovens que desta vez vêm para estar com os pais e avós, mas não irão sair da região para, por exemplo, mergulharem na águas salgadas do mar.

É nesse contexto que os hotéis da região trabalham para “atenuar prejuízos maiores”. “Os emigrantes costumam procurar-nos, habitualmente registamos percentagens consideráveis de dormidas, 90 por cento das mesmas correspondem a portugueses com raízes na região. Vêm para ficar uma a duas noites, saem para visitar a aldeia ou concretizarem estadias fora da região e quando pensam no regresso ao estrangeiro ficam mais uma noite”.

O relato feito ao JF num dos mais antigos hotéis da cidade do Fundão não é muito diferente da realidade no único hotel de cinco estrelas da região. Com programas específicos para clientes estrangeiros e uma procura na casa dos 40 por cento, apenas 15 por cento tem estado a efetuar reservas, adiantou a relações públicas da unidade hoteleira.

A oferta turística “diferenciadora” no concelho do Fundão levou inclusivamente o município local desenvolver uma campanha intitulada “Já Tínhamos Saudades” que visa afirma o território como um “destino turístico alternativo e seguro em tempos de pandemia”, valorizando os programas e rotas enquanto elementos impactantes para a economia regional no acolhimento de turistas.

Leonardo Durão Romão de sete anos poderá ser a segunda geração da família Romão em França. Nunca ouviu falar de Aldeias Históricas nem de Aldeias do Xisto, mas sabe e diz-nos que gosta muito de vir a Portugal.



Foi exatamente no café que dá nome ao país dos pais Elisabete e Hugo que o petiz exprimiu alegria e boa disposição quanto às férias que o trazem para junto dos avós e do irmão mais velho, a viagem antecede o regresso presencial à escola francesa e significa “um tempo de enorme liberdade e celebração” sublinha Elisabete Durão, 40 anos e a residir em França desde 2008.

A mãe de família que em Portugal se dedicava à fotografia é agora proprietária de salão de estética e cabelos em Villabê a 30 quilómetros de Paris.

Também o beirão e marido, Hugo Romão se estabeleceu por conta própria em França. O casal que não tem tradição de emigração na família deixou a Beira Baixa rumo ao desconhecido, mas â parte da dificuldade em aprender a língua francesa e das saudades da família não sentiram quaisquer outros entraves na aventura de “começar do zero”. “O meu marido foi o primeiro a orientar trabalho, mês e meio depois de chegarmos também eu me ocupava como operadora de caixa num supermercado”, revela a fundanense radicada numa região onde existe uma expressiva comunidade de portugueses.

“Com dois filhos a ideia é ficarmos o mais tempo possível, mas o regresso a Portugal é algo que permanece inscrito no diário de quem se socorre dos amigos franceses para garantir a melhor retaguarda para as crianças.

Todos os anos vêm a Portugal no período do Verão e sempre que podem dão um pulinho à praia. Porto Covo poderá ser o destino de 2020, um ano atípico e sem romarias ou festivais que esta família alternava com as reuniões familiares.

A ausência de festas religiosas é bastante notada pelos compatriotas que nesta altura do ano se encontram no Interior de Portugal. Por causa da pandemia e das imposições de segurança sanitária, a componente espiritual do regresso a Portugal ficou comprometida.

No segundo e terceiro fim de semana de agosto em várias aldeias da região as numerosas procissões deram lugar a simbólicos cortejos religiosos e a missas campais com o distanciamento social necessário.

“Não é a mesma coisa, mas as devoções mantêm-se!”, asseveram os fiéis de Santo António, Anjo da Guarda ou Nossa senhora da Assunção.

José Fernando Ferreira da Silva Torres de 54 anos também de férias na região. Natural da Maia mudou-se para o Luxemburgo em 2016 e não está nada arrependido.

Começou a experiência seguindo o exemplo da primeira e segunda geração de familiares diretos que há muitos anos deixaram Portugal em busca de uma vida melhor em Angola e na França.

Bem-sucedido, José Torres conseguiu convencer a esposa e a filha mais nova a seguirem-lhe o rasto.

Chegados lá não sentiram grandes dificuldades em adaptar-se. Primeiro José que logo iniciou o percurso na área das estruturas de alumínios e vidro, setor que dominava uma vez que em Portugal também se dedicou ao ofício.

Para José um cidadão português no Luxemburgo significa juntar-se a uma comunidade respeitadora “dos direitos e apoios sociais à família, excecionalmente superiores aos obtidos em Portugal”.

“Na saúde pagamos a consulta médica, mas posteriormente a caixa nacional de saúde reembolsa-nos com 80 por cento custo”. Particularidades que fazem toda a diferença num país em que a mão de obra portuguesa é considerada “valiosa pois adapta-se com facilidade a qualquer trabalho”.



José não equaciona voltar para Portugal até porque a esposa, educadora de infância numa organização publica, também está bem e a restante família também deverá definir o futuro num país onde existem comunidades portuguesa, italiana e Cabo Verdiana e onde “não sinto que haja racismo e xenofobia”.

Para a família Torres a pandemia trouxe-lhes as regras imposições associadas à covid 19, estão ambientados quanto a uma realidade que “continua a ser negligenciada por cidadãos de todos o mundo”, embora em países como o Luxemburgo existam “fortes penalizações pecuniárias” para incumpridores de regras básicas e que dessa forma passarão a corrigir-se. “O reforço da vigilância policial foi uma das medidas para evitar uma segunda vaga de coronavírus”, acrescenta o cidadão português que no regresso ao Luxemburgo irá receber um voucher pago pelo governo local para fazer teste gratuito, tal qual aconteceu antes de virem para o Fundão.

Dulce Gabriel

Texto originalmente publicado no suplemento JF COMUNIDADE do Jornal do Fundão em agosto 2020 e que pode ler integralmente aqui https://dl-web.meocloud.pt/dlweb/Kze0BqhuQUKzCf9R1l3yqw/download/JF%20Comunidade%20no%20Jornal%20do%20Fund%C3%A3o%20agosto%202020.pdf

terça-feira, julho 14, 2020

Centenário Amália Rodrigues

O Fundão está na rota das comemorações do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Expoente máximo do fado, mulher amada ou rainha do fado, Amália nem sempre foi acarinhada pelo seu Fundão.  Isso mesmo confirmaram no programa «Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova da Beira os convidados da emissão de dia 12 de julho que quiseram partilhar comigo e com os seguidores do programa, que está no ar desde 2013, os convidados da mesa redonda radiofónica que antecede um conjunto de iniciativas concelhios a realizar no Fundão a partir do dia 23 de julho.



Estórias com gente dentro numa conversa com José Manuel Lopes Rodrigues (sobrinho de Amália Rodrigues), António Fernandes (escritor e cronista) José Filipe Gonçalves (primo de Amália) e Alcina Cerdeira (vereadora da cultura no Município do Fundão).  


Das comemorações à memória viva de Amália Rodrigues num registo informal e emotivo que podem ouvir neste link: 


Amália da Piedade Rebordão Rodrigues não passava despercebida, “atraia a rapaziada, toda a gente queria estar com ela, mulher de visão libertadora que também gostava de passear”, disseram os meus interlocutores na telefonia.

Trovadora triste e melancólica mas também alegre e feliz, assim a descreve o sobrinho José Manuel Lopes Rodrigues que se lembra da “tristeza e algum desgosto” que caracterizavam Amália sempre que recordava as passagens pelo Fundão.

Na então vila onde chegou a atuar no Casino, havia uma elite feminina desconfortável com a presença da embaixadora do fado. Realidades indesmentíveis dizem os vários registos consultados na imprensa de época e no Jornal do Fundão, semanário onde chegaram a ser publicadas intervenções públicas quanto aos atrasos na entrega da Medalha de Ouro do Fundão que deveria ter-lhe sido atribuída em vida.

“O Fundão não tem grande carinho por mim”, diria numa entrevista a fadista cuja condecoração do Município aprovada em 1989 - data dos 50 anos de carreira da artista - nunca recebeu. 
Mais tarde, depois de várias observações e criticas na imprensa, o executivo camarário remediou a falha e entregou ao sobrinho José Manuel Lopes Rodrigues a dita medalha.

De fato Amália foi mal amada no seu Fundão. Há até o registo factual da “atuação de Amália no Casino em 1946, na companhia do Grupo Cénico e a lápide que assinalava a presença da artista desapareceu”.
Oriunda de uma família modesta e numerosa, Amália Rodrigues que os admiradores caracterizavam como “rouxinol da senhora da Conceição” era afinal uma beirã que também deu concertos na Covilhã.
“Certa vez chegou a casa da minha mãe já de madrugada e apesar da hora tardia houve anedotas, bolos da Joaquina do forno e queijo curado” partilhou o primo José Filipe Gonçalves.

António Alves Fernandes, fã incondicional de Amália, recorda-se do pai “apaixonado” pelo percurso, dotes vocais e talento da fadista maior, encarada pela imprensa da especialidade como uma artista “com futuro risonho”, prognosticavam.

Memórias partilhadas no programa «Porque Hoje é Domingo» da Rádio Cova da Beira onde foi possível revistar a ida de Amália à Santa Luzia, com Varela Silva e a irmão Celeste Rodrigues, entoando cânticos alusivos à padroeira da visão e num carro de bois bastante bem enfeitado, revelaram.

Uma conversa que antecipou a comemoração local do centenário de nascimento de Amália cujo programa prevê a edição pelo Jornal do Fundão de um livro com ilustrações do arquiteto Álvaro Siza Vieira e um mural de arte urbana assinado por Frederico Draw que se localiza nas imediações da Praça Amália Rodrigues.


Ao longo de um ano haverá, também no Fundão, um conjunto de iniciativas culturais como a estreia em dezembro de 2020 de um Musical assinado por Rita Ribeiro com figurinos de Carlos Gil (estilista do Fundão), um concerto com Mariza em agosto de 2021 ou a atuação de Lula Pena também no Fundão mas em outubro do próximo ano.
A programação está disponível aqui https://centenarioamaliarodrigues.pt/tag/mais-programas/

sábado, junho 27, 2020

Parabéns Nanda

Chegar aos 60 rodeada de amig@s.
Nada de surpreendente se a aniversariante é amiga de muitas pessoas.
Em várias geografias.

Cada uma de nós mora, à sua maneira, nas gavetas da Neves, da Nanda, da Fernanda, da moça da pastelaria Jardim.
Quase toda a gente conhece a Nanda ou a pastelaria da Nanda.

Pela simpatia e acolhimento. Pela forma como se envolve na vida da comunidade. Pela popularidade.
Fundamentalmente pela generosidade que caracteriza a Nanda.



Não tenho presente o ano em que nos conhecemos. Sei que, ainda menina e aprendiz de jornalista, tinha [e ainda tenho] na Nanda e na sua pastelaria um porto de abrigo para tudo o que fosse [seja] preciso.

Da Nanda e do seu saudoso pai recebi muitas vezes deliciosas tostas mistas ou generosas sandes que um confeccionada e o outro - a Nanda - levava ao segundo andar do prédio no Beco dos Borracheiros ou Rua 5 de Outubro onde durante anos se fez a Rádio Jornal do Fundão.

A Nanda fonte de informação. É das pessoas que mais conhece @s transeuntes da cidade e arredores.
A Nanda alerta. Uma espécie de provedora do cidadão comum com problemas como os nossos e dos quais subtraia informação tantas vezes importante na busca de notícias ou no cruzamento de fontes fidedignas de informação.

Ela e a pastelaria, negócio de família, onde me tenho cruzado com tantas das minhas pessoas ou protagonistas de outras realidades que povoam a minha própria existência.

A Nanda que recebia o telegrama do meu admirador secreto ou observava os namoricos da minha eterna juventude.

A mulher que tantas vezes foi ombro amigo e me secou as lágrimas no fatídico ano de 1996. E nos meses que antecedem a morte da minha amada mãe.
Deve ser por isso que ainda sei de cor o telefone da pastelaria Jardim.
 
É também por isso que aqui alinho estas breves palavras de gratidão à dedicação da Nanda.
Esta é uma narrativa de saudade dos tempos idos.
Uma janela para a memória dos dias claros pois a amizade entre as pessoas deve ser sempre transparente e límpida.



Parabéns querida Nanda. Parabéns pelos 60 !

Oxalá consigamos continuar por aqui, por aí, a celebrar a vida e cantar vivas à Amizade.
Como o fizemos neste dia 27-06-2020, ainda sob as regras de um estado de calamidade que já foi de emergência e nos obrigou a ficar confinadas à nossa casa e família chegada.

Memorizando: Chegaste aos 60 no ano da pandemia covid 19.

Brindemos à vida.
À saúde.
À tua saúde e das pessoas que mais gostas.


Abraço. 

terça-feira, março 24, 2020

Instantes do meu Confinamento

Na Tentativa de gastar os tempos livres que resultam da suspensão da vida depois do horário laboral vou-me ocupando da leitura de livros e autores outrora companhia regular na mesa da cabeceira cá de casa.

Às vezes recorro à biblioteca para rever títulos e clássicos. Hoje de manhã deparei-me com o "ensaio sobre a cegueira" do Nobel da Literatura José Saramago. Apeteceu-me começar a devorar uma segunda ou terceira leitura de uma obra escrita em 1995 que nos relata a história de uma cegueira que começou num homem só e posteriormente  fez-se epidemia. 

As semelhanças com muito daquilo que desde há três semanas estamos a observar e vivenciar, à distância ou bastante perto de nós, fazem-me crer num tubo de ensaio literário para aprendermos a lidar com a pandemia Covid-19 como foi designada pela Organização Mundial de Saúde. 

E diz o livro  "Nesta quarentena esses sentimentos irão desenvolver-se sob
diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes (...)"
Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono.

Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja". 
Aos interessados em ler um pouco mais da obra recomenda-se este link https://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_ensaio_sobre_a_cegueira.pdf

Se preferirem leituras mais leves e menos introspetivas sugiro uma viagem pela obra da poetisa feminista Rupi Kaur que há uns anos editou "milk and honey", em Portugal "leite e mel",  e de onde retirei este poema que parece o meu auto retrato.


“dizes para me acalmar
porque as minhas opiniões me tornam menos bonita
mas não fui feita com um fogo no peito
para que conseguissem apagar-me
não fui feita com ligeireza na língua
para que fosse fácil engolir-me
fui feita pesada
meio espada meio seda
difícil de esquecer e nada fácil
de a mente entender”

A par da poesia a paisagem primaveril observada a partir de casa têm-me inspirado para os dias que se seguem. E bem preciso de paz e confiança. Logo hoje que foi oficialmente conhecido o primeiro caso de covid 19 positivo no concelho do Fundão.

sexta-feira, novembro 29, 2019

Avenida esse encontro feliz


«A Avenida – uma chama viva onde quer que viva». 
O título da nova peça da ESTE – Estação Teatral é por si só bastante apelativo. Vai daí a gente dá-se ao trabalho de sair de casa num quinta-feira à noite e fica logo contente com a adesão do Fundão à 38ª produção da Companhia de Teatro que há 15 anos resiste e subsiste ao quotidiano da vida artística e às dificuldades que à mesma, quase sempre, estão associadas.

Mas este meu momento de partilha não é para lamentar que a ESTE continue sem uma casa própria para desenvolver os projetos criativos, prolongando e valorizando as vivências da nossa geografia cultural, etnográfica, histórica e poética.
Servem estas linhas para dizer-lhes que é mesmo importante saírem de casa e assistirem ao novo espetáculo da ESTE.


«A Avenida» é um reencontro com a nossa memória coletiva. Os lugares, as lojas, as pessoas do centro nevrálgico do nosso Fundão, numa narrativa cheia de vida e humor que não deixará nenhum espetador indiferente.

«A Avenida» está em cena na Moagem no Fundão até dia 15 de dezembro, é apenas o primeiro de três criações assinadas pelo dramaturgo Nuno Pino Custódio que haverá de transportar-nos até outras realidades.

Neste episódio atores e espetadores viajam no tempo e recuam aos anos 40 e 50 do seculo XX. No próximo ano a companhia presentear-nos-á com as vivências do Fundão no tempo de Salazar e de Kubitschek. Por fim haveremos de assistir ao fôlego final que é a Liberdade.

A liberdade, criativa, é aliás a tónica dominante no espetáculo concretizado a partir da recolha junto da comunidade local de depoimentos de comerciantes, alfaiates, floristas, relojoeiros e outros conhecedores do Fundão.

Algumas dessas pessoas estiveram, como eu, na estreia de «A Avenida». Não imagina o leitor o grau de satisfação e alegria dessas pessoas que além de se reverem nos traços verbalizados sobre o Fundão de antigamente sentiram satisfação por, de certa forma, aqueles lugares tão nossos ganharem nova vida numa peça de teatro que além de preservar a história e estórias do Fundão também projeta o território enquanto lugar de vivências imortais.


«A Avenida» imortaliza, pois, esse traço do Fundão comercial cujas ruas ficavam cheias de gente muito para além dos dias de mercado.

Vão lá ver esse trabalho extraordinário de cocriação da ESTE e dos fundanenses que guardavam as melhores vivências do Fundão e agora se orgulham de ver os antepassados num formidável registo teatral cujos próximos capítulos / criações queremos acompanhar.

Parabéns à ESTE por nos surpreender em cada produção. 
Parabéns pela interpretação, cenários, guarda-roupa…..


Parabéns, vocês são uma bandeira cultural da nossa terra.

quarta-feira, julho 24, 2019

Pinto o que sinto


Não sei se alguma pintei um desenho de que me possa orgulhar. Mas conheço imensas pessoas cuja pintura me faz viajar pelas paisagens da minha Gardunha quando ainda não vestia negro.  Lembrei-me disto, esta semana, quando numa visita relâmpago a Castelo Novo me apercebi da chegada da Arte Urbana à Aldeia Histórica de Portugal encravada na serra.

Nesse instante revisitei a memória das aulas de educação visual no Externato Capitão Santiago de Carvalho em Alpedrinha e o pensamento fixou-se no desenho geométrico do professor João de Matos. O malogrado educador para quem o “olhos eram a régua e o nariz o compasso”….

Quase me apeteceu entrar em casa, subir ao sótão e procurar no baú dos trabalhos da escola as pastas com desenhos geométricos realizados nas folhas de papel cavalinho. “O melhor,  pois as folhas são resistentes e ótimas para desenho com lápis de carvão”. Também o João Barreira, um pintor que na minha juventude se dedicava às paisagens verdejantes da minha geografia de infância, já me surpreendeu com belíssimas obras matizadas a verde.

As paisagens verdejantes da Beira Baixa, que outrora inspiraram a poesia de Albano Martins ou Eugénio de Andrade, também caracterizavam a obra do pintor Barata Moura. O Mestre que nunca renegou as suas origens beirãs e se formou na Escola António Arroio e na Superior de Artes Aplicadas também pintava a Beira como ninguém.

Falecido em 2011, 100 anos depois do seu nascimento, Barata Moura está nas mais de mil telas a óleo e inspira uma nova geração de pessoas ligadas à arte de eternizar personalidades e vivências de um território.

Esse património está agora mais completo com o mural alusivo ao pintor Barata Moura cuja memória passa a estar perpetuada na antiga torre da EDP na sua aldeia Natal.





Castelo Novo tem desde há uns dias um exemplar de arte urbana assinado por João Samina https://saminashop.bigcartel.com/. O artista que também pintou Carlos Paredes ou algumas das mais carismáticas figuras típicas da Covilhã, tem na Beira Baixa um trabalho dedicado ao pintor que sentia as paisagens, pessoas e recantos da sua Beira transportando-as  para a tela num registo multicolor que nos prende o olhar e nos faz vibrar de alegria. 

Na obra de Samina, Barata Moura “apresenta-se” em tons de preto e encarnado num jogo que nos faz acreditar que o traço característico do João ajudará a fazer do “miradouro da pardinha” – assim é designado pelos naturais de Castelo Novo a encosta da freguesia onde se encontra “a escultura” do mestre pintor – um ponto de paragem obrigatória no roteiro de visitação à localidade.

O toque de modernidade na Aldeia povoada de história acrescenta vida à localidade desejosa de espreguiçar-se para a Gardunha vestida de verde.

Mas passaram dois anos e como muitos transeuntes comentam, faz impressão que Castelo Novo continue rodeado de negro, marca indelével do fogo.



Neste meu regresso, à geografia que em agosto de 2017 voltou a ser massacrada pelos incêndios, não posso deixar de descrever a melancolia que assombra qualquer natural ou forasteiro que logo na autoestrada da Beira Interior se dá conta de como Castelo Novo permanece vestido de luto.




Não vemos árvores, a serra está globalmente despida. Dá pena olhar para o cabeço da Penha e observá-lo desnudo. Já no interior da localidade observamos o casario ainda fechado aguardando a chegada das centenas de pessoas que este Verão voltarão à sua terra do coração dando-lhe vida e esperança num ritual anual que nos faz continuar a acreditar que Castelo Novo ainda pode merecer mais que uma obra de arte de amor a Barata Moura.

Aguardemos!

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Do Agasalho à Tecnologia


Apaixonou designers e criativos. É muito mais que um agasalho. Habitualmente utilizado na decoração de interiores e mobiliário, o produto serrano é também matéria-prima para sapatos e ferramentas tecnológicas. A Microsoft, esse gigante da informática, rendeu-se às características do tecido tradicional que agora “agasalha” os tablets. 



À descoberta do burel. Poderia ser este o título do texto no qual nos propomos partilhar com os leitores o percurso de inovação que caracteriza o tecido artesanal português totalmente feito de lã. “Depois de carmeada e cardada, a lã transforma-se em mecha. A mecha é torcida na fiação e transforma-se em fio. O mesmo se passa pela urdideira originando a teia. O tear transforma a teia em xerga. A xerga passa pelo batano e por outros tratos e transforma-se finalmente em burel”. Explicações plasmadas numa folha de sala dedicada a trabalhos em burel.

Já as características técnicas e diferenciadoras do tecido “resistente e versátil” conferem ao burel mais que a garantia de aconchego. As experiências à volta da sua textura, padrões e cores transformam-no numa panóplia de oportunidades e peças diferenciadoras que enriquecem o portefólio criativo de quem desejava afirmar-se na decoração de interiores e na valorização de algo que para muitos não passava de um tecido grosseiro e rústico apenas utilizado pelos pastores.

Cabeceiras de cama, painéis de parede, quadros, corredores de mesa, capas de almofadas e uma multiplicidade de peças utilitárias são hoje uma realidade na utilização do burel. E até já há sapatos e ténis em burel! No ano passado uns ténis feitos com burel e produzidos pela Burel Factory, uma empresa de Manteigas, receberam um prémio de inovação, numa das maiores feiras mundiais de desporto, em Munique, na Alemanha.

Também em Manteigas, a Burel Factory, começou em 2013 a “vestir” o tablet PC da Microsoft. Nessa altura o Jornal de Negócios escrevia que o burel renasceu em Manteigas, para "aquecer" o mundo.

Ainda em Manteigas nasceu em 2017 a marca de sapatos REALIS. Cada par transporta em si a lã “cem por cento de ovelha” e a garantia de “resistência à humidade e repelência à água”. Bruno Silva e Marlene Gabriel são os empreendedores. Procuraram investir na criação de um produto que tivesse a sua génese no território em que habitam, que ainda tivesse pouca expressão no mercado e utilizasse matérias-primas locais, neste caso o burel originário da região. “Podemos dizer que o burel se comporta de alguma forma como uma membrana sintética de gore-tex, mas de uma forma natural”, explicaram ao JF. 



Prevê-se que a marca desenvolva novos projetos em 2019, nomeadamente na captação de novos mercados na Europa e em termos de criação “iremos lançar novos modelos de senhora e lançar a coleção de homem”. Para já os sapatos Realis são usados “por alguém famoso mas não devemos revelar o nome”.

Mas nem só a norte se reinventa o burel. O criador de moda Miguel Gigante, foi pioneiro nessa arte. A partir do “Atelier do Burel” instalado na antiga fábrica António Estrela na Covilhã e hoje transformada no laboratório criativo “New and Lab”, Gigante transforma o burel em casacos, coberturas de mobiliário, candeeiros, malas, almofadas, alfinetes de lapela e chapéus.

“Iniciei o projeto em Setembro de 2008, mostrei pela primeira vez as primeiras peças no Chocalhos - Festival Caminhos da Transumância em Alpedrinha. Tinha tudo a ver, celebrar a transumância”, descreve o artista capaz de transportar para as suas peças a “essência e alma femininas”, dizem os apreciadores de moda que se habituaram a ver Miguel Gigante como um visionário na arte de dar nova vida à lã das ovelhas. O artista começou por fazer painéis, candeeiros, almofadas alguns acessórios e um casaco.



“Cansado da confeção e de trabalhar a moda” Miguel Gigante deixou-se envolver na descoberta e conceção de obras  para casa. “Ironicamente a peça que teve um sucesso considerável foi o casaco ainda hoje é uma peça desejada pelo mercado”, confessa-nos.

“Sempre gostei mais de criar peças de Outono-Inverno. Inicialmente, fazia experiências, protótipos sem qualquer tipo de pressão”, conta-nos. Para Miguel Gigante o que distingue o burel de outros tecidos é a própria “construção técnica e os princípios que sendo a antítese da indústria atual são a garantia de padrões de qualidade cada vez mais raros”. “A resistência e impermeabilidade são os mais conhecidos, o isolamento de som e temperatura também são fatores de valor”.

Numa avaliação à relação qualidade preço na escolha de uma peça em burel em  detrimento de outros tecidos, Gigante lembra o “composto só de lã bordaleira” enquanto garantia de “proteção do frio e o conforto” de um tecido 100% natural. Características “cada vez menos comuns na confeção tradicional três vezes mais cara e com menos durabilidade”, adverte.

A partir da Covilhã, Miguel Gigante pretende continuar a afirmar um produto que identifica um território e que em 2013 lhe valeu a assinatura de peças no âmbito do projeto Aldeias Históricas de Portugal. “Uma coleção de roupa inspirada na arquitetura, lendas e tradições dos tempos medievais e composta por casacos, saia, camisolas e acessórios diversos”. Detentor de uma carteira de clientes espalhados pela Europa, Miguel Gigante apresenta regularmente as suas peças em eventos ou em lojas que vivem do mercado turístico.

Ana Gonçalo é designer têxtil há vinte anos mas só há quatro anos, a partir do CINCO atelier, iniciou a experiência no burel. “A minha primeira peça foi uma clutch. Foi o modelo que mais me motivou. Como nunca tinha trabalhado com esse tecido, foi um desafio enorme”, partilhou com o JF a designer que há uns anos esteve em foco por ter concebido a nova linguagem e imagem de marca da Covilhã. “A Tecer o Futuro”, Ana Gonçalo coloca em cada peça que faz um pouco de si. Motiva-se sobremaneira de cada vez que dá corpo a uma nova “carteira de ombro que, além do trabalho de modelação e costura, tem bordados em fio de lã e crochet no mesmo fio”. “Eu gosto de misturar técnicas, tornando a peça mais rica e apelativa. 

O burel é um tecido que tem bastante corpo, tornando o processo de modelação das peças bastante motivante. Como é um material denso que foi "batanado", conferindo propriedades de feltro, ele não desfia nas extremidades, quando cortado”. E isso permite-lhe "pensar" nas peças com maior ambição. Mas desengane-se quem pensa que construir uma peça de burel é fácil! 

“É um tecido muito espesso, difícil de costurar peças complexas...antes de pensar na peça que quero realizar tenho de pensar muito bem e testar algumas costuras e moldes”, revela-nos. Considerando que a lã de ovelha é incomparavelmente mais valiosa que um qualquer outra matéria-prima sintética, Ana Gonçalo congratula-se por observar como o burel, de tão valorizado e cheio de possibilidades, devolveu emprego a muitas pessoas que assistiram à crise dos lanifícios.

Da Covilhã para o Fundão encontramos o “Adelma Atelier”. Desenvolvido por Lina Ferreira, o projeto de aproveitamento e transformação do burel teve início há quatro anos e as primeiras criações foram das a conhecer ao público na 5ª edição do "Pechakucha", exatamente no Fundão.


Ao JF a criativa fala do empenho e dedicação que coloca em cada peça que produz. Apreciadora de tudo o que seja português, genuíno e icónico,  Lina Ferreira diz que “não poderia deixar de usar o burel” nas suas coleções. Apesar do ainda curto percurso, Lina Ferreira orgulha-se do prémio “melhor peça de artesanato”, conquistado na edição de 2014 do Festival chocalhos. “Um prémio e reconhecimento do júri que avalio um casaco comprido confecionado em burel, lã bordaleira e tecido de cortiça”.  



Além do vestuário, o burel está presente nos acessórios de moda e algumas peças decorativas como mantas, tapetes e almofadas, assinados por Lina Ferreira. No entanto e na área da decoração o burel permite desenvolver “ambientes rústicos e acolhedores”, considerou.
O “Adelma Atelier” no Centro Comercial Cidade Nova, no Fundão, dispõe de algumas peças no Hotel H2O em Unhais da Serra.

Texto originalmente publicado na edição de 6 de dezembro de 2018 do Jornal do Fundão.

segunda-feira, agosto 20, 2018

Os Amigos dos nossos filhos são nossos filhos também


Receber os amigos dos meus filhos, ter a casa cheia de pessoal, observá-los e recordar tempos idos é das vivências mais interessantes da fase adulta ou da meia-idade. Dei comigo a pensar nisto ao amanhecer deste domingo. Horas depois de a Leonor ter recolhido aos seus aposentos acomodando no seu quarto mais cinco pessoas.
Na véspera pedira à tia os colchões que eu e a Helena chegámos a utilizar nas nossas aventuras de solteiras quando o montanhismo era hobby de fim-de-semana. Além dos acolchoados colchões a diva - assim se caracteriza a jovem Leonor quando tenta autorização do pai para mais um convívio fora de horas ou uma renovada ida à cidade -, também cuidou de garantir reforços alimentares e alguns sumos para a verdadeira ceia. Uma ceia antecedida de longos banhos de piscina sob a lua de agosto.
Apesar da imaturidade, os nossos adolescentes são gente prevenida e do género, quem vai para o mar avia-se em terra. Assim, de cada vez que a Leonor, mas também o João, se prepara para promover mais um convívio, certifica-se de que nada faltará aos convivas. Quantas vezes enquanto família de acolhimento somos o táxi na “devolução” da miudagem aos pais! Fazemo-lo com gosto e até alguma dedicação. Há um ditado que nos diz que quem meu filho cuida minha alma adoça, logo temos por hábito cuidar dos amigos dos nossos filhos como sendo nossos filhos, também!

A adolescência e juventude dos nossos filhos é o tempo em que eles fazem novas amizades. O amigo do amigo que conheceram em registo educativo ou na prática desportiva dentro das quatro linhas. Muitas dessas amizades cujo crescimento se reforça nas experiências fora da escola ficam para a vida. É como se os afetos até então focados nos primos e na cumplicidade de sangue ganhassem novos contornos e semeassem um novo jardim de partilha.
É nesta altura que também nós, os adultos, iniciamos um novo tempo de vivências e observação. Por um lado sentimos o orgulho de os nossos filhos crescerem, tornando-se autónomos. Começam a afirmar-se pelos bons e menos bons motivos. Sobressai-lhes o modo de ser e de pensar. Às vezes condizentes com a nossa linha de orientação, noutras alturas o registo fica distante da “doutrina” que lhe fomos incutindo. Criam-se então as barreiras ou reforçam-se os laços de compreensão e cumplicidade entre gerações. Às vezes há uma espécie de conflito entre pares. Mas tudo se resolve graças á tolerância de pessoas e ao amor incondicional de pais.
É também nesta fase que perdemos o controlo dos passos delas e deles. Aquela coisa da mãe galinha, a mania de “impingir” os filhos dos nossos amigos aos nossos filhos e o “polícia” que há em nós ganha novos contornos. Embora nos mantenhamos vigilantes já não impomos. Ou já não conseguimos impor.

Embora nos assalte uma catadupa de perguntas sobre quem é quem, de onde vem e quem são os pais ou o que fazem, rapidamente deixamos cair o questionário evitando o rótulo de coscuvilheiras ou metediças. Isto é válido, sobretudo, para as mães. Os homens fazem menos filmes e confiam mais.
São estes estados de alma misturados com a alegria de receber os amigos dos meus filhos que comprovam a capacidade do ser humano em se adaptar às novas realidades. Aqui continuamos ao lado deles, e delas, para, mediante as nossas possibilidades e forças, continuarmos a dedicar-nos aos filhos.
Os nossos descendentes dão mais vida à pacatez dos dias quando nos enchem a casa de gente. É tão bom vê-los correr e saltar, mergulhar na piscina ou acantonar na nossa geografia privativa!
No fundo, eles seguem os nossos passos e vivências. O tempo em que as férias grandes eram passadas na aldeia dos nossos avós e os mergulhos eram na ribeira ou na charca mais próxima. Depois havia as festas de Verão. E a juventude reunia-se para o baile improvisado.
Os meus verões eram na serra da Gardunha e mais tarde na aldeia de Castelo Novo. Na montanha as férias grandes eram sinónimo de guardar as cabras e banhar-me nas águas gélidas do tanque localizado entre os cedros e a casa florestal.
Quando havia turistas e crianças os meus dias ganhavam outra alegria e às vezes cantávamos ao desafio. Já na aldeia, o Verão trazia as idas à ribeira e as infindáveis conversas na rua com as pessoas da minha idade que moravam em Lisboa e no Verão voltavam a Castelo Novo.

Memórias. E que memórias guardarão a Leonor, o João e o Francisco deste tempo em que o nosso habitat recebe jovens e adolescentes de outras latitudes?

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...