quinta-feira, setembro 05, 2019

Os teus vinte anos

Vinte anos. Onde é que eu estava quando completei vinte anos? Já andava pela Rádio. E esta é a única memória viva que guardo. Pensei nisto nos últimos dias e partilho-o agora neste breve registo que assinala o teu 20º aniversário. 

Agora que deixas de ser teen e passas à classe dos enty  e depois dos irty começarás a perceber que a vida passa num instante. E passa mesmo! 

Nestas duas décadas de ti recordo sempre o meu primeiro bebé, as inseguranças e incertezas que lhe estiveram associadas. As noites tranquilas, a descoberta e apego ao futebol com forte simpatia pelo Benfica. O rapaz próximo dos avós paternos e a cumplicidade com o avô Matos. O miúdo às vezes traquina que faz acontecer pela calada: Lembras-te da noite de Halloween em que resolveram colocar lixívia no borrifador de água? 



Mas o teu percurso também se caracteriza pelo João Carlos justo e amigo do seu amigo. Os amigos são um forte pilar na vida do meu estudante de engenharia mecânica. Não se largam. Rasgam fronteiras para estar juntos. Cooperam. Partilham.  Surpreendem-se. E isso é extraordinário, pois a tua geração ainda não é totalmente viciada na virtualidade das coisas boas ou ruins. Felizmente !

É pois interessante acompanhar cada passo teu e dar-me conta de que não perdeste nenhuma das tuas virtudes.  És um amigo incondicional da família. És o meu menino mais crescido. E hoje não poderia deixar passar esta data sem dizer-te que todos os dias tenho orgulho em ser tua mãe. 

Estou certa de que este meu sentir é partilhado pelo pai Carlos e pelos manos Leonor e Francisco. Sê sempre feliz Joãozinho. João. João Carlos. Jê Cê. Joca. Sê sempre tu. 
Feliz  Aniversário !



quarta-feira, setembro 04, 2019

À Catarina e às pessoas que me fazem bem


A Catarina faz anos. Nunca me tinha dado conta que uma das minhas amigas do coração nasceu um dia antes do meu filho João. Ou talvez já me tenha ocorrido mas o pensamento terá sido tão breve que não me fixei na curiosidade do calendário. Hoje fiquei a pensar em como duas pessoas que me são tão próximas nasceram em anos diferentes mas apenas com um dia de intervalo.

A Ana Catarina não é uma amiga de infância e nem temos muitas vivências em comum. Direi que temos mais amig@s em comum que experiências em conjunto. Mas as que temos são fartas. Generosas!

No outro dia jantámos e fiquei com a sensação de que ainda tínhamos tanto para conversar! Sabem aquelas pessoas de que gostamos profundamente mas vemos poucas vezes ? Quando se juntam, conversam sem rede, riem muito, fazem planos. E no fim do encontro têm vontade de puxar as orelhas ao relógio.

Não tenho presente o ano, muito menos o dia, em que nos conhecemos. Sei que a amizade com uma amiga comum nos juntou. E também sei, sinto, que conheço a Catarina desde sempre.

São tantos os pontos comuns! Os sonhos, a visão poética do mundo, as boas energias. Fundamentalmente, a generosidade em observar sem julgar. A entrega sem estarmos à espera de nada em troca.

Há muitos anos, num aniversário meu, numa noite gelada de janeiro estivémos juntas num bar do Fundão para celebrar a vida. A ideia partiu da Marta que nos juntou à mesa das conversas e fez desse serão um momento imensamente poderoso. Nesse dia, a Catarina brindou-me com um adereço de moda que ainda hoje me acompanha. Guardo-o com imenso carinho e sentido de gratidão.

De todas as vezes que o coloco lembro-me sempre dessa noite. Lembro sempre os olhos azuis e o sorriso contagiante da Ana Catarina. O colar com uma gaiola e um passarinho é um símbolo de liberdade. É uma ode à criatividade e às energias boas. Àquel@s que nos ajudam a voar.

Desses tempos longínquos guardo ainda o desafio de participar num livro solidário de poesia. Escrever um poema para uma obra cujas receitas reverteriam a favor da Entrelaços entusiasmou-me. Não tanto pela possibilidade de as minhas palavras passarem a estar reunidas num livro onde outros poetas de verdade iriam partilhar os seus dotes literários. Mas por ser um desafio da Ana Catarina Pereira. Inicialmente receie não estar à altura da exigência. Depois a ideia ganhou asas e saiu um poema de amor. Daqueles que nos desnudam e permitem interpretações várias.

Não tenho aqui o poema para o transcrever. Talvez seja mais seguro mantê-lo no baú das coisas escritas. As pessoas mais curiosas poderão encontra-lo nesse livro solidário que ainda está à venda, por exemplo, na Junta de Freguesia do Fundão.

Os livros sempre foram um ponto forte na minha relação com a minha amiga aniversariante. Há dias enquanto lia o contributo dela no livro “o que pode a arte?” editado pela Bordô –Grená  foi  delicioso deixar-me envolver pelo poder da poesia  na discussão de outra causa nossa: A Igualdade de Género.

O texto “pela poesia é que vamos – pela arte, resistimos” permitiu-me descobrir “leite e mel” de Rupi Kaur. Uma extraordinária obra poética que nos fala de amores e desamores, abusos e perdas. Ofensas encobertas à mulher. Foi ainda nesse artigo da minha amiga apaixonada pelo cinema no feminino que também encontrei motivação para, de uma vez por todas, ler com atenção a obra de Simone de Beauvoir. A escritora cuja obra desconstrói mitos e estereótipos sobre género e sexo escreveu no livro “segundo sexo” que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”.  

Que dizer mais sobre uma amiga inspiradora sempre disponível para enriquecer o meu percurso na comunicação? Neste capítulo, recordo as entrevistas que me deu. A mais recente aconteceu em 2017 no meu “Porque Hoje é Domingo” na Rádio Cova da Beira e está aqui. https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-12-fevereiro-2017-rcb-ana-catarina-pereira/
Deleitem-se!

quarta-feira, agosto 28, 2019

Instantes da "senhora Vileda"

Terminara a limpeza das paredes e soalho da casa. Estreara uma esfregona todo o terreno daquelas que não sendo de quatro rodas quase minimizam a força de braço, aliviando as costas. A nova "traquitana" que custara couro e cabelo passaria a ser a coqueluche das conversas à volta dos afazeres domésticos.

Já estou a imaginar algumas vozes portadoras da sapiência humana desvalorizando a entrega e dedicação de quem ousara dedicar uma jornada das férias de Verão a promover o estágio com a senhora Vileda. "Isso não custa nada", claro que não! Se não custa nada está na hora de dedicar-se à limpeza geral de casas no tempo do veraneio.
Estando o empreendedorismo tão em voga, e numa altura em que o Portugal 2020 ainda tem alguma margem financeira, que tal aproveitar essa força de braços e sabedoria de língua e iniciar atividade?!
Isso é que era!
Não tem nada de inovador. Quer dizer, a Vileda está sempre a inovar !

Agora que descobrira a Amazon das limpezas quase poderia dedicar-se à vida doméstica. Nos intervalos mergulharia nas águas frescas de Alpreade ou numa qualquer concorrida piscina e já seria uma pessoa feliz. Seria mesmo?
Uma pessoa feliz fará outras igualmente felizes. Mas a que preço?

Quando começa e onde acaba a felicidade humana?
Na experiência de zelar pela casa e pela família?
No desafio de recorrer aos empreendedores capazes de auxiliar a pessoa humana que abraça desafios e dá tempo ao tempo para pensar o tempo?

Há muitos anos conhecera um ancião que via na esposa a mãe de família e bengala de todo o calendário. "Mulher minha não precisa de trabalhar" dissera o chefe de família que anos mais tarde também não encarara bem a decisão de outras mulheres da família se lançarem em busca de oportunidades de emprego.


Como muito bem descreve Simone de Beauvoir na sua vasta obra dedicada à emancipação da mulher, é importante subverter a educação dos costumes.
E os costumes continuam a encarar a mulher como o segundo sexo.

É preciso inverter esse pensamento, destruindo o mito da feminilidade, afirmando a sua independência e criando mecanismos de autoproteçao e defesa da sua condição humana.

segunda-feira, agosto 05, 2019

Memória do “exílio” na Barroca Grande

Maria Ascensão Albuquerque Amaral de Figueiredo Simões. Nasceu, em Nelas, há 90 anos. Consideram-na uma mulher à frente do seu tempo e o Município da Covilhã homenageou-a pelo seu percurso dedicado à educação e intervenção cívica. Uma trajetória de mais 40 anos dedicados ao ensino que a levou a dar aulas em cidades como Caldas da Rainha, Torres Vedras e Covilhã. Na Cidade Neve esteve 33 anos na Escola Industrial Campos Melo, integrou a comissão de gestão e foi presidente do Conselho Diretivo. Uma vez aposentada fundou a Academia Sénior da Covilhã onde desempenhou funções de reitora. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia-geral da APAE Campos Melo. Deixou-se seduzir pelo exercício da política quando realizou entre 2005 e 2009 o mandato de eleita na Assembleia Municipal da Covilhã. É viúva de Duarte de Almeida Cordeiro Simões cofundador e diretor do Instituto Politécnico da Covilhã.



Fomos ao encontro da mulher de olhar penetrante e de brilho azul que nos falou do “exilio forçado” de cinco anos nas Minas da Panasqueira, onde fixou residência temporária quando Duarte Simões desempenhou funções de gestão na Beraltin And Wolfram. O tempo em que esteve acantonada, num lugar onde não chegavam os jornais, não deixa saudades à visionária, para quem a afirmação da mulher continua a ser uma necessidade. Recordando as “tentativas subtis enraizadas na sociedade que desencorajam a mulher a ser combativa e líder”, Ascensão Simões lamenta que, presentemente, as empresas, de “forma sub-reptícia”, continuem a confiar cargos de liderança aos homens “privando as mulheres da maternidade ou afastando-as do exercício de cargos mas relevantes”.



Ascensão Simões licenciou-se quando ainda era preciso apresentar uma tese. Naqueles anos debruçou-se sobre o Portugal Restaurado do Conde da Ericeira. “Um trabalho histórico e filosófico sobre a introdução de novas tecnologias e a restauração da independência”. A professora aposentada considera-se uma boa educadora e a conversa encaminha-se para a aprendizagem que “deve ser constante” pois “um professor demora muito tempo a fazer-se”. “O trabalho burocrático e a preocupação com papéis roubam-lhe energias”. Diz a nonagenária preocupada com “o ritmo frenético da vida moderna, permanentemente dependente do computador e do trabalho fora de horas, sem tempo para os filhos”.

Tempos de exigências bem diferentes da realidade vivida pela professora que iniciou a sua atividade com horário completo. No tempo da revolução os colegas escolheram-na para liderar os destinos da Escola Campos Melo pois era um “período bastante agitado”. “Muitas vezes saí de lá à meia-noite por coisas tão simples como ceder papel para a propaganda eleitoral dos estudantes. A vida era muito conturbada e exigia-se muito diálogo. Era um tempo em que os professores chagavam sem habilitação mas a explosão escolar a isso obrigava”.

Condicionalismos superados com diplomacia e muito diálogo. “Era preciso mostrar que as competências das mulheres não ficavam atrás das do sexo oposto”, vinca a primeira diretora de uma escola na Covilhã. “Tenho a certeza que a seguir à doutora Judite Chitas, no ciclo preparatório, fui a mulher mais antiga a dirigir uma escola com 105 professores e 1600 alunos”, disse. Recuando no tempo, e à condição de encarregada de educação, franje o sobrolho e num tom reprobatório lembra como foi possível, na escola, alguém questionar da razão de ser encarregada de educação das filhas. “Até para isso  pensavam no homem”!



Detentora de um percurso recheado de inovação e desafios em prol do bem comum, Ascensão Simões recupera a memória do centenário da Escola Campos Melo e o ano de 1984 quando a sua condição de mulher inconformada a impeliu a aceitar o desafio de criar a APAE – associação de pais e antigos alunos da escola Campos Melo. “Fiz um plano para as comemorações, distribui trabalho. A escola não tinha associação de pais e isso era imperioso até para os antigos alunos. A associação de pais estava meio adormecida, fui ajudando no que pude”. Já quanto à constituição da associação de antigos alunos, o processo foi mais rápido, uma vez que muitas pessoas bem colocadas, como arquitetos e engenheiros, passaram pela Campos Melo, uma escola de referência na Covilhã. A dedicação e arrojo que lhe marcaram a trajetória na Campos Melo também caracterizaram os anos dedicados à Academia Sénior da Covilhã, fundada em 2000, na qual chegou ser reitora. Criou-a para “manter-me ocupada e aprender informática”. Recordando o início do projeto na Escola Quinta das Palmeiras e posteriormente em casa de uma particular, Ascensão Simões não esquece o contributo do Município da Covilhã, na pessoa do então presidente Carlos Pinto, na solução para a sede da Academia, nem a Universidade da Beira Interior cujos professores passaram a dar aulas na Academia Sénior da Covilhã atualmente frequentada por 70 pessoas, com mais incidência nos 60 a 70 anos.




BIOGRAFIA

Maria Ascensão Simões nasceu, em Nelas, a 20 de junho de 1929. Frequentou o ensino primário no Colégio da Nossa Senhora da Conceição (Viseu), o ensino secundário no Liceu Infanta D. Maria (Coimbra) e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas. Dedicada ao ensino desde 1954 até a sua aposentação em 1996, lecionou em diversas cidades do país. Professora durante 33 anos na Escola Industrial Campos Melo, integrou a comissão de gestão em 1974/1975 vindo a ser presidente do conselho diretivo desde 1981 até 1988. Foi sócia fundadora da Academia Sénior da Covilhã e reitora de 2003 a 2018. Foi ainda sócia fundadora e presidente da assembleia geral da APAE Campos Melo e deputada na assembleia municipal da Covilhã entre 2005 e 2009.
ORIGINALMENTE publicado na edição de 11 de julho 2019 do caderno JF Comunidade do Jornal do Fundão.




quarta-feira, julho 24, 2019

Pinto o que sinto


Não sei se alguma pintei um desenho de que me possa orgulhar. Mas conheço imensas pessoas cuja pintura me faz viajar pelas paisagens da minha Gardunha quando ainda não vestia negro.  Lembrei-me disto, esta semana, quando numa visita relâmpago a Castelo Novo me apercebi da chegada da Arte Urbana à Aldeia Histórica de Portugal encravada na serra.

Nesse instante revisitei a memória das aulas de educação visual no Externato Capitão Santiago de Carvalho em Alpedrinha e o pensamento fixou-se no desenho geométrico do professor João de Matos. O malogrado educador para quem o “olhos eram a régua e o nariz o compasso”….

Quase me apeteceu entrar em casa, subir ao sótão e procurar no baú dos trabalhos da escola as pastas com desenhos geométricos realizados nas folhas de papel cavalinho. “O melhor,  pois as folhas são resistentes e ótimas para desenho com lápis de carvão”. Também o João Barreira, um pintor que na minha juventude se dedicava às paisagens verdejantes da minha geografia de infância, já me surpreendeu com belíssimas obras matizadas a verde.

As paisagens verdejantes da Beira Baixa, que outrora inspiraram a poesia de Albano Martins ou Eugénio de Andrade, também caracterizavam a obra do pintor Barata Moura. O Mestre que nunca renegou as suas origens beirãs e se formou na Escola António Arroio e na Superior de Artes Aplicadas também pintava a Beira como ninguém.

Falecido em 2011, 100 anos depois do seu nascimento, Barata Moura está nas mais de mil telas a óleo e inspira uma nova geração de pessoas ligadas à arte de eternizar personalidades e vivências de um território.

Esse património está agora mais completo com o mural alusivo ao pintor Barata Moura cuja memória passa a estar perpetuada na antiga torre da EDP na sua aldeia Natal.





Castelo Novo tem desde há uns dias um exemplar de arte urbana assinado por João Samina https://saminashop.bigcartel.com/. O artista que também pintou Carlos Paredes ou algumas das mais carismáticas figuras típicas da Covilhã, tem na Beira Baixa um trabalho dedicado ao pintor que sentia as paisagens, pessoas e recantos da sua Beira transportando-as  para a tela num registo multicolor que nos prende o olhar e nos faz vibrar de alegria. 

Na obra de Samina, Barata Moura “apresenta-se” em tons de preto e encarnado num jogo que nos faz acreditar que o traço característico do João ajudará a fazer do “miradouro da pardinha” – assim é designado pelos naturais de Castelo Novo a encosta da freguesia onde se encontra “a escultura” do mestre pintor – um ponto de paragem obrigatória no roteiro de visitação à localidade.

O toque de modernidade na Aldeia povoada de história acrescenta vida à localidade desejosa de espreguiçar-se para a Gardunha vestida de verde.

Mas passaram dois anos e como muitos transeuntes comentam, faz impressão que Castelo Novo continue rodeado de negro, marca indelével do fogo.



Neste meu regresso, à geografia que em agosto de 2017 voltou a ser massacrada pelos incêndios, não posso deixar de descrever a melancolia que assombra qualquer natural ou forasteiro que logo na autoestrada da Beira Interior se dá conta de como Castelo Novo permanece vestido de luto.




Não vemos árvores, a serra está globalmente despida. Dá pena olhar para o cabeço da Penha e observá-lo desnudo. Já no interior da localidade observamos o casario ainda fechado aguardando a chegada das centenas de pessoas que este Verão voltarão à sua terra do coração dando-lhe vida e esperança num ritual anual que nos faz continuar a acreditar que Castelo Novo ainda pode merecer mais que uma obra de arte de amor a Barata Moura.

Aguardemos!

sexta-feira, julho 12, 2019

Pessoas que vão e pessoas que ficam


Quantos de nós olhamos para o caminho e nos damos conta da quantidade de pessoas que deixámos para trás? Deixámos ou foram essas pessoas que se afastaram de nós, dos nossos projetos e vivências?

As perguntas, bailam-nos no pensamento sempre que passamos por uma provação, quando iniciámos um projeto ou concluímos outro. Vivemos o momento com a energia e intensidade que o mesmo traduz mas observamos que algumas vezes somos seres solitários nessa viagem e relação de compromisso com as nossas coisas.

É então que a nossa memória, mesmo seletiva, nos conduz às pessoas que fizeram o mesmo percurso ou nos alimentaram o trilho do paralelo da vida.

Recordamos os dias mais perturbadores e os indubitavelmente felizes. Recuperamos a memória inabalável da presença das nossas pessoas, naquele dia, àquela hora. No momento mais improvável mas importante da nossa vida.

São essas minhas pessoas que pretendo “homenagear” com esta ode à valorização d@s amig@s de sempre e para sempre.

Também há as pessoas que outrora foram antecâmara das nossas preocupações e venturas. As tais pessoas que ficaram pelo caminho ou que deixaram de nos dizer presente.

E que dizer das pessoas que um dia nos foram próximas, morando nas nossas gavetas e agora nos observam de forma cordial?

Também há aquelas que fazem vista grossa. Aqui abro um parêntese para dizer que perdoei mas não esqueci aqueles seres humanos que passaram metade da vida a tecer-me loas e quando deixei de lhes dar palco mudavam de passeio para não me cumprimentar.

Ensinamentos num percurso em que dou especial importância às minhas pessoas. Aquelas que nunca me falham. Na alegria e na dor. Nos momentos solenes ou nas mais ridículas situações capazes de me deixar desconfortável.



E quem são as minhas pessoas? E as que ficaram pelo caminho?
Pensem nisto. Eu sei quem são, todas essas pessoas. Todos nós sabemos.

Agora façam esse exercício e obriguem-se a dedicar mais tempo de vós às pessoas que nunca vos falharam. Essas pessoas são incondicionalmente o nosso espelho.

Dêem-se. Digam presente. Surpreendam-nas.

Não fiquem à espera do último adeus para lhes dizerem que as amam. Que têm saudades dos tempos em que a vida foi mais generosa e potenciou mais encontros e partilha.
Digam-lhe hoje.  

quarta-feira, julho 03, 2019

Agora já ninguém faz adeus para a «Casa Portugal»


Quando em setembro de 2018 fui ao encontro de José Lopes Nunes para gravarmos uma conversa para o meu «Porque Hoje é Domingo» na Rádio Cova da Beira, estava longe de imaginar que a «Casa Portugal», onde fui ter com o Jolon, estaria na eminência de fechar portas.

Leio agora na imprensa falada e digital que o Jolon encerrou a loja localizada na Rua 25 de Abril, uma das mais movimentadas da Vila de Penamacor. Ouvi-o na Rádio a confessando-se “constrangido” por encerrar a loja onde esteve mais de 45 anos, como verdadeiro prestador de serviços às populações.

A «Casa Portugal» com mais de 100 anos já foi loja de seguros e outros serviços. Foi, fundamentalmente, paragem regular para “Adelino Galhardo, Rodrigues da Silva ou o poeta Domingos Campos”. “Amigos que às dez e meia vinham aqui para o café”, recorda, já com saudade, o homem que nos habituamos a ler nas estórias publicadas no Jornal do Fundão e nos livros entretanto editados.

“Não me sinto um pássaro fora da gaiola, por ter mais liberdade para a fotografia, pesca e escrita. Saio daqui com um misto de satisfação pelo serviço público que desenvolvi ao longo da vida e alguma preocupação por sentir que farei falta a muitas pessoas que aqui vinham”, contou ao Luís Seguro numa conversa que ouvi na telefonia.

Efetivamente, a «Casa Portugal», era muito mais que uma retrosaria povoada de coloridos mostruários de linhas e outras utilidades associadas à renda, bordados e arte de transformar tecidos. Quando lá cheguei, naquela manhã de setembro, já tinha “clientes”.  Clientes entre aspas, pois na verdade quem procurava a «Casa Portugal» fazia-o mais para partilhar situações, estórias e vivências que muitas vezes enriqueceram a prosa do fotógrafo e repórter José Lopes Nunes.  

“Muitas vezes as pessoas passavam ali e faziam-me adeus”, partiam do princípio que eu estava cá dentro”. Isso mesmo referiu no «Porque Hoje é Domingo» de dia 9 de setembro de 2018 José Lopes Nunes. Agora que o “mais antigo comércio tradicional de Penamacor” encerra, certamente que os transeuntes deixarão de acenar ao Jolon.



O rés do chão da loja de Jolon também era espaço para debater o território, partilhar episódios políticos, perceber sensibilidades. Tantas vezes dirigentes, pessoas singulares e gente anónima, chegados a Penamacor, procuravam a casa das linhas do Jolon.

Naquele dia, após a gravação do programa (pode recordá-lo aqui https://www.mixcloud.com/dulcegabriel58/porque-hoje-%C3%A9-domingo-224-09-setembro-2018-jos%C3%A9-lopes-nunes-jolon/) regressámos à «Casa Portugal» e lá estava um político da terra. Francisco Abreu, militante do PS, ex- autarca e ex- delegado distrital do Instituto Português da Juventude. Foi um reencontro feliz com alguém a quem as conversas à volta da Beira e seus territórios entre a fronteira, as serranias e o regadio dizem bastante.

Ali ficamos alguns instantes a falar de pessoas mais ou menos mediáticas. Recordamos José Luís Gonçalves, António José Seguro; Jorge Seguro Sanches, – figuras políticas marcantes com quem tantas vezes me cruzei no exercício responsável de informar- e os dias em que Francisco abreu foi cronista na Rádio Jornal do Fundão. Ficámos de falar num registo menos informal no «Porque Hoje é Domingo».

O tempo corre veloz e num ano não levei o Francisco Abreu à Rádio Cova da Beira! Lembro-o agora neste registo saudosista da importância da «Casa Portugal» na movida de Penamacor.

Estou certa que o Jolon saberá reencontrar-se com os amigos de sempre num outro local cheio de luz, com vista para a Malcata, foco na sua amada Aranhas ou com Espanha no horizonte.

Vida longa ao José Lopes Nunes que é um conhecedor profundo de Penamacor, das suas gentes na vila e nas aldeias.

Eugénio de Andrade o poeta maior

 Fui à Póvoa. À terra do poeta nascido há uma centena de anos. Encontrei memória falada, orgulho e expetativa quanto à importância de Póvoa ...